Caro J. M. Constantino e caros/as leitores/as, pouco adiante “apontar-se as armas” para este governo, para os actuais presidentes da federação portuguesa de futebol e da respectiva liga profissional ou para o presidente do sindicato de jogadores de futebol, invectivando-os pelos salários em atraso e outras ilegalidades e insuficiências do nosso futebol profissional. Cada um sacudirá a chuva do seu capote e continuará de entrevista em entrevista, de holofote em holofote a escamotear o que verdadeiramente afecta a viabilidade económico-financeira deste mercado e a olvidar medidas estruturais de suporte à mesma. Todos se movem apenas pelo imediatismo traduzido na máxima “the show must go on”, já assim é há muitos anos e assim continuará a ser.
Não se vislumbra na actualidade sinais de qualquer alteração de fundo, tão só e apenas a “medidas de pronto-socorro”, como o fundo de garantia social protagonizado pelo sindicato de jogadores de futebol profissional e secundado pela federação e liga, numa prática similar à instalada, entre nós, do recurso ao crédito bancário para tudo e para nada, ou a promessas de maior rigor pela Comissão de Auditoria da Liga nos processos de candidatura para as competições profissionais, que cairão em saco roto na próxima hora da verdade. Assiste-se como é habitual, à técnica da “fuga para a frente”, sem se beliscar interesses instalados nem conflitos que ponham em causa os poderes instituídos.
A verdade é filha do tempo e para quem já há uns anos está atento ao fenómeno do profissionalismo em Portugal não se surpreende com crises conjunturais, hoje com infeliz dramatismo para o Estoril, amanha com outro qualquer, como em tempos o foi com o Salgueiros, ou o Tirsense, pois, como todos reconhecemos o verdadeiro problema da (in)sustentabilidade deste sector é estrutural.
É compreensível que um País com tamanhas debilidades económicas e com um sector empresarial e industrial em declínio e sem vocação para o patrocínio e muito menos para o mecenato, comporte duas ligas de futebol com competições reconhecidas como profissionais, cada uma com 16 clubes? Qual o País com um quadro sócio-económico idêntico ao nosso, que apresente semelhante realidade?
Há mais de trinta anos já vários autores tocavam com o dedo nesta ferida, a redução para 12 das equipas que integravam a primeira divisão do futebol, número este novamente aconselhado em 2003, num estudo elaborado para a LPFP pelo departamento de consultoria da Deloitte & Touche, intitulado “Estudo Global ao Futebol Português” por configurar um modelo de receitas mais significativo para o futebol profissional. Mas querem lá isto “as gentes” do futebol...
Como é do conhecimento público foi o legislador em 1997, pelo Decreto-Lei n.º 67/97 que instituiu o regime jurídico dos clubes e sociedades desportivas, que considerou por via normativa as competições da I Divisão e II Divisão de Honra do campeonato nacional de futebol como competições profissionais. Desde então, em 2000 foram reconhecidas por despacho do Ministro-adjunto estas competições como profissionais, tendo sido publicado em 2004 novo despacho do secretário de Estado da Juventude e do Desporto, após conflito judicial entre federação e liga, para reformular tais quadros competitivos a partir da época desportiva de 2005-2006 para 16 clubes.
Ainda que nas duas últimas épocas não tenham sido tornados públicos os indicadores económicos da I Liga de Futebol Profissional, pelo habitual Anuário “As Finanças do Futebol Profissional” (elaborado pela Deloitte, jornal A Bola e a Liga Portuguesa de Futebol Profissional), os que foram revelados na época 2005/2006, evidenciaram que entre as épocas de 2000/2001 e 2005/2006 os custos foram sempre superiores às receitas, tendo estas diminuído 40 milhões de euros entre 2003/2004 e 2005/2006.
Que cenários seriam de esperar? Obviamente, os piores como aqueles que têm vindo a lume ultimamente.
Para quando a discussão e o enfrentar realista do sobredimensionamento da realidade qualificada como profissional, a par de outra matéria, que trataremos em próxima oportunidade, igualmente assunto tabu entre nós, qual seja a distribuição conjunta das receitas televisivas? Ou será preferível irmos assistindo à morte da galinha dos ovos de oiro?
9 comentários:
Ja tinhamos saudades dos seu escritos dr.ª, porque são precisas análises sérias e concretas neste blog e nao apenas dizer mal por dizer. Depois queixam-se dos anónimos. Fiquei com água na boca porque essa da distribuição das receitas televisivas tem muito que se lhe diga, mas não interessa nem aos barões dos clubes nem ao J.Oliveirinha.
José Carlos
Como as letras pequenininhas são para não ler, fui obediente, não li.
Resultado: fiquei sem saber as razões de, depois de uma longa ausência, fazerem esta partida à autora. A menos que estejam em segredo de justiça.
Mas que gostava de ler, gostava, porque deve ter alguma relação com o texto legível.
"José Carlos"
um comentário não anónimo???
Mas o Estado tem que ensinar o negócio a sociedades anónimas de direito privado? Tem que pagar os salários e as contratações dos clubes profissionais de futebol? Este "vexata quaestio" é de quem não anda neste mundo, e julga que os contribuintes têm que sustentar o futebol profissional. Com governantes a trocarem a causa pública por empregos no futebol profissional no final do mandato. Porque que erá que são todos do mesmo partido? Não é sério confundir a causa pública com os interesses privados no desporto, muito menos nos clubes e na Liga Profissional de Futebol. Anda para aí muita confusão nessa cabecinha.
Ao anônimo das 5:22 de 10.12 recomendo que leia este blog em melhores horários... O dia poderá clarear sua capacidade interpretativa... Oxente, vocês portugas andam muito agressivos... Onde é que este leitor leu a autora falando do governo ou responsabilizando os governantes? Nao se agridam tanto, a vida é curta... Venham relaxar um pouco aqui no Brasil... Gilberto Pereira.
Não gostei do vexata quaesto aplicada ao caso.
Porque...
...se formos a ver bem tudo na vida diária nos deparamos com uma pou outra vexata quaesto.
Mas, já agora, porquê o latim?
Fazer censura não será também uma Vexata Quaestio?
Ao anónimo das 22:03
Tem inteira razão, e admito a crítica
razoada, porque assumi o risco com antecipação porque, repare, eu disse no meu comentário, que todos na vida nos deparamos com uma vexata quaestio todos os dias.
Portanto fiquei automaticamente incluído como uma vexata quaestio.
O que continuo a ficar indagado é com o título em latim.
Continuo intrigado com o pomposo título "vexata quæstio".
Um padre que consultei diz que a forma correcta é quæstio e não quaestio.
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