Uma questão que sempre me intrigou foi o porquê de se “ser” de determinado clube, pese embora a tradição familiar e regional que estão certamente na origem da maioria das opções de cada um e que acabam por ficar para toda a vida. Assim, é curioso como são raríssimos os casos de pessoas que mudaram de preferência clubista ao longo da sua vida.
A adesão metafísica e mais ou menos irracional a um clube “grande”, é feita quase sempre na infância e é vulgar não se ser capaz de explicar por que razão se aderiu a este e não a outro.
Também é habitual, sobretudo fora dos grandes centros urbanos, existirem duas preferências clubistas: uma ligação (perfeitamente natural) ao clube da terra e uma ligação (mais ou menos lógica) a um dos chamados “grandes”. Mas isto não é regra, já que também existem apaixonados por clubes de dimensão média, em regime de exclusividade.
Quanto aos níveis de intensidade de adesão, também são muito variáveis e vão da simples “simpatia” até à “paixão grupal, descontrolada e violenta” de certas claques, passando por outros intermédios (praticante, praticante profissional, filiado pagante normal ou sofredor, dirigente benévolo, dirigente profissional, etc.).
O Desporto português deve muito, mesmo muito, a uma imensidão de dirigentes e treinadores carolas que nos clubes, e na maioria dos casos sem vantagens pessoais, promoveram e promovem a prática desportiva, numa atitude cívica notável.
Dito isto, entramos no problema, sem dúvida complicado, da “clubite”.
Não sendo eu profissional das áreas da Psicologia, Psiquiatria ou Sociologia, costumo dizer que a clubite é uma espécie de infecção cerebral, para a qual não há antibióticos que resultem.
A clubite é uma atitude basicamente irracional. É uma paixão desmesurada e desproporcionada por uma entidade imaterial ou pelo menos com contornos pouco definidos, de natureza simbólica (?).
Em Portugal, infelizmente, a clubite atingiu, há muitas décadas, o grau patológico de epidemia. E o mais grave é que uma percentagem certamente elevada da população masculina (pelo menos) está fortemente contaminada. E este fenómeno é visível em todas as classes sociais.
Só assim se compreende o tipo de abordagem jornalística que hoje é praticada em todas as áreas da Comunicação Social e que dificulta, ou mesmo impede, um entendimento saudável e natural da competição desportiva.
A consequência mais grave da clubite é a existência das mais radicais claques desportivas, grupos organizados e patrocinados pelos próprios clubes, as quais, indo muito além do natural incentivo e apoio durante os jogos e competições, se dedicam essencialmente à agressão física, ao vandalismo e à mais grosseira ordinarice no uso da linguagem.
Curiosamente, o Estado, em vez de proibir estas organizações anti-desportivas e muitas vezes reconhecidamente criminosas, tolera-as como parte integrante e fundamental do espectáculo desportivo.
Para tal, mobiliza quantidades enormes de agentes de segurança que, não sendo visíveis no dia-a-dia na prevenção do crime nas avenidas e ruas das nossas localidades, aparecem nas competições desportivas, tentando minorar os efeitos da javardice, sendo para tal disponibilizados recursos humanos e financeiros incompreensíveis num país dito civilizado.
Não há coragem para acabar com isto?
Não.
quarta-feira, 21 de abril de 2010
Clubismo, Clubite e Claques
Mais um texto de Luís Leite, que se agradece.
Sendo os clubes a célula base da organização desportiva, não só em Portugal mas em toda a Europa, não é possível pensar em reformas que conduzam a um maior nível de desenvolvimento do nosso Desporto, sobretudo o formal, federado, sem ter em consideração esta realidade de contornos eminentemente sociais.
publicado por José Manuel Meirim às 22:28 Labels: Associativismo desportivo, Ética desportiva, Vária
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4 comentários:
Não podia estar mais de acordo! e sou do Benfica, não sei porquê!
Curioso o comentário anterior.
Por um lado, o utilizador VC concorda com o que foi dito, mas por outro não perde a oportunidade de mandar achas para a fogueira. A segunda parte do seu comentário foi infeliz, ou por acaso acredita que no seu clube são todos uns anjinhos? No seu clube, como em todos os outros, há bons e maus adeptos. Acha que o simples facto de terem "Glorioso" na música em vez de um insulto os faz, a muitos deles, melhores adeptos? E não vale a pena enunciar aqui casos de problemas com adeptos/claques do Benfica porque infelizmente nos clubes grandes é o pão nosso de cada dia...
É por isso que o nosso futebol vai mal. Porque toda a gente fala mas passar das palavras para os actos é outra coisa.
Eu arrisco-me a dizer que as claques são o cancro do nosso futebol. Noutros países as claques não têm a mesma importância e não é por isso que o futebol é menos espectacular e festivo.
Ah, e eu sou do Sporting. Tal como poderia ser de outro clube qualquer.
e tu sendo do sporting es melhor que eu que sou do GLORIOSO SPORT LISBOA E BENFICA nunca nunca seras mesmo melhor nem que te ponhas vestido a visconde .
curioso comentario do dono do texto ! sera que ele se julga um especie unica no wc do lumiar ..
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