terça-feira, 24 de julho de 2012

Manual da cegueira

A foto que encima este texto foi inicialmente obtida numa das etapas mais simbólicas da Volta à França. Ultrapassou fronteiras e percorreu mundo. Um mundo que provavelmente não sabe, nem nunca saberá, que o Relvas do cartaz é o ministro português que tutela o desporto. E ignorará, mesmo com tradução, porque o mandam ir estudar. Mas os portugueses sabem. E nisso reside a verdadeira dimensão daquela manifestação. Desvalorizá-la, como uma coisa menor ou um fait-divers, só o fará quem não anda nas ruas e não escuta os comentários. Ou as anedotas. Aguardar que uma qualquer nova ocorrência ganhe a agenda mediática e o caso seja esquecido é uma das tarefas dos estrategas de comunicação do governo. Mas é uma ilusão. A situação está metastizada e mais cedo ou mais tarde os seus efeitos deletérios virão ao de cima. Por muito que alguns fechem os olhos e tapem os ouvidos. Ou acreditem em milagres. Outros, mais terra a terra, apontam o caminho: sair.O problema é outro.
A questão poderia esgotar-se aqui. Mas não. Porque o caso, um exemplo de desvario e tontearia de uma universidade privada, é afinal uma sucessão de casos. E é esse facto que o exclui do rol dos não-assuntos. Colado à pele do ministro não vai desaparecer por mais exercícios de dissimulação que se apliquem. 
Os cargos políticos revestem-se de uma importância especial. Implicam o exercício de funções públicas. O que conduzem a um permanente escrutínio da ditadura mediática. Independentemente da legitimidade do mandato que possam ter recebido para o exercício dessas funções. Esse escrutínio é maior precisamente porque quem governa o faz em nome de todos, que é a fonte legítima da soberania. O que dá como consequência que ao titular de um cargo público são pedidas responsabilidades distintas das de um cargo privado.Se isto é uma verdade elementar da democracia, assume uma particular e acrescida relevância em tempos de crise e de dificuldades. Em boa verdade o governo, este ou qualquer outro, tem a obrigação de prestar contas das pessoas que escolhe, do que fazem e como o fazem. E em simultâneo mobilizar e concitar os cidadãos para as tarefas de vencer essas dificuldades. O que só é possível num espírito agregador em que tem de pontuar algo indispensável : o bom exemplo dos governantes. Ora isto está a falhar por manifesto erro na escolha das pessoas. Umas por ausência de competências mínimas para o exercício de cargos públicos. Outras por percursos pessoais pouco compatíveis com esses cargos. Há exagero nesta afirmação? Recuemos um ano atrás e recordemos o que, então, muitas figuras importantes do principal partido que suporta o governo, o PSD, disseram ou escreveram. Não sabiam do que falavam?
A tutela do desporto entregue a um ministro que está profundamente fragilizado pelo conjunto de incidentes em que se vê envolvido não beneficia o desporto. E o desgaste a que o seu titular está sujeito, com razão ou sem ela, atinge toda a governação. Essa vulnerabilidade pode até ser desvalorizada pelo in circle que lhe é próximo. Pela natureza das coisas está mais preparado para um magistério de opacidade, como é próprio de quem gravita nas lógicas da partidarite e às tantas se vê na posse de um poder que jamais alcançaria em condições normais de uma vida não pública. E o medo de perder esse poder (e o que lhe está associado) empurra para estratégias de sobrevivência. Mas só quem agora chegou à política e não compreende certo tipo de sintomas é que pode admitir que esta estória vai ter um final feliz. É apenas uma questão de tempo.
Se as questões pessoais (e de caráter) dos titulares de cargos públicos não são despiciendas, as políticas e os programas podem desvalorizá-las ou acentuá-las. Mas aí a equipa governativa do desporto não trouxe, até à presente data, qualquer fator de inovação ou de diferenciação políticas. E um ano passado sobre o início da governação é patente que está ainda à procura de um rumo que dê consistência às políticas públicas.Com uma administração pública, em lógica de funcionamento centrípeto, desorientada e pouco motivada, a tarefa torna-se ainda mais complexa. E uma certa futebolização da agenda da governação não foi um bom princípio. O tempo passa e o governo vai perdendo oportunidades.
É certo que todas as políticas públicas estão sobre a tenaz do programa de ajustamento negociado com as entidades internacionais. É também certo que os mecanismos de controlo da despesa que imperam sobre a administração pública dificultam a ação. Mas a solução não está em colecionar iniciativas ou eventos ou falar de tudo e mais alguma coisa para dar a sensação que se está mexer e a trabalhar. O problema não está na vontade de fazer coisas, o que é louvável, mas em fazer coisas que acrescentem valor à situação desportiva nacional, que é o necessário. Governar ainda é bem diferente de animar os finais de tarde ao estilo do Martinho da Arcada ou do Grémio Literário com tertúlias ou encontros temáticos.
O anterior governo, apesar de tudo, com um outro fôlego, uma doutrina e uma liderança mais consistentes, viveu durante muito tempo da movida do Congresso do Desporto e de uma conjuntura financeira bem mais favorável.Com os resultados que são conhecidos. Este parece optar por um registo mais soft, mas não menos prometedor: o regresso ao admirável mundo de um desporto sem problemas, e sem conflitos,salvo os que foram deixados pelos antecessores! Está enganado e quanto mais cedo o perceber ,melhor.

25 comentários:

Luís Leite disse...

Duvido muito que esta tutela alguma vez perceba seja lá o que for.
Os anteriores andavam só atrás do politicamente correto, demagógico claro, com as célebres "caminhadas", "segurança", etc., fartaram-se de legislar nesse sentido e deixaram centros de alto rendimento para algumas modalidades.
Estes são um "não assunto".
Existindo, não existem.
É para isso que lá estão.

Anónimo disse...

Esta tutela e 'este' IPDJ sufocaram financeiramente a maioria das federações desportivas ao não distribuir verbas desde Março.
Existem dirigentes a 'pagar a realização' de campeonatos nacionais do 'seu bolso', rendas de sedes;
Existem seguros de acidentes de trabalho extintos por falta de pagamento do prémio, a maioria das federações está em incumprimentos fiscais.
Será demagogia?

Anónimo disse...

Já me tinha esquecido do Passado. J.M.Constantino ao querer criticar o Presente, recorreu ao Passado, para defender o Futuro.
A Memória, para quem é mediano, é um perigo.
No anterior havia vários com notas acima de 18valores, dadas por júris independentes, em exames públicos, em universidades públicas e privadas, nacionais e estrangeiras, com trabalhos publicados, e consultáveis nas bibliotecas por quem quiser.
Os ignorantes dividem o Passado, o Presente, e o Futuro. São «Ignorantes» por que o cérebro não funciona assim. “Quando olhamos para os resultados das ressonâncias magnéticas funcionais para observarmos o funcionamento do cérebro verificamos que, quando evocamos as recordações do Passado, a «rede de neurónios, axónios, e sinapses» é a mesma da que é utilizada quando fazemos os projetos para o Futuro. Implica em ambos os casos o córtex pré-frontal médio anterior, a via temporal-parietal-occipital, o córtex parietal médio, e as estruturas do lobo temporal médio.” (Manning, L., 2012, p.30; R. Buckner & D. Carrol, Harvard Medical School, 2006)
Ser Ignorante não é doença. Não ter conhecimento cura-se com o trabalho árduo e com o estudo sistemático.
Principais Resultados alcançados entre 2005-2011:
• 14 Centros de Alto Rendimento em 8 Distritos.
• 103 Primeiros Relvados em 18 Distritos.
• 189 Mini-campos desportivos em 189 Freguesias dos 18 Distritos.
• 360 Obras em Instalações Desportivas para a saúde e segurança dos praticantes em 352 Clubes de 160 Concelhos dos 18 Distritos.
• Modernização do Centro Desportivo Nacional do Jamor.
• Aumento da prática desportiva federada (+25% mulheres/+13%homens).
• Aumento de atletas nos Programas Olímpico e Paralímpico (+27%).
• Criação do Programa Nacional Marcha e Corrida.
• Apoio às Federações Desportivas (Apetrechamento2M€+Modernização2,9M€+Financiamento regular (+18,6%)
• Aumento do Desporto na Escola (Mais 330 mil praticantes no 1.º Ciclo do Ensino Básico).
• Apoio a 367 Eventos Desportivos Internacionais.
• Novos Benefícios fiscais e Bolsas aos atletas (Aumento de 10% nas bolsas com isenção IRS)
• Novo estatuto do atleta com benefícios durante e após a carreira.
• Modernização do Laboratório Antidopagem.
• Sustentabilidade do Financiamento do Estado ao Desporto (7,8% do total dos Jogos Sociais)
• Reforma Legislativa do Desporto Português.
• Novos instrumentos de diagnóstico e conhecimento do desporto
Aumento e Generalização da prática desportiva:
• Aumento em mais de 58mil o número de praticantes federados.
• Aumento em 25% o número de mulheres a praticar desporto federado (mais 31.250 do que em 2005).
• Aumento do número de cidadãos que praticam actividade desportiva não formal, incluindo os idosos e os cidadãos portadores de deficiência.
• Aumento em 32% o número de atletas de alta competição oficialmente registados.
• Aumento significativo do número de medalhas conquistadas em provas olímpicas e não olímpicas (+40%).
Reforma Legislativa do Desporto Português

E esta hem?

Anónimo disse...

Por isso é que não querem a Memória. Dizia um ignorante há uns dias, aqui na Coletividade, que a memória era uma coisa do Passado. E que o Futuro era outra coisa. São ignorantes destes que têm sido os responsáveis por empatarem há anos a Memória do Desporto. Desculpam-se com o dinheiro, e dizem que é um assunto sem prioridade. A mediocridade e a ignorância é, intencionalmente, o critério de recrutamento dos que são colocados nos cargos por os que têm os lucros. É a Memória que estabelece a comparação, é ela que cria a competição que acrescenta valor à sucessividade. Com ela teriam que ser melhores do que os anteriores, e assim sucessivamente, com ganhos evidentes para o Desporto e para Portugal. Por isso é que a temem.

Anónimo disse...

Para que a memória se não perca:foram estes senhores que governaram entre 2005/2011 que deixaram o país à beira da bancarrota!

Luís Leite disse...

Anónimo das 18.50h:

Curioso aparecer 2 vezes "Reforma Legislativa do Desporto Português".
Uma obsessão que não adiantou nada.
Interessantes as negociatas associadas ao arrelvamento sintético do país da bola, sabendo-se que o relvado sintético tem vida relativamente curta.
Um bocadinho demagógica a soma das medalhas olímpicas com as paralímpicas nos dados fornecidos à Pordata.

O valor acrescentado ao desporto português na passada legislatura estará visível nos Jogos Olímpicos de Londres, em comparação com os outros países europeus com população semelhante.

Anónimo disse...

Anónimo das 09:54h:

A memória não se perde e para o auxiliar a 'não perder a sua' lembre-se que não cortaram, por exemplo, nos subsídios para diminuir a despesa.
'Estes' já o fizeram e ainda assim aumentaram o défice !!!

joão boaventura disse...

A Reforma Legislativa do Desporto Português é a glória de todos os governos desde 1940.

Basta olhar para uma estante com as encadernações de todos os Diários do Governo e Diários da República.

E quem tiver a paciência de ler mais para trás tem que começar a partir de D. Afonso II, desde 1211, início da publicação das Primeiras Leis Gerais.

Anónimo disse...

L.Leite tem razão, esqueci-me de mencionar com rigor a que Reforma me queria referir, e que foi feita. São estes os actos feitos e publicados:
Reforma Legislativa do Desporto Português
• Lei de Bases da Actividade Física e do Desporto (Lei nº 5/2007, de 16 de Janeiro).
• Regime Jurídico das Federações Desportivas (DL. Nº248-B/2008, de 31 de Dezembro).
• Conselho Nacional do Desporto (DL. nº 315/2007, de 18 de Setembro; e DL. nº1/2009, de 5 de Janeiro).
• Regime Jurídico dos Contratos-Programa (DL. nº 273/2009, de 1 de Outubro).
• Financiamento do Desporto (DL. nº 56/2006, de 15 de Março).
• Combate à Dopagem (Lei nº 27/2009, de 19 de Junho).
• Combate à Violência (Lei nº 39/2009, de 30 de Junho).
• Combate à Corrupção (lei nº 50/2007, de 31 de Agosto).
• Regime Jurídico do Desporto de Alto Rendimento (DL. nº 272/2009, de 1 de Outubro).
• Regime Jurídico do Acesso e Exercício da Actividade de Treinador de Desporto (DL. nº 248-A/2008, de 31 de Dezembro).
• Regime Jurídico do Seguro Desportivo Obrigatório (DL. nº 10/2009, de 12 de Janeiro).
• Regime Jurídico das Instalações Desportivas de Uso Público (DL. nº 141/2009, de 16 de Junho).
• Regime Jurídico da Responsabilidade Técnica pelas actividades físicas e desportivas realizadas em ginásios e clubes de saúde (DL. nº 271/2009, de 1 de Outubro).

O Prof. João Boaventura tem razão, também.

Luís Leite disse...

Bravo!
O Desporto em Portugal está, obviamente, muito mais forte.
Com esta legislação toda, saímos da cauda da Europa em todos os indicadores desportivos.
Como se irá ver em Londres...
Resta o Futebol.

Anónimo disse...

Anónimo das 15:59h:

O que vc não sabe é que o 'novo' departamento financeiro "deste" IPDJ a essas "maioria das federações está em incumprimentos fiscais" está a informar que não desbloqueia as verbas enquanto as dividas fiscais não forem pagas...não se sabe é com o dinheiro de quem !!!

Anónimo disse...

Ao ouvir estes comentários comprova-se que, cada vez mais, urge olharem para a proposta que fiz na Folha A4. Concretamente a proposta para do Estado deixar de ter a condução unilateral da política federada. Isto é, a proposta para que essa condução saísse do Estado (e portanto, deixasse de ser uma política de desporto «Estatizante, Burocrática, e Subsiodenpendente»), e passa-se para a «Agência para o Desenvolvimento do Desporto».
É apenas uma proposta, e para dizê-la, basta uma folha A4. Não é preciso escrever tratados teóricos de desporto de não sei quantas páginas de superficialidades e de imensas teorias de nada. Apenas uma proposta que muda o paradigma e o modelo de governação do desporto, dita de modo simples, para que todos a possam entender, debater, e criticar.
Essa Folha A4 (apresentada oficialmente em 2004, 2008, e 2012), que tem por título «Contributo para o Modelo de Desenvolvimento do Desporto Português de Pedro Manuel-Cardoso» consiste numa «matriz/esquema» que não consegue entrar aqui na caixa do Blog. Razão pela qual apenas envio o resumo em word com as Premissas, o Objetivo, e o Conteúdo da Proposta:
Premissas
• A intervenção do Estado no Desenvolvimento do Desporto nas últimas décadas (por exemplo, no financiamento das federações desportivas e de outras instituições) não tem provocado a desejada competitividade. As federações e as instituições desportivas habituaram-se a uma excessiva subsidiodependência, perdendo habilidades e capacidades para competirem. E produziram uma oferta desportiva desajustada da procura real. As estruturas administrativas e o peso dessas instituições foi crescendo à sombra desse conforto do dinheiro dos contribuintes.
• A mudança deveria ser gradual, e deveria congregar uma responsabilidade partilhada de todos os atores e instituições que fazem parte do dito “Sistema Desportivo”.
Objetivo
• Gradual Des-Estatização do Desporto Português com início num primeiro ciclo de 12 anos (3 olímpiadas).
• Reduzir a comparticipação do Estado até 60% em doze anos.
• Substituir a centralidade da ação do Estado no sistema desportivo pela da Agência para o Desenvolvimento do Desporto (ADD).
Conteúdo da Proposta
• Esboço/Esquema para visualizar o conjunto da reforma proposta.
• O Esquema utiliza as seguintes seis variáveis:
i) Agência para o Desenvolvimento do Desporto (ADD).
ii) Plano Estratégico de Desenvolvimento do Desporto para Portugal (PEDDP).
iii) Plano Operacional e de Ação do PEDDP (POA).
iv) Responsabilidade do Estado e dos Governos no Desporto (RED).
v) Administração Pública responsável pelo Desporto (APD).
vi) Sistema Desportivo (SD).

Segue-se, explicitado, o referido «Algoritmo da Gradual Des-Estatização do Desporto Português» que aqui não cabe.

Talvez

Luís Leite disse...

Uma notável confusão de ideias/conceitos e uma flagrante ausência de hierarquização.

Com um esquema (?) como este, as modalidades estranhas ao Futebol definhariam rapidamente e voltaríamos a meados do séc. XX.

A muito frágil cultura desportiva nacional e a inerente (in)capacidade de sponsorização da banca e das empresas (ainda por cima com uma crise politico-financeira destas) sempre teve como interesse quase exclusivo o Futebol.
Que, mesmo assim, está tecnicamente falido.

O Desporto português morreria rapidamente sem o financiamento público, já de si tão insuficiente.

Anónimo disse...

Atenção meus amigos, acabo de ver no blog Desporto e Economia a celebérrima Folha A4, mas sem Algoritmos. Acabou-se o mistério.

Anónimo disse...

...esta coisa do desporto é ainda,uma coisa bem diferente de tratar de museus...o que só prova que o sapateiro não deve ir além da chinela...

Anónimo disse...

Irão ter tempo para refletir e vocifrar. Mas depois, passado o prazo legal, será este o rumo da política de desporto. Comecem a habituar-se á ideia. Antes tinha-se traçado o rumo que antecedeu e preparou este que a Folha A4 irá trazer, o qual pela primeira vez consignou a politica desportiva na ENDS (como se pode verificar objetivamente pela comparação de todos os programas de governo desde o 25Abril), e permitiu, por isso, obter o apoio do QREN, cujas respetivas Fichas fui o autor do preenchimento. Agora a etapa seguinte é a adoção do rumo da Folha A4.
Não se poderão queixar, pois estou a dar mais tempo para se habituarem do que deu o Congresso do Desporto.

Talvez

Anónimo disse...

Um peça que não devia estar no Museu do Desporto, nem no Museu da Gestualidade….. mas no Museu da Genialidade…força Pedro Manuel!!!

Anónimo disse...

Foi J.M.Constantino que o veio confirmar neste Post.
Foi isso que permitiu ter chegado o momento de explicitar a Folha A4.
O que acabei de afirmar relativamente à estratégia e ao rumo da governação anterior (ENDS; QREN; «Conclusões do Congresso do Desporto de 2005»; «Plano de Infraestruturas»; «Reforma Legislativa»; «Plano de Publicações, Estatísticas, e Estudos sobre Corpo, Atividade Física, e Desporto»; e depois, só em 2008, como corolário dessa estratégia, o «Projeto do Museu»), prova-se com dados e fontes possíveis de verificação objetiva.
Reparem, passada esta última meia dúzia de anos, nas centenas de discursos, conferências, palestras, intervenções em cerimónias, prefácios e preâmbulos de livros e publicações. Foram mais de 1530 textos meticulosamente produzidos e preparados nas intervenções públicas durante esses seis anos. Já repararam na coerência do seu conteúdo, e de como repetem o que aqui escrevo acerca da doutrina, da estratégia, e do rumo?
Não é uma opinião, é uma verificação que todos podem fazer, agora, e sempre que a quiserem fazer os vindouros.
Esta é a diferença. A diferença entre o Amadorismo e o Profissionalismo em governação, e em gestão do interesse público. Isto é, a diferença entre, de um lado, os «amadores, cheios de prosápia, campeões das teorias e das intrigas, cheios de auto-convição de que sabem tudo e de que os outros nada sabem que se lhes compare»; e do outro lado, os «que sabem o rumo, a estratégia, são sistemáticos, meticulosos, aprendem continuamente, e planeiam».
Os «resultados» dessa diferença estão na capacidade de realização, que mostrei acima na lista das coisas concretas que foram feitas na prática.
O que foi feito preparou as Infraestruturas e a Legislação para a etapa seguinte que está na Folha A4. O investimento do Estado está feito naquilo que lhe cabe enquanto responsabilidade consignada na Constituição. Agora cabe aos agentes e aos interessados pelo desenvolvimento do desporto perspetivarem o futuro sem a muleta do Estado. É isso que a Folha A4 diz. E o que será a orientação próxima. Evidentemente de modo gradual (-60% em 12 anos, sujeito a reavaliação quadrienal), com bom senso. Mas por esse caminho e não, outra vez, como nos últimos 40 anos, pela via da estatização burocrática e da subsidiodependência. Claro que os nomes das variáveis e das entidades podem ser outras (de propósito escrevi estas para que possam ser mudadas sem mudarem a lógica e o rumo), mas isso não alterará a inevitabilidade e a autoria desta proposta.
Apetece perguntar: onde estão as vossas folhas A4? Ou, de outro modo dito, o que fizeram na prática quando estiveram no poder, além de falarem e de escreverem?

A Folha A4, e outras orientações sustentadas e consistentes, incluindo a do Museu, servem para acabar com o caminho de ruina e de falta de competitividade que nos conduziu até à situação atual.

Talvez

Anónimo disse...

o Pedro Manuel está imparável..deem-lhe tempo de antena e vão ver o resultado....O Laurentino assim que percebeu ..deixou-o lá numa sala...agora anda com as chaves do museu a abrir portas!!!!

Anónimo disse...

Quanto ao Museu é o mesmo. Lembro-me bem, durante mais de uma década, (saí do museu em Março de 2000) da vergonha de manterem o Museu num andar de um prédio onde estava sedeada uma pensão de alterne, em que havia dias em que as escadas até tinham urina.
Quem mandava ria-se quando eu pedia para de lá sairmos, diziam-me que “sonhava muito”, “que não era possível”, “que ali estava mais perto, e podia fazer-se os hobbies colecionistas próprios”.
Sim, eu sonhei todos esses dias por um Museu digno dos atletas portugueses, do desporto português, e de Portugal. E os que lá estiveram esse tempo todo com a autoridade e o dinheiro para terem decidido? Qual foi o sonho desses? O que fizeram? Alguns deles, agora, sem um pingo de vergonha, vêm para aqui escrever o que está mal ou bem na política de desporto, e no museu.
Sim, o projeto de Museu que concebi e foi apresentado em 2008, e aprovado em sessão pública da Câmara Municipal de Lisboa, obedeceu a uma estratégia premeditada de governação política de desporto. E saiu em Diário da República e no Jornal Oficial das Comunidades Europeias. E depois? Não era um Museu desses que prestigiava Portugal, os atletas e os técnicos portugueses, e o País?

Talvez

joão boaventura disse...

Caro Talvez das 16:57

Os relatos que faz das atribulações do Museu do Desporto são os sinais inequívocos de que os Governos se desinteressaram do mesmo.

O que ocorreu consigo e com o anteriores o testemunham.

Quer maior prova do que aquela mise-en-scène da apresentação do projecto museológico em sessão pública na CML, seguida da sua publicação no DR e depois no JOCE?
E a longa publicitação da sede do Museu no Pavilhão Carlos Lopes, com o apoio assertivo do Presidente da CML ?

E depois voltou tudo à estaca zero porque é esse o destino do Museu do Desporto.

Quando se fala que finalmente vai haver Museu o que é que se verifica? Uma montagem de uma Exposição de algum espólio do Museu, para inculcar a ideia repetitiva de que finalmente habemus museum, com palestras sobre o Lázaro deste país, para animar a chama da convicção.

Depois, o tempo passa, e as pessoas vão esquecendo a construção do Museu, que é o esquema repetido de todos os Governos.

Quando o pequeno Museu esteve instalado nos Anjos, perto da desprezível e mais curta ruela com o nome de Lázaro, onde havia pensões e megeras, o interior do Museu tinha a pequena dignidade que foi possível dar a tão escasso espaço, porque o Governo marimba-se, sabe o que fiz ? Convidei o João Soares a visitá-lo para ver se a CML de Lisboa poderia, de entre os muitos imóveis devolutos,ceder algum que permitisse concretizar o sonho.

Entrou mudo e saiu calado, mas fez a mesma figura do actual presidente da CML, com a diferença de que este falou.

Mas o resultado foi o mesmo. NADA.

Cordialmente

joão boaventura disse...

Só para acrescentar que as palestras museológicas, porque interiorizadas nos Museus, é para falar de mortos que não se medalharam.

Isto para dizer que os vivos-mortos medalhados como a Vanessa Fernandes não mereceram nenhuma apologia, nem nenhuma inquietação para descobrir a falência da atleta... mas já há duas publicações a averiguarem de que é que morreu, há cem anos, Lázaro. E da Vanessa, aqui tão perto... silêncio.

É por isso que se aconselha a leitura do brilhante post do Fernando Tenreiro no blog "Desporto e Economia", ou no "Jornal de Negócios". de ontem.

Cordialmente

Anónimo disse...

Caro João Boaventura, o «passado» tem a inexorável qualidade de não poder ser alterado. E de ser em cada «presente» que é feito.
Depois, quando o tempo avança, e se quer recompor o que se fez, percebe-se que a Vida só dá a cada um (sobretudo àqueles que estiveram no poder) aquele «presente» efémero e curto onde se tinha a possibilidade de fazer um «passado» diferente. Uns não o fizeram por falta de coragem, outros porque não foram capazes, outros porque não quiseram. Mas quando percebem que os outros os descobriram apressam-se a dizer aos mais novos que não é verdade, que não foram eles que tiveram a culpa, e alguns até inventam histórias truncadas e enfeitadas.
Inexoravelmente, os que passaram ficam marcados por aquilo que fizeram. Essa Memória é a que ficará. Todos sabemos que, no desespero dessa situação, há sempre a tentativa de apresentar, a quem não esteve lá, presumidas provas do que não aconteceu. E há os costumeiros artifícios retóricos, e outras artimanhas para tentarem esconder isso dos que não o vivenciaram. Alguns até pregam letreiros, põem lápides e estátuas, para ver se enganam o tempo.
Mas a Memória é implacável, como referi há uns dias. Ou se tem coragem na altura, ou perde-se para sempre a luta com ela. É essa a lição que os especialistas em Gestão do Património e Museologia ensinam aos seus alunos. E é isso que ensino também aos meus alunos de mestrado e doutoramento. Com a Memória é no «presente» que se ganha ou perde a batalha.
Mas durante este tempo todo, sejam quais forem as razões e as culpas, porque é que ninguém ainda tinha apresentado um projeto concreto de Museu, no qual se indicasse o conceito, o programa museológico, o modo de fazer as salas, quais os equipamentos, quais as condições técnicas, e qual a solução para a sua sustentabilidade? Porque é que esperaram até 2008?
Para mais, tendo em consideração que saí do museu em Março de 2000, e em 1999 consegui que a Câmara Municipal de Coimbra oferecesse gratuitamente o edifico Chiado para o Museu. Porque é que passados estes anos todos ficaram na inação, na contemplação, sem nada fazerem?
Isso, da Memória, jamais se conseguirá apagar. E a ideia de Museu que concebi, construída ou não, tanto faz, perdurará como acto e opção do comportamento do curto e efémero «presente» que a Vida ainda me concede.

Talvez

joão boaventura disse...

Caro Talvez

Continua a confirmar o desinteresse total dos políticos pelo Museu, mesmo apresentando um "projecto concreto de Museu,no qual" foi indicado "o conceito, o programa museológico, o modo de fazer as salas, quais os equipamentos, quais as condições técnicas, e qual a solução para a sua sustentabilidade".

O que se vai fazendo, ruminando, pensando, arquitectando, projectando, se não se concretiza, apaga-se com o tempo e a memória do futuro dirá que foi tempo perdido, num tempo errado e fora dos contextos políticos.

As ilações que se tiram de todas as tentativas frustradas, mesmo as suas, apesar de postas no papel, publicadas no DR e na CE, demonstram as vergonhas políticas de se sujeitarem a fingir que concordam e juram com a inserção dos seus trabalhos na folha oficial do governo, e depois deixam morrer tudo com o tempo, porque a melhor maneira de esquecer tudo é dar tempo ao tempo.

Se se der ao trabalho de fazer uma análise panorâmica às tentativas da realização do Museu do Desporto repare que os governos que fingiam aprovar a concretização do Museu, protelaram sempre todas as boas vontades até ao fim das respectivas legislaturas, que os salvaram do compromisso.

Como sabe, cada legislatura dura 4 anos. Mas sabe quantos governos tiveram de ser eleitos para cumprir uma legislatura:

Para a I foram necessários 6 governos(PS; PS+CDS; Nobre da Costa; PSD; Pintassilgo; AD). O 1.º durou um ano e meio, e os outros, só meses, até se cumprir a I legislatura.

Para a II, dois governos AD

Legislaturas completas só as cumpriram o PSD por duas vezes (XI e XII Gov. Const.) seguindo~se o PS (XIII Gov. Const.), e novamente o PS (XVII Gov. Const.) com mais um ano suplementar (XVIII Gov. Const.).

Como pode verificar, na única vez que o PS esteve 5 anos e que correspondem ao seu projecto, um excepcional longo prazo de legislatura, nem esse o Governo aproveitou para realizar o Museu.

Os sinais são evidentes. Aos Governos não lhes interessa o que possivelmente consideram gastos supérfluos.

A boa vontade dos voluntários é insuficiente, e em tempo de vacas magras, não pense que os Governos alguma vez realizem os sonhos de alguns.

Cordialmente

Anónimo disse...

Caro João Boaventura, a única coisa em que discordo é de o museu “ser um sonho de alguns”.
Sei por experiência vivida que esse sonho é o da maioria dos atletas, treinadores, dirigentes, e clubes portugueses. Basta ver o que colecionaram e guardaram nas suas casas à espera desse dia. E a emoção com que falam desse seu/nosso património.
Não. Não é um sonho individual, ou um capricho pessoal, é um desejo Coletivo. Há muito defraudado. Que, envergonhadamente, até têm receio de dizer, perante a desconfiança que sentem por quem lhes vem prometendo que "é agora que o museu nacional do desporto de Portugal vai para a frente".
E quantas casas com esse Património eu presenciei? E quantas foram desmanteladas com o falecimento dessas figuras do desporto português? É uma experiência dolorosa ter assistido aos olhos cheios de orgulho e de esperança de atletas, treinadores, dirigentes (dos melhores que Portugal teve e tem) ao mostrarem o seu/nosso património nas suas casas. E depois, o modo como «os que tiveram o poder de decidir» os trataram. Pela frente, muitos sorrisos e abraços, de preferência em frente às máquinas fotográficas e às câmaras da TV, mas na prática sempre a mesma traição que relata no seu comentário. Por vezes são os próprios familiares que, logo após o seu falecimento, se apressam a vender ou a deitar para o lixo.
Em 1934, quando da "Exposição Triunfal do Desporto Portuguez", a Comissão de Honra era composta por atletas com, passo a citar do Catálogo, "mais de 25 anos de vida atlética" (!). Onde está esse património? Vai ser o mesmo que acontecerá com os de hoje?
Como se vê, o sonho é coletivo não é pessoal. Se fosse outro tipo de realidade que não a "Desportiva", já se tinham mexido. Mas acham que a realidade desportiva e o respetivo património é um assunto de menor importância do que os outros.
Exatamente o mesmo acontece com o «Modelo de Governação do Desporto», com as decisões organizacionais, com a desqualificação das instituições e das pessoas ligadas ao Desporto.
Talvez venha tudo desse preconceito cultural de menoridade da coisa desportiva. Razão pela qual se deve exigir não apenas um museu de qualidade, mas também um modelo de governação exigente e rigoroso. Daí ter apresentado, não apenas o projeto de museu, mas também o projeto de governação que a Folha A4 explicita. Para ver se acordam. E se o assunto Desporto se mantem ativo politicamente. Se as «pessoas do Desporto» se estimulam a exigir mais aos políticos.
Quem sabe se o João Boaventura, e o J.M.Constantino, não vêm a ser convidados para fazer no futuro o famigerado Museu?
Não estamos ainda na coetaneidade do Presente?

Talvez