Quem são as elites? O grupo de pessoas que exerce uma dominação política sobre a maioria? Ou grupos posicionados em lugares de topo de diferentes instituições públicas, partidos ou organizações de classe, ou seja, aqueles que têm capacidade de tomar decisões? Ou aquelas pessoas capazes de formar e difundir opiniões que servem como referência para os demais membros da sociedade? As interrogações sobre o conceito poderiam multiplicar-se. Qualquer que seja o entendimento uma questão se coloca. Como se formam? Como atingem as posições de destaque que levam a ser entendidos como elite? Que critérios presidem à sua constituição?
Se as elites fossem constituídas pelos mais capazes, os mais aptos, os mais talentosos seriam o resultado natural do mérito, da inteligência, do esforço, do trabalho, do conhecimento, da competência. E a ser assim as sociedades livres e democráticas legitimariam este desenvolvimento natural. Mas não. As sociedades democráticas são sociedades prisioneiras de outros poderes onde a valorização do mérito carece de outras instâncias legitimadoras. A um ponto em que a legitimação formal pode ser obtida à custa da des-legitimação substantiva.
É o que se passa com os partidos políticos que para alem do seu espaço natural de representação tendem a invadir o espaço público e mediático ocupando, com os seus elementos ou afins, as posições hierárquicas que assegurem a sua dominação.
É que o que se passa com organizações de carácter religioso ou iniciático, que ausentes de qualquer sindicância pública protegem os “seus” atribuindo-lhes cargos e prebendas que de outro modo não alcançariam.
Uns e outros tendem a ocupar o Estado hegemonizando as zonas de exercício público e privatizando a seu favor a respectiva dominação. Há, infelizmente, cada vez mais pessoas que só têm o emprego que têm ou a função pública que exercem por terem quem as “apadrinhe”. Que tanto pode ser um partido, uma igreja ou uma loja. Em alguns casos acumulando filiações. O que em tempos foi a entrega a uma causa ou a determinados valores está transformado numa entrega na expectativa de favores, de lugares, de posições. Funcionam como máquinas de conquista e de distribuição do poder. Que nem sempre assim se passará não custa reconhecê-lo. Mas que é regra em elevado número de situações não pode deixar de ser motivo de preocupação.
No passado, muitas destas organizações cultivavam o elitismo e eram severas e muito rigorosas na captação e formação dos seus membros. Mas nos tempos presentes abriram-se, baixaram os critérios de selecção e deixaram que as adesões deixassem de ser por razões espirituais ou políticas e o fossem por motivos materiais e de ambição pessoal. O resultado está aí, nem sempre à vista mas mais presente do que se imagina.
A percepção desta situação é muitas vezes difusa. E a denúncia pública ainda pior. Os “esquemas” são subtis e a produção de prova bem difícil. Sabe-se, aqui e acolá, de um concurso de pessoal em que entrou quem “politicamente” convinha. Da designação para um cargo público “empurrado” por este ou aquele lobi. Das dificuldades de acesso a cargos públicos de quem não tem quem o “proteja”.
Esta observação não envolve qualquer crítica apriorística aos partidos ou outro tipo de organizações. Mas ao modo como resvalaram para espaços de pouca doutrina e de uma ambição pelo poder sem critérios de qualidade ou de mérito. Situação bem testemunhada pela ascensão à profissão de politico de jovens cuja única escola de vida são as “jotas”.
A política deixou de ser uma discussão sobre “modelos de sociedade”para ser uma luta pela conquista do poder. A geração que deu rumo à democracia e que foi forjada na resistência à ditadura tende aos poucos a acabar. E com ela o idealismo que a marcou. Com a mudança de paradigma e de geração uma nova cultura e novas elites levam anos a consolidar. O que hoje temos é um produto híbrido da modernização iniciada com o yuppismo cavaquista e bem protagonizado no hibridismo socrático da esquerda armani. As ideologias “pragmatistas”, livres de debate e discussão associados a gente “positiva” e “empreendedora”,muito “cool”, muita “rede social” mas que só consegue subir na vida através de lógicas aparelhísticas ou de seita. São o inner circle eleito. Não nutrem pelo mérito, pela seriedade e pela competência mais do que a simples retórica. Que explicam escolhas, lugares e alianças.
Se as elites fossem constituídas pelos mais capazes, os mais aptos, os mais talentosos seriam o resultado natural do mérito, da inteligência, do esforço, do trabalho, do conhecimento, da competência. E a ser assim as sociedades livres e democráticas legitimariam este desenvolvimento natural. Mas não. As sociedades democráticas são sociedades prisioneiras de outros poderes onde a valorização do mérito carece de outras instâncias legitimadoras. A um ponto em que a legitimação formal pode ser obtida à custa da des-legitimação substantiva.
É o que se passa com os partidos políticos que para alem do seu espaço natural de representação tendem a invadir o espaço público e mediático ocupando, com os seus elementos ou afins, as posições hierárquicas que assegurem a sua dominação.
É que o que se passa com organizações de carácter religioso ou iniciático, que ausentes de qualquer sindicância pública protegem os “seus” atribuindo-lhes cargos e prebendas que de outro modo não alcançariam.
Uns e outros tendem a ocupar o Estado hegemonizando as zonas de exercício público e privatizando a seu favor a respectiva dominação. Há, infelizmente, cada vez mais pessoas que só têm o emprego que têm ou a função pública que exercem por terem quem as “apadrinhe”. Que tanto pode ser um partido, uma igreja ou uma loja. Em alguns casos acumulando filiações. O que em tempos foi a entrega a uma causa ou a determinados valores está transformado numa entrega na expectativa de favores, de lugares, de posições. Funcionam como máquinas de conquista e de distribuição do poder. Que nem sempre assim se passará não custa reconhecê-lo. Mas que é regra em elevado número de situações não pode deixar de ser motivo de preocupação.
No passado, muitas destas organizações cultivavam o elitismo e eram severas e muito rigorosas na captação e formação dos seus membros. Mas nos tempos presentes abriram-se, baixaram os critérios de selecção e deixaram que as adesões deixassem de ser por razões espirituais ou políticas e o fossem por motivos materiais e de ambição pessoal. O resultado está aí, nem sempre à vista mas mais presente do que se imagina.
A percepção desta situação é muitas vezes difusa. E a denúncia pública ainda pior. Os “esquemas” são subtis e a produção de prova bem difícil. Sabe-se, aqui e acolá, de um concurso de pessoal em que entrou quem “politicamente” convinha. Da designação para um cargo público “empurrado” por este ou aquele lobi. Das dificuldades de acesso a cargos públicos de quem não tem quem o “proteja”.
Esta observação não envolve qualquer crítica apriorística aos partidos ou outro tipo de organizações. Mas ao modo como resvalaram para espaços de pouca doutrina e de uma ambição pelo poder sem critérios de qualidade ou de mérito. Situação bem testemunhada pela ascensão à profissão de politico de jovens cuja única escola de vida são as “jotas”.
A política deixou de ser uma discussão sobre “modelos de sociedade”para ser uma luta pela conquista do poder. A geração que deu rumo à democracia e que foi forjada na resistência à ditadura tende aos poucos a acabar. E com ela o idealismo que a marcou. Com a mudança de paradigma e de geração uma nova cultura e novas elites levam anos a consolidar. O que hoje temos é um produto híbrido da modernização iniciada com o yuppismo cavaquista e bem protagonizado no hibridismo socrático da esquerda armani. As ideologias “pragmatistas”, livres de debate e discussão associados a gente “positiva” e “empreendedora”,muito “cool”, muita “rede social” mas que só consegue subir na vida através de lógicas aparelhísticas ou de seita. São o inner circle eleito. Não nutrem pelo mérito, pela seriedade e pela competência mais do que a simples retórica. Que explicam escolhas, lugares e alianças.
10 comentários:
“A desistência das elites, substituída por uma casta de medíocres, transformou-nos numa espécie de carpideiras”
(Baptista-Bastos, escritor e jornalista).
Totalmente de acordo.
Falta escalpelizar o "politicamente correcto", outra das grandes armas da partidocracia em que vivemos.
O "politicamente correcto":
Definição: é tudo aquilo que, aparentemente, agrada às maiorias, ou seja, tudo aquilo que, supostamente, dá votos, independentemente de ser ou não útil e benéfico para a sociedade.
O politicamente correcto é um dos pilares da partidocracia. É a cartilha das Jotas.
O politicamente correcto é uma arma de manipulação dos iletrados e incultos. Usa e abusa da burocracia e da falácia. Serve-se das modas. É racionalmente perverso. Está-se nas tintas para as ideologias e para o pensamento crítico e por isso é mais utilizado pelos partidos do centrão, que meteram a ideologia na gaveta. Abomina as elites independentes. Aliás, não suporta independentes, que considera estúpidos, por não comerem na manjedoura do poder.
Está vivo e de boa saúde.
Caro Luís Leite,
Se me permite assino por baixo este seu último comentário.
para não ficar na mão das elites eu colocaria um outro elemento relacionado com o que é o desporto português
há uma frágil estrutura desportiva que impede a capacidade de suportar as crises e afirmar superiormente a estrutura fundamental do desporto
em portugal isso não acontece
as elites são importantes, e a sua falta nota-se na incapacidade da opinião publica do desporto afirmar o que deve e não deve ser feito
corremos o risco de andar a falar de elite em elite quando podemos e devemos ter um centro e principios que os vinculem ao bem comum
concordo com o texto
Fico feliz por ler este género de comentários, indica que a democracia apesar de doente e mal tratada ainda consegue respirar e comunicar. Com 2010 à porta, com perspectivas de que seja um ano pelo menos mais positivo, com tudo aquilo que esta palavra significa, está na altura de pensarmos no que é realmente importante para nós, para a nossa Família, Amigos e comunidades onde estamos inseridos.
O que Baptista-Bastos diz, pelo que o Anónimo das 15:26 reproduz, está na linha do que Salazar pensava:
"O nosso grande problema é o da formação de élites que eduquem e dirijam a Nação. A sua fraqueza ou deficiência é a mais grave crise nacional.Só as gerações em marcha, se devidamente aproveitadas, nos fornecerão os dirigentes - governantes, técnicos, professores, sacerdotes, chefes do trabalho, operários especializados - indispensáveis à nossa completa renovação."
In
"Salazar. O homem e a sua obra"
António Ferro
Edições Fernando Pereira
Lisboa,1982, p.296
Posto isto, continuamos, como no Estado Novo, à procura da "boa moeda".
Tomei a liberdade de "linkar" este texto no meu humilde blogue.
Batista-Bastos, Balbino Caldeira, Mário Crespo, Medina Carreira, Santana Castilho, o falecido Eduardo Prado Coelho, D. Duarte Pio, Paula Teixeira da Cruz, e tantos, tantos outros, têm revelado grande lucidez e coragem nas suas posições públicas e análises.
Mas ao autor deste texto tiro o meu modesto gorro de lã! Bravo!
Parabéns ao autor do texto. Adorei a expressão "socialismo armani". Infelizmente é o que está a dar!
José Manuel Constantino dou-lhe os meus parabéns por tão realista, oportuna e nobre crítica.
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