terça-feira, 17 de junho de 2008

Consoante muda

Dizem-me alguns amigos brasileiros que, no Brasil, Luis Felipe Scolari nunca escondeu a antipatia que tem pelos portugueses. Não tenho como confirmar. Mas suspeito que é uma espécie de consoante muda: se existe é como se não existisse. E de consoante muda, muda consoante. Consoante se está cá, ou lá. Nunca entendi o endeusamento que o mesmo merece no nosso país muito para além daquilo que o indiscutível mérito do seu trabalho justifica. Dizem-me que é negócio a vários tons. Talvez. Para mim é seguramente também uma outra coisa: cedência ao popularucho num meio onde a exigência não é muito elevada. Agora em pleno campeonato da Europa decidiu anunciar que a partir de Julho tem um novo patrão.Com esta atitude legitimou que todos quantos estão na referida competição, do lado de Portugal, possam dedicar-se ao mesmo desporto:mudar de patrão. Parece que terá dito anteriormente que enquanto a competição durasse tudo o resto deveria ficar para trás. Viu-se.O burro sou eu? terá uma vez mais pensado.E com o exemplo que deu, confirmou o velho aforismo”faz como eu digo, não faças como eu faço”.A exigência que coloca aos outros não é a bitola que aplica para si próprio. Até um seu adepto incondicional, o professor Marcelo, lamentou o comportamento do “mister”.Não fosse muito do jornalismo praticado ter pouco de jornalismo e uma boa dose de propaganda há muito que o senhor teria sido posto na ordem. Respeitando quem lhe paga, respeitando os que ainda querem fazer jornalismo, não vendendo doses maciças de saloismo em nome da pátria e vulgaridades sobre o rótulo de “psicologia”e “liderança”. A experiência inglesa e ter de trabalhar todos os dias vão certamente fazer-lhe bem. Quem não ficou satisfeito foi o secretário de estado do desporto. E depois de se ter dito, e de não ter sido desmentido, a intervenção do próprio primeiro –ministro na manutenção do contrato com Scolari- após a agressão de que foi autor- é a vez do secretário de estado do desporto assumir o papel de comentador futeboleiro e discorrer sobre os eventuais efeitos na selecção nacional futebol do facto de Scolari ter anunciado a meio do campeonato que a partir de Julho o patrão era outro. Não se compreende tão lato entendimento das responsabilidades políticas que o leva a ter de discorrer sobre a matéria. Ou está o dito responsável disponível para comentar todas as alterações que ocorram nas lideranças das selecções nacionais como o fez para o futebol? E já agora disponível para explicar qual é a importância política que tem para o país tais alterações que obrigam que um dirigente político aborde um assunto ao nível do que o devem fazer os dirigentes desportivos? Um caso em que linguagem não esconde o pensamento e em que os “valores”,coisa vaga mas que fica sempre bem invocar, são trocados por outros mais altos que se levantam.E que também mudam consoante.Por este andar já não faltará muito para começar a falar dos jogadores que devem ser escolhidos e das tácticas a utilizar. Coisa de resto que, como é conhecido, tem especial predilecção. Ou não fosse um admirador do dia seguinte.

10 comentários:

Anónimo disse...

Scolari é importante para que a política meta férias.Barroso e Sócrates sabiam-no e por isso sempre o apaparicaram.

Luís Serpa

mdsol disse...

A parte final do texto não comento, porque não estive atenta aos factos que a suscitam. Quanto ao Scolari e ao seu comportamento e competências demonstradas(?) concordo com o que diz! Scolari gere os "mininos" que escolhe como se gerisse uma mercearia familiar e isso funciona. Mais nada. Mas ele começa facilitar essa "gerência" nas escolhas que faz e nas que não faz. Aliás, agora é descarada a influência de um certo "intermediário" de jogadores (e seleccionadores) nas "pedras" do "plantel"! Vou gostar de o ver a treinar o Chelsea. Hoje num jantar alargado brincamos com a seguinte hipótese: se a FPF não se apressa a substituir o seleccionador, ele ainda vem a tempo de retomar o lugar... Ultrapassará o síndrome do Sporting de há uns anos atrás que passava logo mal no Natal? A ver vamos! Bem, não concordo mais consigo, antes que venha o anónimo insinuar que isto é combinado ou pior, que usurpo os seus pensamentos (devo ser loira... é isso...)
Continuação de bons textos.

josé manuel constantino disse...

Á Mdsol

Agradeço os seus comentários. E não se preocupe com os anónimos. Nem com os verdadeiros, nem com os que umas vezes o são e outras não. Neste capítulo, de resto, há ortónimos com vários heterónimos, todos anónimos. E não consta que seja por crise de identidade, dupla personalidade ou doença bipolar. Tenho para mim que a coisa é mais prosaica: simples feitio.

josé manuel constantino disse...

Ao Luís Serpa
A relação da politica com o desporto não me parece que possa ser redutível a esta ou aquela personalidade.A politica, em todos os regimes e sistemas, sempre procurou apropiar-se do desporto como modo de legitimação ou de neutralização ideológica.Nesta matéria Portugal não é excepção.Nem antes, nem seguramente depois de Scolari.

Anónimo disse...

Costumo escrever o meu nome

Dão jeito as liberdades do anonimato e não são feitio

mdsol disse...

Sim, se não é defeito é mesmo feitio...rsrsrs
E, neste momento Portugal está a levar 2 da Alemanha... a ver vamos como dizia o cego!
:)

Anónimo disse...

Foi 2-3 mas a vida não parou.
Quando a minha avó morreu também a vida não parou.

Nada pára a vida, nem a alegria, nem a tristeza.

Não houve terramoto, ciclone, ou furacão.

Para quê minimizar o trabalho alheio?

mdsol disse...

Anónimo:
A vida pára onde menos se espera! rsrs
Mas, para acrescentar um ar mais "sério" a esta troca sobre (quase) nada (?) aí vai de Philip Roth (em A mancha humana): "Nada dura e, todavia, nada acaba, também. E nada acaba precisamente porque nada dura."
;)

Anónimo disse...

Eu também tenho amigos brasileiros que me dizem que Scolari sempre gostou muito dos portugueses.

E também não tenho como confirmar, isto é, dou o dito por não dito, mas não deixo de lançar a seta.

Essa é que já não volta atrás por muitas consoantes mudas que apresente.

O Sr. escreve bem mas é pena que gaste tinta e tempo com essas minhoquices.

Anónimo disse...

Que gaste tinta? Tinta no blogue?