quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Voando sobre um ninho de euros

A Câmara Municipal do Porto, a Câmara Municipal de Gaia, a Junta Metropolitana do Porto, os deputados do PSD/Porto, estes que me recorde, insurgiram— se quanto ao facto de o Red Bull Air Race ter migrado para Lisboa e Oeiras. Vêem nessa mudança mais um sinal do centralismo da capital em desfavor de outras regiões do país. E a discussão por aqui andou. Mal, a meu ver.
A colocação da questão nos termos que são publicamente conhecidos, Porto ou Lisboa, passa ao lado do essencial. Dá por adquirido o que não está discutido: qual é o valor, do ponto de vista do interesse público, que tem um evento com aquelas características que justifique a afectação de significativos recursos públicos e a concorrência ente cidades/regiões para o acolherem? O acalorado debate político tem pertinência do ponto de vista do interesse do país? Tenho muitas dúvidas. Gostava que demonstrassem o que perde o país em a corrida dos aviões ir voar para outros céus. Ou se é difícil com o mesmo dinheiro público optar por uma outra iniciativa com maior retorno para o país. Coisa que, para quem tudo faz para a acolher, deve ser fácil de explicar.
Bem sei que colocar a questão nestes termos fará reunir o coro dos habituais pirómanos e festivaleiros políticos e de quem lucra com a eventomania. E que este tipo de acontecimentos - a que se pode juntar a titulo exemplificativo as corridas de pópós na Boavista no Porto, o Rock in rio em Lisboa, o Dakar.os festivais de rock no Verão e um sem número de eventos musicais, culturais, desportivos, etc, que de norte a sul do país sobrevivem à custa do dinheiro público - animam o comércio local ,a hotelaria e “dão nome “ e visibilidade à terra. Também sei que, alguns , são eventos que atraem multidões e televisões. E que têm muitos entusiastas. Tudo bem. Que paguem o seu entusiasmo. Mas não peçam que quem não gosta ou frequenta essas iniciativas seja solidário com a despesa. A menos que o custo tenha óbvias vantagens para a comunidade no seu todo.
Os efeitos deste tipo de eventos são efémeros. Esgotam-se em poucos dias. E os benefícios económicos para o país decorrentes da sua realização não são óbvios. O país não vive com folga financeira para se dar ao luxo de pagar festas que servem de divertimento a muitos e de lucro a uns poucos. Operações desta natureza, ligadas a interesses comerciais privados de muito difícil escrutínio, exigiriam uma extrema cautela na colocação de dinheiro público. Por isso, discutir se o dinheiro público dever ser gasto mais em Lisboa ou no Porto é interessante. Mas sê-lo-ia ainda mais se, antecipadamente, se discutisse, se vale a pena gastá-lo.
O centralismo político existe. A concentração de grandes investimentos públicos em eixo geográficos de maior proximidade com a capital é óbvia. Mas a luta contra o centralismo (ou a defesa da regionalização por exemplo…) não pode ser feita sem uma discussão sobre a redistribuição de poderes em ordem ao seu uso e aplicação. Se a descentralização (ou desconcentração, ou a regionalização …) se traduzir, apenas, numa multiplicação de pequenos poderes que imitam os hábitos e práticas dos poderes centrais é desastre à vista. Seria mais do mesmo.
Os tiques centralistas não se combatem com causa menores e pífias como a corrida dos aviões. Combatem-se com políticas alternativas que ajudem a desenvolver as regiões, criando empresas, trabalho e riqueza e ajudando a melhorar a qualidade de vida das comunidades e das populações. Gastar mal o que é público, infelizmente, não é pecado apenas do poder central. E ter muitos mais a imitá-lo é um risco a evitar. Que me desculpem os que pensam de modo diverso. Mas a boa noticia seria que os aviões iriam para outros céus. E que, nos de cá, a brincadeira não nos custava um cêntimo. No Porto, em Lisboa, em Évora ou no Funchal.

13 comentários:

ftenreiro disse...

Creio que, pelo menos, tomo o partido das dúvidas.

Concordando com a natural competitividade entre regiões há perguntas que ficam para poderem ser respondidas:

Foi pago mais dinheiro pelo patrocinador de Lisboa do que pagava o do Porto?

Foi feito um estudo que demonstra que Lisboa gera mais benefícios nacionais do que o Porto?

Alguma instituição pública central pagou ou vai pagar o evento em Lisboa quando não o fez no Porto?

O empresário quanto é que ganha? Quais são os termos do negócio para se compreender quem são os ganhadores e os pagadores do evento?

Não havendo uma resposta a estas questões permanece a crítica do Porto, sobre a força de Lisboa e a suspeição dos favores que suportam o benefício e a decisão do empresário.

Volto a referir o que sugeri no poste da Maria José Carvalho: com tantas cidades e países por essa Europa o empresário escolhe Portugal, porque gosta do país ou porque os portugueses são perdulários neste domínio dos mega-eventos?

Quando se fala em abate de estádios de futebol não estão a ser repetidos processos com este novo evento?

Não se esqueça que o liberalismo sem regulação, e que tudo vale, levou à criação da bolha financeira internacional que atirou o mundo para a crise do século.

Que regras estão a ser aplicadas ao evento e que demonstrem a correcção do processo de Lisboa?

Elencar princípios tudo bem, desde que se analise objectivamente o processo de 'fio a pavio'.

A área dos mega-eventos interessa ao desporto, por inteiro.

Luís Leite disse...

Os mega-eventos são luxos para os países ricos e desenvolvidos, também, desportivamente.
Não são para um país como o nosso, com a realidade actual.
Aceito a realização de todo tipo de eventos desde que não sejam pagos com os nossos impostos. Negócio é negócio. Tudo bem, desde que dentro da Lei.
Aceito que a Administração Pública central, regional ou local financie eventos, não mega-eventos, desde que sejam de claro interesse público, até um determinado valor de patrocínio (100.000 euros, por exemplo).
Tudo o resto, não tem justificação num país em que a maioria da população vive com dificuldades.
A política de pão e circo é democrática? É, isso sim, uma feira de vaidades, paga com dinheiros públicos e encostada ao "politicamente correcto" e à manipulação do povo incauto e inculto.
No passado, muito raramente assistimos a mega-eventos que contribuiram para o desenvolvimento da respectiva área de actividade. Serviram sim, para distrair e enebriar o povo.
A hipotética realização conjunta do Mundial de Futebol em Portugal e Espanha, por exemplo, é mais uma irresponsabilidade, que apenas se destina a reabilitar e justificar os estádios do Euro 2004 à conta do erário público. E mais "pão e circo".
Os argumentos "Atracção Turística" e "Visibilidade internacional" são falaciosos. São meros pretextos sem sentido, tal como o TGV, para estoirar dinheiro à nossa custa e viabilizar negociatas.
Desenvolva-se primeiro o país com investimentos naquilo que é essencial e reprodutivo.

ftenreiro disse...

Eu concordo com o poste do José Manuel Constantino como posicionamento desassombrado da matéria que outras posições não alcançaram.

Procurei realçar no meu comentário as questões económicas que poderão ajudar a compreender o que se passa e a sustentar as tomadas de decisão.

Quanto ao comentário do Luís Leite ele tem algumas limitações:

Do ponto de vista desportivo o mega-evento gera externalidades que promovem o desporto moderno. Portugal deve usar todos os eventos após um estudo que demonstre quais os benefícios e os custos técnicos da realização desse projecto. Esta análise poderá determinar que pequenos eventos não têm capacidade de realização e algum grande deveria ser criado.

Do ponto de vista económico os mega-eventos também têm benefícios e custos a avaliar e compreender.

Um projecto não se faz só porque é caro. Há projectos que são caros. Dou-lhe um exemplo: criar uma instituição reguladora do desporto é um investimento caro e que só se faz no muito longo prazo. Os políticos portugueses nunca criaram uma instituição reguladora eficaz porque é caro e os objectivos só se obtêm no longo prazo.

Muito Bom 2010 A Todos

josé manuel constantino disse...

Nada tenho quanto à realização de grandes eventos em Portugal. As minhas reservas são quanto à aplicação de recursos públicos para a sua viabilização. E à continuada e persistente ausência de rigor na avaliação da relação de custos /benefícios para o país.

Luís Leite disse...

Quanto ao último comentário de F. Tenreiro, ele tem algumas limitações: não explica quais são as "externalidades" que promovem o desporto moderno. Gostava que nos desse alguns exemplos, entre aqueles mega-eventos que já se realizaram ou realizam periódicamente em Portugal: Euro 2004, Estoril Open, Masters de Ténis, Dakar, Grandes Prémios de F1e todos os Campeonatos do Mundo e da Europa em que Portugal não tem desportistas a discutir posições cimeiras.
Onde estão as "externalidades"? Nos assentos das bancadas? Será o turismo? O turismo não promove o desporto moderno...
No que respeita aos benefícios e custos económicos só vislumbro custos, nalguns casos investimentos escandalosos, como os estádios, pagos directamente pelo Estado, muitas vezes tarde e a más horas, ou por sponsors que são normalmente empresas públicas.
Quanto ao retorno de atracção para a prática desportiva, neses casos, as transmissões dos canais televisivos de desporto, fazem muito mais e melhor, a custos reduzidos.
Mega-eventos não, obrigado.
Generalize-se o desporto escolar e desenvolva-se primeiro a prática desportiva informal e formal. É para aí que devem ser canalizados os recursos financeiros públicos.

F. Oliveira disse...

Quer-me parecer que a argumentação aduzida pelo Dr. José Manuel Constantino pode ter razão e fazer todo o sentido … mas se o nível fosse mais elevado (nível geográfico, entenda-se).
Na minha opinião, todo o tipo de provas do estilo da RBAR e outros desportos, independentemente da sua dimensão, deveria passar por um estudo de custo benefício para a vila, para a cidade, para a região, para o país que as organizam. E, ainda na minha modesta opinião, o Estado deveria dar alguma (maior ou menor) contribuição para a iniciativa e procurar, por diversas formas, que essas provas decorressem nos pontos do país que reunissem condições para as organizar. E os organizadores deveriam ter de prestar contas no final! Contas públicas!!
Só que neste país nada se faz assim! Os exemplos no domínio do Desporto são numerosos mas aquele que mais imediatamente ocorre citar é o do Euro 2004, sobre o qual me dispenso de tecer qualquer consideração. O simples facto de se pensar na demolição de estádios construídos/renovados de propósito para a prova diz tudo. Fora do Desporto, a lista também não é pequena, mas podemos ficar apenas pelo ex-futuro (ou futuro-ex) Aeroporto de Lisboa e pelo TGV (mais tudo aquilo que gravita à volta destas obras.
É claro que a colocação da questão nos termos publicamente conhecidos parece dar mais importância à árvore do que à floresta. Só que as árvores têm sido tantas que nós, por cá, começamos a ficar cansados. O acalorado debate pode não ser pertinente para o país, mas estou seguro de que o é (ou pelo menos deveria sê-lo) para a região e para o Porto. Assim como tenho quase a certeza de que, com a mudança dos aviões para outros céus, o Porto tem muito mais a perder do que o país. É claro que a prova tem efeitos efémeros, mas muitas outras os têm e não é por isso que não se fazem. Para além de que também é possível desenvolver regiões, criar (e manter) empresas, trabalho e riqueza, melhorar a qualidade de vida das comunidades e das populações com uma variedade de iniciativas de efeitos efémeros entre as quais, se calhar, a corrida de aviões nem é das mais pequenas nem a mais pífia.
Declaração final de interesses: a minha posição é completamente antagónica da de Rui Rio, não sou adepto de corridas de popós nem de aviões, e penso que a regionalização em Portugal, nos tempos que correm, apenas levaria à criação de tantos pequenos países quantas as regiões criadas.

ftenreiro disse...

Luís Leite, você é do Atletismo e deveria defender a sua dama porque o Atletismo pode e deve ser veículo de eventos que mostrem à população portuguesa a relevância do desporto moderno.

Quanto aos restantes eventos devem ser feitos estudos e não haver a opinião de pessoas que digam que os mega-eventos são extraordinários e outras a dizer que "só vislumbro custos, nalguns casos investimentos escandalosos".

Sobre a economia você pode dizer tudo o que bem entender, tente quando falar das coisas do desporto falar das coisas para as quais traga valor acrescentado.

Isto já está tão mau, como você diz.

A sua opinião pessoal é importante e cabe-lhe a si demonstrá-lo.

Luís Leite disse...

F. Tenreiro,
sim sou do Atletismo. E sempre foi minha opinião que não devemos organizar grandes eventos, a menos que tenhamos atletas portugueses a lutar por medalhas, quiçá títulos (o que já aconteceu bastantes vezes, felizmente).
Em Portugal não existe um público suficientemente conhecedor de desporto, nem suficientemente numeroso, para justificar a organização de mega-eventos.
Não vejo vantagens nenhumas, para além de eventuais negociatas para alguns e prejuízo para o investidor público.
Mantenho, com algum conhecimento de causa, o que disse.
Mesmo no atletismo, acha bem contratarem-se dúzias de quenianos e etíopes por centenas de milhares de euros, para esmagarem a concorrência nacional em provas de estrada, pagos por empresas públicas, a troco de alguma (pouca e fugaz) visibilidade? Qual o retorno reprodutivo desse investimento? Alimentar protagonismos políticos?
Onde estão as ditas externalidades que promovem o desporto moderno?
No estado em que estão as finanças públicas, tem que se parar com estes disparates.
Nem é preciso fazer estudos nenhuns!...
Repito: invista-se sim em instalações adequadas e não megalómanas, mas devidamente equipadas e enquadradas tecnicamente, para a prática do desporto formal e informal; invista-se a sério no ensino do desporto na escola, nos clubes formadores, nas instalações públicas.
Só assim poderemos vir a ter, a médio e longo prazo, presenças olímpicas mais competitivas, aumentando também exponencialmente o número de federados e de praticantes informais.
Basta copiar o que se faz na maior parte dos países europeus com população idêntica. Olhe-se, por exemplo para a Holanda e compare-se.
Não tenho nada contra negócios claros, nem contra as regras do mercado; sou alérgico a negociatas com dinheiro dos impostos, num país europeu do fim da lista.

Anónimo disse...

Pergunta e bem o Luís Leite:” acha bem contratarem-se dúzias de quenianos e etíopes por centenas de milhares de euros, para esmagarem a concorrência nacional em provas de estrada, pagos por empresas públicas, a troco de alguma (pouca e fugaz) visibilidade? Qual o retorno reprodutivo desse investimento? Alimentar protagonismos políticos?”

O retorno vai directamente para os bolsos dos organizadores para quem estas iniciativas são meros negócios a que os poderes públicos candidamente se associam.

ftenreiro disse...

Ao anónimo

Falei de mega-eventos desportivos

O Luis Leite passa para os eventos locais do atletismo

A vossa dúvida sugere-me que estes pequenos eventos deveriam ter um estudo ou então acreditar nas vossas sentenças

As vossas sentenças demonstram o meu ponto principal: é preciso fazer estudos e análises para não depender do estado de espírito de determinadas pessoas a favor e contra

Como a economia é uma matéria que tendencialmente não se ensina nas escolas de desporto, nem se fazem estudos, os 'organizadores enchem os bolsos' e há quem veja a caravana passar e lhe chame nomes... em nome da sua e boa economia.

Luís Leite disse...

F. Tenreiro sentencia que os mega-eventos (não os eventos-locais)devem ou não existir em função dos resultados de estudos (?), sendo que os de carácter económico serão decisivos.
Eu acho, sem nunca sentenciar, que a política de investimentos financeiros do Estado ou de grandes empresas de capital maioritariamente público em eventos desportivos (sejam eles mega ou não) deve subordinar-se, em primeiro lugar, à moral, à ética e, em consequência, à existência, ou não, de vergonha na cara.
Infelizmente, isso muitas vezes não acontece.
Não estamos, portanto, de acordo.

ftenreiro disse...

Luís Leite

Este diálogo já vai longo para além de eu sentir que eu estou a abusar da boa vontade dos hospedeiros.

Acontece que o Atletismo é uma das jóias do desporto português e é necessário percepcioná-lo bem para não o prejudicar.

Falo do Atletismo porque é sobre ele que é construida a frase: ”acha bem contratarem-se dúzias de quenianos e etíopes por centenas de milhares de euros, para esmagarem a concorrência nacional em provas de estrada, pagos por empresas públicas, a troco de alguma (pouca e fugaz) visibilidade? Qual o retorno reprodutivo desse investimento? Alimentar protagonismos políticos?”

Telegraficamente:

1 - o atletismo português necessita que os melhores venham cá

2 - as quantidades óptimas podem ser estudadas

3 - o quadro competitivo do atletismo é dos mais complexos e por isso tem africanos, que são os campeões

4 - existe um deve e um haver no topo das competições que se alimenta da base e do ponto de vista económico existem irracionalidades nacionais

5 - os clubes portugueses e os atletas amadores alimentam-se da competitividade dos africanos, o que também significa que o patrocínio destes últimos não deve prejudicar os primeiros

6 - por isso, a complexidade da estrutura de competições do atletismo poderia ser alavancada através de medidas de política que não destruisse o alcançado e potenciasse o atletismo português

7 - poucas pessoas compreendem o alcance e a potência do atletismo português

8 - não tenho receitas mágicas e frases feitas, e

9 - só é possível trabalhar o desporto português na média europeia com estudos plurais que suportem medidas de racionalidade política ao nível do que se faz de mais avançado na europa e no mundo

Luís Leite disse...

Perdoe-me F. Tenreiro, a imodéstia, mas de Atletismo percebo eu!...

1 - O atletismo português precisa que os melhores atletas portugueses tenham a possibilidade de competir, periodicamente, com atletas de nível ligeiramente superior (ou igual, quando não existe nível superior). Isso está previsto na Preparação Olímpica e no Regulamento de Alta Competição e é praticado.

2 - Não têm que vir cá, actualmente, corredores de fundo africanos do top mundial, dada a diferença de andamento, se os altíssimos "cachets" forem pagos com dinheiros públicos. Não há nenhuma vantagem competitiva nem aprendizagem técnica. Não tem grande interesse desportivo, embora existam outros interesses evidentes.

3 - Portugal é um dos poucos países europeus (talvez o único), que há quase uma década não consegue ter um único meeting internacional de pista com um mínimo de qualidade, por falta de sponsor(s). Falo do patamar mais baixo, que orça à volta dos 100 a 150 mil euros. Só em Espanha foram realizados, no ano passado, sete meetings com orçamentos superiores, sendo 4 superiores a 300 mil euros e um bem acima do milhão de euros.

4 - Infelizmente, dado o baixo nível de cultura desportiva da população, nunca existiu um público de Atletismo em Portugal. Haverá algumas centenas de pessoas que acompanham a modalidade com atenção, treinadores e atletas de alta competição incluídos.

5 - Não existe nenhuma relação directa ou indirecta entre a realização de grandes eventos de Atletismo em Portugal e a obtenção de resultados de topo mundial dos nossos melhores atletas ou a adesão do público à modalidade enquanto praticante.

A prova é que um país como a Suíça, com cerca de 8 milhões de habitantes, organiza há 5 décadas 2 dos principais meetings do circuito mundial ("Weltklasse" de Zürich e "Athletissima" de Lausanne), gastando actualmente o patrocinador privado "UBS" na sua organização um total cerca de 20 milhões de euros por ano. A Suíça é um país com um nível muitíssimo inferior ao português em Atletismo.

4 - Mais uma vez repito que não tenho nada contra a realização de grandes eventos em Portugal, com grandes nomes do desporto mundial, desde que cada iniciativa seja suportada financeiramente por entidades privadas ou, em casos muito excepcionais, patrocinada pelo Estado, se for de relevante interesse para a respectiva Federação Portuguesa, no caso de existirem à época desportistas portugueses de top mundial, nessa modalidade. Mas com a crise financeira (e os índices de pobreza e de desemprego) em que o nosso País se encontra, este tipo de iniciativas não fazem qualquer sentido e são imorais.