Quase todos nós já passámos pela experiência de participar numa formação sobre comportamentos, processos ou atitudes relacionadas com o nosso local ou equipas de trabalho, gostar, superar as expectativas, alterar alguns pensamentos pré-concebidos, voltar para a nossa organização, e mais dia, menos dia, tudo voltar ao que era.
As formações podem ser um motivo de preocupação mesmo quando correm bem. Parece contraditório, mas não o é! A expectativa que se cria nos colaboradores pode catapultar para níveis superiores de exigência e a posterior constatação que a incapacidade de mudança por parte da organização para outros patamares dificilmente se concretizará.
Das primeiras vezes que tive oportunidade de participar enquanto formando em acções relacionadas com a mudança, coaching de equipas, liderança visionária e reconhecida, facilitação de processos, etc., ouvia com alguma frequência no efeito ‘foguete’. A formação corria bem, o formando apercebia-se das vantagens de alterar as suas atitudes e comportamentos, determinava-se em mudar, chegava à sua organização e dava de ‘caras’ com chefias que não estavam receptivos a tais comportamentos ou alterações na forma de trabalho. O efeito passa rapidamente e apenas brilha por momentos.
De uma forma transversal, e não querendo colocar qualquer culpa ‘apenas’ nas directorias ou chefias de algo, reconhecidamente, existe por vezes um tampão de boas intenções na mudança de processos, proactividade, empreendorismo por parte dos seus colaboradores. Se por um lado proporcionará mais ideias, mais-valia, possivelmente mais produtividade, o outro lado ‘obrigará’ a um acompanhamento por parte de quem chefia em termos de capacidade de inovação, liderança, descentralização e o lidar com a falta de confiança quando se observa que alguém pode acrescentar mais valor numa determinada área técnica.
O mercado e o sistema das organizações desportivas não são excepção e se retirarmos uma percentagem muito mínima, são muitos os exemplos de organizações (federações, clubes, associações, autarquias, institutos, etc.) em que quem lidera não possui pelo menos a capacidade de reconhecer quem pode melhorar, escolher experts nas áreas sem que isso signifique que o seu papel deixou de ter a importância que ele necessita, rodear-se de espírito crítico e inovador e não apenas de ‘yes man’. Algo assim facilitava e muito o aparecimento de mais e melhores projectos para alterar a actual situação que o sistema desportivo apresenta.
Falta uma visão, faltam valores, falta liderança, exige-se sem se criar condições para tal, formam-se técnicos (mal?) mas não se dão oportunidades para actuarem. Dia após dia (e apenas naquilo que vai aparecendo na imprensa desportiva) consegue-se coleccionar casos atrás de casos. Nas federações, associações, autarquias ou institutos vemos um agarrar ao lugar independentemente da estratégia que apresentam (?) ou dos seus objectivos relacionados com a organização. Como se costuma dizer ‘apenas somos uma mais-valia quando nos desprendemos do nosso ego’. Ficamos a aguardar.
segunda-feira, 8 de março de 2010
Formação vs Realidade
publicado por Rui Lança às 22:43 Labels: Agentes desportivos, Dirigentes desportivos, Organizações desportivas
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6 comentários:
Totalmente de acordo.
Este é um dos grandes problemas do nosso Desporto.
Caro Luís Leite,
Seria gratificante e útil um dia saber-se em termos mensuráveis a importância destes actos de 'liderança' nos técnicos e chefias-médias.
Cumps
Caro Rui Lança,
Concordo a 100 % e dá a sensação a quem lê, que fala de onde trabalhamos. Muito empático, gostei.
HP
Caro Rui Lança,
Estes actos não são mensuráveis, porque as próprias organizações não estão minimamente abertas a reflexões e auto-avaliações.
Por outro lado, a cultura implantada é a de chutar a bola para a frente, sem ter que dar satisfações a ninguém.
Os chefes recrutaram as suas hostes de "yes man" para que nada seja discutido.
Quem não está satisfeito, vai embora.
Bem, para quem estudou a temática aqui abordada, nomeadamente a Gestão de Recursos Humanos aplicada ao funcionalismo público posso afirmar que qualquer teoria de Gestão Eficaz e Eficiente falha quando aplicada na Função Pública! Desde logo porque o funcionalismo Público não é uma área funcional de igualdade e democracia. desde logo porque a FP não transmite qualquer tipo de incentivos a quem quer resolver alguma coisa, fora o status quo adquirido, nomeadamente na área política! E, num ambiente onde a maioria das partes são hostis (Chefias, políticos e desincentivados)não Kruger ou outro teórico qualquer, não há Teoria alguma de Psicologia de Organizações que produza qualquer efeito na Organização Pública. Mais, com a panóplia de desincentivos que aí vão aparecer (PEC)duvido que qualquer teoria de gestão racional provoque em qualquer funcionário público /exceptuando os funcionários políticos)motivação para imaginar sequer a resolução de um problema! Há querem soluções? Muito bem, peçam-nas aos "boys, aos yes man, aos assessores da treta (alguns sem habilitações) para resolverem. Para a maioria dos funcionários públicos, denominados de corja de malfeitores, o vencimento que recebem apenas se traduz cada vez mais em ser suficiente para ir ao local picar o ponto. Alguns nem ganham para os passes sociais! Os governantes, os deputados, os vários dirigtentes dos ramos do exército, os agentes políticos, e todos os outros que vivem à conta dos amigos que fussem porque são eles que ganham o que não devem! No que me toca já trabalhei muito sem reconhecimento algum! Vão todos para o raio que os partam!
Esta é a reacção de um qualquer funcionário público com pelo menos 30 anos de serviço! Não haverá broca nenhuma que lhe introduza qualquer bucha de Gestão Moderna!
Pois é aqui está um testemunho que reflecte o sentimento de muitos funcionários públicos.
Os governos sucessivos que fomos tendo com a ajuda da Comunicação social foram convencendo a opinião pública que todos os FP não trabalham (há muitos que não fazem é um facto), não se sacrificam, que ganham muito bem, que são muitos (quando a verdade é que são poucos e mal distribuídos)etc.
Na podia estar mais desajustado.
Primeiro porque não são os FP que ganham bem são os restantes trabalhadores que ganham miseravelmente. A falta de formação é enorme e isso joga a favor dos interesses instalados.
Menos formação, menos noção dos direitos, melhor aceitação de tudo, de legislação de trabalho vergonhosa ao nível da contractação a termo incerto por ex, menos coorporatismo, mas também menor produtividade...
E seria mesmo interessante que gastassem menos a sustentar ramos das forças armadas, que só existem para justificar cargos e ordenados chorudos, dar a ganhar a empresas de aprovisionamento. Para não falar nos gabinetes nos ministérios e autarquias enormes para os boys, etc.
Enfim... é o país que temos e merecemos por nada fazer.
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