Muito se deve ao futebol e a José Mourinho no plano da nossa internacionalização e aceitação no exterior.
Ao mudar-se para o Chelsea, de Londres, após triunfar no Futebol Clube do Porto, o emérito e reputado treinador converteu-se num caso especial do panorama mediático internacional, indo muito para além dos limites do futebol. Não apenas vingou nos reinos unidos de Sua Majestade; tornou-se um nome incontornável nas conversas dos amantes do futebol em todo o mundo. De tanto ganhar, falar e ser falado passou a ser conhecido fora do cenário futebolístico, sendo hoje personalidade com ressonância planetária. Goste-se muito ou pouco, Mourinho conquistou o sucesso e é alvo de admiração e sinónimo de competência num terreno deveras difícil e exigente, dando assim um inestimável contributo para a afirmação e promoção mundiais do produto português.
Não desconsideramos que, antes dele, já tínhamos Luís Figo, Rui Costa e Fernando Couto a suscitar apreço e provocar furor além-fronteiras, publicitando positivamente a qualidade do ‘made in Portugal’. Cristiano Ronaldo, de aparecimento mais tardio, veio acrescentar a onda; ao confirmar e multiplicar cabal e constantemente o seu valor, ajudou a desfazer dúvidas e reticências e a fundar a convicção de que afinal o que é português tem mesmo certificado de qualidade: essa é a regra e não a excepção!
Porém é essencial e decididamente com Mourinho que o português se torna alvo de manifesta cobiça e de inusitado e superior interesse. Os nomes anteriores ligavam-se a funções de certo modo subalternas; com Mourinho o português ascende ao estrelato reluzente no desempenho de funções dirigentes. A partir de então regista-se uma explosão: o português é que está a dar e muito! Nunca exportamos tanto. E há de tudo: nomes que correspondem inteiramente às expectativas e até as sobrelevam; e casos que configuram plenamente a habilidade para vender gato por lebre ou para encenar o conto do vigário.
Basta fazer uma ronda por alguns exemplos, que nos acodem sem grande esforço à lembrança, para constatar que não há exagero naquilo que acabamos de afirmar.
Se olharmos para os nossos futebolistas vemos que eles vagueiam pelos campeonatos de quase toda a Europa, no Norte e no Sul, no Centro, no Leste e Oeste, estendendo-se até às Arábias. Para os adeptos o que é português deve ser com certeza bom. Faz-me lembrar quando eu era adolescente; julgava que ser negro era o bastante para jogar magistralmente a bola, até que apareceu no colégio um pretinho que era francamente pior do que a maioria de nós. Foi uma grande desilusão.
Quanto a treinadores, o panorama é idêntico. São desejados em muitos sítios, embora a maioria não se aguente por lá muito tempo. Como quer que seja, o filão está realmente a dar. Essa é a verdade decorrente dos factos, pelo que não sei se terá o mínimo senso invocar o ditado de que em terra de cegos quem tem um olho é rei.
Este fenómeno da manutenção do português em alta pode ser observado, simultânea e concomitantemente, em vários domínios: nas letras, nas artes, na música, na ciência. Realmente não pode ser subestimado o quanto devemos a José Saramago e a António Damásio, entre outros que, por excelentes razões, não podem cair no nosso silêncio e ingratidão. Todavia não quero integrar nesta abordagem esses astros de primeira e cintilante grandeza, para não correr o risco de despertar interpretações equivocadas e descabidas. Cinjo-me a nomes do futebol e da política, porquanto cumprem o seu mister de uma maneira aparentemente semelhante, embora com consequências assaz opostas: os primeiros jogam e realizam performances com a bola da nossa paixão; os segundos pontapeiam desalmadamente a bola do mundo e são fonte de frustração. Além disso uns e outros têm lugar cativo nos órgãos de comunicação social e é através deles que nos entram em casa a toda a hora e instante, como se não houvesse mais nada na vida merecedor de atenção e reconhecimento.
Não fujamos ao tema do escrito e retomemos o fio da meada.
Também na exportação de políticos não estamos nada mal. Ademais, ao contrário das saídas de Mourinho, Figo, Rui Costa, Fernando Couto, Cristiano Ronaldo e mais uns poucos, ficamos a ganhar muito. Estes eram uma mais-valia a nível interno, pelo que nos custou e doeu vê-los partir, enquanto a saída de alguns daqueles nos provoca um suspiro de alívio, por motivos tão óbvios que não vale a pena explicitá-los.
Refiramos a ida do Dr. Durão Barroso para a Presidência da União Europeia. Com a partida dele não perdemos nada; o seu sucessor não foi melhor nem pior do que ele. Também não nos adveio qualquer vantagem do exercício do seu proeminente cargo. Já a Europa parece ter lucrado muito, uma vez que recentemente o reelegeu para a função. Bem vistas as coisas, sejamos decentes e justos, nós acabamos por ganhar muitíssimo no capítulo da auto-estima. Com efeito somos deveras propensos a menosprezarmo-nos na comparação com os europeus. Ora a escolha e reeleição em causa provam que a inteligência, a lucidez e a capacidade de avaliação dos parceiros europeus são bem inferiores às nossas. Alguém conhece no Presidente Barroso uma visão, uma causa, uma ideia ou uma proposta de missão e acção que o recomendem especialmente para tão alto papel? A resposta, decepcionante e negativa, é profusamente eloquente no tocante ao nível da ponderação dos políticos europeus actuais e do teor e sentido que emprestam à putativa democracia. São políticos formados e especializados, com mestria e profundidade, na escola do não dito e do encoberto, por não terem nada de importante e transcendente a dizer e revelar. Impulsionadores do exaltado e exaltante Processo de Bolonha, permitem augurar as venturas e ‘novas oportunidades’ que este nos reserva e, por certo, trará abundantes. Algumas já se estão mesmo a ver!
Agora vai-se embora o Dr. Constâncio; nomearam-no para a Vice-Presidência do Banco Central Europeu e, por via disso, eleva-se no ar uma vozearia de congratulações e declarações de amor e elogio, sem esquecer umas quantas inevitáveis defumações. O homem antes era sofrível, mas o orgulho pátrio da ocasião faz dele doravante um quadro de exímia precisão. Não sei se vai receber tanto quanto auferia no Banco de Portugal; se fosse futebolista iria obviamente ganhar mais e jogar melhor. Resta-nos desejar-lhe que se inspire nas actuações dos talentos do nosso futebol e não leve para fora o padrão de controlo, zelo e rigor e o índice de proficiência que demonstrou cá dentro. Por favor, não nos deixe ficar mal aos olhos da estranja; jogue à Figo ou à Cristiano Ronaldo e fale à Mourinho. Mostre que estamos enganados a seu respeito e que não se cola à sua pele a imagem do Dr. Barroso.
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
Português em alta
publicado por jorge bento às 10:23
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4 comentários:
Caro Prof. Jorge O. Bento:
Quando se referem nomes de portugueses que se destacaram "no plano da nossa internacionalização e aceitação no exterior" não nos podemos cingir ao Futebol, Artes, Música, Ciência e Literatura. Nem simplesmente ao fenómeno "exportação".
Como estamos num blog de Desporto e eu sou do Atletismo, não posso deixar de lembrar, pelo menos, os nossos quatro campeões olímpicos (Carlos Lopes, Rosa Mota, Fernanda Ribeiro e Nelson Évora) entre muitos outros campeões mundiais, medalhados olímpicos e um recordista do mundo, na modalidade olímpica número um e com maior expansão efectiva no planeta.
Nomes que, no seu tempo e lá fora, numa escala global e sem exportação, (não apenas portuguesa, europeia, sul-americana e africana) tiveram admiração, impacto e fama, pelo menos semelhante, a José Mourinho, Luís Figo e Cristiano Ronaldo.
Sem a ajuda do omnipresente e quase exclusivo por estas bandas, na Comunicação Social, Futebol.
Pronto....lá estão uns intelectuais "não sei das quantas" a dissertar sobre o horroroso futebol...
Falo por mim:
"Intelectual", talvez;
"não sei das quantas", não;
"anónimo", nunca!
Viva o Futebol português!
A verdade é que o tempo de exposição nos orgãos de comunicação social (sobretudo na TV) dos jogadores de futebol nos últimos 15/20 anos é muito superior à dos atletas de outras modalidades, na generalidade dos países.
Isso traz-lhes inúmeros benefícios a todos os níveis. Daí serem muito mais requisitados.
Mas se a Rosa Mota por exemplo fosse atleta hoje em dia a sua exposição seria muitíssimo maior até pela difusão de informação via internet que hoje em dia temos.
Mesmo assim, e apesar de já terem passado quase 20 anos ela continua a ser das atletas de fundo mais reconhecidas no estrangeiro.
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