Este Projecto de Despacho tem como objectivo passar as horas de Desporto Escolar da componente lectiva para não lectiva. Como facilmente se compreende, esta decisão vai acabar com a existência de um sem número de equipas, modalidades desportivas e implicará certamente um excedente de Professores de Educação Física e Desporto Escolar no sistema. O que acontecerá a estes Docentes? Só se percebe esta medida, como mais uma de âmbito económico-financeiro, avulsa e como sempre de corte a direito sem pensar nas eventuais consequências!
O Desporto Escolar é a única forma de prática desportiva organizada e de oferta variada que chega a todos os cantos de Portugal. Em muitos locais do interior do País e regiões desfavorecidas é a única oferta possível para além do tradicional Futebol. Mesmo em meios urbanos, os projectos de Desporto Escolar têm sido o formato impulsionador e de aparecimento de equipas de desporto federado em muitas modalidades! Vivo em Braga e contacto com uma série projectos fantásticos que começaram no Desporto Escolar e passaram para o Desporto Federado, a título de exemplo, posso referir o caso de sucesso do Voleibol feminino da Escola de Lamaçães e a relação com o Sporting Clube de Braga. Mas existem centenas e centenas de bons exemplos pelo País fora, onde mais de 150.000 jovens dedicam o seu tempo ao treino e competição desportiva em ambiente escolar! Também as Federações Desportivas deverão ficar preocupadas com esta situação, poderá significar o desaparecimento de milhares de potenciais praticantes para a sua modalidade desportiva.
A UNESCO, organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, da qual Portugal faz parte e subscreve os seus acordos e princípios, tem insistido no reforço do investimento e atenção a dar à Educação Física e Desporto Escolar enquanto factor fundamental da integração social dos jovens e prevenção contra algumas pragas que afectam a saúde individual e a sociedade em geral. Estamos a falar dos assustadores índices de obesidade na população juvenil e doenças irremediavelmente associadas, assim como, dos problemas associados ao consumo de drogas e actos de violência. Já não basta a ditadura imposta pela sociedade (e de certa forma pela família), aplicando cada vez mais uma vida sedentária às nossas crianças e jovens, agora é o Ministério das Escolas que ajuda à Festa! A nossa juventude vai ficar certamente ainda mais gorda, lenta e preguiçosa!
Por força da actividade profissional que desenvolvo no âmbito do Desporto no Ensino Superior, tenho constatado uma evolução absolutamente fantástica no âmbito da prática desportiva da “massa” dos estudantes que chegam todos os anos à Universidade. São cada vez mais os estudantes que entram na Universidade e que transportam consigo uma experiência e um saber desportivo adquirido na Escola, no Desporto Escolar. Ficarei muito decepcionado com os responsáveis educativos do País se este Projecto de Despacho for aprovado.
O Desporto é sem dúvida um contributo incontornável para a saúde e qualidade de vida das populações. Deveria ser encarado por todos como um verdadeiro direito das crianças e jovens em idade escolar, um espaço (até) decisivo para o aumento dos índices de desenvolvimento humano, mas infelizmente, e aqui em Portugal, está em risco… em risco de acabar!
6 comentários:
O ME vai eliminar pelo menos 5000 postos de trabalho, mas não vai despedir professores: basta não colocar os últimos 5000 contratados...
A Sr.ª Ministra diz que "O Desporto Escolar não só continuará a existir como terá regulamentação própria, que estará já em preparação": nós pensávamos que o DE já tinha regulamentação própria...
O DE vai passar para a componente não lectiva: no 1.º Ciclo já é assim. A maioria dos professores tem 2 tempos de 45 minutos, para lá das 25 horas, em que fazem Apoio ao Estudo integrado nas Actividades de Enriquecimento Curricularque e que ajudam manter estes alunos armazenados na Escola durante 41.15h por semana (onde pára a semana de 40h de trabalho?).
Conclusão: a componente não lectiva pode ser transformada em «componente lectiva», embora não sendo componente lectiva porque é componente não lectiva (mesmo com alunos, mesmo com objectivos, competências, conteúdos e actividades)...
O DE tem muitas regulamentações próprias, tantas quantos os grupos convidados e encarregados de as fazer.
Cada Governo nomeia um grupo, e como a sociedade funciona com a rotatividade ideológica, quando o Governo muda, outro será o grupo.
Fica assim esclarecido que, em primeiro lugar está a ideologia, e em segundo, tudo o resto, porque cada ideologia é que tem a chave do conhecimento actual e futuro.
Na concepção de Norbert Elias a sociedade trabalha em permanente configuração, pelo que, cada Governo introduz a sua configuração na sociedade.
É como na informática, quando fazemos a configuração de qualquer sistema, para que tudo funcione em perfeita sintonia.
Para este Governo é o quanto pior melhor.
Só agora é que descobriram e começam paulatinamente a aceitar que Portugal estava num plano inclinado para a miséria, à custa do endividamento público e privado e da roubalheira politico-partidária. Que se vai manter...
A crise será só para "os outros" que não "eles", os responsáveis pelo descalabro.
De qualquer forma, a situação financeira a que o Estado e o País chegaram é de tal forma grave que o fim do Desporto Escolar na componente lectiva é apenas um pormenor...
O pior vai ser o aumento do desemprego para os 20% durante 2011 e o corte progressivo dos ordenados dos funcionários públicos e de toda a população por arrastamento. E a recessão económica.
A partir de 2012 as preocupações já só se vão limitar a ter (ou não) para comer.
Nos primeiros dias deste corrente mês de Janeiro a União Europeia resolveu apresentar, em todos os idiomas europeus, as Recomendações, apresentadas e aprovadas pelo “Grupo de Trabalho da UE, Desporto & Saúde” sobre as Orientações da UE para a promoção da actividade física, onde se desenvolvem quais as “Acções recomendadas para apoiar a actividade física benéfica para a saúde”.
Documentos deste teor são conhecidos e nascem todos os dias, desde o séc. XVIII, para conhecimento universal, e produzidos pelas mais insuspeitas instituições internacionais, ONU, UNESCO, UE, OMS, e outros que ora não recordo.
Isto para dizer que, desde 1950, venho ficando submerso em toneladas de papéis do mesmo teor, como os panfletos publicitários com os quais nos tentam seduzir, com a diferença de que os de fonte institucional, como o da EU e similares, são meras informações sem qualquer utilidade pública a não ser para justificar o trabalho cerebral de quem os faz, auferir os ganhos que resultam da sua situação institucional, ou mera afirmação científica dos investigadores.
Para não me alongar mais, e para quem não quiser perder tempo a ler as inúteis recomendações da EU, aconselho uma vista de olhos de soslaio (que é a forma dos Governos olharem para os papeis), e que ao presente post diz respeito e está ínsita a pp 24 e 25, sob o subtítulo 3.3.1. Promoção da actividade física nas escolas.
Quem já leu o texto que recomendei no comentário anterior, tê-lo-á revisto ou visto nos textos dos nossos colegas que formaram os grupos de trabalho para a realização do Desporto Escolar, até agora produzidos. Penso, e porventura mal, que não cabe a quem os elabora perder tempo com explicações, argumentações pedagógicas e didácticas – bem entendo que têm por objectivo atingir o desentendimento governamental, mas na minha óptica são pérolas a porcos – porque o regulamento é feito para colegas que vão participar no desenvolvimento do Desporto Escolar, e não para o Governo que não tem tempo para coisas menores.
Isto se diz porque, se o Governo faz vista de mercador aos textos gerados pelas grandes instituições sobre a utilidade do desporto ou da ginástica, ou da saúde, tão em voga (a antiga moda era a higiene), porque as considera coisas microscópicas, com mais fundadas razões negar-se-ão – em especial o não especializado Ministério da Educação – a ler os considerandos escritos para justificar a necessidade do Desporto Escolar.
É por isso que sinto um profundo desgosto quando nos vemos – também me incluo - a fazer destes blogs um muro de lamentações, porque ficamos com a sensação de vazio, do oco, do nada, porque tudo fica como está.
Podem dizer que a Ministra recuou e já admite avançar com o Desporto Escolar, depois de reclamações apresentadas, o que aliás considero uma demonstração de como somos tratados como crianças às quais se lhes dá bolachas para se calarem.
É necessário saber em que mundo vivemos já que os Senhores do Mundo já estabeleceram os Projectos e as Estratégias para o controle global da sociedade, bem como os princípios-chave para os aplicar, e os sentirmos lentamente como aconteceu à rã cozida.
Não ficaremos cozidos, mas adormecidos.
Afinal, para a Ministra da Educação, o desporto escolar não é das coisas menores, pertence às coisas superlativas.
Com efeito, a Ministra, na sua ignorância, considera, relativamente aos apoios subsidiários às escolas privadas, que serão reduzidos porque o Estado não alimenta os privilégios que concedem aos alunos: aulas de golfe, de equitação e de natação.
Está explicada a aversão da Ministra da Educação: o desporto escolar era um privilégio.
Considerando porém que o golfe, a equitação e a natação eram altos privilégios
considerando que o Estado não está interessado em aplicá-los nas escolas públicas, porque são mordomias;
considerando que no panorama comparativa, na matéria desportiva, a escola pública, cortando o desporto escolar, ficaria numa situação de inferioridade relativamente às privadas, optou então em outorgar-lhe o desporto escolar.
É evidente que o caso não é pontual nem tem como alvo a Ministra da Educação, mas sim o Estado, porque, quando a Ministra fala, torna-se o porta-voz do Governo, é a representante da vontade governamental.
É uma cadeia de comando. As escolas devem obediência à Ministra, a Ministra, ao Governo, e o Governo, à sua consciência. É uma cadeia fechada, sem saída, um labirinto.
Na mitologia grega, o arquitecto Dédalo - o Estado - inventou o Labirinto, sem saída, para aprisionar o Minotauro - o mundo escolar.
O mundo escolar, como o Minotauro, é um monstro que o Estado dificilmente suporta, por isso o agride e maltrata.
Enviar um comentário