sexta-feira, 29 de julho de 2011

Participação olímpica e objectivos desportivos

A preparação desportiva não se faz sem objectivos. E a participação olímpica não é excepção. O contrário, o não haver objectivos desportivos, é que seria de admirar e de censurar. As federações desportivas, os treinadores e os atletas que estão integrados numa participação olímpica definem, por isso, os respectivos objectivos. A natureza desses objectivos é distinta em função do histórico desportivo de cada atleta. É perfeitamente expectável que alguns atletas nacionais e respectivos treinadores preparem essa participação de modo a poderem obter lugares de pódio.
Quem define e quem conhece esses objectivos são as modalidades, os atletas e respectivos treinadores. Os objectivos não são um palpite, uma presunção, nem a manifestação de um desejo. Atentas as circunstâncias concretas são um sentido para qual os atletas se preparam. Se depois, é ou não alcançado é uma outra questão. Em toda a preparação/participação desportivas há objectivos que são alcançados e outros que o não são. E, por vezes, são alcançados objectivos que não foram previstos e outros cuja previsibilidade de acontecer era elevada e afinal não aconteceram. A natureza de uma competição desportiva comporta um certo grau de imprevisibilidade. A única maneira de o evitar é o de não ter objectivos ou, tendo-os, não os divulgar. A primeira solução é inaceitável. A outra só seria aceitável num contexto em que não tivessem em causa razões de afirmação externa em que se depositam expectativas e recursos públicos que não devem ser elencados e afectos a lógicas de preparação desportiva sem objectivos.
Quem deve definir os objectivos de uma participação olímpica? Deverá se o respectivo comité olímpico após trabalhar esses objectivos com as federações das modalidades participantes, desejavelmente num quadro de discussão e avaliação técnicas. A decisão sobre os objectivos desportivos não é uma matéria natureza institucional, no sentido de poder ser uma decisão à revelia das federações desportivas envolvidas. A sua definição, determinação e quantificação não podem ser da responsabilidade de uma instância administrativa. Trata-se de uma matéria do foro técnico e é nesse ambiente que o assunto tem de ser definido. Excluir as modalidades e os técnicos dessa discussão é um absurdo. Não tem qualquer sentido. É não entender o papel dos técnicos e dos atletas Porque são eles que sabem, que conhecem, aquilo para que estão a trabalhar .
Colocar o problema nestes termos é tratar com um mínimo de rigor e objectividade uma qualquer preparação desportiva que visa a participação nuns jogos olímpicos. Sem dramatismos e com algum sentido pedagógico, designadamente explicando junto da opinião pública os objectivos desportivos que se perseguem, mas também o carácter aleatório e de imprevisibilidade que rodeia o seu sucesso desportivo. É preferível esta opção a uma outra em que se arredonda o discurso em termos de objectivos vagos e imprecisos. A primeira é uma atitude responsável. A outra uma demissão de responsabilidades
De resto, se consultarmos programas de preparação desportiva com vista á participação olímpica em outros países, constatamos que existem objectivos, que estão quantificados e que permitem no final, avaliar, se sim, ou não, esses objectivos foram atingidos. Sem queixumes. Com elevação.E sentido de responsabilidade.

49 comentários:

Luís Leite disse...

Concordo totalmente.
Eu próprio já tinha escrito um texto sobre o assunto, bem mais duro para o Sr. Comandante, que decidi não publicar.
Pelos vistos fiz bem, já que JM Constantino toca no essencial.
Depois do que sofri em Pequim (nem imaginam) com a eliminação da Naide Gomes, talvez a maior favorita de sempre a uma medalha de ouro, sei bem que o sucesso absoluto depende da conjugação de muitos factores, entre os quais a sorte. O próprio Phelps ganhou uma das 8 medalhas por um centésimo.
Mas que o Sr. Comandante esteve e está completamente off-side, não restam dúvidas.
Um grave erro de casting...

De resto, os eternos maus resultados olímpicos de Portugal (22 medalhas em 22 participações são objectivamente interessantes para muita gente com responsabilidades, sobretudo as directa ou indirectamente ligadas à preponderância asfixiante e alienante da clubite futebolística.

Anónimo disse...

Contrato Contrato n.º 334/2009
.....
II. Objectivos
II.1. Assegurar a optimização das condições de preparação dos praticantes ou selecções que apresentam expectativas de atingir resultados de excelência nos Jogos Olímpicos de Londres 2012;
.....


Esta política de não quantificar está na esteira da definição de Objectivos, ou a ausência desta, que impera nos Contratos Programas para o Alto Rendimento e Selecções Nacionais.

Perdoe-me o JMC mas os objectivos estão definidos e contratualizados, da facto são vagos e não quantificados.

Leonardo disse...

Andamos a brincar com 14 milhões de euros de Investimento com dinheiros públicos... As declarações são no mínimo irresponsáveis.

Fernando Tenreiro disse...

O caro anónimo tem uma costela jurídica lusa que durante anos e anos o força, para além do que quereria.

Temos que ser objectivos, como sabe eu não sou jurista, mas a frase que indica mostra que o JMConstantino tem razão.

Os objectivos dos contratos-programa são juridicamente ineficientes e ineficazes.

Esta frase "que apresentam expectativas de atingir resultados de excelência" é uma mão cheia de nada.

Acrescentarei mais. Esta situação a manter-se há muitas legislaturas mostra que existe negligência (propositada?) na defesa do interesse comum do país e do desporto nacional.

Espero que não leve a mal estas constatações e que, caso tenha argumentos jurídicos que demonstrem que há erros de apreciação, então os apresente.

Luís Leite disse...

O que são objectivos vagos e não quantificados?
São a antítese de objectivos.
Esta gente (políticos, membros do COP, jornalistas, etc.) não aprende porque não quer.
Desporto, em Portugal é, cada vez mais, Futebolite aguda, recheada de "reforços".
Basta ver os noticiários televisivos e os jornais (todos).
O resto é paisagem.
Em Londres, vamos manter a tradição (zero a três medalhas), mas eu atrevo-me a rever em baixa a cotação para zero a uma medalha.
Espero enganar-me, porque ficaria muito contente.
14 milhões de euros? Isso não dá para aguentar um jogador da bola brasileiro desconhecido, para não fugir para a Europa no Natal.
Os nossos melhores desportistas não vivem dos apoios do COP. Estavam bem tramados... Vivem do que os clubes e os patrocinadores lhes dão.
Por favor, não falem do que desconhecem...

Anónimo disse...

Para Pequim 2008, e com um contrato assinado e promovido por JMC os objectivos estavam quantificados
……...
Contrato n.o 872/2005
Cláusula 2.a
Objectivos desportivos
O presente contrato de desenvolvimento desportivo, através da comparticipação financeira que o IDP se obriga a prestar ao Comité Olímpico de Portugal, visa proporcionar aos praticantes desportivos abrangidos pelo Projecto Olímpico Pequim 2008 as condições de preparação necessárias para que possam atingir nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008 os seguintes objectivos desportivos:
a) Cinco classificações de pódio (medalhas);
b) Doze classificações correspondentes a diplomas (até 8.o lugar);
c) Dezoito modalidades desportivas presentes nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008.
……..

Para Pequim estavam definidos objectivos quantificados.
No pós Pequim não se questionou, nem se avaliou um modelo de financiamento que falhou os seus objectivos.
Para Londres apenas se replicou o modelo deixando de quantificar.
Não só temos um problema de protagonistas mas talvez e também de modelo.
Mas é sempre mais fácil questionar as pessoas a questionar ou avaliar o modelo.
Não serão argumentos jurídicos serão também constatações.

Anónimo disse...

Salvo erro autor do post saíu do IDP em meados de 2005.Pedir-lhe responsabilades de avaliaçaõ de um modelo e de algo que nem sequer acompanhou não é intelectualmente muito honesto.Se querem bater no homem escolham outra coisa....

Anónimo disse...

Ninguém pediu responsabilidades pelo contrário registasse: para Pequim os objectivos foram claramente quantificados.
Os objectivos não foram cumpridos e a justificação do porquê não foi avaliada.

Kaiser Soze disse...

Não acho que os objectivos tenham de ser traçados, em exclusivo, por atletas e treinadores uma vez que estes são financiados por outros. Poderá ser discutível, isso sim, que sejam os supra referidos a traçar objectivos e que depois os submetam aos financiadores que, nessa qualidade, decidam se devem ou não apoiar e se tal vale a pena.
Cheques em branco não dão bons resultados (como Portugal bem demonstra).

Ainda me lembro de um idiota que se terá sentido mal numa prova de atletismo nuns JO e quando confrontado com o porquê disse que ninguém tinha que ver com isso... nem mesmo nós que assistimos na televisão mas que lhe pagamos para lá estar.

Anónimo disse...

Escreveu o anónimo de 29 de Julho, às 19,40h:

(..)a justificação do porquê(...)

A "justificação do porquê" é fundamental e só tem paralelo com o "porquê da justificação". Já para não falar do "porquê do motivo"...

Luís Leite disse...

As pessoas ainda não perceberam que o papel do COP, na actual conjuntura e com este Presidente, se limita a querer estar e continuar a estar.
No fundo, o papel do COP é tratar da logística da presença nos Jogos.
Não são feitos estudos estatísticos comparativos com os resultados olímpicos de outros países europeus da nossa dimensão porque não interessa.
Tal como não interessa aos Governos fazê-los e divulgá-los.
Avaliações? Ideias para novos modelos? Nada disso interessa.
Estamos no país da futebolite e dos "reforços"!
O resto é paisagem!

Anónimo disse...

Diz LL:

Estamos no país da futebolite e dos "reforços"!
O resto é paisagem!


Acho esta observação muito injusta!
Isso era dantes, com o Sócrates.
Agora, com este novo Governo, o País mudou, já não é o mesmo. Actualmente, sim, há uma política desportiva clara e coerente, com objectivos sérios, claros e transparentes!!! E uma nova visão do desporto.

Anónimo disse...

O Português gosta de fazer projectos vagos, castelo no ar que não pensa realizar. Mas no seu íntimo alberga uma certa esperança de que as coisas aconteçam milagrosamente.
(Jorge Dias)

Anónimo disse...

Escreve o anónimo das 16h46:

Actualmente, sim, há uma política desportiva clara e coerente, com objectivos sérios, claros e transparentes!!!

São, são muito transparentes! Quase translúcidos!...

Luís Leite disse...

O país já mudou? Não dei por nada...

Anónimo disse...

Diz LL:

O país já mudou? Não dei por nada...

Mas mudou o Governo, que é o que interessa(va). O resto virá por acréscimo.

Rita Nunes disse...

Desde já os Parabéns ao JMC por este excelente texto.
Na minha opinião e pela minha experiência e estudos que estou a concluir na temática dos Jogos Olímpicos, revejo em todas as aulas que tive (fora deste país) e dadas por excelentes professores oriundos de diferentes países, o que são objectivos? aqui fica uma pequena contribuição:
- São números!;
- São SMART: específicos, mensuráveis, atingíveis, realistas e definidos no tempo, e
- A base para se fazer uma avaliação.
Enfim, não percebo o porquê de não se querer ser rigoroso neste país e se ficar por "atingir resultados de excelência nos Jogos Olímpicos de Londres 2012", alguém sabe o que isto é?

Anónimo disse...

Parabéns?!
Quando se cresce, depois de na juventude nos doutorarmos em química e matemática como o omnipresente Charles Saunders Peirce de Harvard e Jonh Hopkins, percebemos que os «números» eram afinal «inventados». De tanto esforço a calculá-los esquecíamos quem o fazia, e porque o fazia. Prezados Colegas de Blog, talvez o processo interpretativo não decorra da descoberta do «exacto» ou do «correcto», mas do exame das condições em que ocorre a compreensão.
Ou seja, sem a definição do «modelo de desenvolvimento do desporto para Portugal», por mais efémero e criticável que seja, qualquer «número» serve para não dizer nada. Até poderíamos dizer «20 medalhas», ou «500 milhões de euros», ou outros disparates numéricos mascarados de «rigor».
E permitam que faça uma crítica maliciosa, por teimarem em continuar a tratar do Desporto no modelo que se arrasta há décadas. Já repararam que só falam de duas das oito parcelas da conta do Desporto? V. Exas. só falam de Futebol e de Jogos Olímpicos. Para essas duas parcelas vai todo o vosso douto esforço, mas para as outras seis o silêncio e a quantificação é mais escuro que o breu.
Reconheço que trabalhar para as outras seis partes do Desporto é menos mediático, ganha-se menos, e tem-se menos protagonismo. É um trabalho que não dá cargos nem mordomias. Mas é aí que se desenvolveria um Desporto ao serviço das Pessoas.
Portanto, pela vossa motivação, presumo que iremos continuar eternamente à espera. A única esperança vem da Vida, que, inexoravelmente, fará fenecer isto até virem outros.

Funcionário do Estado

Anónimo disse...

Concordo totalmente com o comentáro de Rita Nunes.

Vindo de alguém que trabalhou na CDP e no IDP o seu comentário só pode ser irónico, pois sabe muito bem o porquê de não se querer ser rigoroso neste país.

IDP e CDP são um bom exemplo da falta de rigor e da ineficácia a toda a linha.

Como aqui já se referiu:
A "justificação do porquê" é fundamental e só tem paralelo com o "porquê da justificação". Já para não falar do "porquê do motivo"...


Quais os números específicos, mensuráveis, atingíveis, realistas, definidos no tempo e qual a avaliação que sustenta os contratos programa celebrados pelo IDP, com as Federações e em especial com o COP para 2012 depois do ocorrido em 2008.

Devem ser números fornecidos por Paulo Futre e que farão todo o sentido com a justificação dada pelo chinês (esteve em Pequim e deve saber).
Outra resposta ao porquê será o tão português: Porque é assim.....

Fernando Tenreiro disse...

A Rita Nunes é dona de um chiste saudável, inteligente e corrosivo q.b. que é raro encontrar.
O seu comentário deve ser tomado como avisado porque tem conhecimentos obtidos nos cursos do Comité Olímpico Internacional.

Luís Leite disse...

Dear Rita Nunes

It´s the politics!...
People need to stay up there for good.
And to achieve their goal (to stay till the eternity) they just need to do nothing.
Numbers are problematic, you know... Much better to hide numbers. Much better not to compare our real situation with other similar european countries.
And knowledge is not welcome.
Young people (like you) with a scientific approach are not welcome either.
THIS is Portugal.
You just look up and you will understand it all...

Luís Leite disse...

Funcionário do Estado

Você está enganado quando despreza os números.
São os números que permitem fazer diagnósticos e são so números que permitem definir metas.
Se forem investigados e definidos por entidades isentas, são fundamentais.
Como se poderá pensar num modelo global de desporto sem números credíveis? Sem serem feitas comparações? Sem se investigar como fazem os outros países?
Manipulados ou escondidos são os números que os últimos Governos proclamaram, agarrados ao "politicamente correcto" eleitoralista.
Eu sabia que não podia estar de acordo consigo durante muito tempo...

Luís Leite disse...

Sem deixar de reconhecer que este comentário é relativamente lateral em relação ao post de JM Constantino, não posso deixar de fazer algumas referências às classificações obtidas pela Natação portuguesa nos Campeonatos do Mundo em Shanghai, a 12 meses dos Jogos Olímpicos de Londres.

Assim:

1) Portugal apenas conseguiu apresentar 8 nadadores;

2) Apenas um nadador (Diogo Carvalho) conseguiu ser semi-finalista, com um 12º e um 14º lugares nos 200m e 400m estilos, com mínimos olímpicos, classificações consideradas excelentes;

3) Apenas mais um nadador (Simão Morgado), com 30 anos (notável!), conseguiu ficar na 1ª metade da classificação, em 22º lugar nos 100m Mariposa;

4) Os restantes 6 representantes de Portugal ficaram todos na 2ª metade da classificação nas respectivas disciplinas;

5) 28 países obtiveram medalhas, sendo 19 países europeus;

6) Portugal foi um dos poucos países europeus que nem um finalista conseguiu, apesar de na Natação apenas participarem um máximo de dois atletas por país, ao contrário do Atletismo, em que podem participar três, mais os anteriores campeões do mundo;

7) A Natação é claramente uma modalidade olímpica importante, que acaba por ser um espelho fiel do desenvolvimento desportivo dos países;

8) Sem querer menosprezar o esforço e o valor inquestionável dos nossos melhores nadadores e dos seus treinadores, pelos quais nutro a maior simpatia, parece-me óbvio que a Natação portuguesa é, por razões que desconheço, terceiro-mundista.

Armando Inocentes disse...

Para se ser grande é preciso pensar-se grande.

E para se pensar grande é necessário pesquisar, investigar, comparar,compreender, avaliar e depois reformular.

Algo que não está no espírito do portuguesinho, pelo menos em termos isentos e credíveis.

Somos demasiados artesanais e peritos na arte do desenrasca!

Preocuparmo-nos com objectivos? e por que não preocuparmo-nos com metas (aquelas que se medem, não as que são cortadas pelos atletas!)?

Os erros só servem para ser corrigidos. Temos feito isso? Não! Rumamos a Londres ou rumamos a Barcelona?

Anónimo disse...

"relativamente lateral"...só???
Impressão sua...
Vem para aqui 'mandar recados' ao Presidente da Natação!
'Ganda bolta'...
O nosso desporto é o possível mas com 'artistas destes' não vamos a lado nenhum!
Para quem tivesse dúvidas porque foi 'corrido' do atletismo e porque o ignoram...

Luís Leite disse...

Anónimo das 14.24h

Apenas uma correcção e três interrogações:

Não fui "corrido do atletismo", demiti-me de livre vontade de Vice-Presidente eleito da FPA, tendo explicado publicamente porquê;

Ignoram-me? Acha? Quem?

Cordialmente

Era interessante que se explicasse melhor...

Armando Inocentes disse...

"Constrangimentos financeiros estão a condicionar factor de rendimento nos JO"

Sidónio Serpa em "A Bola" de hoje!

Anónimo disse...

Alguns Colegas de Blog reincidiram na defesa abstracta do «rigor», das «contas», da «quantificação» e dos «números» voltando a não considerarem o Contexto (os recursos e o País que somos), nem a perspectiva do Receptor (atletas e desporto). Tentei alertar para o facto de que, na matemática ou no português, o processo de cálculo ou de interpretação não decorre apenas da descoberta do «exacto» ou do «correcto» (de se encontrar um «número» ou de se «afirmar uma opinião», conforme seja a matemática ou o português), mas do exame das condições em que ocorre a realidade sobre a qual recaem esse cálculo ou essa interpretação. Mas desprezaram esta opinião.
Defendo acerrimamente o rigor e os números desde que se cumpram as regras que evitam fazer deles um pseudo-rigor e uma farsa. Fazer aritmética rudimentar não é fazer matemática básica.
Nesta discussão que JMConstantino lançou a propósito do desporto falta a consideração pelo “limiar da interdependência”. Foi isso que tentei criticar. Por respeito a quem não domina estas ferramentas do cálculo, e tenha direito a participar neste debate, tentarei mostrar a questão num exemplo imperfeito mas de carácter compreensivo.
É errado ir aos outros países, contar as medalhas, fazer uma conta de dividir pelos habitantes, encontrar uma %, e depois comparar com a dita «média do que deve ser feito em Portugal». Este erro não tem desculpa. É o mesmo que pensar num modelo em que o «crescimento» fosse o critério de avaliação e medição. Se pescarmos cada vez mais sardinhas, sem acautelar o contexto e as desgraçadas, acontecerá o dia em que, de repente, o «crescimento» desaparecerá para sempre. E aí percebemos que estávamos a fazer mal as «contas», embora fossem «pseudo-exactas» e «pseudo-rigorosas» (até tinham «objectivos» e «metas quantificadas»). Para não alongar muito, coloco a seguinte pergunta: A partir de quantas medalhas olímpicas e de quantos euros/atleta financiados pelo Estado o sistema desportivo português colapsa por o associativismo-de-base e o número de praticantes desportivos ter sido desprovido de recursos para produzir os atletas-potenciais-ganhadores-de-medalha? Em todos os cálculos há um “limiar de interdependência” conhecem algum estudo ou pessoa que tenha calculado o do sistema desportivo português?
Assim é que se veriam os verdadeiros defensores do rigor e das contas.

Funcionário do Estado

Luís Leite disse...

Caro Funcionário do Estado

Você refugia-se no "relativismo".
Para si, o essencial é o contexto (as condicionantes espaço-temporais), não a realidade ela mesma.
Presumo que só pode ser socialista.
Você é daqueles que acham que quando alguém prevarica ou tem comportamentos anti-sociais, a culpa é da "sociedade", ou seja do "contexto".
Daqui ao nivelamento por baixo foi o passo que se viu (no Ensino mas não só).
Quem não estuda e se porta mal na escola ou na vida social não tem culpa, a culpa é da sociedade...

O mesmo se poderá dizer em relação ao Desporto.
Você acredita mesmo que para termos campeões olímpicos o que é preciso termos muitos milhares de pessoas a brincar a uma coisa parecida com "aquilo".
Que o que necessário é criar contextos alargados (na utopia sistemática).
Eu digo-lhe que não.
O alto rendimento desportivo pouco ou nada tem a ver com a prática desportiva informal.
São mundos diferentes.
As nossas medalhas olímpicas pouco ou nada devem ao "sistema desportivo". Devem-se sim à persistência e competência de alguns teimosos e por vezes (também) ao indispensável factor sorte.

O que acontece em Portugal é que, ao nível do dirigismo, nunca deixámos de ser amadores.
As poucas vezes em que estabelecemos metas e quantificámos objectivos fizémo-lo com desconhecimento da realidade, por falta de estudos comparados.

O Presidente do COP é obviamente especialista no assunto. Ele "acha que" e já achou tanta coisa disparatada que disse que se demitia para depois não assumir responsabilidades, que são sempre dos outros. E recandidatou-se.
Vamos agora ver o resultado em Londres...

O IDP e o COP (já não vale a pena falar na Confederação, porque especializou-se em festas no Casino do Estoril) são bons exemplos.
Para não falar no ex-gestor dos QCA e do CREN Desporto.

Pela parte que me toca, já dei o meu contributo, quando fiz uma apresentação, em Novembro passado, sobre "O Dirigismo Desportivo em Portugal".
Os números, frios e descontextualizados estão lá.

Anónimo disse...

Muito bom dia a todos.
Agradeço a opinião partilhada por JMC.
Opiniões como esta têm sempre o potencial necessário para despertar as consciências. Ainda bem.
Apesar de nada se alterar com estas nossas opiniões temos, pelo menos, a oportunidade de pensar um pouco sobre estes assuntos. Naturalmente, o assunto em causa vai, inevitavelmente, entrar na ordem do dia durante o ano 2012. Ninguém duvida que os resultados de Londres 2012 não vão ser diferentes dos obtidos em edições anteriores dos JO. Talvez um pouco melhores, talvez um pouco piores, mas a tendência manter-se-á. Manter-se-á, igualmente, a tendência para as expressões costumeiras, como por exemplo: «o que é que estes tipos andam a fazer com o dinheiro dos nossos impostos?!».
Uma das constantes do nosso sistema desportivo ao longo de muitos anos - ou sempre? - tem sido a total ausência de "feedback crítico" por parte dos principais actores e "analistas" do sistema. Observe-se a comunicação social mais próxima ou mais distante e procurem-se reacções, bem fundamentadas e estruturadas, sobre as políticas, decisões, medidas organizativas, iniciativas legislativas, financiamentos, etc. etc., relativas ao nosso desporto. Quase sempre os comentários - superficiais e emocionais - que vão vendo a luz do dia têm a ver com os rescaldos, sobretudo, dos J.Olímpicos.
O processo que leva à participação, mais longínqua, em edições futuras dos JO, muito raramente, ou nunca, é objecto de qualquer observação ou crítica, sobretudo por parte dos principais intervenientes no processo. Talvez porque não se criam os foruns necessários para essa expressão e debate de ideias. Quem deve tomar essa iniciativa? Os responsáveis políticos em primeiro lugar. Colher opiniões diversas, mesmo as mais incómodas, ajudaria muito o seu processo de decisão. Em segundo lugar o próprio COP e CDP. Em terceiro lugar, e não menos importante, a sociedade civil, os observadores e amantes do desporto. O processo de participação crítica no desporto português é de uma pobreza confrangedora. Procura-se e não se encontram análises coerentes, críticas e fundamentadas sobre o nosso sistema de preparação olímpica. Na opinião de muitos a participação na edição Pequim 2008 foi muito fraca. Porém, a consulta do relatório oficial do COP sobre esta participação não passa de uma colecção de trivialidades e lugares-comuns. Aliás deve ter sido este relatório que ajudou a fundamentar a decisão de deixar tudo tal como estava antes. Alguém exigiu mais explicações e aprofundamentos da análise? Pelo menos publicamente não se deu por isso.
(continua)

Anónimo disse...

(Continuação)
Em minha opinião a questão dos objectivos, sejam eles SMART ou VAGOS, é secundária e não primária. Os objectivos surgem quase que de forma natural quando todo o processo primário de organização do sistema está concluído (se é que um processo deste cariz - competitivo - alguma vez está concluído).
Para concluir, defendo que o sistema desportivo deve, neste momento, definir um único objectivo - obter resposta para as seguintes questões: Qual é o nosso real valor no mundo do desporto actual? Que desporto olímpico queremos? Que resultados poderá a nossa dimensão e ambição perspectivar e suportar? Que processos de curto, médio e longo prazo devem ser colocados em marcha para alcançarmos aqueles resultados? Que financiamentos, públicos e privados, serão necessários para tal "epopeia"? Que recursos materiais e, sobretudo, HUMANOS temos que desenvolver para accionar e alimentar todo o processo? Que regime jurídico deve ser adoptado?
Que alterações orgânicas devem ser realizadas para a devida institucionalização de todo este processo?
Compreendo que são demasiadas perguntas para responder. A procura das melhores respostas também não deve ser tarefa fácil. Mas também penso que obter uma medalha olímpica não é tarefa simples e muito menos de curto prazo.
Se a construção de um campeão é um processo complexo e de longo prazo estou certo que o sistema que o produz não pode reger-se por decisões avulsas, tomadas, por este ou aquele decisor, de forma espontânea, dependentes de humores, "estados de alma" ou "estados de poder".
Se tiveram paciência para ler estas linhas aceitem as minhas saudações cordiais.

fernando tenreiro disse...

Esta alma voga acima das coisas, não tem cheiro, cor, aspecto ou tendência, está, como parece que não esteve onde esteve e fez o que não fez.

Anónimos cujos discursos se confundem, enchem páginas, sob a mesma autenticidade e inimputabilidade.

Afinal o que o desporto português necessita é tão só a imputabilidade e a sua assumpção plena.

As medalhas são a capacidade de imputar actos que são públicos aos responsáveis que publicamente os assumem e têm a coragem de assumir a derrota e o fracasso.

Heróis que festejam a vitória do jogo em que eles são os únicos a ditar as regras e a jogar e não assumem publicamente metas quando tomam o cargo público e o privado é uma solução nacional que é menor no todo europeu.

Anónimo disse...

Professor Tenreiro:

O que têm beneficiado neste Pais aqueles que claramente se assumem como candidatos a medalhas?
Aqueles que publicamente assumem que vão para ganhar medalhas cada vez que envergam as cores nacionais?
Nada.
Ganham mais os reis do queixume, do "não temos dinheiro", "os não recebemos não fazemos ...".
Em Portugal não se potencia o mérito mas sim o status quo.
Não existe outra explicação para a cultura da irresponsabilidade e sempre dos mesmos.

Anónimo disse...

O que é que quererá dizer (F.Tenreiro) com essa de as medalhas serem a capacidade...? As medalhas não são capacidade nenhuma. As medalhas são o resultado - absoluto - do facto de um atleta, num determinado momento, ser o melhor da sua modalidade. São o resultado do talento, do treino, do ambiente organizativo e das pessoas que o rodeiam, do quadro competitivo a que teve acesso desde que despertou para o desporto, do financiamento etc.etc .Também são o resultado dos momentos menos bons dos seus adversários. A campeã olímpica de salto em comprimento em Pequim não tinha certamente esse objectivo definido pelo seu C.Olímpico ou federação (só em sonhos). A imensa frustração da Naide Gomes teve um reflexo feliz na imensa surpresa e felicidade da atleta que ganhou. Os JO estão cheios de exemplos deste tipo. Países como o nosso não podem centrar-se obsessivamente no objectivo-único- medalhas. A maior coragem que os responsáveis devem demonstrar acontece no momento da tomada de decisão. Os objectivos devem servir para conduzir o processo decisório ao longo de vários anos. Não servem para o juízo público final, muito menos no curto prazo. O seu êxtase de economista seria certamente ter uma folha A4 com os objectivos olímpicos que dirigentes e treinadores corajosos lhe tinham ditado, comparando-os, da sua tribuna, com os resultados que a TV vai transmitir em 2012. A análise dos resultados em Jogos Olímpicos não pode passar apenas pelos métodos quantitativos. A análise da preparação olímpica não pode passar apenas pela estatística dos resultados. Deve ser muito mais do que, apenas, isso.
O seu último parágrafo é claro. Assumam-se as metas e depois do "jogo" venham ao julgamento final. Mesmo um economista, quando olha para o desporto, não pode apenas fazer contas às medalhas. Temos que medir o nosso sucesso por outros parâmetros abaixo das medalhas. Quando os críticos e observadores se centram nas medalhas o nosso insucesso olímpico fica muito mais perto.

Luís Leite disse...

O anónimo das 17.59h tem, em parte, razão.
Não devemos centrarmo-nos unicamente na quantificação de medalhas (expectativas e verificação à posteriori).

Mas é através sobretudo das medalhas olímpicas que se mede o desenvolvimento desportivo dos países.

Portugal, com uma média global de 1 medalha por Jogos (22 medalhas em 22 presenças), situou-se sempre no intervalo de zero (mínimo) a três medalhas (máximo).
Para um país europeu com 10,5 milhões de habitantes, Portugal devia conquistar em Pequim e Londres entre 5 e 7 medalhas.
É o que resulta do estudo comparado que realizei, com base no histórico dos países europeus com população semelhante e tendo em consideração os 25 anos que já passaram após a integração na CEE.
Infelizmente não temos Desporto para isso e estamos a ser ultrapassados pelos novos países resultantes dos desmembramento da Jugoslávia e da Checoslováquia (por exemplo) que, com populações inferiores ou muito inferiores a Portugal, têm conseguido ganhar mais medalhas (ver medalheiro do IOC).

De qualquer modo, a proporção entre o número de medalhas conquistadas e o número de finalistas e semi-finalistas não varia muito, salvo raras excepções.

O problema português é o amadorismo dos dirigentes e a crescente futebolização do país, que sufoca cultural e financeiramente as outras modalidades e impede uma cultura desportiva ao nível médio europeu.

Anónimo disse...

Pior ainda, é assistir… a quem anda no Desporto sem perceber minimamente «o que é o desporto» e, sem pudor, se arma em avaliador encartado de metas, de objectivos e de outros positivismos ingénuos. Exactamente por não saber do que está a falar acha que pode falar. E, ainda por cima, ganha salário à conta de alguns «dirigentes do desporto» não estarem familiarizados com a terminologia das diversas disciplinas académicas. (Felizmente, graças à qualidade da formação das faculdades de desporto esse tempo está a acabar). Usam o Desporto como tribuna para fazerem figura de grandes advogados, legalistas, economistas e outros «istas», «ores» e «ctos». É uma tristeza. Mas infelizmente é o que se nos depara amiúde.
Para se alcançar o «objectivo desportivo máximo» é necessário ganhar uma medalha nos JO, ou nos «mundiais», ou nos «europeus», ou nos «nacionais», «etc.»? Até onde vai o «etc.» para que continue a ser verdade que se alcançou o «objectivo desportivo máximo»? O «objectivo desportivo máximo» para o espectador da TV ou de bancada é o que a TV e a bancada lhe «vendem» como sendo aquilo que é o «máximo» (geralmente acompanhado de outros produtos também para venda como o vinho, detergentes, pastas dentífricas, viagens às ilhas do pacífico, cuecas de senhora, e outras tralhas publicitárias). Agora façamos a pergunta a uma pessoa que pratica «desporto». Qual será o «objectivo desportivo máximo» para uma pessoa com 5 anos de idade? E com 10 anos? E com 16 anos? E com 25 anos? E com 40 anos? E com 65 anos? Perguntemos agora qual é a estrutura demográfica da população da comunidade onde queremos avaliar se estamos a fazer uma correcta política de desporto. Qual é o resultado? Estamos a trabalhar em Desporto para que «classe etária», para que «grupo sócio-profissional», para que « espectador de bancada» e para que Pessoas? Quantificar quem quer ganhar, quantificar quem quer competir… Saberão esses avaliadores encartados de metas o que distingue a «competição desportiva» dos «outros tipos de competição não-desportiva»? Saberão quantas modalidades desportivas eram necessárias em 776 a.C. para se fazer «desporto»? E que modalidades eram tão preponderantes como actualmente é o «futebol» no decurso da história do desporto? De que modalidades necessita o desporto para ser feito, e quais? E não serão equivalentes, apesar de serem diferentes tanto no tempo sincrónico da ontogenia individual como na diacronia da historicidade social? Avaliar, quantificar, medir o «Desporto».
Pois… continua a faltar o “Modelo do Desenvolvimento do Desporto para Portugal. O tal que coube numa folha A4 para ser explicado e debatido. Mas que ainda não vi nenhum corajoso mostrar.
Onde põem o dinheiro que há, por que hierarquia de factores optam, por que inter-relações entre instituições desportivas decidem, aonde vão buscar a sustentabilidade financeira do modelo que propõem, que recursos humanos e técnicos são necessários, qual o limiar de interdependência entre associativismo-de-base e associativismo-de-cúpula, etc.?

Funcionário do Estado

Luís Leite disse...

O Funcionário do Estado revela-se agora um corporativista indefinido.
Há uns crânios que percebem de Desporto.
Presumo que ele próprio seja um deles.
Mas não esclarece quem são.
Ficamos a saber que não podem ser "ados", nem "istas", nem "ores" nem "ctos", porque esses usam o Desporto como "tribuna para etc.".
Fica-se com a ideia que eles estão nas Faculdades de Desporto.
E, sendo assim, fico muito mais descansado: eles existem!
É uma pena que esses tais que nem sequer são "ores" não sejam capazes sequer de comentar, corrigir ou preencher uma folha A4 com "O MODELO" milagroso.
Onde é que eles estão?
O Funcionário do Estado continua a confundir "desporto informal" com "medalhas olímpicas", pensando que se trata rigorosamente do mesmo pacote. Mas não é disso que trata este post de JM Constantino.
De resto, só faz perguntas!...
Ou seja, sabe mas não sabe...
Ou sabe tudo mas não quer dizer...
Então? Essa coragem que os tais outros não têm? Onde está?
Dê o seu contributo, Funcionário do Estado! Não joge só à defesa!

Fernando Tenreiro disse...

Obrigado aos anónimos pelas suas referências, responderei indirectamente ao que sugerem

Há duas dimensões que são distintas:

1 - O atleta que tem um determinado objectivo e o assume empenhando todo o seu ser e estar para o alcançar

2 - O Estado e os responsáveis públicos que usam dinheiros públicos para fazer esses sonhos tornarem-se uma realidade nacional

Tenho como exemplo o José Manuel Constantino que poderá estar orgulhoso de ter incluído nos contratos-programa do Estado com o COP metas olímpicas claras e quantificáceis.

O resultado não foi alcançado e isso exige uma análise porque é que a meta não foi alcançada.

A não realização da meta não invalida o orgulho de ter criado uma norma nova do edifício da política desportiva nacional.

Outros a seguir, os reis do queixume, não tiveram a coragem de lutar com as suas limitações próprias e transcenderem-se cativando o desporto e o país para metas sãs que ajudariam Portugal a usar bem o dinheiro e a prestar contas do que consegue e do que não consegue.

José Manuel Constsntino não temeu ter que apresentar contas e ser julgado perante os resultados, juntamente com os atletas.

Olhemos pois de uma forma renovada e engradecedora o acto que José Constantino terá assumido e que não deve ser esquecido, antes deve ser repetido e melhorado até todos conseguirmos definir bem essas metas de excelência e a cumpri-las por inteiro perante a Europa e perante o mundo.

Anónimo disse...

Deveras impressionante. Nem dá para a acreditar, sobretudo por serem pessoas supostamente “letradas”. Debray tinha toda a razão no célebre texto premonitório “a função política da ilusão”.
De facto, como aqui se comprova, as pessoas vivem dentro da ilusão, até falam e filosofam dela, mas não conseguem dar-se conta que estão fechadas nessa sua cegueira, a que as próprias chamam “mentalidade” ou “cultura”. São actores de uma peça, a peça de uma determinada ilusão ou ideologia, julgando que estão a criar ou a opinar fora dela.
Estes últimos comentários, tal como os primeiros, vêm cheios de organização retórica, numerados, muito polidos, exacerbando a «coerência da redundância». Como diz o povo, «viram o disco e tocam o mesmo», repetem o mesmo por outras palavras. Pior ainda, estão a reproduzir e a propagandear «uma determinada ideologia de Desporto»... E não se dão conta disso.
Tal como venho alertando, as metas, os objectivos e outras quantificações só têm validade dentro do contexto (seja em matemática, seja em literatura portuguesa, seja no que for).
Prezados Colegas de Blog, já se deram conta do que escrevem, quando escrevem a favor das medalhas olímpicas da era moderna? Sim, da «era moderna»? É que a «era moderna» é uma ideologia, uma “mentalidade” (como costumam dizer neste Blog muitas vezes). Na vossa ingenuidade olímpica, julgam que os objectivos do Desporto foram sempre os mesmos? Foram sempre esses, e não variaram no decurso da história humana? E não estão a mudar outra vez?
Falam dos objectivos do Desporto pela voz dessa ideologia, dessa mentalidade, dessa ilusão de que são os propagandistas. Tal como marionetas, fazem o papel de propagandistas numa peça sobre desporto escrita por uma determinada ideologia de desporto criada na «era moderna» (até chegam a afirmar, sem pudor, que só há esse «desporto»!). Impressionante, tal como Debray dizia, não se darem conta do que estão a fazer.
O desporto da «era moderna» ainda resiste nesta «nova era» mas, tal como no passado anterior à «era moderna», o “altius, citius, fortius” tem cada vez mais dificuldade em representar o que o Desporto é na mentalidade e na ideologia das novas gerações. E V. Exas assim, prazenteiramente, continuam a medir e a avaliar aquilo que já não se mede completamente pelas vossas réguas e pelas vossas máquinas de calcular (sejam económicas, matemáticas, jurídicas, ou retóricas como a de JMConstantino).
As vossas contas estão erradas, e deixaram de terem significado, porque o contexto mudou. É por essa razão que o Desporto já não é medível nem quantificável por «essa» mentalidade quantificadora e avaliadora.
Ai, da política de Desporto se fossem V. Exas a mandar. Coitadas das Pessoas e do «quem».

Funcionário do Estado

Luís Leite disse...

Funcionário do Estado

No Desporto não há ideologias, há formas de conseguir a excelência, o sucesso desportivo.

Quanto aos contextos, são meras desculpas inúteis para justificar o insucesso desportivo, relativizando-o.
Dos fracos não reza a História.

O sucesso desportivo é e sempre foi mensurável e quantificável.

O Desporto é competição.
Ganha-se e perde-se. Objectivamente.
Constatam-se pequenas ou grandes desigualdades.
O relativismo é dispiciendo, mesmo para os marxistas.
Não há Desporto sem competição.
O que interessa mesmo são as medalhas e as classificações e não o "mexa-se" ou as "caminhadas".
Sempre foi assim, em todas as eras desportivas da História que você invoca com desconhecimento.

Desculpe a sinceridade, mas você percebe pouco disto e/ou vive noutro planeta...

Anónimo disse...

Porque razão os locais para fazer competição desportiva nos séculos VII a I a.C. não mediam o mesmo? O que este dado indica sobre o modo de fazer e de conceber o desporto que difere radicalmente do modo da «era moderna» caracterizado pela ideologia industrial do “rendimento” e da “quantificação das marcas/metas”? E assim sucessivamente, a mesma pergunta na «era média», na era do antigo regime» e na «era contemporânea»?
A competição está lá, mas o modo de a conceber e praticar muda radicalmente de época para época, de ideologia para ideologia.
Isto é uma ajuda, não é uma crítica.
A ignorância nunca deve ser criticada, apenas a recusa em aprender.
Charles Sanders Peirce escreveu, “(…) Com a dúvida a luta começa, e com a cessação da dúvida ela acaba. (…) nada fora da esfera do nosso conhecimento pode ser o nosso objecto, pois nada que não afecte a mente pode ser um motivo para um esforço mental. O máximo que se pode defender é que procuramos uma crença que julgamos ser verdadeira. Mas julgamos verdadeiras cada uma das nossas crenças e, na verdade, afirmá-lo é uma mera tautologia.”. E Ludwig Wittgenstein haveria de escrever, “se uma resposta não pode ser posta em palavras, também o não pode a pergunta. (…) Se se pode fazer uma pergunta, então também se pode respondê-la.”.
Portanto há sempre esperança, desde que haja esforço.
A bem do Desporto.

Funcionário do Estado

Luís Leite disse...

Ó Funcionário do Estado

Você faz cada pergunta!...

"Por que razão os locais para fazer competição desportiva não mediam o mesmo?"

Se calhar era porque ainda não havia Federações Internacionais nem Comité Olímpico Internacional, nem a necessidade de uniformizar e formalizar o Desporto, já que na Antiguidade, os jogos desportivos tinham características meramente regionais...

Você não enxerga mesmo!

E depois refugia-se em citações pseudo-filosóficas (que eu me recuso a fazer) para justificar o injustificável: a importância das ideologias, diferentes formas de conceber o Desporto, presume-se que pondo de parte o mérito e o objectivo de ganhar ou melhorar (por serem ideologicamente impuros?).

E depois chama ignorantes aos "outros" que não pensam "marxista desactualizado" como você.

E é espantoso que nunca seja capaz de apresentar argumentos minimamente sólidos e que tenham a ver com o mundo real.
Insiste em ideologias utópicas (ultrapassadas e falidas), negando aquilo que é necessário: uma visão pragmática do mundo globalizado em que vivemos.

Para si, os seres humanos deveriam ser robots ao serviço da ideologia "políticamente correcta" do ido Sr. J. S. Pinto de Sousa.

Um mundo ideal em que o Desporto não fosse ganhar e perder, em que o esforço e o mérito não tivessem que existir e ser compensados, em que não existissem interesses para além do saudável "jogging" do ex-PM.

Um mundo de caminhadas e convívios vagamente desportivos pagos pelos nossos impostos, seguidos de comícios socialistas-marxistas com sardinhadas e grelhados também pagos pelos impostos.

Um mundo pseudo-igual, "fraternalinho", bem niveladinho por baixo.

Sem números nem classificações.

Com um mar infinito de legislação quase toda inútil (de gabinete) securitária, impositiva pelo quero posso e mando e fora do mundo real.

Tenha paciência, mas isso tudo já passou, acabou, teve o seu tempo...

Basta de mediocridade!

Anónimo disse...

Calma. A irritação mais violenta é sempre connosco. Isso é bom sinal. Quer dizer que começamos a duvidar das nossas certezas. E percebemos que sabemos menos do que julgávamos.
A pergunta. Pois a pergunta.
Aquela pergunta é uma constatação empírica feita pela ciência no início do século XX. E essa evidência é exactamente a prova de que o desporto não tinha da competição o conceito que viria a ter na ideologia da revolução industrial do século XIX. Nesse contexto antigo havia a possibilidade de cálculos até ao milímetro, mas não foram aplicados aos recintos onde se faziam corridas de desporto. Porquê? O que isso demonstra? Prova que não era o “rendimento” nem as “marcas” o objectivo da competição desportiva. Competir desportivamente não era dominado pelo “rendimento” nem pela quantificação do tempo e do espaço como na ideologia industrial e científica do século XIX.
Logo, como tinha dito, aquelas opiniões tão inflamadas de que o desporto era de certeza isto e aquilo estavam não apenas erradas, como também fazem parte de uma ideologia de que os autores dessas certezas universais do desporto não têm consciência na actualidade.
E isto muda tudo quanto à questão colocada por JMConstantino, porque não basta quantificar e medir o desporto como se fosse uma realidade tal como o concebemos hoje. Pior ainda é não ver que hoje há uma parte muito significativa das pessoas (portanto da sociedade para a qual queremos fazer ‘políticas de desporto’) que já não consideram desporto o “altius, citius, fortius” (expressão da ideologia da revolução industrial que Chaplin soube tão bem retratar, exactamente, em “Tempos Modernos”).
Aí está, a resposta à pergunta demonstrava o erro.

Funcionário do Estado

Anónimo disse...

Discussão absurda que um designado funcionário de Estado veio aqui colocar.A questão colocada por José Manuel Constantino tem a ver com a participação olímpica e com o desporto de rendimento.O autor que não precisa de quem o defenda não aborda outras dimensões da pratica do desporto onde os seus modos de avaliação são diferentes.Bastaria ,em vez de citar autores que nunca estudaram o desporto,de ler alguma da bibliografia do autor do post para evitar dizer tantas asneiras.Mas enfim a liberdade permite tudo inclusivé a ignorância travestida de superioridade intelectual..

Luís Soares

Anónimo disse...

Diz o assalariado do Estado:«hoje há uma parte muito significativa das pessoas (portanto da sociedade para a qual queremos fazer ‘políticas de desporto’) que já não consideram desporto o “altius, citius, fortius” (expressão da ideologia da revolução industrial que Chaplin soube tão bem retratar, exactamente, em “Tempos Modernos”).»Que grande novidade.Mas o que tem isso a ver com a participação olímpica?Quer fazer dos outros parvos?Por vezes certo tipo de comentários parecem mais próprias de um hospício do que de um debate sério e responsável.

Anónimo disse...

Peço desculpa se com este complemento estiver a fugir muito do tema proposto por JMConstantino, mas não resisto a acrescentar algo que poderá mostrar com mais clareza que esse conceito de desporto do “altius, citius, fortius” é uma construção dentro de uma ideologia.
Refiro-me à dita “crise” (não desportiva) que, um pouco por todo o mundo, todos consideram que nos assola hoje.
Ela é mais «sentida» onde essa ideologia materialista do «cada vez mais», do «crescer», do «mais», do «termos mais do que ontem», está mais enfiada na mentalidade desses seus crentes. O colapso dessa «ideologia que mede tudo», incluindo as pessoas e os vizinhos, pelo critério da «quantidade», pelo «rendimento», pela «riqueza», pela «posse», pela «força», é o que está na base desta crise.
Não é sustentável todos os países do mundo quererem «crescer cada vez mais», quererem «vender aos outros mais do que compram», pelo menos no contexto dos recursos finitos da Terra. É um contra-senso, é quase uma loucura colectiva. Talvez devido à cegueira da ganância, que actualmente leva às actuais guerras e genocídios. As ruas tornam-se a cada dia que passa “zona de guerra”. Todos querem ganhar, todos querem ser mais do que os vizinhos…. Ganhar a quem? Derrotar quem?
Chegámos à crise dessa ideologia que dominou durante os últimos séculos. E a crise dessa ideologia também se faz sentir no desporto, no conceito de competição. O futuro da competição desportiva não está, tal como a outra crise, nesse conceito de «mais».
Mas isso não significa o fim da competição como fundamento do desporto, significa apenas o fim de uma forma ideológica de interpretar a competição. Outras virão.
E é esta questão que importa incluir no tema da avaliação proposto por JMConstantino.
É também sobre esta proporção entre o antigo e o actual que o Modelo de Desenvolvimento do Desporto para Portugal deve ter consideração.

Funcionário do Estado

Luís Leite disse...

Pois é.
Não há mesmo pachorra.
Para mim, este assunto está encerrado.

Obrigado a JM Constantino pela lucidez e oportunidade do seu texto.

O debate, apesar de não ser sempre elevado, enriquece e ajuda a esclarecer quem quer trocar argumentos e ser esclarecido.

Anónimo disse...

Nos últimos anos o processo de empobrecimento técnico do IDP tem sido claro e evidente, quando comparado com outras épocas. Este facto reflecte-se no tipo de diálogo que hoje é travado com os seus parceiros. Pouco se fala para além das questões puramente administrativas. As questões de natureza técnica têm que ser resolvidas noutros ambientes. O comentador Funcionário do Estado acrescenta ainda outra valência à organização. Tem feito afirmações, que já não são novas-já a extrema esquerda francesa dos anos 70 as praticava. A competição desportiva reproduz o que de mau se faz ao trabalhador no mundo moderno do trabalho. É livre de ter e exibir as suas ideias. O problema aumenta é se como funcionário tiver alguma capacidade para decidir ou influenciar a decisão. Poderia exportar as suas concepções por esse mundo olímpico. Comece pela Europa. Eles serão sensíveis aos seus argumentos e, assim, reduz-se a competitividade para os nossos atletas.
Força.

Anónimo disse...

""Trata-se de uma matéria do foro técnico e é nesse ambiente que o assunto tem de ser definido. Excluir as modalidades e os técnicos dessa discussão é um absurdo. Não tem qualquer sentido. É não entender o papel dos técnicos e dos atletas Porque são eles que sabem, que conhecem, aquilo para que estão a trabalhar .""

Pois é meus amigos, quando se fala em NATAÇÃO DESPORTIVA é este o problema. E, por apontar um dedo e levantar esta questão e outras.... técnicos e nadadores têm sido perseguidos e excluídos... A modalidade está saudável, o Homem que a dirige está certamente com problemas patológicos.