No Congresso de Gestão do Desporto da APOGESD o Dr. Alfredo Silva apresentou um estudo sobre a participação portuguesa nos Jogos Olímpicos de Pequim. O estudo avalia comparativamente os resultados alcançados e os apoios financeiros disponibilizados pela administração pública central desde os J.O de Atlanta (1966).E conclui, entre outras coisas, que “ no período de 12 anos (Atlanta 1996 –Pequim 2008) os meios financeiros aplicados na preparação olímpica aumentaram em 100%, não tendo os resultados desportivos sido acompanhados com qualquer crescimento”.
O estudo e esta constatação deveriam merecer uma profunda reflexão. Por parte de quem financia e por quem é financiado. A evidência do estudo aponta no sentido em que o financiamento não tem sido o factor crítico decisivo para a elevação da qualidade desportiva. E, se o não é, importa contextualizar o valor qualitativo do desporto nacional num quadro de variantes que não elejam o financiamento como o factor determinante.
Esse trabalho é tanto mais importante quanto, da parte das organizações desportivas, a reivindicação de mais apoios quase que se resume a mais dinheiro. E mais dinheiro para problemas mal resolvidos é gastar o dinheiro e ficar com os problemas. Nas circunstâncias actuais do país é insensata qualquer politica desportiva que não assuma um compromisso de exigência. Seria um projecto desprovido de conteúdo e socialmente inaceitável perante o quadro de dificuldades por que passam as políticas públicas.
Para que isso não suceda importa que o governo e movimento desportivo estudem onde se situam os factores críticos e as fragilidades do nosso sistema desportivo e que são impeditivas de melhorar a situação qualitativa no contexto internacional.
Sem esgotar o tema - e sem incidir sobre alguns custos “marginais” na estrutura do alto rendimento mas “pesados” em termos financeiros - insistimos na necessidade de uma política de investimento no alto rendimento que tome opções sobre quais as modalidades e sectores que dentro da afectação possível de recursos se afiguram aptas a alcançar níveis de eficiência mais elevados. Tratar como igual o que é diferente ou admitir que um elevado número de modalidades e de atletas são passíveis de obter indicadores de excelência no contexto internacional é uma pura ilusão.
O estudo a que fizemos inicialmente referência, constata que, em Pequim, 80% dos atletas que integraram os níveis I, II e III não obtiveram uma prestação desportiva compatível com o seu nível desportivo. Não vale a pena repetir o mesmo sistema e o mesmo critério. O que exigirá não apenas a seriar de modo distinto os indicadores de rendimento desportivo actualmente alcançados mas sobretudo o seu potencial de desenvolvimento num quadro de definição das nossas “vantagens competitivas”. E onde terão de ser incluídas variáveis como os modelos organizativos, os meios de preparação, os quadros competitivos, a evolução das tendências internacionais e a expressão desportiva actual. Continuar a alimentar uma lógica onde convivam planos de preparação e de rendimento elevados com esquemas de organização, treino e preparação desportivas com claras fragilidades organizacionais e competitivas não parece ser um bom caminho. Mas para que isso não ocorra é preciso olhar para os indicadores de forma séria, profissional e independente e não com exercícios de prestidigitação procurando ler neles o sucesso que, infelizmente, não contêm. E tudo indica que a humildade de reconhecer os fracassos tende a não chegar.
Ajudaria esse trabalho a delimitação do que deve pertencer à política das organizações desportivas do que é marcadamente avaliação técnica. Há uma grande quantidade de questões no âmbito da preparação e do planeamento desportivo em que o único contributo da política das organizações desportivas é a sua sistemática incompetência.
Sem expurgar práticas antigas e perniciosas e sem delimitar objectivos mensuráveis é difícil criar uma base de contratualização entre o Estado e o sistema desportivo e em que as medidas de apoio sejam decididas em nome do interesse da afirmação internacional do país, sem ressentimentos das modalidades menos apoiadas, e na base exclusiva de uma avaliação objectiva e tecnicamente fundamentada dos indicadores desportivos. O que vale por dizer que deveriam começar por ser rejeitados planos que antes de inventariar objectivos competitivos ou fazê-lo de forma difusa são “bem claros” quanto aos recursos financeiros exigíveis. É, uma vez mais, começar ao contrário.
O estudo e esta constatação deveriam merecer uma profunda reflexão. Por parte de quem financia e por quem é financiado. A evidência do estudo aponta no sentido em que o financiamento não tem sido o factor crítico decisivo para a elevação da qualidade desportiva. E, se o não é, importa contextualizar o valor qualitativo do desporto nacional num quadro de variantes que não elejam o financiamento como o factor determinante.
Esse trabalho é tanto mais importante quanto, da parte das organizações desportivas, a reivindicação de mais apoios quase que se resume a mais dinheiro. E mais dinheiro para problemas mal resolvidos é gastar o dinheiro e ficar com os problemas. Nas circunstâncias actuais do país é insensata qualquer politica desportiva que não assuma um compromisso de exigência. Seria um projecto desprovido de conteúdo e socialmente inaceitável perante o quadro de dificuldades por que passam as políticas públicas.
Para que isso não suceda importa que o governo e movimento desportivo estudem onde se situam os factores críticos e as fragilidades do nosso sistema desportivo e que são impeditivas de melhorar a situação qualitativa no contexto internacional.
Sem esgotar o tema - e sem incidir sobre alguns custos “marginais” na estrutura do alto rendimento mas “pesados” em termos financeiros - insistimos na necessidade de uma política de investimento no alto rendimento que tome opções sobre quais as modalidades e sectores que dentro da afectação possível de recursos se afiguram aptas a alcançar níveis de eficiência mais elevados. Tratar como igual o que é diferente ou admitir que um elevado número de modalidades e de atletas são passíveis de obter indicadores de excelência no contexto internacional é uma pura ilusão.
O estudo a que fizemos inicialmente referência, constata que, em Pequim, 80% dos atletas que integraram os níveis I, II e III não obtiveram uma prestação desportiva compatível com o seu nível desportivo. Não vale a pena repetir o mesmo sistema e o mesmo critério. O que exigirá não apenas a seriar de modo distinto os indicadores de rendimento desportivo actualmente alcançados mas sobretudo o seu potencial de desenvolvimento num quadro de definição das nossas “vantagens competitivas”. E onde terão de ser incluídas variáveis como os modelos organizativos, os meios de preparação, os quadros competitivos, a evolução das tendências internacionais e a expressão desportiva actual. Continuar a alimentar uma lógica onde convivam planos de preparação e de rendimento elevados com esquemas de organização, treino e preparação desportivas com claras fragilidades organizacionais e competitivas não parece ser um bom caminho. Mas para que isso não ocorra é preciso olhar para os indicadores de forma séria, profissional e independente e não com exercícios de prestidigitação procurando ler neles o sucesso que, infelizmente, não contêm. E tudo indica que a humildade de reconhecer os fracassos tende a não chegar.
Ajudaria esse trabalho a delimitação do que deve pertencer à política das organizações desportivas do que é marcadamente avaliação técnica. Há uma grande quantidade de questões no âmbito da preparação e do planeamento desportivo em que o único contributo da política das organizações desportivas é a sua sistemática incompetência.
Sem expurgar práticas antigas e perniciosas e sem delimitar objectivos mensuráveis é difícil criar uma base de contratualização entre o Estado e o sistema desportivo e em que as medidas de apoio sejam decididas em nome do interesse da afirmação internacional do país, sem ressentimentos das modalidades menos apoiadas, e na base exclusiva de uma avaliação objectiva e tecnicamente fundamentada dos indicadores desportivos. O que vale por dizer que deveriam começar por ser rejeitados planos que antes de inventariar objectivos competitivos ou fazê-lo de forma difusa são “bem claros” quanto aos recursos financeiros exigíveis. É, uma vez mais, começar ao contrário.
17 comentários:
Os Três Actuais Exercícios do Desporto (até final de 2008)
O nosso desporto de competição, melhor o nosso sistema desportivo federado, está confrontado neste momento e até final de 2008 com três importantes exercícios que podem ajudar a definir o sentido da sua evolução e futuro de médio prazo.
O primeiro exercício diz respeito ao Estatuto Jurídico das Federações Desportivas. Nele, que já foi aprovado em recente Conselho de Ministros, importa saber e verificar em que medida foram desenvolvidas e arquitectadas as competências e as funções das Federações.
Porque é destas, mais do que da enormemente propalada redefinição e recomposição dos poderes de representação interna nas Assembleias Gerais que apenas interessa à manutenção da actual matriz de governação politizada das federações em Portugal, que resultarão as mudanças qualitativas e substanciais no desenvolvimento do desporto federado.
Importa, por conseguinte, saber que novos processos e métodos de gestão e organização, que outros modelos de financiamento, qual o grau de profissionalização da gestão versus o do dirigismo voluntário tradicional, que sistemas de informação e de reporte de actividades, quais os métodos e modelos de recolha de dados estatísticos, os preceitos de enquadramento da negociação de patrocínios e parcerias estratégicas, os modelos de formação de agentes desportivos e a relação preferencial do sistema de desporto federado com o do desporto escolar, que foram efectivamente inseridos e considerados no diploma legal e estiveram, por conseguinte, presentes no diagnóstico do sistema federativo feito governamentalmente e que, assim, motivaram o seu desejado caminho evolutivo no pressuposto estratégico de que Portugal quer e merece melhor nível no seu desporto federado.
Sobre tudo isto veremos quando da publicação do respectivo diploma legal e ajuizaremos da sua efectiva consonância com a concepção de que a evolução de um sistema depende primariamente do nível de funcionamento e da qualidade e grau de sofisticação da gestão e organização das suas instituições fundamentais, no caso, as respectivas federações desportivas.
Um segundo exercício tem a ver com o conteúdo e conclusões do Relatório do Comité Olímpico de Portugal sobre Pequim 2008 e o respectivo ciclo de financiamento e gestão desportiva (que se anuncia para final do mês de Novembro).
Importa saber em que medida esse Relatório vai incluir a avaliação das inovações organizacionais, dos novos métodos de preparação de treinadores e atletas, da consonância entre os planos das federações e os respectivos meios de financiamento e resultados alcançados, a análise dos desvios entre o projectado e o realizado, dos níveis de sucesso obtidos com novos instrumentos e métodos de gestão e preparação, e, no final, qual a projecção de todos estes factores para a preparação e programação do novo ciclo olímpico de 2012 (Jogos Olímpicos de Londres).
Trata-se de verificar, neste caso, em que medida se constrói (ou melhor constrói o Comité Olímpico de Portugal) um instrumento que possa ser de utilidade substantiva para a nova programação e negociação de um “plano de preparação olímpica para o ciclo olímpico de 2012”.
O terceiro exercício relaciona-se estreitamente ao anterior e diz respeito ao modo como o Governo vai conduzir a negociação de um novo “programa de financiamento do ciclo olímpico de 2012”. Sobretudo importa saber em que medida e grau de sofisticação tem o Governo um projecto para a nossa participação olímpica em 2012. E se tiver esse projecto, para ficarmos a conhecer devida e detalhadamente quais as suas linhas estratégicas fundamentais que possibilitem justificar o pacote financeiro que o mesmo Governo estiver disponível para afectar.
Só deste modo se poderá dizer, portanto, que o novo ciclo olímpico de 2012 corresponderá não apenas a um projecto do Comité Olímpico de Portugal mas também, e indispensavelmente, a um projecto nacional que o Governo em funções tem para o nosso desporto de alta competição para os próximos quatro anos (pelo menos).
Vamos ver se assim será ou não. Se há ou não um projecto nacional para a participação nos Jogos Olímpicos de Londres em 2012, evitando-se os jogos florais que temos visto nos últimos meses sobre o de Pequim 2008 em que mais parece que quem contratou não assumiu nenhum compromisso ou projecto (com objectivos incluídos, claro, como é inevitável em qualquer um daqueles).
Destes três exercícios e dos seus resultados essenciais decorrerá muito do que poderá vir a ser a evolução do sistema desportivo federado em Portugal até 2012, pelo menos.
José Pinto Correia
José Constantino, tenho dificuldade em aceitar que o financiamento não foi fundamental.
Creio que houve no período mais rigor e eficácia na aplicação do dinheiro face a meios que o Estado retira desde há uma década às federações.
Dado que a dimensão económica do sector cresceu, existem outros parceiros e o investimento gerou frutos nas faculdades, para além das federações, através de um processo sofrido, terem aprendido à sua custa como obter melhores resultados desportivos e sociais.
Sem supervisão eficaz, sem estudos, análises e estatísticas é fácil gastar mal o dinheiro. a supervisão eficaz deveria ser uma exigência do associativismo para afirmar a sua credibilidade perante a sociedade.
A ausência de supervisão eficaz beneficia os ineficazes e ineficientes.
O regime jurídico é importante como refere o Correia Guedes e é preciso compreender porque é que o Estado tem de financiar o desporto e que desporto, as federações e que federações como sugere o JMC.
O que dizem a constituição e as leis de bases não é actualmente decisivo para o Estado financiar obrigatoriamente o desporto como por vezes se afirma. A constituição fala de imensas coisas que hoje a maior parte da população consome privadamente saúde, educação, paz social, etc.
Há um milhão e meio de putos que não pratica regularmente ou tanto quanto deviam desporto e não se abre os cordões à bolsa às federações?
O país tem a capacidade económica e social de produzir 5 medalhas olímpicas e assobia-se para o ar sobre os 3 putos que são ludibriados na sua preparação olímpica fundamental?
Os mais velhos com finais de vida atribulados não possuem o desporto para um último resguardo e as federações que responsabilidades assumirão?
Respondendo a estas questões vitais e éticas será mais fácil passar para os níveis técnicos.
Sem procurar algum lugar ou projecto, defendi na Academia Olímpica que o COP deveria assumir o lugar de líder do associativismo desportivo português.
Isto porque o desporto português necessita de líderes e de um tecido associativo ambos fortes e competitivos.
Terá o regime jurídico das federações construído o quadro institucional que o permite?
Fernando Tenreiro
Em nenhuma parte do meu texto você lê que o financiamneto público não é,ou não foi importante,Escrevia apenas que ,de acordo com estudo publicado, o seu signficativo crescimento não acrescentou nada em termos de resultados globais alcançados.De resto ,ontem li que parte do financiamneto público para os últimos jogos olímpicos não foi sequer utilizado,o que significou sobreavaliação das necessidades.O problema é primeiro de modelo ,de objectivos,de procedimentos e de meios.É no capitulo dos meios que o financiamento se deve inscrever.O José Correia em comentário anterior tem razão no modo cmo coloca as questões.Quanto ao resto totalmente de acordoembora você conheça aminha opinião que há em certas segmentos do sistema desportivo dinheiroa mais(porque mal utilizado)e outros dineiro amnos (porque nem lá chega).Por norma quem mais reivindica é quem tem mais e pior o utiliza.
Obrigado
Um dos problemas que se dá no início do ensino da economia é o perigo de tirar conclusões de resultados que são insuficientes para o explicarem.
Esse é o exemplo do estudo do Dr. Alfredo Silva.
Consultar em: http://forumolimpico.org/files/File/pdf/ALFREDO%20SILVA%20-%20Portugal%20JO.pdf
O estudo diz que houve um aumento para o dobro do financiamento e os resultados em medalhas são iguais. O estudo não diz mas subentende que portanto bastava metade para obter o mesmo resultado. O passo seguinte de que o desporto está a deitar dinheiro fora, etc., é uma tentação.
Os dados conhecidos mostram que Portugal produz muitos mais campeões europeus e mundiais desde Atlanta, 12 no préPequim, e basta conversar com atletas para mostrar como o que as federações fazem não encaixa em metade do financiamento.
Ontem numa aula de economia do desporto pedi ao judoca de Pequim Pedro Dias que identificasse para os seus colegas a complexidade da sua equipa e se esses elementos estiveram disponíveis desde sempre ou apenas recentemente.
Tanto a descrição da equipa deixou a turma sem fôlego como ele disse que as coisas agora são distintas do passado, para melhor.
Se considerarmos o impacto da globalização na competitividade desportiva mundial poderemos ser levados a concluir que o financiamento foi insuficiente. Mas o estudo não vai por aí.
A análise do Dr. Alfredo Silva tem de ser tomado em termos estritos daquilo que apresenta e não é aconselhável ir mais além, sob pena de concluir coisas que podem prejudicar o desporto de alta competição.
A minha posição é conhecida, o desporto português necessita de um programa estrutural de longo prazo o que lhe tem sido negado e os resultados de Pequim2008 são apenas, repito apenas, uma das consequências.
A Avaliação do Desempenho das Federações e Resultados Olímpicos
De facto pode-se argumentar como o faz o Dr. Tenreiro que o nível de desempenho desportivo de alta competição não se subsume aos resultados das medalhas e pontuações olímpicas.
Que há necessidade de ir muito mais fundo nos instrumentos e metodologia de avaliação do desempenho olímpico e das federações desportiva envolvidas no financiamento dos respectivos ciclos olímpicos, com o de Pequim à cabeça.
Todavia, esses resultados nos Jogos Olímpicos, traduzidos em medalhas em destaque e pontuação final como um todo, não deixam de constituir o elemento síntese de um processo complexo e plurianual de preparação, sendo alcançados nas provas expoentes das respectivas modalidades e num contexto globalizado onde se apresentam em concorrência os diferentes países e sistemas desportivos representados pelos seus melhores atletas.
Muitos rácios são habitualmente utilizados para tentar medir o nível de sucesso dos países nos Jogos Olímpicos, que vão desde o PIB por medalha (milhões de euros por medalha mais precisamente) até à permilagem de medalha por habitantes nacionais (a milionésima parte de cada medalha por milhão de habitantes). E no meio o gasto em milhões de euros por medalha que é o que aqui deu mais comentário na sequência do trabalho do Dr. Alfredo Silva que era indispensável como instrumento de medida do desempenho dos diferentes ciclos olímpicos e se poderia só por si prestar a eventuais equívocos sobre o nível da nossa preparação e consequente prestação em Pequim 2008.
Há mesmo estudos económicos que calculam o nível de aumento do PIB nacional que é necessário para os diferentes grupos de países (agrupados pelos respectivos rankings históricos) obtenham mais uma medalha em nova participação Olímpica.
O que é todavia mais relevante e porventura mesmo decisivo para a nossa reflexão interna é o facto de inexistirem em Portugal estudos sérios e científico/académicos sobre a realidade de governação e gestão das federações desportivas, dos seus respectivos processos de planeamento e decisão e, sobretudo, dos mecanismos e métodos de avaliação do desempenho que usam ou não usam de todo.
Na federação italiana de atletismo (na Itália do CONI, portanto, que já serviu para ser considerado o eventual modelo reprodutível entre nós) existia há anos uma bateria de várias dezenas de indicadores que permitiam realizar uma verdadeira avaliação do desempenho baseada numa abordagem multidimensional e que incluía critérios e indicadores pertinentes para os diversos interessados (“stakeholders”). Nesse modelo de avaliação havia indicadores financeiros, de recursos humanos (que incluíam vários tipos de indicadores sobre qualificações de agentes desportivos), de relações inter-organizacionais (incluindo a penetração do desporto nas escolas), de desempenho dos atletas (incluindo os resultados efectivos obtidos nas provas nacionais e internacionais mais relevantes), da qualidade dos serviços, da produção de eventos (nacionais e internacionais), da atmosfera organizacional incluindo a comunicação interna, da imagem e comunicação externa, da logística e tecnologia e factores de produção, da flexibilidade e inovação e, ainda, do conhecimento.
O modelo foi refinado em 2003 pelos investigadores que o tinham proposto em 1998 (Madella e Esposito, 2003).
Estes factores do desempenho federativo sobre que existiam os respectivos indicadores eram ainda submetidos a ponderações diferenciadas atribuídas pelos respectivos “stakeholders” e davam, no final, uma pontuação anual do desempenho da federação que podia comparar-se ano a ano num processo dinâmico de avaliação.
Acresce que este sistema foi trabalhado por investigadores académicos que publicaram os seus resultados e os analisaram cientificamente, produzido assim conhecimento estruturado sobre a temática da avaliação do desempenho das federações desportivas – o qual veio a ser transmitido internacionalmente no âmbito do Mestrado MEMOS em Gestão Desportiva (patrocinado internacionalmente pelo Comité Olímpico Internacional).
Só que em Portugal nada disto é feito. Não existem estudos sobre gestão das federações, o IDP e a Secretaria de Estado ou o Comité Olímpico não financiam qualquer estudo deste teor (no caso do IDP não são financiados quaisquer estudos de gestão desportiva há mais de três anos) e o próprio Comité Olímpico de Portugal parece estar de momento completamente alheado destes processos que poderiam fundamentar as decisões de priorização de apoios, de negociação de meios financeiros e contratos-programa, e servirem obviamente para dar substância às avaliações finais sobre os resultados dos ciclos Olímpicos. Tudo, portanto, o que o Dr. Constantino tão avisadamente refere que não é vulgar existir em Portugal.
Por isso em Portugal vão sobrando opiniões (governamentais e dos dirigentes de primeiro plano, desde logo e por maioria de razão e exemplo), que são mais ou menos como as cerejas, muitas, muitas e…depois tudo fica como dantes (como em Abrantes).
Vamos ver por isso o tal Relatório do Comité Olímpico de Portugal sobre Pequim 2008 e veremos o que em substância é dito sobre a avaliação do trabalho realizado (um dos três exercícios do nosso desporto sobre que falámos no nosso anterior comentário a este mesmo post).
Que do financiamento os números já se vão sabendo e sempre vão permitindo fazer, para bem ou menos bem cálculos de eficácia/eficiência.
Ou como dizem avisadamente os gestores: “só se obtém aquilo que se mede” (“you only get what you measure”)!
José Pinto Correia
Ao José Pinto Correia e Fernando Tenreiro
Voltarei no pròximo post a este tema.Mas desdo já adianto que no meu entendimento o José Pinto Correia coloca o dedo na ferida.
Pinto Correia, agora diga se concorda ou discorda que face aos elementos existentes da realidade desportiva portuguesa o desporto deve ter um programa de financiamento estrutural ou não.
Recapitulando, o Estado diminui sustentadamente o financiamento ao desporto, são publicados e promovidos os escassos estudos que se fazem a afirmarem à exaustão que existe dinheiro mal aplicado no desporto e que o dinheiro aumento 100 por cento e os resultados olímpicos se mantiveram de 1996 a 2008.
Aliás o seu comentário é essencial porque demonstra que a supervisão das federações portuguesas não acompanha o conhecimento europeu.
A questão fundamental é que na ausência de estudos, de debates e de supervisão eficaz o nível das afirmações é mais baixo em Portugal. Recordo-lhe o nível português em que existem afirmações secundarizando a relevância da produção e do debate sobre as estatísticas do desporto português.
E de repente as federações são despesistas e subsidio-dependentes.
Os seus três exercícios são inúteis porque o regime jurídico deveria incutir competitividade no mercado das federações entre outros pontos e decide questões que podem ser do âmbito privado e não público. O relatório do COP é o relatório do COP, como você muito bem sabe. A negociação pública sem o capital crítico do seu último comentário vai discutir 10 ou 15 milhões e segundo os estudos portugueses mais recentes 6 milhões bastam.
O meu ponto é o mesmo, vamos começar de início com um programa estrutural onde os seus pressupostos científicos tenham natural cabimento o que hoje de todo em todo não acontece.
Diz o Pinto Correia
"Importa, por conseguinte, saber que novos processos e métodos de gestão e organização, que outros modelos de financiamento, qual o grau de profissionalização da gestão versus o do dirigismo voluntário tradicional, que sistemas de informação e de reporte de actividades, quais os métodos e modelos de recolha de dados estatísticos, os preceitos de enquadramento da negociação de patrocínios e parcerias estratégicas, os modelos de formação de agentes desportivos e a relação preferencial do sistema de desporto federado com o do desporto escolar, que foram efectivamente inseridos e considerados no diploma legal e estiveram, por conseguinte, presentes no diagnóstico do sistema federativo feito governamentalmente e que, assim, motivaram o seu desejado caminho evolutivo no pressuposto estratégico de que Portugal quer e merece melhor nível no seu desporto federado.
Este tipo de afirmações roça o ridículo mais absoluto!!!
Nem acredito que o Pinto Correia esteja a falar a sério. Então isto é que são os temas de um "Estatuto Jurídico das Federações"?!!!
Normas sobre "enquadramento da negociação de patrocínios e parcerias estratégicas"?!!! Preceitos sobre "métodos e modelos de recolha de dados estatísticos"??!!!
Ó Pinto Correia: havia de ser giro ver um "Estatuto Jurídico" escrito por si!!!
Não nos quer dar esse prazer? Não quer contribuir, dessa forma, para a "iluminação" do Poder Político??
Força! Não se coíba!!!!
O artigo que o José Constantino refere é importante porque é feito pelo ex-regulador que conhece os termos dos contratos celebrados.
Ao concluir pelo incumprimento do contrato a análise abre a porta à análise do fracasso dos contratos.
Segundo refere de 1996 a 2008 organizaram-se 4 jogos, sem que em três deles se questionasse as medalhas produzidas. Apenas no 4.º se constata ter havido um aumento de 100% do financiamento estando os resultados estagnados. Falta o ex-regulador dizer o que se fez para evitar o desfecho que relata durante os anos que lá andou. Tratou-se de dinheiro público e de procurar tem uma aplicação eficiente para o aplicar bem. Aliás o que se fez no último foi procurar que o financiamento público tivesse maior eficácia entregando à gestão privada do COP que se suponha ser superior à pública.
Esta questão relaciona-se com três aspectos:
1. Há fracassos do regulador antes quando o reconhece ao atribuir a aplicação dos meios ao regulado, abdicando do que antes fazia. Falha depois porque não agiu prudencialmente para evitar o desenlace de Pequim2008.
2. Os contratos-programa do sector são ineficazes. São uma transacção financeira entre organismos sem outras obrigações que não sejam a transacção em si e que esta seja inócua administrativamente para o Estado português. Não há objectivos de maximização do bem-estar e dos resultados que Correia Guedes diz que a Itália, por exemplo, faz. Em particular a fiscalização das finanças não obriga a outras preocupações como o da racionalidade dos resultados procurados e do bem-estar nacional. Se todo o dinheiro público aplicado no sector possui um contrato-programa, então do sucesso desses contratos-programa falam os indicadores de desempenho do sector que se situam na cauda da Europa e não é só Pequim como agora se descobre.
3. Nunca por nunca se aceitou estruturar com estudos técnicos e económicos os contratos-programa. Numa das orgânicas do departamento público dedicado às federações há dez anos colocou-se a auditoria interna. Dado que a auditoria estava nas mãos do departamento cujos actos eram auditados, o resultado surgiu com a aniquilação da auditoria interna. O erro é que a auditoria às federações deveria ter sido colocado fora do departamento que as regulava, para que a auditoria aos contratos-programa incidisse sobre o regulado e o regulador. Depois desta tentativa nada mais se fez em termos económicos. Seria uma subversão que a estrutura técnica, jurídica e política recusou por interesse, por ignorância das graves consequências e por inexistência de mecanismos contra a negligência dos actos administrativos. O mesmo se passa com as centenas de milhões de euros que se investem em infra-estruturas sem estudos da sua viabilidade e sob pretextos da força política e da autonomia do poder local. Nunca estruturas da engenharia e da arquitectura que decidem os milhões do investimento aceitaram indicadores de desempenho económicos e sociais sem falar da fraca relevância dos desportivos que o sector consegue.
Estes três pontos demonstram porque os 3 instrumentos referidos pelo Correia Guedes estão minados. Mas como referi não são só os instrumentos, as estruturas, as pessoas, somos nós que estamos a discutir coisas, que deveriam ser abordados com outro nível superior de complexidade e responsabilidade.
Para construir o futuro nacional o esforço de todos é decisivo. O recurso mais escasso é o do capital humano e o desporto é determinante o que nem os grandes responsáveis do país equacionam.
O COP e o Comandante Vicente Moura e outros dirigentes têm sido o “sitting duck”, disponíveis para todos os tiroteios, como agora a comunicação social também descobriu.
Há mais “duck’s” muito mais merecedores, para além dos “sitting duck’s” tradicionais.
Caro JMC
Parabéns pelo excelente comentário sobre"Começar ao contrario", em que um desportista se revê quer no plano desportivo , quer no plano económico e os comentarios sobre o mesmo só vem reforçar a sua capacidade de provocar a opinião publica , mas como se pode verificar nem sempre os comentários são fundamentados como era lógico que fossem.
Do desporto em Portugal todos podem falar, comentar e criticar, mas há muita pouca peritos que entendam o Desporto e a importância do mesmo na Sociedade contemporânea.
Abraço
José Vitorino
Á Grande e à Bruta
Ao anónimo de dia 15 (In “processo contra incerto”) que me citou e mimoseou: se a sua liberdade pessoal e de escolha ainda lhe possibilitar para a próxima escreva o nome que lhe foi dado pelos seus progenitores na cerimónia sagrada do baptismo!
Depois, e desde logo como se subentende das suas verbosas palavras, iluminados penso que são os que trabalharam afanosamente num qualquer compartimento público a mando dos ditames do magnífico “Poder Político” (assim mesmo tão servilmente escrito com maiúsculas que demonstram a plausível grandiloquência dos mandadores).
Sempre pensei como os teóricos da gestão organizacional que as instituições e organizações, enquanto entidades sistémicas, têm nas suas respectivas funções uma das componentes essenciais da respectiva missão e essência.
Mas se isto não puder estar dentro das normas jurídicas (de que o anónimo e outrem andaram a tratar) então algo está mal, e não me parece que possa ser a teoria das organizações!
Como bem disse sobre a consideração das ideias e das pessoas que as exprimem Isaiah Berlin (em “O Poder das Ideias”, Relógio D´Água), um dos grandes mestres do século vinte da filosofia política: “Se há alguma esperança de realização de uma ordem razoável na terra, ou de chegarmos a uma apreciação justa dos muitos e desvairados interesses que dividem os diversos grupos de seres humanos (…), essa esperança depende da possibilidade de trazermos à luz do dia os modelos sociais, morais e políticos em causa, e, sobretudo, os paradigmas … em que eles deitam raízes, com o intuito de examinarmos se são ou não adequados à tarefa que se propõem levar a cabo”.
Porque se tudo for indiscutível e ciência oculta só ao alcance dos legisladores (enfiados numa qualquer torre de marfim inacessível aos comuns), então terá vencido uma vez mais o paradigma dos racionalistas (agora pretensamente modernizadores) que Berlin assim tão eloquentemente definia: “os racionalistas dos séculos XVIII e XIX não viam qualquer finalidade excepto naquilo que o próprio homem criara para servir às suas necessidades, e aos seus olhos tudo o mais era determinado pelas leis da causa e do efeito, do que resultava que a maior parte das coisas não visam finalidade alguma, mas são como são, e que, se se movem e mudam, tudo isso acontece num plano de factualidade pura e «bruta»”.
Esperemos pois o que a “Torre” dará proximamente à luz do dia: o Regime Jurídico das Federações Desportivas (e aí poderemos avaliar os “iluminados servos do Poder Politico” do dia)!
José Pinto Correia
As conclusões do Dr. Alfredo Silva citadas pelo Prof. J M Constantino e não conhecendo o citado estudo são no meu entender pobres, pois parece abordar o assunto através de uma mera análise contabilística.
Será que considerou outros factores muito mais importantes que o valor das verbas, factores como refere por exemplo o José Correia? Pelo o que aqui se escreveu parece que não!
Será que considerou se os resultados obtidos e a publicidade que se gerou em torno dos nossos atletas olímpicos quer antes dos Jogos com os possíveis medalhaveis, quer após Jogos com os medalhados? Parece que não! A título informativo no clube onde sou dirigente, treinador etc..., tivemos um aumento de quase 60% de praticantes e mais não tivemos porque não dispomos de condições para albergar tão grande número de praticantes (quando falamos de condições, falamos fundamentalmente da falta de técnicos credenciados e de suporte económico para suportar uma equipa técnica).
É do entendimento geral que para se construir um prédio tem que ter por base as fundações e quanto maior for o prédio maiores e eficientes tem que ser essas fundações. E “aqui é que a porca troce o rabo”. É que o nosso Sistema Desportivo Nacional é tão frágil que ganhar uma medalha para Portugal depende fundamentalmente dos “frutos do acaso”.
O desporto federado depende fundamentalmente do benevolato e do voluntarismo do associativismo, também ele cada vez mais frágil e nalgumas modalidades à mercê dos chamados clubes grandes que tal como os eucaliptos mirram e secam tudo à volta.
E se a formação de técnicos quer através das Federações e financiadas pelo IDP está ainda agarrada às décadas de 70 e 80, a qualidade da formação de professores de Educação de Física regrediu com o aparecimento das Escolas Privadas de Professores de Educação Física e também do Ensino Politécnico e com os quais se têm vindo a dotar as Escolas Públicas. Como se não bastasse este quadro, o novo modelo de formação do Ensino Superior de Bolonha tacitamente aceite pelos Governos vai contribuir para que a formação de professores regrida para os níveis que já não se verificavam à muito tempo.
Assim, será por ignorância que se deita “faladura” baseando-se em meros critérios contabilísticos e se omitem os verdadeiros factores que estão por detrás da falta de medalhas? Ou será apenas desonestidade intelectual?
É que, enquanto se fala do quociente verbas/medalhas, não falamos do negócio chorudo que foi o aparecimento das Escolas Privadas de Formação de Professores de Educação Física e que prestam um serviço de resultados duvidosos e mascarados de notas inflacionadas de forma a competir desonestamente no mercado de trabalho das escolas públicas. Não falamos assim também de quem está por detrás da formação dessas escolas e dos governos que as licenciaram.
Podemos falar se a gestão das verbas atribuídas para os Jogos de Beijing foram ou não mal geridas e bom que se fale, mas estas verbas são uns trocos ao lado do que gastou a Selecção Nacional de Futebol e isto para não falar dos 700 milhões do BPN....
Meu caro Pinto Correia
Escreveu Você: "Porque é destas, mais do que da enormemente propalada redefinição e recomposição dos poderes de representação interna nas Assembleias Gerais que apenas interessa à manutenção da actual matriz de governação politizada das federações em Portugal, que resultarão as mudanças qualitativas e substanciais no desenvolvimento do desporto federado.
O seu problema está bem ilustrado no texto que acabo de citar.
Você sabe, todo o estudioso sério o sabe, que o principal problema das federações desportivas portuguesas é que não são (nem querem ser) instituições democráticas. A democracia sempre causou arrepios ao mundo federativo. O 25 de Abril foi uma maçada que, rapidamente, foi neutralizado durante anos com o sacrossanto princípio da "autonomia e independência do movimento desportivo": este princípio era sistematicamente invocado para manter o Estado (esse ogre...) longe do desporto e da especificidade do mundo do desporto.
Já em 1976 o Prof. Melo de Carvalho (in, "Desporto e Revolução")alertava para a necessidade de democratizar as federações desportivas. Nada ou pouco se fez neste sentido.
O dobre a finados desta postura abstencionista do Estado foi dado pela Lei de Bases do Sistema Desportivo, através da criação da figura do estatuto de utilidade pública desportiva. A partir daqui era apenas uma questão de tempo.
Falhou-se com o Dec-Lei 144/93 (que, ainda assim, deu alguns passos nesse sentido); falhou-se com o Dec-Lei nº 111/97 (que, não obstante, lhe acrescentou outros passos). E assim se chegou à actualidade.
Percebo o seu desconforto. Este novo Regime Jurídico vai mesmo ao fundo da questão: a "propalada" distribuição de poderes nas assembleias-gerais.
A sua inquietação é bem a demonstração do acerto da estratégia governamental. E faz-me lembrar aquele médico que, perante um enorme tumor que o paciente apresentava no cérebro, lhe recomendava insistentemente gargarejos e pomadas (os gargarejos são o impagável Código de Boa Governança, também sugerido por si...; as pomadas são os humorísticos "métodos e modelos de recolha de dados estatísticos").
E para finalizar deixe-me esclarecê-lo do seguinte: não é por subserviência que escrevo Poder Político com maiúscula, tal como não é por respeito que escrevo "Pinto Correia" também com maiúscula. É apenas por respeito a comezinhas regras gramaticais...
Ao Branco
O que pretendi enfantizar é que um aumento do "factor financeiro" à chamda prepração olímpica não se traduziu numa alteração dos resultados alcançados,pelo que as razões atinentes ao sucesso e rendimentos desportivo têm de ser procurdoos em outros factores críticos que não exclusivamente ou prioritáriamente na questão do financiamento.De resto ele próprio precisa de ser desenhado de outro modo ,porque o que porventura exista a mais em alguns segmentos da prática desportiva falta aem outros.Quanto ao resto você enumera algumas outras fragilidades com as quais estou completamente de acordo.
Obrigado pela sua participação
No site do COP o documento e a avaliação são completamente colocados em questão e a ser como lá está......enfim haja paciência.
Avisa-nos quando o COP colocar lá no site tambem a resposta do autor do trabalho.
Se não colocarem lá.....aqui existe essa abertura mas...quantos dias já passaram??
Enviar um comentário