Corria o ano de 2002 e os clubes de andebol que integravam a competição de seniores da 1.ª divisão masculina deram como que o grito do Ipiranga rumo à sua autonomia organizativa e representativa instituindo a Liga Portuguesa de Andebol (LPA: onze fundadores).
Com tal acto pretendiam constituir uma competição desportiva de natureza profissional, conforme as disposições legais vigentes, as quais reclamavam, para além do reconhecimento oficial dessa competição como tal, um organismo específico para a organização, direcção e disciplina da mesma.
Seguiu-se, como é do conhecimento público, uma verdadeira história do desassossego entre a Federação de Andebol de Portugal (FAP) e a Liga Portuguesa de Andebol que se estendeu por 4 longos anos, com atropelos, afastamentos e aproximações à ordem jurídica em vigor. Os conflitos entre estas duas entidades desportivas foram elevados a assunto parlamentar; fizeram com que o Conselho Superior do Desporto tivesse desencadeado oficiosamente o processo para o reconhecimento da competição profissional; forçaram o estabelecimento de um protocolo transitório a bem do campeonato do mundo que se realizava entre nós e da participação da selecção nacional; e estiveram na base da sanção administrativa aplicada à FAP (suspensão do Estatuto de Utilidade Pública Desportiva).
Na época desportiva de 2005/2006 os tumultos pareciam ter desaparecido e formalmente era restabelecida a ordem nesta modalidade, contudo os seus diversos agentes desportivos referiam que o clima reinante mais se assemelhava a uma paz podre do que a uma paz derivada da cura das feridas, não alvitrando longa sobrevivência à liga de clubes. Previsto e efectivado.
Assim, não é de estranhar que na próxima semana comecemos a assistir àquela competição então reconhecida como profissional e da responsabilidade da LPA, a ser organizada apenas sob a tutela da FAP.
Retratam estes 7 anos que a liga de clubes nasceu e viveu da discórdia entre a federação e os clubes desportivos e não da natural e necessária adaptação orgânica da entidade federativa para integrar uma competição profissional.
Moral da estória, mais uma vez parece ser certo que o que nasce torto dificilmente se endireita. Consequências sociais, económicas e desportivas para a modalidade desportiva em questão? Quem vier atrás, por favor, feche a porta e apague a luz!
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
Estória curta e conturbada
publicado por Maria José Carvalho às 21:12 Labels: Federações desportivas, Gestão desportiva, Ligas profissionais, Prática desportiva
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27 comentários:
"Quem vier atrás, por favor, feche a porta e apague a luz!"
Em Espanha diz-se:
Pasimici, pasimisá
Por la calle de Alcalá
El de delante pasará
El de detrás se quedará
E qual era o Governo que fez nascer uma Liga no andebol, que tanto agitou a modalidade nos anos seguintes? Quem foi? Quem foi?
Naturalmente, um Governo PSD/CDS (Hermínio Loureiro era o responsável da pasta), sem estudos, sem avaliação do real impacto que teria no desenvolvimento do andebol. Em suma...de cima para baixo, sem que a modalidade tivesse debatido realmente a questão.
Mas isto, claro está, eram outros tempos, tempos da maioria absoluta do PSD/CDS, tempos de democracia participada, tempos de grande reflexão e de realização de aprofundadíssimos estudos antes de se tomarem estas arbitrárias decisões.
A tal ponto chegou a conflitualidade no andebol, por causa deste disparate, que o assunto chegou a ser discutido no Parlamento.
A sorte do andebol é que, a partir de 2005, foi o PS a governar. E, como se pôde verificar, por um passe de mágica, acabaram-se os conflitos e a modalidade regressou à normalidade.
Até que, para azar deles, apareça outro Governo PSD/PPD/CDS/PP...
E quem foi, quem foi, quem foi, que também criou uma Liga no basquetebol, nunca pacificamente aceite pela modalidade e que ta,bém veio a morrer de morte macaca?
Naturalmente, outro Governo PPD/PSD, pois claro.
E no futebol - única modalidade desportiva que reúne condições mínimas para ter uma liga profissional de clubes - qual foi, qual foi o Governo que NÃO conseguiu criar essa liga?
Naturalmente também o Governo PSD, mesmo com as duas maiorias absolutas de Cavaco Silva (e não conseguiu criar porque tinha o seu Grupo Parlamentar cheio de deputados do futebol, e que não aceitavam as alterações de regras que a liga pressupunha).
E, então, qual foi, qual foi, qual foi o Governo que veio a criar condições para a institucionalização da Liga do Futebol?
Naturalmente, também, o 1º Governo PS de António Guterres.
Em conclusão: o PSD é especialista em criar ligas que se evaporam passado pouco tempo(andebol e basquetebol); o PS, em criar ligas que ainda hoje existem (futebol).
Não está nada mal!
Ao que consta parece que também existiram uns problemas recentes no futebol e tinham existido outros gritantes no basquetebol. E também no judo segundo parece que nem dinheiro tem para contratar um treinador para a selecção que ganha medalhas. No futebol ao que também consta o Presidente da Liga e o do Sindicato dos Jogadores ficaram a tratar sozinhos do assunto porque o Laurentino teve medo de se escaldar. Mas dava tudo para ter o Mundial da Madail, obviamente, mesmo sem estudos já prometidos e não aparecidos. De facto, o Governo do PS é uma categoria superlativa no desporto. Nem medalhas quer em Londres 2012. Mas dá dinheiro, mais dinheiro ao camarada Comandante Vicente do Comité Olímpico. E anda a fazer CEntros de Alto Rendimento por todo o país sem dizer uma palavrinha sobre como eles vão ser financiados e organizados. De facto é obra, muita obra. Viva o Socialismo Moderno, e longa vida ao camarada Laurentino. A bem do andebol, do futebol, do basquetebol, do esqui, da actividade física, da saúde e do exercício, e da petanca...!
Laranjinha Mecânica Desempregado
Face ao tom épico sobre o mundo maravilhoso em que vivemos recorro,com ironia mas sem azedume,a uma citação de Gustave Flaubert que acabo de ler num blogue.Reza assim: "o futuro atormenta-nos e o passdo retém-nos.É por isso que o presente nos foge".
A Metáfora Política das Organizações Desportivas
Há algum tempo atrás publiquei um texto, relativamente extenso, no Forum Olímpico de Portugal que explicava as organizações federadas do desporto português como decorrentes do que denominei de " A Metáfora Política das Organizações Desportivas".
Passo aqui a apresentar um pequeno excerto inicial desse texto que, porventura, poderá ajudar a compreender o que nos relata a Maria José Carvalho e que sabemos se tem repetido em outras modalidades desportivas.
Assim passo a citar:
"Em Portugal predomina largamente no discurso mais aprofundado teoricamente ou no discurso corrente do homem comum a “metáfora política das organizações desportivas”.
É através desta metáfora e dos seus ingredientes fundamentais que se discorre sobre os problemas de funcionamento, as estratégias ou falta delas, os mecanismos de poder, a representação das estruturas organizacionais e outros temas das organizações do nosso sistema desportivo federado.
Então de que se compõe essencialmente esta visão metafórica e que implicações origina para o entendimento do funcionamento das referidas organizações desportivas? Porque apresenta ela tanta vigência e importância explicativa no discurso sobre a estruturação e funcionamento das organizações do desporto entre nós? E quais as consequências para o nível da governação desportiva em Portugal?
Desde logo assumem papel destacado nesta compreensão metafórica política das organizações desportivas os aspectos relativos ao poder e ao conflito, suas formas, intérpretes principais e manifestações, perdendo valor os aspectos mais formais e programados da vida organizacional.
A racionalidade, traduzida na possibilidade de previsão de decisões e comportamentos dos actores e das estruturas, perde fulgor interpretativo da vida organizacional. O consenso e a integração que a perspectiva funcionalista premeia também são desvalorizados em favor de uma imprevisibilidade e conflitualidade dos actores sócio-organizacionais.
Passam a ter mais importância as coligações de vontades e de pessoas no interior das organizações, muitas vezes sendo alternativas umas em relação a outras. Formam-se internamente centros de poder, legitimando interesses agrupados em volta de líderes situacionais, que disputam entre si as legitimidades, a influência e a capacidade de determinarem os caminhos da organização.
O conflito passa a estar, por conseguinte, no centro da compreensão do funcionamento da organização. E a clarificação da evolução da organização depende dos vários conflitos intra-organizacionais, da estruturação e desestruturação que eles implicam, das vontades vencedoras e da sua capacidade de mobilizarem recursos e promoverem decisões eficazes.
Nestas “organizações politizadas” há perdas de eficiência flagrantes que decorrem do pequeno grau de formalização e programação que nelas existe e da tendência para se afirmarem lógicas de decisão e acção menos reguladas e estritamente definidas.
As “zonas de incerteza” são, por isso, evidentes e nelas emergem os “jogos de poder e de influência” liderados por actores sociais internos que procuram afirmar-se e reforçar os seus poderes respectivos. As alianças e as relações de coligação e de antagonismo crescem internamente.
A estratégia joga-se quase exclusivamente no interior destas organizações e não surge da adaptação aos constrangimentos ambientais externos como postula a abordagem sistémica e contingencial. E a organização desportiva transforma-se, assim, numa “arena política” onde se enfrentam interesses diferenciados coligados em núcleos de poder que estruturam objectivos, valores, desejos, expectativas e, sobretudo, vontades e ambições." (fim de citação).
P. S.: A quem estiver interessado lembro que o site do FOP é em www.forumolimpico.org
José Pinto Correia, Mestre em Gestão do Desporto
A questão talvez seja outra. A Oposição inventou a "acusação de propaganda" para ver se os resultados deste Governo escapavam à vista do Povo.
Porque a comparação é tão desprestigiante para a oposição que a querem evitar a todos o custo.
Só há uma solução. Daqui a quatro anos serem uma oposição mais competente. Quatro anos de Novas Oportunidades devem chegar para estarem a altura de competirem com o PS.
Anónimo
Ao José Correia que transcreve um texto seu para que o tornem a ler, ou por pensar na sua eternidade (do texto, claro), mesmo que se readapte em permanência:
"...a escrita é um jogo ordenado de signos que se deve menos ao seu conteúdo significativo do que à própria natureza do significante; mas que também esta regularidade da escrita está sempre a ser experimentada nos seus limites, estando ao mesmo tempo sempre em vias de ser transgredida e invertida; a escrita desdobra-se como um jogo que vai infalivelmente para além das suas regras, desse modo as extravasando. Na escrita não se trata da da manifestação ou da exaltação do gesto de escrever, nem da fixação de um sujeito numa linguagem; é uma questão de abertura de um espaço onde o sujeito de escrita está sempre a desaparecer."
Michel Foucault
O que é um autor?
Vega, 7.ª edi
Lisboa, 2009
Sem ironia, mas com amizade.
Cordialmente
Ó senhor Moderador da CD retire o piu a palhaçoes como o das 21:47 de 3.09.09 que nada acrescentam à temática! Não é uma acção fascista se o fizer, é que já não há +achorra para estes "gajos" que andam para aqui sem dizer nada de útil!
E já agora, como o PS é o maior para o Desporto porque é que não alteram a CRP para que na próxima tenha obrigatoriamente a maioria e fique lá até se acabar o Estado, ou o Planeta ?
Também acharia de "bom tom" para a CD que os incógnitos ou não por baixo do anónimo, ou não, acrescentassem a sigla do partido a que pertencem! Assim ficávamos todos mais cientes das sua razões, ou não! É que desde 75 que abdo a ouvir sistematicamente "uns putos" a dizerem uns aos outros que "eu fiz isto e tu não", que "eu tenho e tu não tens", só falta dizerem "mostra o teu/tua que eu mostro o meu/minha!
Eu, simples pessoa e neutro político continuo a considerar aquela frase dos "Anarcas" de que "Portugal estava à beira do abismo, agora (algures no espeço/tempo deu um grande passo em frente!" Não só no desporto...
Os anónimos de serviço não referiram as falhas da regulação pública dos salários em atraso e a ineficiência do mercado do futebol profissional que se propagou ao amador.
Acontece que criar um mercado e regulá-lo com eficiência para maximizar o produto desportivo e o bem-estar nacional exige uma capacidade que vai para além da produção esforçada de legislação que serve para todas as causas e consequências.
Os partidos deveriam cuidar de si e rodear-se de técnicos que eticamente justificassem as medidas do partido com o seu saber, sem trazerem sempre o guarda-chuva do partido cada vez que espirram. A sua capacidade superior deveria potenciar a sua filiação partidária e não ser a filiação partidária ou a diabolização dos opositores a marcarem a excelência das intervenções. Mais grave é o anonimato que Pacheco Pereira num artigo na Sábado explica o funcionamento.
As pessoas para votarem querem soluções e ideias que funcionem, não querem andar com o partido atrás da orelha e com complexos de culpa porque não referiram antes, no meio e no fim o magnífico trabalho do chefe supremo.
As federações são monopólios competitivos e necessitam de medidas de política de regulação do respectivo mercado desportivo sofisticadas e os produtores de desporto atletas, treinadores e dirigentes necessitam de explicações simples e objectivas porque é que as coisas são de determinada maneira e porque é que se forem diferentes de um grau o resultado será diferente e arrisca tornar-se catastrófico.
Na nova legislatura era útil que houvesse uma outra forma de fazer política desportiva.
Como economista não tenho dúvidas que fazer leis no circuito fechado entre juristas, políticos e líderes desportivos, onde conto amigos aqui e ali, é prejudicial à economia do desporto.
A economia do desporto é um ente vivo e actuante respondendo a todos os actos que lhe são impostos. A economia do desporto português é ineficiente porque a regulação que é responsabilidade do Estado promover é ineficiente. É ineficiente há 30 anos.
O fenómeno recente dos anónimos é recente e é a resposta da ineficácia do modelo tradicional.
Sabendo que as políticas não produzirão resultados positivos há que não dar o nome e ser violento na afirmação da cor pela cor.
O debate possível passa a ser não sobre os desafios aqui colocados pelos donos do blogue como a história do andebol colocada pela Maria José Carvalho mas sobre o carácter insano dos anónimos.
Uma coisa de cada vez.
Fica para outra vez escrever sobre o Andebol.
Escreve fernando tenreiro
falhas da regulação pública dos salários em atraso
Este fernando tenreiro é extraordinário!!
Verdadeiramente extraordinário!!
Caros/as Leitores/as,
Permitam-me o seguinte esclarecimento: de ora em diante não validarei qualquer comentário que trate indignamente quem quer que seja. Penso que nunca validei comentários desrespeitosos, mas ultimamente a má educação de alguns intervenientes tem beliscado o insuportável. Assim, independentemente da pertinência substancial dos comentários, não tolero que apelidem os outros com adjectivações ou alusões impróprias ao tratamento cívico exigível neste espaço de reflexão e debate. Como tal não serão publicados.
Para o Fernando Tenreiro
Gostaria de saber:
- o que é a regulação pública de salários?
- em que medidas/acções práticas se concretiza?
- em que países existe uma regulação pública de salários?
- que exemplos de leis ou medidas foram implementadas nesses países para concretizar a tal regulação pública de salários?
- existe regulação pública de salários, no âmbito do desporto, em algum país da União Europeia? Qual? Que obras/estudos sobre tal regulação pública desportiva podem ser consultados?
- qual o país da União Europeia em que existirá uma regulação pública de salários, no desporto, que o Tenreiro considere exemplar?
Inteiramente de acordo com o comentário da Maria José.
Um blog de Constança e Vasco Polido Valente tinha chegado a um ponto tal que as pessoas já destrambulhavam na linguagem.
Escrevi pessoalmente ao Vasco a propor a ejecção de tais comentários ou acabar com o blog.
O De Rerum Novarum já adoptou a medida de ler primeiro as mensagens antes de as publicarem.
O Abrupto de Pacheco Pereira também saneia desde o princípio o lixo.
Não se trata aqui de censura mas de calar as pessoas que fazem do blog uma feira de entretenimento, por falta de assunto.
Evidentemente que um blog não é uma revista científica, mas apenas um espaço para a troca de ideias e de opiniões sobre o desporto.
Apoio inteiramente a Maria José.
A bateria de perguntas refere-se à descontextualização de uma frase.
A resposta é simples e é facilmente explicada.
Falei dos salários em atraso como caso da ineficácia da regulação do mercado do futebol profissional e que surgiu também no amador na época mais recente.
O exemplo tem mais de dez anos de prejuízo continuado e persistente para o mercado do futebol e a imagem das suas instituições.
Os salários em atraso no caso do futebol profissional português são um caso de uma falha do mercado privado, continuada ao longo dos anos.
Existem vários mercados não legislados explicitamente e que estão legislados por leis nacionais genéricas.
Os salários não pagos ou pagos com atraso têm consequências bem concretas noutros países: falência dos clubes e saída da competição, baixa de divisão; enquanto no desporto português os reguladores privados são incapazes de lhes pôr cobro há muitos anos.
É uma fraude da verdade desportiva no futebol profissional português.
O anónimo referiu a excelência da criação da liga profissional.
Sugeri-lhe que explicasse esta aparente falha de um problema recorrente que prejudica a competição e a performance económica por facultar a acção de agentes privados sem condições desportivas ou económicas equivalentes aos que cumprem com todos os quesitos.
Muito do que está em causa no caso dos salários em atraso são princípios gerais do funcionamento dos mercados desportivos que obviamente nem necessitariam de regulação específica numa lei de bases do desporto.
Como tudo se quer regular com a lei do desporto, os agentes do futebol português interiorizaram como legítima uma função fraudulenta em virtude do receio do regulador público no desporto em intervir onde o bom senso já exigiria há muito tempo uma atitude exemplar.
São inibições de regulação pública deste tipo que não permitem que o desporto profissional em Portugal cumpra duas funções em todas as modalidades que o possam ter:
1 – Produzam resultados desportivos que atraiam os praticantes, os espectadores e as empresas patrocinadores (no âmbito da publicidade).
2 – Remunerem o capital dos clubes e das empresas que vejam a oportunidade de investirem no desporto profissional. Os clubes como oportunidade de competição, por terem organização, jogadores e treinadores capazes, e as empresas como alternativa de negócio dos seus capitais.
O que seria se mais de 50% das empresas privadas em qualquer mercado económico nacional pagassem sistematicamente em atraso?
Porque é que isso é possível no desporto português, sendo que os reguladores privados demonstraram serem incapazes de resolverem o problema durante tantos anos?
Escreve - agora - o Fernando Tenreiro:
Como tudo se quer regular com a lei do desporto, os agentes do futebol português interiorizaram como legítima uma função fraudulenta em virtude do receio do regulador público no desporto em intervir onde o bom senso já exigiria há muito tempo uma atitude exemplar.
São inibições de regulação pública deste tipo que não permitem que o desporto profissional em Portugal (...)
Gostaria, então, de perguntar o seguinte:
- a lei desportiva portuguesa é diferente da lei de qualquer outro país europeu, a ponto de se poder dizer que ela "tudo quer regular"? Se é diferente, é-o em quê?
- alguma lei do desporto, na União Europeia, estabelece algo sobre salários em atraso? Caso não estabeleça, tal pode qualficar-se como "receio do regulador público" ou "inibição do regulador", ou tais epítetos apenas são válidos para o caso português?
- na inexistência de quaisquer normas públicas, em qualquer país, sobre salários em atraso no desporto, poder-se-á dizer que, nesses países,"os agentes do futebol interiorizaram como legítima uma função fraudulenta" ou tal interiorização apenas terá ocorrido em Portugal?
- que tipo de intervenção poderia ter tido o "regulador" em Portugal que fosse considerada exemplar e ditada pelo bom senso? Em que países europeus é que tal medida se poderia inspirar?
Eu penso que o direito e a economia são fundamentais para a eficiência do processo produtivo no desporto.
Parece que o processo seguido não resolveu os salários em atraso.
Que tal resolver o problema dos salários em atraso?
O que está em causa são os muitos comentários neste blogue sobre a excelência do processo legislativo.
Ora os salários atrasaram-se porque existem problemas desportivos e económicos que o processo legislativo, enfaticamente descrito, parece não ter resolvido.
Nos outros países o fenómeno dos salários em atraso no desporto profissional não aparece.
Noutros países existem condições de produção desportiva em que jogadores, treinadores, técnicos e dirigentes são remunerados de acordo com o valor do seu trabalho.
Os clubes desportivos têm tido dificuldades extremas de funcionamento, sem que existam medidas de política para o seu funcionamento eficiente.
Esse estrangulamento naturalmente chega ao desporto profissional.
Para resolver o desafio dos salários em atraso são necessários processos de produção de conhecimento, de formulaçao de políticas, de aplicação e sancionamento das mesmas que actualmente não existem em Portugal.
Por um lado:
Veremos dentro de pouco tempo se os salários em atraso voltam ou não.
Se voltarem então o processo seguido até hoje deverá ser revisto.
Por outro lado:
O anónimo até agora não referiu qual o processo e as medidas para combater este flagelo especificamente desportivo desta legislatura.
Quer isso dizer que nada foi feito?
Para o Dr. Fernando Tenreiro
Se bem percebi os seus comentários,não há, nem pode haver, seja em Portugal, seja noutro país europeu, nenhuma medida legislativa que pudesse ser tomada para evitar o problema dos salários em atraso no desporto.
Com efeito, o Dr. Tenreiro, convidado a tal, não identificou qualquer medida nesse sentido.
É verdade que referiu que, noutros países, os clubes iriam para a falência. Ora, como sabe, não existe qualquer impedimento em Portugal para que uma empresa insolvente seja declarada falida - bem antes, pelo contrário.
Referiu ainda o Dr. Tenreiro que, noutros países, os clubes desceriam de divisão.
Ora, não é ao Governo que compete fazer descer os clubes de divisão. Além disso, as regras da Liga de Futebol para 2009-2010 também estabelecem idênticas sanções.
Foi, justamente com este Governo, que a Liga estabeleceu duras sanções para os clubes faltosos. É assim também que se passa no estrangeiro.
Onde é que está, portanto, a falha do Governo português - que o Dr. Tenreiro ainda não conseguiu especificar e esclarecer?!
O que se pode ler por cima da caixa de comentários do blog De Rerum Natura:
1) Identifique-se com o seu verdadeiro nome.
2) Seja respeitoso e cordial, ainda que crítico. Argumente e pense com profundidade e seriedade e não como quem "manda bocas".
3) São bem-vindas objecções, correcções factuais, contra-exemplos e discordâncias.
Esta frase deve ser realçada
‘Foi, justamente com este Governo, que a Liga estabeleceu duras sanções para os clubes faltosos.’
Não se percebe quem fez o quê. O que está a dizer é que o Governo estava a olhar e a Liga actuou ou que o Governo fez alguma coisa que é segredo de Estado e sem isso a Liga não mexia uma palha? Perdoe-me as questões tão cruas.
O debate de ontem foi claro entre Ferreira Leite e Louçã: é possível discutir medidas de política de direita e de esquerda para resolução dos problemas do país deixando ao espectador elementos que lhe permitem optar pelas soluções que prefere entre questões de extrema complexidade.
Eu não sou contra as medidas legislativas, não acredito no carácter único das medidas legislativas com exclusão de todas as outras.
Não será desejável esperar pela véspera das eleições para resolução de problemas estruturais através de uma lei ou de um regulamento. Os problemas vão surgir de novo. É o que se passa com os salários em atraso.
Os salários em atraso são um problema que deve ser analisado e resolvido no complexo quadro de um sistema desportivo moderno e que tem mais do que uma causa próxima. A questão dos salários em atraso radica na essência da produção desportiva eficiente em todos os seus segmentos produtivos. ’Aceita-se’ que os clubes profissionais trabalhem com salários em atraso e nos amadores não existem medidas de política que assegurem que a população tenha as melhores condições técnicas de prática não resolvendo as condições de funcionamento e falência técnica. Por este motivo, os clubes portugueses não existem em número suficiente e os que existem não possuem massa crítica desportiva bastante para a produção de desporto com índices de produtividade europeus. Será esta uma das razões porque os reguladores privados não conseguem resolver o problema que não aflige esta ou aquela liga de clubes, ou aqueloutra modalidade desportiva, o problema é estrutural e é uma falha pública recorrente, pelos impactos negativos que gera.
Temos duas posições:
1 - Existe um problema com os salários em atraso no futebol, o que a comunicação social atesta no final da época transacta. Este facto é o sintoma de um complexo quadro de ineficiência que não se resolve com simples medidas legislativas e regulamentares direccionada para a causa próxima sem ir à raiz dos problemas económicos de uma competição desportiva profissional e aberta no topo europeu.
2 - Os salários em atraso estão resolvidos porque a Liga estabeleceu em meados de 2009 ou no fim da época desportiva de 2008-2009, com o envolvimento do Governo (?), sanções para a próxima época.
O problema que levanto é que os governos, repito os governos, durante mais de uma década têm tido receio, mantendo o mercado do futebol profissional numa situação de frágil solvência ou de insolvência, como terá sugerido a Deloite e Touche nos relatórios que publicava e que deixou de fazer.
O futebol pode produzir muito mais do que o que faz actualmente e as regras económicas têm princípios que não têm sido aplicadas para prejuízo dos parceiros do futebol profissional e do espectador que tantas vezes paga para ver maus espectáculos.
O anónimo quer que eu diga quem falha o quê e esse é também o meu ponto.
O desporto necessita de parceiros activos sem receio de se envolverem em debates e nos projectos inovadores que o desporto necessita para competir internacionalmente.
O desporto necessita dos relatórios da Deloite e das estatísticas do INE, das investigações das universidades para sustentarem as medidas de política desportiva.
Sem estes ingredientes há pessoas que afiançam sempre que a realidade que vale é a deles.
Obrigado por este debate.
A minha expectativa é que na próxima legislatura o quadro que descrevo atrás não se repita, quem quer que governe o país ou o desporto.
Escreve o Dr. Fernando Tenreiro
O problema que levanto é que os governos, repito os governos, durante mais de uma década têm tido receio, mantendo o mercado do futebol profissional numa situação de frágil solvência ou de insolvência, como terá sugerido a Deloite e Touche nos relatórios que publicava e que deixou de fazer.
Desculpe, não sei o que significa "manter o mercado do futebol profissional numa situação de frágil solvência ou de insolvência".
Não sei o que é que os "Governos" fizeram - ou deixaram de fazer - para que tal sucedesse.
E não conheço qualquer frase, texto ou ideia da Deloite, a fazer tal afirmação.
Por outro lado anoto que o Dr. Tenreiro tão depressa assinala que os privados nada conseguem fazer e que, por isso, teria sido necessária uma intervenção pública exemplar, como, quando lhe é lembrado o que a Liga fez, logo contrapõe que tal não pode ser lido a benefício do Governo...
Os pressupostos financeiros para a participação dos clubes e SAD's nas Ligas Sagres e Vitalis, para a época desportiva de 2009-2010, podem ser consultados no site da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (www.lpfp.pt), e constam do Comunicado Oficial nº 186, de 8 de Maio de 2009.
Nesse Comunicado afirma-se que os eventuais incumprimentos dos clubes e SAD's participantes naquelas Ligas constituirão fundamento para o impedimento da sua participação, desclassificação para a divisão inferior, perda do direito de promoção ou de exclusão das competições profissionais.
O Estrela da Amadora e o Boavista, como é público, já foram impedidos, este ano, de disputar as competições das Ligas.
Estamos ambos cientes do que o que cada um diz, o que significa que apenas um terceiro ente ou acontecimentos trarão desenvolvimentos ao debate.
A Liga fez o suficiente?
Óptimo! Na próxima época não haverá salários em atraso.
Os jogadores agradecerão à Liga por terem os seus contratos cumpridos, os treinadores passarão a ter equipas apenas orientadas para os resultados desportivos, os dirigentes dos clubes terão as condições de trabalho que lhes permitirão ter os estádios cheios, classificar-se no ranking de acordo com os recursos aplicados, sem serem ultrapassados por outros com condições inferiores, etc.
Ou a Liga não foi à raiz do problema e ele vai resurgir.
Não quero convencê-lo que o paraíso na terra não existe.
Para o José Pinto Correia, de 4,09.09, às 13:08
Não percebo onde quer chegar com a sua Metáfora Política das Organizações Desportivas.
É errado que exista debate e controvérsia dentro das organizações desportivas?
Seria desejável que se suprimisse tal debate?
Seria essa supressão a condição para "ganhos de eficiência" dessas Organizações?
Essa conflitualidade interna é privativa de Portugal? É um "mal português"? Não existe noutros países?
Que medidas recomendaria para pôr fim a tal conflitualidade?
Chegámos aos pressupostos jurídicos
Os pressupostos jurídicos são uma forma preguiçosa e negligente de fazer política desportiva.
Destaco o que referi a 6set09, 23:52: ‘Para resolver o desafio dos salários em atraso são necessários processos de produção de conhecimento, de formulação de políticas, de aplicação e sancionamento das mesmas que actualmente não existem no desporto em Portugal’.
Criar esta estrutura eficiente exige um acordo transversal aos partidos e ao associativismo. Dá trabalho e tem um custo que lhe é próprio. Fazer economias aqui tem custos elevados.
É negligente porque o custo de estudar um campeonato profissional é inferior às consequências negativas que o desporto português tem com a situação de ineficiência desse mesmo campeonato.
Os pressupostos jurídicos são um instrumento para justificar a não necessidade de análises técnicas e económicas competentes sobre os mercados do desporto profissional e o seu impacto na respectiva modalidade e na sociedade.
São um facilitismo jurídico e ineficiente.
Durante a última década os pressupostos jurídicos foram ‘reis e senhores’ e os salários sempre se atrasaram e o espectáculo do futebol se degradou. O negócio do futebol faliu durante o período e o sucesso ‘acontece’ ou nos grandes clubes, ou nos parceiros na comunicação social, no turismo e na construção civil dos estádios.
Porém, a questão fundamental exige uma análise técnico económica da rendibilidade do mercado, de cada um dos seus clubes e empresas e do respectivo impacto na modalidade e no desporto português.
O mercado do futebol profissional moderno é complexo e contém instrumentos que não se definem ‘de uma vez e para sempre’. Esta figura só existe no direito desportivo português e tão bem ilustrado pelas intervenções dos anónimos e nos pressupostos jurídicos.
A Liga de Andebol fechou depois de 2005. Está criado novo campeonato actualmente e não teve estudos como o anónimo de 3 de Setembro, 23:13, perguntava onde estava o estudo quando a Liga de Andebol foi criada a primeira vez com Hermínio Loureiro. O anónimo critica o HL de 2005 e aceita que a nova Liga de Andebol de 2009 surja sem estudos. Critica igualmente o aparecimento da Liga de Basquetebol e diz que a criação da Liga do Futebol e a sua sustentação se deve ao PS.
Esta conclusão é enorme, estar a comparar uma actuação de política desportiva com o sucesso nacional, europeu e mundial do futebol moderno. O futebol é suficientemente grande para poder suportar eventuais políticas medíocres ou mesmo a ausência de medidas de política. É uma comparação a evitar. Todas estas ligas tiveram pressupostos jurídicos e mesmo assim faliram como acentuam os anónimos.
A força do futebol profissional moderno tem consequências negativas desportivas e sociais sobre a prática da modalidade, a vida dos jogadores jovens e sobre o tecido associativo que não se estudam ou perspectivam em Portugal. É o que se chama de 'tragédia dos comuns'.
O futebol há vários meses tinham muitos clubes sem pagar salários a horas e isso eram actos de gestão aceites pelos pressupostos jurídicos.
Mande sempre!
Para o Fernando Tenreiro
O melhor mesmo é ler o Mito da Tragédia dos Comuns, de Ian Angus...
Isto porque a Tragédia dos Comuns, que cita, do Garret Hardin, não é seguramente nenhuma bíblia!
É uma das leituras possíveis sobre a 'tragédia dos comuns'.
O problema em discussão é o dos cuidados a ter com benefícios públicos sob pena deles desaparecerem pelo consumo excessivo das populações e dos agentes privados.
Como acontecerá no futebol português.
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