Texto publicado no Público de 24 de Fevereiro de 2013.
1.
Neste espaço, ao logo dos últimos anos, e em declarações públicas diversas,
fomos acompanhando o desenrolar do “Caso Boavista”, não dominando, todavia,
todos os necessários pormenores do processo (ou processos).
Nunca
nos pronunciámos sobre a questão material, ou seja, se o Boavista e os seus
dirigentes praticaram ou não as infracções disciplinares pelas quais vieram a
ser sancionados na “Noite das facas longas”, em 2008.
2.
O desenrolar dos processos oriundos do “Apito Final”, fundamentalmente em
tribunal, mesmo os relativos a outros agentes desportivos, foi nos dando
indícios que, independentemente da questão de fundo, temas tão importantes como
os meios de prova utilizados no processo disciplinar desportivo precipitavam um
final contrário às intenções da acusação, colocando em crise as próprias
decisões sancionatórias.
3.
Sempre, ao longo deste mesmo período, fui sustentando que, caso a “razão”
assiste-se ao Boavista, o direito à participação na I Liga deveria ser
equacionado, repondo-se a situação competitiva da qual foi afastado.
4.
Confesso, agora, que não esperava que esse resultado fosse alcançado no âmbito
da justiça desportiva e – lá está a necessidade de conhecer os processos em
detalhe – com fundamento na prescrição do procedimento disciplinar.
5.
Da decisão do Conselho de Justiça resulta, a nosso ver, um efeito imediato: a
participação do Boavista na próxima época desportiva na I Liga. Tal vai exigir uma
resposta excepcional, dadas as circunstâncias, por parte da Liga, com o sentido
de executar a decisão sem colocar em crise expectativas e interesses dos clubes
que nesta época disputam as duas competições desportiva profissionais,
eventualmente irradiando efeitos para as não profissionais.
6.
Depois, e não é pouco, fica a questão da eventual responsabilidade civil pelos
danos que o clube terá sofrido.
Pode
parecer estranho ao leitor mas, neste momento, sem conhecer todos os contornos
de quase cinco anos de processos, ao contrário da minha convicção quanto ao
efeito desportivo, afigura-se-me mais complexa a questão civil.
7.
Não faltarão opiniões, mas convém, pelo menos, que quem as profira leia as
decisões, “perca tempo” e, em alguns casos extremos, estude Direito.
3 comentários:
O cidadão que não é advogado, mas que gosta de futebol não pode ter opinião?
Pode.
É claro que tem de ser ponderada atendendo à ignorância jurídica.
Mas em termos desportivos pode acrescentar mais.
A insustentabilidade financeira dos Clubes e claro também das criadas SADs contribuiu para complicar ainda mais a saudável e desejável verdade desportiva.
Porque foram criadas as SADs?
Havia bons propósitos, ou foi uma forma de dinamizar uma Indústria que já se afirmava noutras latitudes e modalidades?
Há quarenta anos quantos empresários de futebol existiam pelo Mundo?
Hoje quantos existem?
A verdade desportiva não passa por haver uma democratização dos parâmetros em que as equipas devem competir?
Que plafonds mínimos de orçamentos sustentáveis devem as equipas reunir?
Deve haver transparência e divulgação pública das fontes de financiamento, patrocínios, receitas, etc. que os Clubes devem manifestar?
O Alcobaça esteve na primeira.
Como podem os Clubes aspirar em estar na primeira?
O Estado, as Câmaras, não têm que se endividar com os Clubes Profissionais.
Então todas as outras milhares de Colectividades que não praticam o futebol profissional, não fazem trabalho meritório em prole da Sociedade e da Juventude?
Proporcionalmente, o que recebem dos poderes públicos e privados?
Há financiamentos e aval dos Bancos para os clubes "menores"?
A mistificação e a alienação devem diminuir no Desporto.
Que lugar para o Boavista?
Ambições e sonhos todos devemos ter.
Mas o País chegou à situação actual porquê?
Os campeonatos de futebol da Dinamarca ou da Suécia, não servem de exemplo?
Então porque essas Sociedades quando nos dão jeito já nos interessam?
Quantas vezes esteve a Suécia em finais de campeonatos?
E nas outras modalidades?
O futebol português não pode ser sustentável?
Ou não queremos?
Um Campeonato da primeira com 5equipas?
Há cinco equipas em Portugal com futebol sustentável?
Desculpem.
Se "sustentável" é não necessitar de apoio financeiro do Estado, nada em nenhuma modalidade desportiva de competição é sustentável.
Aqui ou em qualquer outra parte do mundo.
As Ligas profissionais americanas são sustentáveis e rentáveis, mas utilizam recintos desportivos que não lhes pertencem.
O papel dos patrocinadores privados é fundamental, mas insuficiente.
Todos os clubes de futebol profissional dão prejuízo, embora quem se envolva acabe (ou se mantenha) naturalmente rico ou mesmo milionário.
O que queremos?
O que exigimos?
Uma questão são modalidades desportivas de competição.
Outra, são competições profissionais.
A discussão também tem que passar pelos tipos de sustentabilidade que queremos nas modalidades desportivas em Portugal, face às características que temos.
Prioridade para que modalidades?
Quais são os nossos limites económicos para apoiar as modalidades?
As profissionais conseguem não depender do Estado?
Mas o Estado tem que saber o que quer. Que tipos de Desporto e Actividades Físicas são fundamentais, visando sempre princípios elementares, de corpo são e mente sã.
Uma infinidade de conceitos que a Sociedade deveria debater.
Queremos ser um País em que o Futebol profissional seja a maior prioridade?
A classe política tem que distanciar-se, ou não, do envolvimento de um Desporto industrial e marcado por valores, que já reflectem negativamente a superação do atleta.
Superação por via artificial e recorrendo a métodos que já ultrapassam os métodos científicos do treino.
Cada vez mais surgem indústrias para artificializar o Desporto e os atletas.
O que será mais importante para o País e para a vã glória dos políticos e dos mentores, poderá não ser o mais importante para toda a população.
O que queremos do Desporto?
Serão só as medalhas e os títulos que nos dão prestígio, motivação e desenvolvimento?
Quais os modelos desportivos que nos servem?
Poderemos ou deveremos colher semelhanças nalguns Países mais equilibrados?
Enviar um comentário