“Levei tempo a concluir que (desporto) é uma área sem a nobreza que lhe atribuímos na idade da ingenuidade (que às vezes se prolonga por tempo exagerado) e onde a qualidade do trabalho é totalmente secundária, vencida pela incompetência e interesses reinantes”.
(Sidónio Serpa)
Não lembra a ninguém responsabilizar um governo pelos maus resultados de uma selecção nacional de futebol. Culpa-se o seleccionador, culpa-se a alimentação (quem se não recorda dos 5-0 na então União Soviética?), culpam-se os jogadores, o estado do terreno de jogo ou o árbitro e até se culpa o presidente da federação. Mas não se culpa a “tutela”, o “estado”, o “sistema”ou a falta de “um centro de alto rendimento”.
Procedimento diverso ocorre com a generalidade das outras modalidades. Aí, num significativo número de casos e situações, nenhum daqueles agentes é penalizado e é chamado o governo ou o Estado a ser responsabilizado pela insuficiência das condições que oferece para que o rendimento possa ser outro (melhor). Este comportamento ocorre sobretudo quando é grande a atenção e a expectativa mediáticas como é o caso particularmente das participações olímpicas.
Esta dualidade tem sido alimentada ao longo de muitos anos procurando explicar o insucesso desportivo internacional, com excepção do futebol, pela ausência de “condições”ou de um modo mais elaborado “pela ausência de uma politica desportiva”ou até de não “haver mais desporto na escola”. São ideias antigas e velhas retóricas que teimamos em manter actuais aplicando-as mecanicamente à realidade desportiva.E em que uma parte da razão,passa, quase sempre, a ser a única razão.
Esta “politização” do rendimento desportivo mistura o que é geral, as condições politico-desportivas do país, com o que é particular: o modo como as modalidades se organizam e preparam. E estabelecem entre as primeiras e as segundas uma relação de causalidade de sentido único. Se houver êxito é talento do atleta, do treinador e talvez até competência da respectiva organização; o inêxito será resultado de “não haver política desportiva”. E no meio desta confusão confundem-se politicas desportivas, públicas e associativas, direitos sociais dos atletas e rendimento desportivos.
Quando esses direitos sociais e as condições oferecidas começam a fazer cada vez menos a diferença - e em alguns casos claramente acima de outros países com quem competímos e nos vencem (instalações e equipamentos, centros de treino, apoio especializado, profissionalização, comercialização de imagem, contactos e estágios internacionais)- cai-se numa espécie de orfandade explicativa onde o que antes era justificação o deixou de ser, ou pelo menos, o é cada vez menos.
Este arsenal ideológico tem ”descansado” as organizações desportivas, designadamente as federações desportivas. Que fique claro: existem excepções. Mas poucas são as que se sujeitam a ser avaliadas desportivamente. Como os governos, o Estado e o sistema “têm as costas largas”aí passou a assentar a justificação para os insucessos.
Há muitos anos que andamos arredios da lucidez necessária para verificar que as coisas não são necessariamente assim. Não porque os governos estejam isentos de culpas. Mas as “culpas”deles não podem ajudar a esconder os fracassos próprios.
Ultimamente tem sido muito enfatizado um novo regime jurídico para as federações desportivas, uma maior abertura à sua democratização e até à limitação das lideranças. Nada a obstar a tais propósitos. Mas é aconselhável moderar os entusiasmos. O problema crítico é de outra natureza e pede outro tipo de medidas.
Os governos devem ser responsabilizados pelo modo como cumprem ou não as suas obrigações. É óbvio que as condições gerais do país em matéria de politica desportiva condicionam os resultados alcançados. Mas não os determinam em exclusivo. Há uma margem de competências que pertence às organizações desportivas: a mobilização e selecção dos praticantes, a sua preparação e enquadramento competitivos, a selecção de recursos técnicos, as opções em matéria de politicas desportivas.
Alguns trabalhos publicados evidenciam que as condições politico - desportivas que o país oferece -com todas as limitações e faltas que ainda lhe são reconhecidas - têm permitido uma evolução significativa de resultados em algumas modalidades e estagnação e até retrocesso em muitas outras.Com as mesmas politicas há modalidades que cresceram(mesmo sem centros de alto rendimento) e outras que regrediram (mesmo com um simulacro dos ditos).
Mesmo tendo presente, significativas alterações resultantes da desagregação/surgimento de outros países e uma mobilidade/nacionalização de atletas alterando significativamente os quadros nacionais e respectivas selecções, certo é que muito do rendimento desportivo alcançado (positivo/negativo) não tem uma explicação politica, mas estritamente desportiva.
Tal como há governos bem e mal dirigidos também existem organizações desportivas bem e mal dirigidas. Ser bem geridas não é “ter contas” que batem certo. É terem objectivos desportivos que são alcançados. As organizações desportivas não são empresas e as políticas desportivas não podem ser avaliadas à luz de critérios e procedimentos contabilísticos como o são as auditorias dos “intendentes do reino”se circunscritas apenas a saber “como é gasto o dinheiro”.As organizações desportivas precisam de ser avaliadas num plano distinto dos relatórios de actividades perante as respectivas assembleias-gerais independentemente da maior ou menor democraticidade da sua composição.
Concordo com o José Pinto Correia : “o que é todavia mais relevante e porventura mesmo decisivo para a nossa reflexão interna é o facto de inexistirem em Portugal estudos sérios e científico/académicos sobre a realidade de governação e gestão das federações desportivas, dos seus respectivos processos de planeamento e decisão e, sobretudo, dos mecanismos e métodos de avaliação do desempenho que usam ou não usam de todo.”
O país desportivo só teria a ganhar se a avaliação crítica à realidade do país não misturasse o que é das politicas públicas - responsabilidade dos governos e das autoridades locais - do que são as politicas associativas -responsabilidade das organizações desportivas.
É da avaliação da qualidade e da competência que se trata. Uma verdade que não pode valer só para quem governa o país. Ela vale também para quem dirige as organizações desportivas. Do topo à base.
Os governos devem ser responsabilizados pelo modo como cumprem ou não as suas obrigações. É óbvio que as condições gerais do país em matéria de politica desportiva condicionam os resultados alcançados. Mas não os determinam em exclusivo. Há uma margem de competências que pertence às organizações desportivas: a mobilização e selecção dos praticantes, a sua preparação e enquadramento competitivos, a selecção de recursos técnicos, as opções em matéria de politicas desportivas.
Alguns trabalhos publicados evidenciam que as condições politico - desportivas que o país oferece -com todas as limitações e faltas que ainda lhe são reconhecidas - têm permitido uma evolução significativa de resultados em algumas modalidades e estagnação e até retrocesso em muitas outras.Com as mesmas politicas há modalidades que cresceram(mesmo sem centros de alto rendimento) e outras que regrediram (mesmo com um simulacro dos ditos).
Mesmo tendo presente, significativas alterações resultantes da desagregação/surgimento de outros países e uma mobilidade/nacionalização de atletas alterando significativamente os quadros nacionais e respectivas selecções, certo é que muito do rendimento desportivo alcançado (positivo/negativo) não tem uma explicação politica, mas estritamente desportiva.
Tal como há governos bem e mal dirigidos também existem organizações desportivas bem e mal dirigidas. Ser bem geridas não é “ter contas” que batem certo. É terem objectivos desportivos que são alcançados. As organizações desportivas não são empresas e as políticas desportivas não podem ser avaliadas à luz de critérios e procedimentos contabilísticos como o são as auditorias dos “intendentes do reino”se circunscritas apenas a saber “como é gasto o dinheiro”.As organizações desportivas precisam de ser avaliadas num plano distinto dos relatórios de actividades perante as respectivas assembleias-gerais independentemente da maior ou menor democraticidade da sua composição.
Concordo com o José Pinto Correia : “o que é todavia mais relevante e porventura mesmo decisivo para a nossa reflexão interna é o facto de inexistirem em Portugal estudos sérios e científico/académicos sobre a realidade de governação e gestão das federações desportivas, dos seus respectivos processos de planeamento e decisão e, sobretudo, dos mecanismos e métodos de avaliação do desempenho que usam ou não usam de todo.”
O país desportivo só teria a ganhar se a avaliação crítica à realidade do país não misturasse o que é das politicas públicas - responsabilidade dos governos e das autoridades locais - do que são as politicas associativas -responsabilidade das organizações desportivas.
É da avaliação da qualidade e da competência que se trata. Uma verdade que não pode valer só para quem governa o país. Ela vale também para quem dirige as organizações desportivas. Do topo à base.
8 comentários:
Sábias palavras, as do Professor Sidónio Serpa. Como se de repente eu tenha encontrado nelas a expressão exacta do que sinto. Às vezes a vida é assim: pela letra dos outros, entendemos os nossos próprios sentimentos.
Continuo a amar o desporto. Ainda nobre. Ainda sedutor. Ainda belo. De certo sem culpa da companhia que lhe calhou em sorte. Tal e qual uma mulher bonita quando, sem escolha, foi prometida ao mais badalhoco rei.
Um abraço.
Caro Dr. Constantino,
Aqui deixo alguns tópicos de um trabalho que estou a preparar sobre a "governança das organizações desportivas" e que se entrosam com a posição expressa no seu "post" relativamente à fragilidade habitual da avaliação das políticas e do desempenho daquelas mesmas organizações em Portugal.
A Governança das Organizações Desportivas (Tópicos)
A análise de um sistema desportivo pode fazer-se a vários níveis.
Desde logo a um nível muito abrangente, o nível macro, onde imperam factores e dimensões que estão para além da capacidade de influência e determinação dos próprios agentes e organizações desportivas e que têm a ver com a economia, a cultura nacional, a evolução da demografia, os recursos naturais, o clima, por exemplo.
Quando essa análise se desloca para o nível intermédio, ou nível meso, estaremos a pensar nas determinantes governamentais definidoras das respectivas políticas públicas de desenvolvimento desportivo, incluindo os respectivos instrumentos e mecanismos de definição e afirmação das mesmas.
Nestes instrumentos e mecanismos estão incluídos quer os quadros gerais de regulação e estatutários, quer os de financiamento e apoio em outros tipos de recursos.
Quando essa mesma análise, finalmente, se reporta ao seu nível inferior, o nível micro portanto, estamos a colocar-nos perante as próprias organizações desportivas e as respectivas capacidades e modelos de governança que conduzem as diferentes actividades e órgãos internos na concretização da respectiva missão e estratégia organizacional.
Neste nível micro é determinante para a explicação do nível de liderança, gestão, estrutura e resultados das organizações desportivas perceber como de constrói e exerce concretamente o seu “sistema de governo ou governança”.
Pode definir-se a governança das organizações desportivas como o sistema que define os elementos respeitantes à capacidade específica de definição das respectivas estratégias e dos modelos da respectiva direcção, controlo e regulação dos seus diferentes elementos organizacionais.
O sistema de governança organizacional fornece, por consequência, não apenas um enquadramento pelo qual são dirigidas e controladas as actividades, como também a confiança que pode ser depositada pelos diversos interessados (“stakeholders”) no seu funcionamento adequado.
A governança exerce, assim, um papel muito importante na garantia e validação prévia do desempenho organizacional, tendo nomeadamente em consideração as adequações e transparência das realizações financeiras (a vulgarmente denominada “garantia fiduciária”), mas também todo o diversificado conjunto escolhas e de decisões que corporizam a vida organizacional.
Alcança, por conseguinte, as responsabilidades estratégicas e operacionais dos diferentes membros que compõem a estrutura organizacional/sistema de governo, quer se refiram aos órgãos eleitos e nomeados voluntários quer aos escolhidos/recrutados numa base profissional, se também existirem.
A governança é, por conseguinte, bem mais do que “a tomada de decisão operacional diária”, porque envolve tanto a estratégia, a política e a direcção para a realização do desempenho organizacional, como a referida garantia fiduciária e a de conformidade com o cumprimento do normativo estatutário regente.
A avaliação do desempenho destas organizações é, assim, apenas uma parcela desta governança, estreitamente associada à função do controlo, e possível de realizar com eficácia se existir a definição prévia de um determinado quadro de desenvolvimento estratégico que incluirá, obviamente, os correspondentes objectivos essenciais a prosseguir num determinado horizonte temporal de planeamento.
A avaliação do desempenho organizacional nunca poderá existir num vazio de objectivos estabelecidos e de indicadores e medidas concretas das diversas realizações e resultados alcançados.
Avalia-se porque se quer conhecer e medir o grau de concretização de objectivos definidos como importantes para a organização. E as metas serão, depois, em cada período intermédio relevante de tempo do respectivo horizonte de planeamento, a concretização quantificada desses objectivos que se medirão efectivamente permitindo constatar o nível de eficácia da gestão operacional.
Estas concepções de governança e de avaliação do desempenho implicam, portanto, que os órgãos dirigentes de topo das organizações desportivas – as direcções, presidentes de direcção, e /ou directores executivos profissionalizados, consoante os casos – se dediquem adequada e aprofundadamente à concepção/elaboração de um quadro estratégico de desenvolvimento para a organização que dirigem num determinado ciclo temporal relativamente alargado, do qual decorram naturalmente os respectivos objectivos estratégicos a prosseguir.
Infelizmente, em muitas organizações desportivas vão coexistindo estruturas relativamente frágeis de governança que nem se responsabilizam pelos seus instrumentos racionais de gerir e avaliar, nem pelos mecanismos rigorosos de prestação de contas aos interessados (“stakeholders”) e públicos/organizações conhecedores da sociedade civil respectiva (entre estes os da academia/investigadores).
Em muitas destas organizações desportivas de pequena dimensão perpetuam-se formas tradicionais de governança que desconhecem os instrumentos e modelos de gestão estratégica e de avaliação aprofundada do desempenho.
Estas “estruturas de governança pobres” que coexistem de há longo tempo em muitas organizações desportivas são, por isso mesmo, responsabilizáveis directamente por significativos impactos negativos no respectivo grau de desempenho organizacional – muitas vezes traduzido em fragilidades da racionalidade das decisões e por ineficiências enormes na utilização de meios financeiros já de si mesmos tendencialmente escassos, bem como na flagrante insuficiência de produção de elementos de informação que permitam um tipo de gestão e avaliação do desempenho mais exigente e refinado.
Estas “estruturas pobres de governança” são igualmente responsáveis por ausências de quadros de desenvolvimento estratégicos definidos pelos dirigentes do topo organizacional, que deste modo escapam, depois e sucessivamente, a uma prestação de contas rigorosa aos respectivos interessados e contribuintes para a organização desportiva respectiva (os “stakeholders”, entre os quais estarão também as agências governamentais financiadoras e reguladoras), mesmo quando findam os respectivos ciclos de eleição/nomeação dos respectivos dirigentes desportivos do topo.
Ao que acresce que muitos destes mesmos dirigentes de topo se vão perpetuando no poder por períodos muito longos, impossibilitando desse modo o aparecimento de outros dirigentes com outra percepção da governança e gestão organizacional.
José Pinto Correia
Mas alguém quer avaliar alguma coisa neste país? E quando querem é à bruta e sem qualquer significado com o que se pretende avaliar como é o caso dos professores e dos funcionários públicos modelos que são verdadeiras aberrações do ponto a que chega a estupidez humana.
Luís Serpa
Caro Professor
Todos os agentes devem ser responsabilizados assim como os governos e os políticos que se servem ou até se arredam do processo desportivo. É que se um barco anda deriva ou sofre um pernicioso desvio da sua rota, é o seu comandante o responsável. Assim também a responsabilidade do Sistema Desportivo deste país cabe ao Estado através dos governos e dos políticos que assumem essa função.
Não sei se pela forma de ser, se pela minha formação que tem por base o pós-25 de Abril sou um acérrimo defensor que ao Estado cabe a responsabilidade de gerir e zelar pelos pilares principais, entre eles o desporto, e que fazem parte da nossa Constituição da República.
Este meu apego à responsabilização do Estado mantém-se pela generalidade das más práticas das privatizações e das transformações em empresas públicas que mais não fazem do que “encher os bolsos” de alguns com gestões economicistas inibindo os cidadãos de ter acesso aos equipamentos construídos com o dinheiro dos seus impostos. Não é por acaso que temos vindo a verificar casos de gestores de empresas municipais bem pagos enquanto que a malha associativa desportiva se vê impedida de utilizar as instalações desportivas camarárias se não pagarem a sua utilização, sendo as verbas destinadas à prática desportiva nesta nova moda, absorvidas pelos elevados vencimentos destes iluminados gestores e dos assessores transformados em administradores dessas empresas (Que saudades da figura do Chefe de Divisão da Câmara e que ficava bem mais barato ao erário público) . Mas pese embora este tipo de gestão “castradora” da prática desportiva é conhecido a importância dessa malha associativa desportiva, a maior parte delas sem recursos económicos e num regime de voluntariado, na promoção do desporto com todos os benefícios que daí advêm.
Por outro lado e se bem entendi refere o Professor que no entendimento geral sobre esta matéria há dois pesos e duas medidas entre o Futebol (profissional) e as outras modalidades... Dificilmente poderia ser de outra forma, veja-se as verbas atribuídas ao Futebol e as verbas atribuídas às outras modalidades. Um exemplo gritante que podemos verificar é na comparação entre as tão famosas verbas destinadas ao ciclo olímpico e as verbas atribuídas em igual período de duração ao Futebol... mas sabemos que não há comparação, porque a diferença é tão evidente que quanto muito, poderemos comparar o valor dos vencimentos (pagos pela FPA e pela Sponsorização) pagos ao ex-seleccionador de futebol Sr Scolari, com as verbas gastas no ciclo olímpico passado, comparação esta feita em termos económicos.
Assim, a responsabilidade cabe fundamentalmente aos políticos que nos governam que em matérias de desporto são, no meu entender, incompetentes e ignorantes e intelectualmente desonestos.
Depois a responsabilidade virá por aí abaixo federações, e os outros agentes desportivos.
É também do conhecimento geral que no plano federativo central alargando-se ao distrital práticas e gestões algumas delas bem danosas para o fim a que se propõe. É conhecido também algumas práticas à boa maneira insular apelidada por muitos de caciquismo. Seja de afastar os inimigos ou independentes ainda que competentes para se apetrechar de amigos e YESMAN. Claro que o que normalmente sai cá para fora são as pequenas coisas visíveis pelos comuns dos mortais. A exemplo ainda recentemente num curso financiado pelo IDP e contra as leis, um amigo de um Director Técnico Nacional acedeu a um curso de nível 2 sem ter o nível 3. Ou ainda mais outro exemplo de quando dentro das federações há pequenos “barões” que gerem e distribuem os recursos e o apoio aos atletas de uma forma discriminatória. Mas isto são pequenos exemplos com que os agentes desportivos e esses “barões” se digladiam na praça pública. Outras situações de elevada gravidade como o favorecimento de grandes interesses que porventura possam ocorrer e de maior responsabilidade não são os simples agentes desportivos que terão acesso a essa informação. Aqui mais uma vez cabe ao Estado através dos seus mecanismos de controlo e dos seus governos a responsabilidade.
Mas se acusamos as Federações de caciquismo, de desonestidades, de instalação do poder, sabemos que exemplos há que por vezes os responsáveis federativos são levados a tipo de gestões menos correctas devido ao não cumprimento dos compromissos e obrigações pelo Estado. Há exemplos da falta de cumprimento das obrigações a que o Estado se comprometeu. Se um governo se compromete com a realização de um importante evento desportivo e depois esse mesmo governo e os que lhe sucedem não cumprem com as suas obrigações impossibilitando uma Federação de cumprir os pagamentos aos fornecedores, “sujando” o nome dessa Federação na praça pública, vê-se essa mesma Federação a recorrer a artimanhas e engenharias de gestão financeira do desenrascanço. Claro que depois ninguém quer saber de onde está a origem destas patologias.
Em qualquer caso para a mim a culpa é do Estados e dos políticos que o governam, quer porque não sabem, nem querem saber das coisas do Desporto, quer porque não cumprem com as suas obrigações quer ainda porque não fiscalizam nem responsabilizam os prevaricadores e incompetentes.
No entanto e infelizmente, quem se lixa é sempre o mexilhão...
Caro Professor
Todos os agentes devem ser responsabilizados assim como os governos e os políticos que se servem ou até se arredam do processo desportivo. É que se um barco anda deriva ou sofre um pernicioso desvio da sua rota, é o seu comandante o responsável. Assim também a responsabilidade do Sistema Desportivo deste país cabe ao Estado através dos governos e dos políticos que assumem essa função.
Não sei se pela forma de ser, se pela minha formação que tem por base o pós-25 de Abril sou um acérrimo defensor que ao Estado cabe a responsabilidade de gerir e zelar pelos pilares principais, entre eles o desporto, e que fazem parte da nossa Constituição da República.
Este meu apego à responsabilização do Estado mantém-se pela generalidade das más práticas das privatizações e das transformações em empresas públicas que mais não fazem do que “encher os bolsos” de alguns com gestões economicistas inibindo os cidadãos de ter acesso aos equipamentos construídos com o dinheiro dos seus impostos. Não é por acaso que temos vindo a verificar casos de gestores de empresas municipais bem pagos enquanto que a malha associativa desportiva se vê impedida de utilizar as instalações desportivas camarárias se não pagarem a sua utilização, sendo as verbas destinadas à prática desportiva nesta nova moda, absorvidas pelos elevados vencimentos destes iluminados gestores e dos assessores transformados em administradores dessas empresas (Que saudades da figura do Chefe de Divisão da Câmara e que ficava bem mais barato ao erário público) . Mas pese embora este tipo de gestão “castradora” da prática desportiva é conhecido a importância dessa malha associativa desportiva, a maior parte delas sem recursos económicos e num regime de voluntariado, na promoção do desporto com todos os benefícios que daí advêm.
Por outro lado e se bem entendi refere o Professor que no entendimento geral sobre esta matéria há dois pesos e duas medidas entre o Futebol (profissional) e as outras modalidades... Dificilmente poderia ser de outra forma, veja-se as verbas atribuídas ao Futebol e as verbas atribuídas às outras modalidades. Um exemplo gritante que podemos verificar é na comparação entre as tão famosas verbas destinadas ao ciclo olímpico e as verbas atribuídas em igual período de duração ao Futebol... mas sabemos que não há comparação, porque a diferença é tão evidente que quanto muito, poderemos comparar o valor dos vencimentos (pagos pela FPA e pela Sponsorização) pagos ao ex-seleccionador de futebol Sr Scolari, com as verbas gastas no ciclo olímpico passado, comparação esta feita em termos económicos.
Assim, a responsabilidade cabe fundamentalmente aos políticos que nos governam que em matérias de desporto são, no meu entender, incompetentes e ignorantes e intelectualmente desonestos.
Depois a responsabilidade virá por aí abaixo federações, e os outros agentes desportivos.
É também do conhecimento geral que no plano federativo central alargando-se ao distrital práticas e gestões algumas delas bem danosas para o fim a que se propõe. É conhecido também algumas práticas à boa maneira insular apelidada por muitos de caciquismo. Seja de afastar os inimigos ou independentes ainda que competentes para se apetrechar de amigos e YESMAN. Claro que o que normalmente sai cá para fora são as pequenas coisas visíveis pelos comuns dos mortais. A exemplo ainda recentemente num curso financiado pelo IDP e contra as leis, um amigo de um Director Técnico Nacional acedeu a um curso de nível 2 sem ter o nível 3. Ou ainda mais outro exemplo de quando dentro das federações há pequenos “barões” que gerem e distribuem os recursos e o apoio aos atletas de uma forma discriminatória. Mas isto são pequenos exemplos com que os agentes desportivos e esses “barões” se digladiam na praça pública. Outras situações de elevada gravidade como o favorecimento de grandes interesses que porventura possam ocorrer e de maior responsabilidade não são os simples agentes desportivos que terão acesso a essa informação. Aqui mais uma vez cabe ao Estado através dos seus mecanismos de controlo e dos seus governos a responsabilidade.
Mas se acusamos as Federações de caciquismo, de desonestidades, de instalação do poder, sabemos que exemplos há que por vezes os responsáveis federativos são levados a tipo de gestões menos correctas devido ao não cumprimento dos compromissos e obrigações pelo Estado. Há exemplos da falta de cumprimento das obrigações a que o Estado se comprometeu. Se um governo se compromete com a realização de um importante evento desportivo e depois esse mesmo governo e os que lhe sucedem não cumprem com as suas obrigações impossibilitando uma Federação de cumprir os pagamentos aos fornecedores, “sujando” o nome dessa Federação na praça pública, vê-se essa mesma Federação a recorrer a artimanhas e engenharias de gestão financeira do desenrascanço. Claro que depois ninguém quer saber de onde está a origem destas patologias.
Em qualquer caso para a mim a culpa é do Estados e dos políticos que o governam, quer porque não sabem, nem querem saber das coisas do Desporto, quer porque não cumprem com as suas obrigações quer ainda porque não fiscalizam nem responsabilizam os prevaricadores e incompetentes.
No entanto e infelizmente, quem se lixa é sempre o mexilhão...
“Espanto e espantalhos na gestão do desporto em Portugal”
O que é verdadeiramente espantoso neste nosso “mundo desportivo” é constatar ano após ano que nem o Governo através da Secretaria de Estado do Desporto, nem o seu IDP com um académico presentemente a dirigi-lo, nem o movimento federativo como o Comité Olímpico agora inequivocamente à cabeça, se interessam minimamente pela gestão do desporto e pela sua melhoria em Portugal.
Não houve, por isso, e tal é prova mais que suficiente da falta de interesse e completa omissão daquelas entidades que governam os destinos do nosso desporto federado, em todos estes anos recentes, qualquer tentativa de impulsionar o nível da gestão praticada no nosso desporto.
Ninguém nestas organizações de topo do nosso sistema desportivo se lembrou de lançar um programa de modernização das federações que tivesse o apoio científico e académico da gestão.
E é esclarecedor, “a contrario senso”, o facto de o actual Presidente do IDP, o doutor Sardinha, se ter lembrado de impulsionar um programa com várias instituições universitárias envolvidas entre as quais a de que ele mesmo é professor catedrático, que tem a ver com os seus interesses académicos e científicos e que não vai trazer nada de novo ao modo como é gerido e avaliado no seu desempenho desportivo nacional e internacional o nosso desporto competitivo federado.
E as federações e o Comité Olímpico não exigem porquê um programa de apoio e formação em gestão que possa ser mobilizador de novos métodos de organização e processos de gestão e do aparecimento de jovens quadros academicamente preparados no domínio da própria gestão do desporto?
Será que a melhoria da gestão das organizações desportivas é assim tão despicienda e descartável?
Porque não exigem as federações e o Comité Olímpico um programa desta natureza com apoio financeiro público do Governo que apele para as capacidades académicas e científicas já existentes em Portugal e outras eventualmente também disponíveis e igualmente relevantes?
Será que tanto o Governo como os dirigentes federativos e o do Comité Olímpico estão completamente desinteressados da evolução da gestão desportiva nacional e apenas se preocupam em garantir novas instalações e mais recursos financeiros para serem usados e geridos como até aqui como os mesmos níveis de gestão e avaliação?
O desporto em Portugal há-de certamente merecer e querer mais e melhor gestão das organizações desportivas. Ou não…?
José Pinto Correia
Eu diria que a pergunta mais correcta é: "Mas há alguém que queira ser avaliado neste país?"
Os portugueses têm, de uma forma geral, a convicção de que são realmente bons, sempre melhores do que o que está ao lado e mesmo perto de serem os melhores do mundo. Talvez seja até um mecanismo de defesa.
Por isso, para quê avaliar? Sabemos que somos bons e, acima de tudo, que temos razão. E sabemos, para mais, que os outros não têm razão. Lá vamos ouvindo o que uns dizem dos outros:" O autor opta pela metodologia que serve o seu propósito.." e claro, "... incorre num grave erro e atropelo à ética e deontologia...". Mas claro que nós, ao contrário dos outros, somos bons e pautamo-nos "....por critérios de verdade e transparência...". Não é ninguém que o diz. Somo nós que sabemos que somos verdadeiros e transparentes. Sim, para quê avaliar?
O caso do desporto tem duas variantes. De um lado os que são sempre bons e não precisam de ser avaliados nem julgados e que por isso mesmo acham que se podem perpetuar. Os que acham que são tão bons que é seu dever ser candidatos a eleições e ser nomeados eternamente.
Do outro lado estão aqueles que só são reconhecidos quando são avaliados e fazem da avaliação o seu dia a dia.
Esses claro, ao contrário dos que são sempre bons, mesmo quase os melhores do mundo, são a nossa vergonha num dia para serem logo no dia seguinte o nosso orgulho.
Esses, muitas vezes muito bons mas por vezes apenas bons, e algumas vezes maus, apenas pelo facto de serem sempre avaliados, são colocados perante a hipocrisia de serem julgados por aqueles que, por nunca serem avaliados são, ainda que apenas para eles próprios, sempre muito bons a avaliar.
Se alguém um dia admitisse que é mau gestor desportivo, estaria a dar o primeiro passo para o deixar de o ser. O problema dos maus é que não são humildes e não conseguem reconhecer que são maus. Portanto, estão sempre a piorar.
Os praticantes desportivos, esses que são sempre avaliados reconhecem as suas falhas no final do jogo da pesada derrota, na não qualificação para os JO ou numa simples queda.
O bons não dizem que são bons. Limitam-se sempre a tentar ser melhores do que são porque na verdade acham que são maus. Como músicos extraordinários que encantam uma plateia e que chegam a casa e ficam frustrados ao ouvir a sua gravação. Sabiam e queriam ter feito melhor, mais do que o extraordinário. Sentem-se maus, não conseguem ter vontade de pegar no seu instrumento. Mas por serem maus, conseguem ser humildes e tentar melhorar. Muito.
Precisamos de tanta humildade. Precisamos de pedir avaliação como quem pede uma oportunidade de emprego. Também precisamos de aprender a avaliar, é certo. Mas o primeiro passo para aprender a avaliar é querer ser avaliado. E isso, ninguém quer.
Não, nós não somos bons. Ou pelo menos não somos todos bons. Muitos de nós são maus e precisam de ser substituídos. De preferência por aqueles que querem ser avaliados todos os dias. As nossas organizações não são boas porque as nossas pessoas não são boas. As nossas organizações não são boas porque não são avaliadas.
O Eng. Belmiro de Azevedo disse um dia que "perante dois candidatos com igual qualificação e experiência, escolherei sempre aquele que tiver praticado desporto".
... escolherá sempre aquele que sabe ser avaliado todos os dias.
P.S. Há muitas pessoas com humildade suficiente para aprender no desporto em Portugal. A essas fica o meu agradecimento. Não estão neste texto. Mas também essas precisam de nunca parar de ser avaliadas para poderem continuar a aprender.
Caro Branco.
Não ignoro, e o meu texto a isso faz menção, às responsabilidades do Estado em matéria de politicas desportivas. Mas é óbvio que também as políticas associativas têm responsabilidades e carecem de ser avaliadas. Pensar que o problema do insucesso desportivo é sempre e só da responsabilidade do Estado não me parece correcto.E creio até que pelos exemplos que aponta você oncordará que o mal não está só de um lado.
Obrigado.
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