A linguagem do poder é importante para determinar o nível do discurso político do país. Assim o afirmava o editorial da revista Sábado (nº301).E o que se entende por “linguagem do poder”? A expressão pública dessa linguagem? O que dessa linguagem é privado mas passa do circulo intimo de pessoas que exercem funções públicas?
Que o primeiro-ministro tenha esta ou aquela opinião sobre um jornalista e o seu trabalho e o comente com os que lhe são próximos é natural. Que fale ao telefone e use termos e expressões impróprias para uma conversa pública é possível. Os governantes não são anjos, nem santos. São pessoas normais, iguais a cada um de nós. Mas são pessoas que pelas funções públicas que exercem têm de ter uma conduta privada cautelosa. E, em certa medida, com condicionamentos. Como são pessoas que exercem funções públicas a sua vida é muito escrutinada. E nesse escrutínio cabe tudo: o que é do foro público e do privado. É cruel, mas é assim.
Não é preciso viver no interior de uma redacção, para conhecer os telefonemas entre jornalistas ou escutar as conversas ao almoço para perceber a estima que os jornalistas têm pelos políticos e o modo como a eles se referem. E como preparam as suas campanhas de descredibilzação em nome do direito à informação.
Não existem dois países. E duas linguagens: uma para o poder político. Outra para o poder mediático. Somos o mesmo país e o mesmo povo. E as qualidades, virtudes e defeitos estão igualmente distribuídas. Pelo que temos de cultivar algum distanciamento perante a recente polémica do caso “Mário Crespo”. O problema é outro.
Em nenhuma democracia é fácil a um governo passar de uma maioria absoluta para uma maioria relativa. Pior quando a governação em maioria absoluta o foi com um estilo autoritário, desprezo pela minoria e apoucando quem a criticava.Há muita gente a quem o poder subiu à cabeça E nem precisamos de ir muito longe para buscar exemplos.
Se recuarmos no tempo e consultarmos o histórico deste blogue, que em termos políticos tem pouca relevância, encontramos quem, a coberto do anonimato, tenha usado o insulto e a calúnia como arma do debate político . Num estilo que fez escola em muitos intelectuais orgânicos do “socratismo” -o socialismo democrático é apesar de tudo uma outra coisa - e em muitos assessores em gabinetes do governo. Mais ainda: procurou-se denegrir as opiniões alheias aviltando e descredibilizando o carácter e a idoneidade dos seus autores ou encontrando neles contradições que revelariam a seu baixo compromisso com a verdade.
Este tipo de comportamento inundou o espaço da blogosfera, revelou um padrão de comportamento obsessivo e marcou uma cultura politica da maioria absoluta de onde os responsáveis governamentais não fizeram nada para descolar. O efeito não poderia ser pior do que aquele que está a acontecer. Agravado por, nos tempos actuais, a política se não circunscrever aos seus actores tradicionais mas envolver gente do negócio das “agências de comunicação” e da publicidade politica ”travestida” de jornalismo. De um lado e do outro há muito quem queira acertar contas.
As campanhas de descrédito têm sempre a possibilidade de retornar aos seus autores. E com efeitos mais devastadores. Começam pelas opiniões que se expressam informalmente e acabam nos actos de governação. Começam por conversas de corredor e acabam no computador deste ou daquele jornalista que decide ir investigar o que se ouve dizer. E aí o mundo parece começar a desabar.
Em parte o governo está a ficar refém na cama que ajudou a fazer. Costuma-se dizer que as pessoas inteligentes são aquelas que aprendem com os próprios erros e que os muito inteligentes são aqueles que aprendem com os erros dos outros. Como classificar aqueles que nem aprendem com os erros próprios, nem com os dos outros? Cheira-me que a coisa não vai acabar bem.
Que o primeiro-ministro tenha esta ou aquela opinião sobre um jornalista e o seu trabalho e o comente com os que lhe são próximos é natural. Que fale ao telefone e use termos e expressões impróprias para uma conversa pública é possível. Os governantes não são anjos, nem santos. São pessoas normais, iguais a cada um de nós. Mas são pessoas que pelas funções públicas que exercem têm de ter uma conduta privada cautelosa. E, em certa medida, com condicionamentos. Como são pessoas que exercem funções públicas a sua vida é muito escrutinada. E nesse escrutínio cabe tudo: o que é do foro público e do privado. É cruel, mas é assim.
Não é preciso viver no interior de uma redacção, para conhecer os telefonemas entre jornalistas ou escutar as conversas ao almoço para perceber a estima que os jornalistas têm pelos políticos e o modo como a eles se referem. E como preparam as suas campanhas de descredibilzação em nome do direito à informação.
Não existem dois países. E duas linguagens: uma para o poder político. Outra para o poder mediático. Somos o mesmo país e o mesmo povo. E as qualidades, virtudes e defeitos estão igualmente distribuídas. Pelo que temos de cultivar algum distanciamento perante a recente polémica do caso “Mário Crespo”. O problema é outro.
Em nenhuma democracia é fácil a um governo passar de uma maioria absoluta para uma maioria relativa. Pior quando a governação em maioria absoluta o foi com um estilo autoritário, desprezo pela minoria e apoucando quem a criticava.Há muita gente a quem o poder subiu à cabeça E nem precisamos de ir muito longe para buscar exemplos.
Se recuarmos no tempo e consultarmos o histórico deste blogue, que em termos políticos tem pouca relevância, encontramos quem, a coberto do anonimato, tenha usado o insulto e a calúnia como arma do debate político . Num estilo que fez escola em muitos intelectuais orgânicos do “socratismo” -o socialismo democrático é apesar de tudo uma outra coisa - e em muitos assessores em gabinetes do governo. Mais ainda: procurou-se denegrir as opiniões alheias aviltando e descredibilizando o carácter e a idoneidade dos seus autores ou encontrando neles contradições que revelariam a seu baixo compromisso com a verdade.
Este tipo de comportamento inundou o espaço da blogosfera, revelou um padrão de comportamento obsessivo e marcou uma cultura politica da maioria absoluta de onde os responsáveis governamentais não fizeram nada para descolar. O efeito não poderia ser pior do que aquele que está a acontecer. Agravado por, nos tempos actuais, a política se não circunscrever aos seus actores tradicionais mas envolver gente do negócio das “agências de comunicação” e da publicidade politica ”travestida” de jornalismo. De um lado e do outro há muito quem queira acertar contas.
As campanhas de descrédito têm sempre a possibilidade de retornar aos seus autores. E com efeitos mais devastadores. Começam pelas opiniões que se expressam informalmente e acabam nos actos de governação. Começam por conversas de corredor e acabam no computador deste ou daquele jornalista que decide ir investigar o que se ouve dizer. E aí o mundo parece começar a desabar.
Em parte o governo está a ficar refém na cama que ajudou a fazer. Costuma-se dizer que as pessoas inteligentes são aquelas que aprendem com os próprios erros e que os muito inteligentes são aqueles que aprendem com os erros dos outros. Como classificar aqueles que nem aprendem com os erros próprios, nem com os dos outros? Cheira-me que a coisa não vai acabar bem.
13 comentários:
Se JMC me permite e concordando totalmente com a sua análise, parece-me que o diagnóstico, sendo válido para o governo PS e para a maioria relativa que o suporta, é sobretudo um diagnóstico de um regime político que foi apodrecendo moral e eticamente. Suspeito de que se não fossem estes, seriam outros a fazer o mesmo. E não falta gente a querer ir para lá.
Estamos perante uma profunda crise politico-filosófica à escala global, em resultado do fim das ideologias e da falta de homens (ou mulheres) de Estado.
Prevalecem os interesses mesquinhos, as negociatas mais ou menos descaradas e o salve-se quem puder ou se ponha a jeito (no tacho).
Entretanto, o Estado não cumpre aquilo para que foi inventado: zelar pela Justiça, pela Instrução (não Educação), pela Urbanidade (Segurança, Obras Públicas, etc.), pela Saúde Pública, pelo controlo das Finanças Públicas, e pela catalização da Economia sem se meter demasiado nela.
A Comunicação Social, cumpre o seu papel, tal como em todos os regimes democráticos. A haver excessos estes seriam julgados nos Tribunais.
Nada funciona bem, porque isso é secundário. Na Assembleia, os deputados vão-se rindo de si próprios, entrando e saindo, fazendo de conta que se preocupam com a realidade.
O fundo do abismo e o empobrecimento generalizado do país estão cada vez mais próximos.
Claro. O que se passa actualmente com a governação só é distinto na escala do que se passou em outros governos com outras maiorias. O que hoje o jornal Público revela quanto ao “emprego político” é elucidativo. A degradação do sistema político é transversal. Mas não creio que a sociedade portuguesa no seu todo também se possa erigir como elemento regenerador porque o que se passa na instância política é sintoma de uma doença profunda ao nível da sociedade ,de resto bem estudada ,entre outros, pelo José Gil e pelo Eduardo Lourenço que me recorde.
Obrigado Luís Leite pela sua opinião.
O autor escreve nas entrelinhas.Ou quer referir-se ao que se está a passar no Jamor mas não vai direito ao assunto?
Para além dos nomes já apontados pelo J.M. Constantino (e entre vários outros), julgo oportuno salientar o papel importante que tem vindo a ser desempenhado já há algum tempo por Henrique Medina Carreira e mais recentemente pelos participantes no programa "Plano Inclinado" do Mário Crespo na SIC Notícias.
Talvez que a repetição sistemática de determinadas verdades desconfortáveis acabe por fazer mossa.
É positivo pensar que Tudo pode dar certo
Alguém abordou aí o problema do Jamor. E como recordar é viver, proponho que se dê um salto ao mistério do Campo de Golfe (roubado ao) Público do Jamor, a obra enaltecida pelo Secretário de Estado do Desporto no final da reunião da Comissão de Educação e Ciência, ao arrepio do clamor dos Amigos do Jamor.
É o vento que me leva.
O vento lusitano.
É este sopro humano
Universal
Que enfuna a inquietação de Portugal.
É esta fúria de loucura mansa
Que tudo alcança
Sem alcançar.
Que vai de céu em céu,
De mar em mar,
Até nunca chegar.
E esta tentação de me encontrar
Mais rico de amargura
Nas pausas da ventura
De me procurar...
Miguel Torga in Diário XII
"Eterno retorno"
mesmo sabendo que não vale a pena ainda lutamos, como se num mundo sem esperança, algo existisse.
'passou a diligência pela estrada, e foi-se;
e a estrada não ficou mais bela, nem sequer mais feia.
assim é a acção humana pelo mundo fora
nada tiramos e nada pomos; passamos e esquecemos;
e o sol é sempre pontual todos os dias.'
alberto caeiro
Porque é que os "anónimos" atiram para aqui poesia?
Porquê anónimos?
Porquê poesia?
Anónimo não rima com poema nem com poesia...
Caro Luís Leite
Assim como o Sr. Rui Pedro Soares interpôs uma previdência cautelar contra o Sol em vez de a interpor ao Estado que não soube resguardar os documentos dos olhares indiscretos
assim devia ter perguntado ao Constantino, em vez de a mim.
Os dois poemas, se os ler com atenção, reportam-se ao estado do Estado, ao panorama vigente a que vamos assistindo.
E depois, pensei igualmente, que a poesia apazigua um pouco o tom sério e pesado que aflora neste blog.
E ainda porque me falta capacidade de retratar as coisas como só a poesia é capaz.
Além disso, tive o cuidado de não ofender ninguém, apesar de anónimo, o que lhe confere alguma atenuante.
Posto este esclarecimento, retrato-me, e prometo não reincidir.
Cordialmente
Caro (por vezes anónimo) João Boaventura,
Pelos vistos ambos gostamos de poesia, embora tenhamos preferências diversas. Eu afino mais pelo lado do Jorge de Sena, A. Ramos Rosa, Ruy Belo, Herberto Hélder e Nuno Júdice.
Num blog como este, o pensamento pragmático e objectivo é, naturalmente, mais útil que a poesia. Aqui, a argumentação dificilmente será poética, a menos que só reste a poesia enquanto forma irónica de argumentar.
Quanto ao anonimato, sinceramente, custa-me a digerir.
Continuemos o Carnaval em que este desgraçado país se tornou.
Cumprimentos
I
Há criaturas que não reconhecem que são função de um processo de criação e por consequência não reconhecem o criador.
II
O matemático Nuno Crato no programa Plano Inclinado de Mário Crespo na SIC, há 8 dias, referiu um estudo da OCDE em que o burocrata de serviço dizia vacuidades que contrastavam com as concluões objectivas do estudo sobre o custo das políticas erradas da educação.
III
Encontrar no panorama desportivo nacional o tecido congregador de debates baseados em estudos científicos é dificil dado que entre outras características nefastas os estudos não existem.
A vacuidade não sendo um problema exclusivamente nacional, o nosso nível de desenvolvimento faz com que hajam com maior frequência juízos redondos.
Reconhecer a natureza própria e as fronteiras da intervenção não está ao alcance de todos e é um atributo pessoal que por vezes se encontra e por vezes se erra.
O anonimato 'quanto baste' é uma virtude e uma responsabilidade maior por exigir qualidades distintas da assinatura pessoal.
Isto para dizer que todas as intervenções do Professor João Boaventura são vitais para mim e reconhecer o quanto difícil é escrever publicamente sobre desporto em Portugal, cujas limitações são antes de tudo minhas e necessitar do todo e de alguns saberes raros, para singrar neste mar único.
Escreve F. Tenreiro:
"O anonimato "quanto baste" é uma virtude e uma responsabilidade maior por exigir qualidades distintas da assinatura pessoal."
Agradecia esclarecimentos para este paradoxo, aparentemente e com todo o respeito, sem sentido algum.
Enviar um comentário