Publica-se, agradecendo, mais um texto de Fernando Tenreiro.
O futebol português, por má gestão, é susceptível a tragédias de que os projectos mencionados neste texto são exemplo
Dada a imagem do futebol português, os investidores guardam distâncias mas poderia ser diferente caso o futebol português e o clube fossem um modelo de gestão. Se a estrutura accionista e a governance do clube fossem semelhantes ao Barcelona, um clube sem finalidade lucrativa e uma imagem ética mundial, chegariam os empresários internacionais e os maiores nacionais.
O desporto é um bem económico reconhecido pelas externalidades que produz, mas não como um bem comum que depende da gestão sustentável. Assume-se neste artigo que as duas características tornam o futebol português, por má gestão, susceptível a tragédias de que os projectos seguintes são exemplo.
O projecto Carlos Queiroz levou os juniores a campeões dos mundiais de 1989 e 1991. O treinador foi corrido e Portugal eclipsou-se. A nossa geração era de chumbo, com os espanhóis a aprenderem a lição, ganham o Euro 2008 e a sua geração de ouro distingue-se para a África do Sul.
Foi prometido pelo lóbi do Euro 2004 que o desporto e o futebol português não voltariam a ser os mesmos. Será difícil identificar como activos de uma boa promessa concretizada, os jogos do campeonato com os estádios vazios, os salários em atraso, a falência de inúmeros clubes históricos, o défice continuado dos clubes, as compras, vendas e o camartelo de infra-estruturas desportivas, que alimentam a gestão liberal dos clubes para captura de lucros no mercado de trabalho dos jogadores profissionais. Nos estádios, a média de espectadores é menor, como se vê no quadro dos 50 maiores clubes que neste texto se reproduz.
Países Clubes 2008-2009:
Escócia (2) 53.450
Alemanha (13) 50.302
Espanha (7) 47.990
Média (50) 45.509
Inglaterra (12) 43.688
Itália (6) 43.664
Holanda (3) 42.114
França (4) 39.657
Portugal (2) 37.230
Turquia (1) 33.030
Na Europa, a Escócia é a excelência da gestão dos espectáculos de futebol e estamos com a Turquia. A comparação com a França e a Holanda é enganadora, dado que os seus clubes beneficiam de condições de governance e regulação pública ausentes do contexto nacional.
O projecto da arbitragem profissional foi um projecto de Hermínio Loureiro que foi buscar Vitor Pereira, o melhor árbitro português reconhecido pela FIFA e pela UEFA, para o liderar. O projecto correspondia nos domínios técnico e no económico aos quesitos europeus. Na sua apresentação, o projecto foi morto politicamente. Este acto teve duas consequências. A primeira foi que a arbitragem passou a ser considerada como o projecto inicial e foi tratado 24 horas por dia numa "dezena" de canais televisivos, em directo e por cabo, como se fosse possível a qualquer um trabalhar com televisões por cima do ombro a verter ácido. A segunda consequência foi a Liga intuir que novos projectos arriscariam ataques prejudiciais ao futebol, num meio sensível como a primeira liga. Sem consensos, a Liga congelou a inovação.
É sintomática a saída do presidente da Liga para uma câmara, de uma presidência que na Europa teria outra relevância. Acentua o lugar de passagem dos cargos do futebol a quem sucedeu serenamente ao major Valentim Loureiro.
O projecto do Mundial de Futebol com a Espanha leva o caminho do Euro 2004.
O último projecto é o da pretensão do Benfica ser tratado de forma diferenciada dos restantes clubes quanto à venda dos direitos televisivos. O SLB só pode estar a usar uma medida nacional e outra internacional. Na primeira quer benefícios diferentes porque "é o maior", na segunda vai querer ser igual ao Manchester e ao Real Madrid. Os outros clubes aguardam a sua vez de captura dos valores comuns do futebol nacional. Quanto às goleadas de Jorge Jesus, também José Mourinho passou pelo Porto e o resto está igual.
O futebol profissional sem os grandes empresários portugueses e sem a concorrência de capitais internacionais, tem resultados esporádicos. A selecção, a prazo, será liquidada porque os clubes vivem das compras e vendas além-fronteiras e não há condições de vida aos viveiros de bairro e aos campeonatos amadores para sustentar o liberalismo do topo profissional. Esperam-se milagres de S. Queiroz, para tudo ficar na mesma. Consomem-se as actividades amadoras, que são a essência do futebol profissional moderno. O futebol profissional vive de líderes que pelo mérito, no Porto, pela força, no Benfica, ou pela razão, no Sporting, potenciam o seu produto privado. Os grandes empresários portugueses deveriam ser enfeitiçados pelo futebol e acarinhados pelo Governo para investirem no futebol, indo buscar ao mercado financeiro o músculo necessário para o aplicar onde é necessário. O risco de pegar num clube pequeno e assegurar-lhe uma missão desportiva e social é um risco a proteger pelo Estado. Com a demissão de Paulo Bento, o Sporting demonstra como os clubes se transformam em poços de contradições onde as direcções tentam salvar a vida e os clubes são condenados.
O projecto do Mundial de Futebol com a Espanha leva o caminho do Euro 2004.
O último projecto é o da pretensão do Benfica ser tratado de forma diferenciada dos restantes clubes quanto à venda dos direitos televisivos. O SLB só pode estar a usar uma medida nacional e outra internacional. Na primeira quer benefícios diferentes porque "é o maior", na segunda vai querer ser igual ao Manchester e ao Real Madrid. Os outros clubes aguardam a sua vez de captura dos valores comuns do futebol nacional. Quanto às goleadas de Jorge Jesus, também José Mourinho passou pelo Porto e o resto está igual.
O futebol profissional sem os grandes empresários portugueses e sem a concorrência de capitais internacionais, tem resultados esporádicos. A selecção, a prazo, será liquidada porque os clubes vivem das compras e vendas além-fronteiras e não há condições de vida aos viveiros de bairro e aos campeonatos amadores para sustentar o liberalismo do topo profissional. Esperam-se milagres de S. Queiroz, para tudo ficar na mesma. Consomem-se as actividades amadoras, que são a essência do futebol profissional moderno. O futebol profissional vive de líderes que pelo mérito, no Porto, pela força, no Benfica, ou pela razão, no Sporting, potenciam o seu produto privado. Os grandes empresários portugueses deveriam ser enfeitiçados pelo futebol e acarinhados pelo Governo para investirem no futebol, indo buscar ao mercado financeiro o músculo necessário para o aplicar onde é necessário. O risco de pegar num clube pequeno e assegurar-lhe uma missão desportiva e social é um risco a proteger pelo Estado. Com a demissão de Paulo Bento, o Sporting demonstra como os clubes se transformam em poços de contradições onde as direcções tentam salvar a vida e os clubes são condenados.
Haverá em Portugal e no estrangeiro empresários interessados em investir no futebol português? A resposta será positiva se os princípios desportivos, económicos e sociais forem aplicados e todos, amadores e profissionais, com e sem finalidade lucrativa, beneficiarem.
1 comentário:
Com os meus agradecimentos ao Colectividade desportiva devo referir que este artigo foi publicado no domingo dia 22 de Novembro no jornal Público.
Existe uma importante entrevista do Dr. Hermínio Loureiro no jornal a Bola, de sábado dia 21 de Novembro onde faz o balanço do seu mandato à frente da Liga de Clubes de Futebol.
Recorde-se que o Dr. Hermínio Loureiro sucedeu ao Major Valentim Loureiro com todas as implicações que essa herança continha, num meio desportivo com problemas próprios e outros emprestados de enorme dimensão.
Considero o período de liderança do Dr. Hermínio Loureiro na Liga de Clubes de Futebol como de sucesso e que não foi mais longe devido a condições de ausência de acompanhamento e hostilização de outras instituições.
Caso tivesse feito o meu artigo depois da entrevista da Bola esta não teria deixado de o influenciar.
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