quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O direito desportivo traído pela sociologia



Texto da autoria de João Boaventura cujo envio se agradece.




Talvez valha a pena dar uma vista de olhos pelo filme do organismo destinado a orientar o Desporto Nacional, desde a sua criação, em 1942, e regulação, em 1943, até à actualidade, o que representa a provecta idade de 70 anos, com direito à história do seu nascimento, vida e morte… anunciada.
Esta primeira parte é necessária para escalpelizar as arquitecturas políticas em que se inseriram, ou das quais dependeram, e de como foi impossível configurar-se uma linha de desenvolvimento estrutural, perante as constantes mudanças de ministérios e de secretarias e subsecretarias de Estado, embora Foucault assevere que a história é feita de saltos - os das referidas instituições, os dos órgãos oficias de orientação desportiva e os da juventude - cada um procurando soluções para os problemas, como se a linguagem visual das mutações dos organismos constituísse suporte ou pista para alcançar os objectivos para que foram criados.
De certa forma os Governos assemelham-se às empresas que solicitam aos publicitários a invenção de nomes que motivem os clientes à aquisição dos produtos, mesmo que nada haja de científico na qualidade ou na designação dos mesmos. Se o facto se justifica em publicidade parece não justificar-se nos Governos, a menos que se trate de uma função mimética – se resulta na publicidade, resultará nos Governos – ou uma forma de marcar o território político, partidário ou ideológico, mas aí a história interpretará que o fundamental foi preterido, dado que as coisas sem sentido foram consideradas mais importantes do que o sentido de coisas simples a fazer.
Se se examinar panoramicamente o corpus lexicográfico como uma floresta, com tão diversa e abundante floração dos mais diversos tipos de árvores que ornam ou partilham o direito desportivo nacional, verifica-se que as de longa duração (DGEFDSE, DGFD, DGD, INDESP, IND) prevalecem sobre as reduzidas esperanças de vida de outras, (Ministérios, Secretários e Subsecretários de Estado) que rapidamente adoecem, e morrem, e dão lugar a novas árvores (Ministérios, Secretários e Subsecretários de Estado), mas, ou porque o terreno não é apropriado, ou porque já atacadas por qualquer fungo, vivem doentes e morrem. E deste ciclo não se sai, porque as árvores são os homens.
O que foge ao nosso entendimento é a causa da imunidade das árvores com maior esperança de vida (DGEFDSE, DGFD, DGD, INDESP, IND) que não se deixam contagiar. É provável que se deva a algum tipo de enxertia que, apesar de as manter vivas, não lhes permite expandirem-se, crescerem, tornarem-se frondosas, e darem os frutos desejados; ou possivelmente por estarem plantadas longe das doentes. O tempo de vida das restantes, encurtada pelos fungos, explicam a semi-apatia.
Mesmo assim, se teve três períodos de grande imunidade 1942-1970, 1973-1992, e 1997-2007, ou seja, respectivamente, 29, 20 e 12 anos de vida, com sinais de degenerescência, porque decrescente, a que se podem associar as alternâncias havidas em 1971-1972, 1993-1996 e 2007-2011, ou sejam 2, 4 e 5 anos de vida. Considerando que o IDP de 1997-2003, foi reformulado pelo mesmo Governo de 2003-2007, mudando o nome para IDP,IP, considerou-se institucionalmente como ocupando o tempo de 1997-2007, ou seja, 12 anos.
Para uma visão panorâmica temos este filme cronológico dos 6 períodos: 29-2-20-4-12-5, que nos permite deduzir o plano inclinado em que o organismo resvala porque no novo e actual governo esse órgão, pela sistema nanotecnológico, ficou reduzido a uma “Vice-Presidência para a Área do Desporto.” Não há direito desportivo que o salve.
Vejamos então a floresta onde vive escondido o animal Desporto, em meio pouco propício para a sua vida.

1942 – Direcção Geral da Educação Física, Desportos e Saúde Escolar (DGEFDSE) -1970
1936-MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO NACIONAL-1974
1936- Mocidade Portuguesa (MP)-1974
1937-Mocidade Portuguesa Feminina (MPF)-1974



1971 – Direcção-Geral da Educação Física e Desportos (DGEFD)-1972
1971-Subsecretário de Estado da Juventude e Desportos
1971-Secretariado para a Juventude



1973 – Direcção-Geral dos Desportos (DGD)-1992
1973-Secretário de Estado da Juventude e Desportos
1974- 6 GOVERNOS PROVISÓRIOS-PÓS 25 ABRIL-1976
1974-I, II e III G.P. - MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA-1975
1974-Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis (FAOJ)-1988
1975-IV e V G.P. - MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA-1975
1975-Secretário de Estado dos Desportos e Acção Social Escolar-1975
1975-Secretário de Estado dos Desportos e Juventude-1976
1975-Instituto Português da Juventude
1975-VI G.P.-MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA-1976
1976 -I Governo Constitucional-1977
1976-MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA-1978
1978-MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA-1978
1978-MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA-1979
1979-MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO-1980
1980-MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CIÊNCIA-1981
1980-Secretário de Estado da Juventude e Desportos-1981



1981-MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DAS UNIVERSIDADES-1982
1981-Secretário de Estado da Educação e da Juventude-1983
1981-MINISTÉRIO DA QUALIDADE DE VIDA-1985
1981-Secretário de Estado da Juventude e do Desporto-1985
1981-PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE MINISTROS
1982-MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO-1985
1985-Secretário de Estado da Juventude-1987
1985-MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA-1987
1987-MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO-2011
1987- Ministro Adjunto do Primeiro Ministro e da Juventude-1991
1988- Instituto da Juventude-1993
1989-Ministro da Juventude e do Desporto-1989
1990-Secretário de Estado da Juventude-1991
1991-Secretário de Estado da Juventude-1993



1993 – Instituto Nacional dos Desportos (INDESP)-1996
1993-Secretário de Estado da Educação e do Desporto
1993-Instituto Português da Juventude-2007
1995-Secretário de Estado da Juventude-1999



1997 – Instituto Nacional do Desporto (IND)-2003
1997- Secretário de Estado da Educação e do Desporto
1999-Secretário de Estado do Desporto
2000-Secretário de Estado da Juventude e Desporto autonomizou-se e ganhou o estatuto de Ministério da Juventude e do Desporto
2002-Secretaria de Estado da Juventude e Desporto

2003 – Instituto do Desporto de Portugal (IDP)-2007
2004-
Ministro da Juventude, Desporto e Reabilitação-2004 (durou apenas 4 dias)
2005-Secretário de Estado da Juventude e do Desporto-2009
2005- MINISTRO DA PRESIDÊNCIA-2011



2007 – Instituto do Desporto de Portugal (IDP,IP)-2011
2007- Instituto Português da Juventude-2011
2009-Secretário de Estado da Juventude e do Desporto-2011



2011 – Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ)
Vice-Presidente para a Área do Desporto (VPAD)
Vice-Presidente para a Área da Juventude (VPAJ)
2011-Secretário de Estado do Desporto e Juventude
2011-MINISTRO ADJUNTO E DOS ASSUNTOS PARLAMENTARES

11 comentários:

Anónimo disse...

Este texto é escrito, e publicado, sem consciência do erro que critica. Expressa com toda a veemência a causa do impasse a que o desenvolvimento do desporto chegou, sem os autores se darem conta.

É um texto inocente e cândido, por ser uma visão e uma opinião convicta. Tem uma dupla autoria: a do autor e a do publicitador. Para quem observa e analisa o Desporto em Portugal não surpreende. JBoaventura e JMConstantino foram activos apologistas desta visão que foi arrastando o desporto até esse estertor que agora tanto criticam.

Essa visão e essa culpa têm um nome: Visão Estatal do Desporto Português.

É para resolver esse erro que a folha A4 serve. Está lá a solução alternativa a esta.

Este texto de Boaventura & Constantino (2011) sem se darem conta, paradoxalmente, acabou por desnudar os culpados quando estes tentavam culpar os outros.

Queriam regressar ao Gordo Estado, numa viagem passo a passo do presente para o passado, seguindo os degraus que o texto indica?

Sugiro a folha A4, para ver se é desta que essa ilusão da Panaceia Estatal se fina; e se deixa de prejudicar o Desporto Português.

Coisas que a Vida tece.

Funcionário do Estado

Anónimo disse...

Porque a culpa deve ser repartida entre os dois culpados.

Já que a culpa não é só do “capitalismo selvagem”, é também, na mesma proporção, dos defensores do “Estatismo”. São ambos irmãos de sangue do mesmo mal que fizeram às gerações futuras. São duas faces da mesma má moeda. Ouçam as vozes que se levantam no Mundo, primeiro no mundo islâmico, agora no mundo estadudinense:

“Hoje, os jovens em todo o país estão a solidarizar-se com os [manifestantes] que estão a fazer ouvir as suas vozes em Wall Street. O futuro do país depende dos jovens serem capazes de exigir o futuro em que nós acreditamos. E nós acreditamos que Wall Street deve pagar pelos danos que fizeram à nossa economia, aos nossos empregos e às nossas comunidades, nomeadamente através da execução de hipotecas e obtenção de lucros massivos sem nenhuma supervisão, ao mesmo tempo que não participavam na construção de um futuro para a próxima geração. A Federação Americana do Trabalho junta-se a este esforço no apelo para termos um país que não trabalha apenas para os 1% que estão no topo. Estamos todos juntos a apelar para um futuro sustentável que não começa com benefícios fiscais massivos para os mais ricos e termina com medidas de austeridade e uma crise de emprego para os mais pobres”. (Richard L. Trumka é Presidente da Federação Americana do Trabalho AFL-CIO).

Funcionário do Estado

Anónimo disse...

Já cá faltava a parvoíce da folha A4....

Anónimo disse...

O que fazer com um louco? Deixo a pergunta aos proprietários do blogue:

joão boaventura disse...

Caro Funcionário do Estado

Enquanto não compreender que as fontes do Direito não coincidem com as fontes do Estado, não há folhas A4 que salvem o desporto, pela mesma razão: as fontes das folhas A4 não coincidem com as do direito e as do Estado.

Só complicou.
Cordialmente

Anónimo disse...

O louco já sugeriu que trabalhou com o PS durante muitos anos, é um funcionário do Estado PS e até hoje ninguém dentro do PS deu por ele ou então ao tê-lo despedido não lhe disseram porquê. Estes loucos quando são despedidos caem no desporto. Já não é o primeiro e é uma história que se repete.

Anónimo disse...

O Desporto Português sempre se deveu a umas dúzias de entusiastas.
Para o Estado, independentemente do regime político, o Desporto nunca contou verdadeiramente enquanto Desporto.
Foi sim objecto de diversas formas de aproveitamento político: propangadista (sempre), e nas últimas décadas, legislativamente inútil e politicamente correcto.
E Futebol. Muito futebol, para distrair a gentalha.
Pelo meio, alguns idealistas, mais ou menos libertários, que nunca acabaram por levar as suas ideias avante. Por motivos diversos.
Ah! Já me esquecia! Há uma folha A4, que pelos vistos já foi arquivada.

F. Oliveira disse...

E andou aqui o LL a criticar os anónimos...
Bem vindo LL !!

Anónimo disse...

Um país que tem uma inteligência como a do funcionário do estado não tem problemas que não resolva.Não o coloquem no museu e dêem-lhe o governo do país

João Maria Catarino disse...

Afinal este País tem futuro. É só uma questão de tempo, pouco tempo. Apenas o necessário para que estes sobredotados, os ANÓNIMOS (não alcoólicos, entenda-se), cheguem ao poder...
Haja pasciencia!

Anónimo disse...

Já disse uma vez, volto a repetir: a folha A4 já foi pela sanita abaixo...

Deixem de se procupar com isso, pois nunca a veremos!