Se um país é rico e o seu povo pobre, algo de estranho se passa. Se numa família os pais são ricos e os filhos vivem com dificuldades alguma coisa corre mal. O que pensar de uma federação desportiva que tem avultadas quantias em depósitos bancários, remunera os seus dirigentes e demais trabalhadores muito acima de média do país, mas os seus filiados estão falidos? A resposta a esta questão não sei se vale a constituição de um grupo de trabalho, mas, a meu ver, é bem mais importante que outras que o agendamento político do governo selecionou. Porque coloca em risco a própria sobrevivência da modalidade.
Os clubes de futebol, com esta ou outra designação jurídica, vivem, à sua escala, o mesmo problema que os países ou as famílias. Se, continuamente, gastam mais do que têm chegará um momento em que são obrigados a parar. Ou porque não têm liquidez ou porque o que pediram emprestado para viver acima das possibilidades já não tem modo de ser pago, ou ainda porque não há quem lhes empreste. Qualquer pessoa com um módico de bom senso o reconhecerá. Então porque não é encontrada uma solução? Porque o empobrecimento dos clubes de futebol é feito em paralelo com o enriquecimento de segmentos superiores da modalidade. Que sendo gerida num espaço global tem inúmeras dificuldades em encontrar soluções de equilíbrio. E, deste modo, os que enriquecem tendem a ignorar os que empobrecem.
Os clubes de futebol, com esta ou outra designação jurídica, vivem, à sua escala, o mesmo problema que os países ou as famílias. Se, continuamente, gastam mais do que têm chegará um momento em que são obrigados a parar. Ou porque não têm liquidez ou porque o que pediram emprestado para viver acima das possibilidades já não tem modo de ser pago, ou ainda porque não há quem lhes empreste. Qualquer pessoa com um módico de bom senso o reconhecerá. Então porque não é encontrada uma solução? Porque o empobrecimento dos clubes de futebol é feito em paralelo com o enriquecimento de segmentos superiores da modalidade. Que sendo gerida num espaço global tem inúmeras dificuldades em encontrar soluções de equilíbrio. E, deste modo, os que enriquecem tendem a ignorar os que empobrecem.
Ao futebol chegam rios de dinheiro com origens diversas (geográficas e de proveniência). E se chegam é porque existem. E se vão para o futebol é para se reproduzirem em mais-valias financeiras ou para se limpar a sua forma de obtenção. E neste tsunami se há uns que se queixam, há outros que beneficiam.
A solução global que tem sido sugerida é o de uma espécie de acordo sobre os limites financeiros das compras/vendas de jogadores, fator onde parece residir a razão do défice dos clubes. Não duvido da bondade da solução. Duvido da sua eficácia. Não por razões ou fundamentos técnicos, mas pela lógica do negócio do futebol. Que é claramente um negócio especulativo. E como tal está desprovido de racionalidade, de bom senso e que não pode sobreviver na base de entendimentos.
O fair-play financeiro (proposto pela UEFA) é um equívoco. Fair-play significa jogo limpo. Ora não há jogo limpo, nem racionalidade financeira quando na gestão global de uma modalidade uns têm custos com pagamentos de impostos sobre mais valias da mobilidade dos ativos e outros escapam a esses pagamentos. Por outro lado, a competição que se faz dentro do campo não é a única que está em jogo. Existe também uma competição económica que vive da especulação do valor dos ativos nos exatos termos em que o capital financeiro especula. O valor dos passes de alguns jogadores face à economia real do futebol é tão virtual como o valor de alguns produtos financeiros face à economia real em geral. São produtos especulativos.
Em Portugal, todas as soluções do passado (bingos, bombas de gasolina, promoção imobiliária, sad’s, totonegócio I e II, regimes fiscais especiais, etc.) foram insuficientes para estancar o risco de falência. Cada nova solução é uma miragem que o tempo se encarrega de destruir.
O problema é que do lado de quem governa a modalidade a coisa nunca esteve tão boa. Dinheiro existe e bastante. Para os dirigentes, jogadores e treinadores, os mais bem pagos, não tem por onde se queixar. Os agentes, vivem da especulação com a mobilidade dos jogadores.Com a crise financeira na Europa abrem-se outros mercados em economias emergentes e com fraco escrutínio público sobre a origem do dinheiro. As marcas e os patrocinadores estão atentos às novas oportunidades desses mercados. Quem carece de respiração assistida são apenas os clubes que entre ventos e marés lá vão fabricando a contabilidade criativa que permitiu chegar até hoje. Num percurso que, apesar de difícil, chega a ser impressionante como foi possível. Quantos não pensarão: se chegámos até aqui, alguma solução há-de ser encontrada. Para quê mudar de vida?
Contrariamente ao que por vezes se diz o problema, só em parte é do futebol ou das pessoas que o gerem. O problema é de outro âmbito. O futebol foi capturado pela lógica do capital e pelos interesses financeiros que o controlam. Não vale a pena perder tempo a tentar encontrar soluções de tipo desportivo. Em Portugal, que dizem, tem a legislação mais avançada da Europa, os sucessivos governos, não se dando por satisfeitos, adoram legislar sobre o futebol. Não faz grande mal. E, por um tempo, sentem-se felizes. Mas o problema estará na legislação? Como afirmava Heraclito “a verdadeira natureza das coisas gosta de ocultar-se”.O fato não residirá em o capital não ter pátria e precisar de circular livremente para se reproduzir? E essa circulação tender a não ter limites e ser imune à intervenção e governação dos Estados?
A solução global que tem sido sugerida é o de uma espécie de acordo sobre os limites financeiros das compras/vendas de jogadores, fator onde parece residir a razão do défice dos clubes. Não duvido da bondade da solução. Duvido da sua eficácia. Não por razões ou fundamentos técnicos, mas pela lógica do negócio do futebol. Que é claramente um negócio especulativo. E como tal está desprovido de racionalidade, de bom senso e que não pode sobreviver na base de entendimentos.
O fair-play financeiro (proposto pela UEFA) é um equívoco. Fair-play significa jogo limpo. Ora não há jogo limpo, nem racionalidade financeira quando na gestão global de uma modalidade uns têm custos com pagamentos de impostos sobre mais valias da mobilidade dos ativos e outros escapam a esses pagamentos. Por outro lado, a competição que se faz dentro do campo não é a única que está em jogo. Existe também uma competição económica que vive da especulação do valor dos ativos nos exatos termos em que o capital financeiro especula. O valor dos passes de alguns jogadores face à economia real do futebol é tão virtual como o valor de alguns produtos financeiros face à economia real em geral. São produtos especulativos.
Em Portugal, todas as soluções do passado (bingos, bombas de gasolina, promoção imobiliária, sad’s, totonegócio I e II, regimes fiscais especiais, etc.) foram insuficientes para estancar o risco de falência. Cada nova solução é uma miragem que o tempo se encarrega de destruir.
O problema é que do lado de quem governa a modalidade a coisa nunca esteve tão boa. Dinheiro existe e bastante. Para os dirigentes, jogadores e treinadores, os mais bem pagos, não tem por onde se queixar. Os agentes, vivem da especulação com a mobilidade dos jogadores.Com a crise financeira na Europa abrem-se outros mercados em economias emergentes e com fraco escrutínio público sobre a origem do dinheiro. As marcas e os patrocinadores estão atentos às novas oportunidades desses mercados. Quem carece de respiração assistida são apenas os clubes que entre ventos e marés lá vão fabricando a contabilidade criativa que permitiu chegar até hoje. Num percurso que, apesar de difícil, chega a ser impressionante como foi possível. Quantos não pensarão: se chegámos até aqui, alguma solução há-de ser encontrada. Para quê mudar de vida?
Contrariamente ao que por vezes se diz o problema, só em parte é do futebol ou das pessoas que o gerem. O problema é de outro âmbito. O futebol foi capturado pela lógica do capital e pelos interesses financeiros que o controlam. Não vale a pena perder tempo a tentar encontrar soluções de tipo desportivo. Em Portugal, que dizem, tem a legislação mais avançada da Europa, os sucessivos governos, não se dando por satisfeitos, adoram legislar sobre o futebol. Não faz grande mal. E, por um tempo, sentem-se felizes. Mas o problema estará na legislação? Como afirmava Heraclito “a verdadeira natureza das coisas gosta de ocultar-se”.O fato não residirá em o capital não ter pátria e precisar de circular livremente para se reproduzir? E essa circulação tender a não ter limites e ser imune à intervenção e governação dos Estados?
1 comentário:
Concordo.
Mas para mim, ainda mais impressionante que o poder financeiro dos grandes clubes de futebol e dos que gravitam à sua volta, é o seu poder alienante.
A verdade é que encontramos em todos os estratos sociais e graus académicos um país rendido à mais irracional clubite futebolística.
Mesmo quando a relação identitária conferida outrora pelo amor à camisola dos praticantes, explicava o clubismo.
Pergunto:
O que é que faz com que alguns milhões de portugueses percam a cabeça e revelem, hoje por hoje, uma tão forte abdicação da racionalidade em favor de agremiações em que os protagonistas são quase exclusivamente estrangeiros em trânsito, que dificilmente sentirão algum amor à camisola?
Enviar um comentário