Uma reportagem sobre um cruzeiro organizado por uma cadeia de health clubs revelava o lado menos vísivel, mas porventura mais aliciante, destes programas de condição físico/marítima. O autor do trabalho, um jornalista, inscreveu-se como passageiro normal e por essa forma “introduziu-se” na dinâmica do cruzeiro. O trabalho que produziu dava conta que o programa de condição física proposto para os dias de viagem incluía uma boa dose de sexo. Ou dito de outro modo: mais de que um programa de treino e de exercício o cruzeiro foi um pretexto para o engate. Os participantes, ou pelo menos parte deles, não se inscreveram no cruzeiro na procura da melhor forma física. Mas na procura de um bom físico para “transarem” e ficarem em forma! Os participantes incluíam de tudo: gente comprometida na busca de novas experiências; pessoas em crise de separação; homens/mulheres sós; divorciado (a)s e outro (a)s. Havia os que repetiam. De acordo com a reportagem, os “personnal trainers” foram muito solicitados não se resumindo o seu trabalho ao ginásio. Tudo numa boa. E um sucesso. Ouvidos alguns dos participantes, prometeram voltar.
O programa de treinos não foi incompatível, para além das práticas do sexo, com muito fumo e álcool. A reportagem era omissa quanto à natureza do fumo e às variantes do álcool. É o menos importante. O que aqui importa constatar - não para qualquer juízo moral mas como facto socialmente relevante -é que o apelo a um estilo de vida saudável com uma forte componente de actividade física e de exercício não é incompatível com outros prazeres da vida .Que desafiam um certo número de verdades “cientificadoras” sobre comportamentos de risco. E que colocam a nu (nunca o termo foi tão apropriado…) a volatilidade de uma certa ética do corpo na sua relação com a saúde. De resto, de acordo com a tradição de uma conhecida discoteca lisboeta que há muitos anos organizava algo semelhante. Nem todos podem fazer como Berlusconi. Ou limitar-se às matinés dançantes nos Alunos de Apolo.
Fenómeno isolado ou tendência? Não há como responder. Escasseiam estudos que permitam sustentar uma tese. Alguns trabalhos jornalísticos sobre massagens e saunas parecem indiciar algumas escolhas afins a certo tipo de orientações sexuais. Mas tudo pode não passar de delimitação de territórios sem relevância social significativa. Embora seja possível afirmar que a procura de espaços de condição física, a sua frequência e hábitos de permanência tem muito a ver com motivações que se Inscrevem em lógicas de interesse e de afirmação individuais onde os ambientes, contextos organizacionais e permutas comunicacionais são importantes.
Quem já frequentou um ginásio ou um health club percebeu que o local não é apenas um lugar especial de tratamento da condição física. É também um espaço social onde se procuram trocas pessoais e emocionais que estão muito para além do treino. São lugares onde se vai e se pretende ver e ser visto. Como lugares de exercício e de exposição dos corpos tem subjacentes linguagens e códigos que não são redutíveis ao activismo físico. Muito do vestuário e da moda da “condição física” é uma linguagem carregada de sensualidade que procura valorizar esteticamente /sexualmente os corpos. Os apelos à desinibição e à fruição sensoriais estão patentes nas coreografias e nas diferentes disciplinas do corpo. As solicitações ao consumo intenso de cosméticos, fármacos, alimentos dietéticos, cirurgias plásticas, avolumam-se na procura de um corpo saudável e atractivo. Migrar estas lógicas para um roteiro de viagem em cruzeiro parece transportar para um patamar superior com os corpos em movimento.E parece que em exaltação aeróbica. Efeitos marítimo/afrodisíacos?
O programa de treinos não foi incompatível, para além das práticas do sexo, com muito fumo e álcool. A reportagem era omissa quanto à natureza do fumo e às variantes do álcool. É o menos importante. O que aqui importa constatar - não para qualquer juízo moral mas como facto socialmente relevante -é que o apelo a um estilo de vida saudável com uma forte componente de actividade física e de exercício não é incompatível com outros prazeres da vida .Que desafiam um certo número de verdades “cientificadoras” sobre comportamentos de risco. E que colocam a nu (nunca o termo foi tão apropriado…) a volatilidade de uma certa ética do corpo na sua relação com a saúde. De resto, de acordo com a tradição de uma conhecida discoteca lisboeta que há muitos anos organizava algo semelhante. Nem todos podem fazer como Berlusconi. Ou limitar-se às matinés dançantes nos Alunos de Apolo.
Fenómeno isolado ou tendência? Não há como responder. Escasseiam estudos que permitam sustentar uma tese. Alguns trabalhos jornalísticos sobre massagens e saunas parecem indiciar algumas escolhas afins a certo tipo de orientações sexuais. Mas tudo pode não passar de delimitação de territórios sem relevância social significativa. Embora seja possível afirmar que a procura de espaços de condição física, a sua frequência e hábitos de permanência tem muito a ver com motivações que se Inscrevem em lógicas de interesse e de afirmação individuais onde os ambientes, contextos organizacionais e permutas comunicacionais são importantes.
Quem já frequentou um ginásio ou um health club percebeu que o local não é apenas um lugar especial de tratamento da condição física. É também um espaço social onde se procuram trocas pessoais e emocionais que estão muito para além do treino. São lugares onde se vai e se pretende ver e ser visto. Como lugares de exercício e de exposição dos corpos tem subjacentes linguagens e códigos que não são redutíveis ao activismo físico. Muito do vestuário e da moda da “condição física” é uma linguagem carregada de sensualidade que procura valorizar esteticamente /sexualmente os corpos. Os apelos à desinibição e à fruição sensoriais estão patentes nas coreografias e nas diferentes disciplinas do corpo. As solicitações ao consumo intenso de cosméticos, fármacos, alimentos dietéticos, cirurgias plásticas, avolumam-se na procura de um corpo saudável e atractivo. Migrar estas lógicas para um roteiro de viagem em cruzeiro parece transportar para um patamar superior com os corpos em movimento.E parece que em exaltação aeróbica. Efeitos marítimo/afrodisíacos?
6 comentários:
Percebe-se o «argumento». Tudo bem. Mas, este tipo de «discurso», paradoxalmente, não pode ser visto também como uma «outro tipo de exaltação»? Concretamente, um «novo regresso ao higienismo» carregado do mesmo tipo de moralidade que justificou, no século XIX, a «purificação dos costumes» e a preparação pata «tempos limpos da sujidade da degradação» que, tristemente, haveriam de descambar nos dois acontecimentos bélicos do início do século passado?
Anónimo
Que tristeza. Basta subir um pouco a «cultura desportiva» para ficarem logo todos atrapalhados. Até ao nível da «quarta classe antiga» ainda dizem umas coisas, mais do que isso já não têm pedalada. Por aqui se vê o baixo nível da grande maioria que milita há anos no desporto em Portugal. Para ganharem uns milhares à conta do Estado são todos uns sabichões. Para fazerem progredir o desporto, espera aí que já volto. Esses, deviam ir todos para as «novas oportunidades» e darem lugar aos jovens que não têm lugar nesses poleiros associativos e quejandos. A começar nos veneráveis cooptados olímpicos até aos orgãos sociais de muito dirigismo desportivo.
Anónimo
Seria, talvez, interessante, e apenas para exercitar o lado obscuro ou antitético do raciocínio, sabendo que esse exercício noutros domínios é usado para permitir «ver melhor a objectividade», considerar uma política de desporto para um corpo geneticamente modificado, ou para um corpo manipulado com próteses mecânicas. Para esse «corpo não-natural», como definir as metas e os objectivos do desporto? O conceito de desporto desapareceria?
Os departamentos de desporto deixariam de se justificar? Os profissionais de desporto passariam a ser "engenheiros genéticos"? A função desportiva util ao «social» e ao «cultural» manter-se-ia? O que mudaria em relação ao «contexto» actual, por o «corpo natural» ter desaparecido?
Anónimo
Diz você, a forteriori, pensar o Desporto sem o Corpo?
Anónimo
Esta do "corpo natural" faz-me rir ! Só estes senhores que fazem o curso aos pinotes é que falam nestas coisas !
Para mim o olimpismo acabou nos Jogos Olímpicos de Berlin ! Todos os jogos olímpicos e mundiais de alguns anos atrás não passam de simples lamelas para observação de laboratórios ! Vas Exas têm que começar a pensar em fazer Jogos Olímpicos para normais e outros para biónicos (químicos, genéticos e afins), tal como os mundiais...
Quando estamos na era da produção do Super-soldado ainda existem tansos que falam em "corpos naturais"...."Velhos do Restelo"
Caro Anónimo (20090704 – 23:27), não diga que os «cursos de educação física e de desporto» são “cursos de pinotes”, porque senão ainda o excomungam.
Sei lá, neste tempo de censura, e de total vigilância fascista da intimidade, com câmaras até dentro dos penicos públicos, tudo muito bem embrulhado em nome da «Democracia», ainda é capaz de nunca mais ter um emprego junto desses, a quem diz que têm «cursos de pinotes».
“Corpo natural” vs. «corpo artificial», não é a mesma dicotomia de que “corpo biónico” vs. “corpo normal”?
O que é um “corpo normal”? Será o que não está dentro da «norma»? E qual é a «norma» dos Normais? Quem a define? Quem a julga?
Mas o problema parece-me que não está tanto na questão do «corpo». Está no Desporto.
Se os «corpos» não são iguais á partida de uma mesma competição desportiva como podemos validar o resultado final, “record” ou marca? Não haverá implantes mecânicos nalguns “recordistas” actuais? Os países mais desenvolvidos não partem já com essa supremacia tecnológica e científica?
Se os «corpos» são instrumentos manipulados «de fora», como definir «quem faz desporto» e quem são os «atletas»?
Os «atletas» num jogo de matraquilhos são os pirilaus de madeira ou os manipuladores? Os atletas são os «pombos» ou os «pombeiros»? São os «cavalos» ou os «cavaleiros»? E no campeonato do mundo de futebol de robôs, são os engenheiros ou são as máquinas? E nos jogos digitais para computadores? Quem está a fazer desporto e quem são os atletas?
Faz sentido falar de “saúde”, “obesidade”, “bem-estar”, “praticantes”, “direito ao desporto”, “ética”, etc.?
Que «política desportiva» para este Desporto onde o corpo é «biónico», «artificial», «digital» ou «não-natural»? Como avaliar e medir os “resultados finais”, “records”, “marcas”, “rendimento”? Que espaços e infra-estruturas desportivas para esta «política»?
Anónimo
Enviar um comentário