Existe uma opinião pública equilibrada e sensata (no sentido de não ser incerta e aleatória a contextos circunstanciais) sobre o modo como Portugal deve estar presente numa iniciativa como os Jogos Olímpicos? Existe uma noção realista sobre o que vale o desporto nacional em matéria de competitividade externa? Claramente que não. E esse facto tem de ser encontrado nos elementos que, nos tempos actuais, ajudam á construção e modelação de uma “opinião”.
Com a crise do sistema representativo e dos seus principais instrumentos (sufrágio, partidos, parlamentos), a democracia vive sem debate público. Está refém de um complexo dispositivo mediático que condiciona por completo as regras do funcionamento social. Entre essas regras está o peso da opinião. A pública tende a ser cada vez mais a “publicada”.
A mercantilização da informação, o aumento do recurso ao directo, a confusão entre informação, opinião e entretenimento, o modo como são constituídas as agendas, a qualidade da formação dos jornalistas, a dependência das “fontes oficiais”,o “in circle”dos comentadores, influencia e condiciona a construção da “opinião” que os cidadãos vão criando a respeito da (s) realidade(s).
O desporto e os jogos olímpicos não são excepção. Agravado pela circunstância de termos uma”cultura e opinião desportivas” débeis e marcadamente futebolizadas. Recordem-se as afirmações produzidas no programa Dia Seguinte sobre o número de anos da participação olímpica do atleta Arnaldo Abrantes.
Quando Nelson Évora ganhou a medalha de ouro em Pequim, não foram vistos ajuntamentos ou desfiles no Marques de Pombal ou na Avenida dos Aliados. Nem se viram mais bandeirinhas de Portugal nas janelas. Por que a relação das pessoas é diferente perante esta vitória desportiva do que o é perante uma vitória futebolística do clube da sua simpatia ou da respectiva selecção? Em parte sim. Mas a outra parte é que são acontecimentos que não seriam o que são, sem o contributo das televisões que, no futebol, já estão em directo daqueles locais mesmo quando ainda não anda por lá ninguém. O sentimento de adesão pré-existe mas o efeito mobilizador é das televisões. Não vamos ao ponto de afirmar que sem elas os acontecimentos não ocorreriam. Mas o modo como decorrem e a adesão que suscitam a elas o devem. São elas que chamam as pessoas. E são elas que tornam visível o acontecimento para além dos protagonistas. O que tem tudo isto a ver com os Jogos olímpicos? É que, para os não especialistas, que são a maioria, o conhecimento que se tem dos factos e a opinião que constroem sobre os mesmos resulta do que durante quinze dias se diz e se escreve. E quem o diz e quem o escreve? Pessoas que na área do desporto passam uma vida inteira a falarem de futebol num registo perfeitamente banal e ligeiro; e outros que especialistas de tudo têm a tendência natural de emitir opiniões sobre assuntos de agenda e quadrienalmente opinam sobre os jogos olímpicos. As nossas fragilidades passam também por aqui. As políticas desportivas, públicas e associativas, recebem fraco contributo crítico da opinião publicada. A debilidade das políticas e do pensamento político resultam, em parte, de um fraco grau de exigência em termos de opinião publicada o que cria uma verdadeira quadratura do círculo de condicionamentos negativos: às politicas desportivas, à opinião publicada e às opiniões públicas.
Não pretendemos com estas palavras diabolizar a comunicação social e a ela tudo responsabilizar. Não podemos também ignorar excelentes trabalhos que foram produzidos a propósito da participação nacional nos jogos olímpicos. Apenas procuramos interpretar um sistema global com peso na “consciência crítica “ da realidade.
O mesmo problema se coloca ao nível das lideranças (ou da sua ausência) aspecto que os recentes jogos olímpicos vieram colocar de um forma, para alguns surpreendente mas, para outros, confirmando uma tendência profunda no sistema desportivo português. Lideranças de topo e intermédias que colocadas à prova perante circunstâncias adversas sossobram às primeiras investidas do vendaval mediático. Revelam que não aprenderam com erros anteriores. E que o problema da participação olímpica não pode dizer respeito apenas à preparação desportiva dos atletas.
Mas não vale apena alimentar ilusões.O frenesim crítico agora registado não é novo. A incomodidade nacional com o ocorrido é passageira. A governação “turbo”do tipo desta vez é que vai ser! é episódica. Tudo isto é cíclico. Vem e vai como a espuma das ondas. E os paralimpicos, os jogos do nosso encantamento, estão a chegar. E com eles a habitual “epopeia das medalhas”e dos “bons exemplos”. Nada disto é novo. Tudo isto é fado!
Com a crise do sistema representativo e dos seus principais instrumentos (sufrágio, partidos, parlamentos), a democracia vive sem debate público. Está refém de um complexo dispositivo mediático que condiciona por completo as regras do funcionamento social. Entre essas regras está o peso da opinião. A pública tende a ser cada vez mais a “publicada”.
A mercantilização da informação, o aumento do recurso ao directo, a confusão entre informação, opinião e entretenimento, o modo como são constituídas as agendas, a qualidade da formação dos jornalistas, a dependência das “fontes oficiais”,o “in circle”dos comentadores, influencia e condiciona a construção da “opinião” que os cidadãos vão criando a respeito da (s) realidade(s).
O desporto e os jogos olímpicos não são excepção. Agravado pela circunstância de termos uma”cultura e opinião desportivas” débeis e marcadamente futebolizadas. Recordem-se as afirmações produzidas no programa Dia Seguinte sobre o número de anos da participação olímpica do atleta Arnaldo Abrantes.
Quando Nelson Évora ganhou a medalha de ouro em Pequim, não foram vistos ajuntamentos ou desfiles no Marques de Pombal ou na Avenida dos Aliados. Nem se viram mais bandeirinhas de Portugal nas janelas. Por que a relação das pessoas é diferente perante esta vitória desportiva do que o é perante uma vitória futebolística do clube da sua simpatia ou da respectiva selecção? Em parte sim. Mas a outra parte é que são acontecimentos que não seriam o que são, sem o contributo das televisões que, no futebol, já estão em directo daqueles locais mesmo quando ainda não anda por lá ninguém. O sentimento de adesão pré-existe mas o efeito mobilizador é das televisões. Não vamos ao ponto de afirmar que sem elas os acontecimentos não ocorreriam. Mas o modo como decorrem e a adesão que suscitam a elas o devem. São elas que chamam as pessoas. E são elas que tornam visível o acontecimento para além dos protagonistas. O que tem tudo isto a ver com os Jogos olímpicos? É que, para os não especialistas, que são a maioria, o conhecimento que se tem dos factos e a opinião que constroem sobre os mesmos resulta do que durante quinze dias se diz e se escreve. E quem o diz e quem o escreve? Pessoas que na área do desporto passam uma vida inteira a falarem de futebol num registo perfeitamente banal e ligeiro; e outros que especialistas de tudo têm a tendência natural de emitir opiniões sobre assuntos de agenda e quadrienalmente opinam sobre os jogos olímpicos. As nossas fragilidades passam também por aqui. As políticas desportivas, públicas e associativas, recebem fraco contributo crítico da opinião publicada. A debilidade das políticas e do pensamento político resultam, em parte, de um fraco grau de exigência em termos de opinião publicada o que cria uma verdadeira quadratura do círculo de condicionamentos negativos: às politicas desportivas, à opinião publicada e às opiniões públicas.
Não pretendemos com estas palavras diabolizar a comunicação social e a ela tudo responsabilizar. Não podemos também ignorar excelentes trabalhos que foram produzidos a propósito da participação nacional nos jogos olímpicos. Apenas procuramos interpretar um sistema global com peso na “consciência crítica “ da realidade.
O mesmo problema se coloca ao nível das lideranças (ou da sua ausência) aspecto que os recentes jogos olímpicos vieram colocar de um forma, para alguns surpreendente mas, para outros, confirmando uma tendência profunda no sistema desportivo português. Lideranças de topo e intermédias que colocadas à prova perante circunstâncias adversas sossobram às primeiras investidas do vendaval mediático. Revelam que não aprenderam com erros anteriores. E que o problema da participação olímpica não pode dizer respeito apenas à preparação desportiva dos atletas.
Mas não vale apena alimentar ilusões.O frenesim crítico agora registado não é novo. A incomodidade nacional com o ocorrido é passageira. A governação “turbo”do tipo desta vez é que vai ser! é episódica. Tudo isto é cíclico. Vem e vai como a espuma das ondas. E os paralimpicos, os jogos do nosso encantamento, estão a chegar. E com eles a habitual “epopeia das medalhas”e dos “bons exemplos”. Nada disto é novo. Tudo isto é fado!
3 comentários:
"Collins demitido após Pequim
A Federação britânica de atletismo (UK
Athletics) rescindiu o contrato do director
de desempenho Dave Collins ontem,
seis meses antes do previsto, após o
rendimento considerado abaixo do esperado
nos Jogos Olímpicos de Pequim.
Collins começou a ser questionado depois
de o país ter conquistado apenas
quatro medalhas na modalidade nos Jogos
realizados no mês passado. Segundo
o UK Athletics, o afastamento do director
começará a vigorar imediatamente." Tão perto e tão longe do nosso Portugal dos pequeninos - HERMES
...Pois. É que se a televisão (que todos pagamos) quisesse fazer parte dos bons exemplos, teria permanecido em Pequim. Os Paralimpicos não são Atletas? Não são Portugueses? A descriminação reina ao mais alto nível! É o "estado" Português que não dá, nem promove, Bons Exemplos!
Com a qualidade da liderança revelada pelo presidente do COP tudo quanto se disse é pouco para tanta incompetência e sobranceria.
Luís Serpa
Enviar um comentário