Antonio Barreto, no discurso das cerimónias que assinalaram o 10 de Junho, defendeu que Portugal precisa de exemplos. Exemplos dos seus maiores e dos seus melhores. Ao ouvi-lo ocorreu-me algo que se está a instalar no desporto.
Como explicar que atletas que foram sempre maus exemplos quanto á sua conduta e comportamento desportivos sejam anos mais tarde escolhidos, por organismos de utilidade pública, como embaixadores da respectiva modalidade? Ou para nas escolas mobilizarem os jovens para a prática do desporto? Como explicar que alguns dos que, no plano nacional e internacional, foram objecto de distinções pela sua conduta desportiva tenham nos respectivos currículos castigos precisamente por motivos opostos aos que estiveram na origem das distinções conferidas? Não se tratando de casos bipolares, em que o distinguido por bom comportamento é ao mesmo tempo castigado pela ausência dele, que estranho fenómeno ocorre?
Tudo aponta que na origem esteja o facto de não haver qualquer grau de exigência em relação a estas matérias. A estes “exemplos”. Dos critérios de apreciação o serem por personalidades que têm da leitura dos comportamentos desportivos uma enorme flexibilidade ou pura e simples ausência. Ou porque na hora das avaliações de mérito esse assunto não pesar. Só isso pode explicar que um atleta que agride outro, possa poucos anos depois ser objecto de distinção ou dirigentes, cujo currículo enquanto atleta e dirigente esteja carregado de castigos, possam anos mais tarde ser júri de apreciação de uma qualquer candidatura ao “espírito desportivo”.
O modo como se banalizaram comportamentos reprováveis e se legitimaram condutas censuráveis à luz de elementares critérios de boa educação diz-nos muito sobre a eficácia de muitos programas e campanhas a propósito dos valores e da ética associadas às práticas do desporto. E sobre a sinceridade com muitas entidades abordam estes temas. É um aspecto que retrata bem aquilo a que António Barreto se referia quando afirmava que ”mais do que lições de moral precisamos de exemplos”.
É certo que o “espírito desportivo” faz parte do manual de boas maneiras que acompanha qualquer agente desportivo. É de bom-tom dizer que se defende o fair-play. Todos são a favor. Se pratica ou não é uma outra coisa. Se percebe o alcance do que se diz, outra ainda. Para muitos a ética desportiva é como o Espírito Santo. Não se consegue explicar exactamente o que é, para além de alguma frases feitas tipo respeitar os adversários e ganhar sem batota, mas todos acreditam que opera milagres. Antes fosse assim. Mas não é. Para muitas organizações e agentes desportivos é uma mera operação de marketing que pouco significa.
Sem aprofundar, no plano filosófico e sociológico, os problemas dos valores e da moral nas práticas do desporto e bem assim de um eventual código ético para além do que os regulamentos das modalidades prescrevem, permanece uma dúvida: qual a eficácia dos programas atinentes à promoção do espírito desportivo para além do ritual das suas cerimónias?
É que independentemente dos “fait divers”, que caricaturam muitas das boas intenções destes movimentos, o problema mais importante é um outro. O que fazer para seriar comportamentos socialmente reprováveis? Bem sei que o universo desportivo não detém o monopólio desta contradição (ou incoerência? ou dificuldade?). Ela está disseminada por outras áreas sociais incluindo a da vida pública .Será que o problema só existe para meia dúzia de pessoas? Afinal o desporto não con(viveu) sempre bem com os seus supostos desvios? Será que são desvios ou esses comportamentos estão inscritos na matriz genética do desporto que análises voluntaristas e idealistas pretendem negar? Será um equívoco pretender que o desporto resolva conflitos e antagonismos quando o desporto é precisamente confronto, conflito e competição?
Como explicar que atletas que foram sempre maus exemplos quanto á sua conduta e comportamento desportivos sejam anos mais tarde escolhidos, por organismos de utilidade pública, como embaixadores da respectiva modalidade? Ou para nas escolas mobilizarem os jovens para a prática do desporto? Como explicar que alguns dos que, no plano nacional e internacional, foram objecto de distinções pela sua conduta desportiva tenham nos respectivos currículos castigos precisamente por motivos opostos aos que estiveram na origem das distinções conferidas? Não se tratando de casos bipolares, em que o distinguido por bom comportamento é ao mesmo tempo castigado pela ausência dele, que estranho fenómeno ocorre?
Tudo aponta que na origem esteja o facto de não haver qualquer grau de exigência em relação a estas matérias. A estes “exemplos”. Dos critérios de apreciação o serem por personalidades que têm da leitura dos comportamentos desportivos uma enorme flexibilidade ou pura e simples ausência. Ou porque na hora das avaliações de mérito esse assunto não pesar. Só isso pode explicar que um atleta que agride outro, possa poucos anos depois ser objecto de distinção ou dirigentes, cujo currículo enquanto atleta e dirigente esteja carregado de castigos, possam anos mais tarde ser júri de apreciação de uma qualquer candidatura ao “espírito desportivo”.
O modo como se banalizaram comportamentos reprováveis e se legitimaram condutas censuráveis à luz de elementares critérios de boa educação diz-nos muito sobre a eficácia de muitos programas e campanhas a propósito dos valores e da ética associadas às práticas do desporto. E sobre a sinceridade com muitas entidades abordam estes temas. É um aspecto que retrata bem aquilo a que António Barreto se referia quando afirmava que ”mais do que lições de moral precisamos de exemplos”.
É certo que o “espírito desportivo” faz parte do manual de boas maneiras que acompanha qualquer agente desportivo. É de bom-tom dizer que se defende o fair-play. Todos são a favor. Se pratica ou não é uma outra coisa. Se percebe o alcance do que se diz, outra ainda. Para muitos a ética desportiva é como o Espírito Santo. Não se consegue explicar exactamente o que é, para além de alguma frases feitas tipo respeitar os adversários e ganhar sem batota, mas todos acreditam que opera milagres. Antes fosse assim. Mas não é. Para muitas organizações e agentes desportivos é uma mera operação de marketing que pouco significa.
Sem aprofundar, no plano filosófico e sociológico, os problemas dos valores e da moral nas práticas do desporto e bem assim de um eventual código ético para além do que os regulamentos das modalidades prescrevem, permanece uma dúvida: qual a eficácia dos programas atinentes à promoção do espírito desportivo para além do ritual das suas cerimónias?
É que independentemente dos “fait divers”, que caricaturam muitas das boas intenções destes movimentos, o problema mais importante é um outro. O que fazer para seriar comportamentos socialmente reprováveis? Bem sei que o universo desportivo não detém o monopólio desta contradição (ou incoerência? ou dificuldade?). Ela está disseminada por outras áreas sociais incluindo a da vida pública .Será que o problema só existe para meia dúzia de pessoas? Afinal o desporto não con(viveu) sempre bem com os seus supostos desvios? Será que são desvios ou esses comportamentos estão inscritos na matriz genética do desporto que análises voluntaristas e idealistas pretendem negar? Será um equívoco pretender que o desporto resolva conflitos e antagonismos quando o desporto é precisamente confronto, conflito e competição?
O desporto nasceu e cresceu fora da educação. Esta só o foi buscar bem mais tarde. Com o olimpismo a liderar esse resgate.E com os resultados que são conhecidos.
3 comentários:
Tema excelente, o da "Ética e Desporto", ou, como prefiro dizer, da "Ética Desportiva". "Desportiva", porque no Desporto o tema geral da Ética encontra um caso particular e autónomo dos outros "tipos de ética". Sobre este assunto tenho escrito e palestrado desde há muito. Desde o primeiro contributo que dei, a convite do Grupo de Trabalho do Conselho da Europa de 1984, até á actualidade. Parece um assunto "teórico", que nada tem a dar à "prática". Puro engano. Responder-lhe, é o passo essencial para se compreender a «origem» (que, diga-se desde já, não é uma «origem histórica»), e aquilo que distingue o Desporto das outras actividades humanas. Estudar, investigar e perceber as «fontes primárias que o documentam» é a condição para sabermos conduzir o Presente e o Futuro do Desporto. Porque, sem a definição clara e rigorosa do «objectivo» e da «finalidade» é impossível, com credibilidade, qualquer Gestão e Avaliação dos actos práticos que sobre ele fazemos. Esta área, conduzida de modo sistemático e com rigor científico é, aliás, uma lacuna que persite nas universidades e faculdades que ensinam desporto em Portugal. Apenas para estimular o debate, e exercitar a polémica, deixo as perguntas: Em que se distingue a «Ética Desportiva» dos outros tipos de Ética? Qual é, dentro da Ética em geral, o domínio específico da que se refere ao fenómeno desportivo? Qual foi a primeira vez que, em documentos credíveis como fontes objectivas do conhecimento, encontramos factos comprovativos de que foi na invenção dessa «Ética desportiva» que se deu a «origem do Desporto»?
Anónimo
Ao anónimo das 10:50
Seria mais interessante que nos desse a conhecer os trabalhos desenvolvidos, desde 1984 até agora, do Grupo de Trabalho do Conselho da Europa.
É que assim, ficamos intrigados com as suas perguntas, totalmente deslocadas, e de quem já devia saber tudo sobre a matéria.
Desde 1984 até 2009 são 25 anos, um quarto de século. Sem resultados nem conclusões? É obra.
Faz lembrar a visita guiada a uma Universidade célebre, quando o guia informando que ali se estudava há 20 séculos, se sujeitou à pergunta de um dos visitantes:
-E a que conclusões chegaram?
Dá a ideia de que o Manuel Alegre está a falhar um aspecto importante da vida do partido e do país relacionado com a Ética.
Zapatero fez aprovar um Código de Ética no início do seu mandato e o que quer dizer que isso tivesse condicionado as suas políticas e a actuação dos seus membros a questão é que o aprovou.
Do que se fala dos problemas dos governantes pouco importa, o relevante é a maquinaria judiciária capaz de tirar os casos a limpo e sancionar o façam com eficácia.
Temos falhas nos principios e na maquinaria que nos levariam a um nível superior de bem-estar e felicidade
Temos ainda problemas quando uma instituição beneficia de um determinado de bens gratuitos e o presidente fica com meia duzia e os dois vices ficam com outras tantas. A maioria até serão juristas. Falta a estas pessoas um amigo que lhes diga o significado do que estão a fazer e para pararem de imediato.
Na perspectiva material assim é dificil multiplicar maiorias absolutas!
Diz a anedota brasileira que "ele rouba mas faz!" ao que o interlocutor responde "você é uma besta!"
Na perspectiva económica existe a armadilha portuguesa 'portuguese trap' constituida por expectativas muito elevadas e erros económicos na condução da política económica como os grandes projectos e realizações que dão origem ao estrangulamento do financiamento nacional público e privado e geram taxas de crescimento do produto baixas.
A 'trap' do desporto são as expectativas elevadas relacionadas com o direito, as obras públicas e a captura de dirigentes associativos. O fracasso foram os jogos olímpicos, os salários em atraso do futebol amador e profissional e a estagnação do desenvolvimento.
A ética tem haver com tudo isto.
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