quarta-feira, 14 de abril de 2010

Opções

O ultimo texto do Luís Leite enumera um conjunto de compromissos políticos que, nuns casos, tardam em se concretizar, ou que, em outros, foram aparentemente abandonados. Não disponho de elementos que permitam sobre o assunto ter uma opinião fundamentada. Mas a experiência diz-me que em matéria de obras de iniciativa pública a regra é o constante deslizar dos prazos de execução. E se for apenas isso não se trata de promessas e objectivos incumpridos. Mas apenas de prazos. Apesar de tudo é uma diferença significativa entre algo que se concretiza ainda que em prazo diferente do anunciado de um qualquer projecto que se anuncia e depois se abandona. E esta observação não envolve qualquer juízo de mérito em relação a uns ou a outros.
Questão substancialmente diferente é dizer hoje uma coisa e amanhã uma outra.
Por exemplo: o ministro Teixeira dos Santos disse na comissão de orçamento e finanças que "há um risco sério de enfrentarmos dificuldades significativas no financiamento da economia portuguesa, se não formos capazes de dar sinais claros de controlo do défice e da dívida pública”.Mas ao contrário do que defendeu o Teixeira dos Santos que depôs no Parlamento, o Teixeira dos Santos ministro defendia ainda há alguns meses atrás, à beira de eleições e mesmo depois delas, que a economia portuguesa não corria qualquer risco significativo de financiamento e que até dava sinais de recuperação de fazer inveja a outros. O défice estava controlado o endividamento público não lhe dava dor de cabeça alguma porque outros o tinham maior.
Durante algum tempo glosou-se a afirmação de um dirigente desportivo que em tempos afirmou ”que no futebol o que hoje é verdade amanhã é mentira”. Esse dirigente a ser criticado só o pode ser por ter vistas curtas. É que o futebol, afinal, não tem esse exclusivo. E os dirigentes desportivos têm os seus alter-egos em muitos outros dirigentes públicos. Ou vice-versa.
O estado social não acaba só porque os neo-liberais o capturam. Um das formas de acabar com ele é levá-lo à falência. A outra é destruí-lo através da descredibilzação dos agentes políticos que o suportam. As duas em simultâneo são desastre à vista. Não é seguro que não corramos esse risco.
Gonçalo M. Tavares na conferência do 70º aniversário da FMH defendeu que a falta de memória política deveria ser considerado um crime. E fê-lo num quadro transversal de um conhecimento e de uma quotidianidade para quem o presente nunca é explicado pelo passado, antes serve para projectar o futuro. Churchill comentava que a habilidade politica está na capacidade de prever o que vai acontecer amanhã, na próxima semana e no próximo ano e depois explicar porque é que assim não aconteceu. Não nos faltam exemplos. É certo que a política é o mais inexacto de todos os saberes. Mas o facto não explica tudo. Há muita falta de decoro e de vergonha
Os países não são o que quiserem ser. São o que podem ser a partir da sua história e das suas circunstâncias. E o do desporto não escapa.
Os problemas da realidade portuguesa e os seus constrangimentos desportivos estão hoje na economia. É estimulante discutir as prioridades do investimento e da despesa corrente. Mais do que estimulante é necessário. Porque não há só um caminho . A questão central é saber se não é possível com o actual estado da economia pedir um desporto diferente. Seria um grande avanço se o desporto e os seus responsáveis políticos pudessem esclarecer qual o contributo que pretendem para o plano de estabilidade e crescimento. Em que é que as politicas públicas desportivas vão ajudar na consolidação orçamental e no crescimento da economia É que contrariamente a outras áreas sociais a despesa pública do Estado central no desporto com origem na arrecadação fiscal é ínfima. E por isso o seu contributo à redução da despesa é marginal. O grosso resulta de verbas consignadas com origem nos jogos sociais. Uma diferente ordem de prioridades no escalonamento da aplicação desta receita bem poderia ser um bom contributo às economias associadas ao desporto. Ou não. Depende das opções.

3 comentários:

Luís Leite disse...

O PEC não é para ser cumprido. Tudo isto é a fingir.
Os ricos vão continuar ricos e a classe média vai empobrecer.
Os desempregados vão passar fome.
A classe política e cargos adjacentes vão continuar a acumular privilégios, não sendo atingidas.
E a dívida pública vai continuar a crescer.
Para já, estamos a emprestar muitos milhões de euros à Grécia.
Que por acaso é um país com uma população semelhante à nossa, mas com um desporto muitíssimo mais desenvolvido.
Quanto às instalações desportivas fundamentais, as derrapagens de tempo e de dinheiro mais os erros de opção estratégica e a falta de diálogo com as Federações agravam ainda mais o nosso atraso acumulado.
Há responsabilidades e são políticas.

ftenreiro disse...

Um parentesis para o Luís Leite, o desporto não pode actuar como a raposa dizendo que as uvas são verdes. As políticas nacionais devem todas ter uma participação do desporto. Só quem dança onde está a rosa, salvo seja, é que conta. O desporto não dança o PEC, o desporto desconsidera-se perante a sociedade.

Sobre o poste do José
Constantino:

Obviamente nada tenho contra as pessoas, o que falo são os processos. O modelo de política desportiva que meia dúzia de pessoas, não são mais aqueles com capacidade de influência política, têm defendido junto de sucessivos governos de direita e de esquerda, durante os últimos vinte anos, é o mesmo e falhou.

No caso recente das infra-estruturas a imagem é a de políticas 'casquinha de ovo': perfeitas como um ovo que sem conteúdo desportivo, quando eclodem estão estragadas.

O Atletismo e o Futebol continuam a perder importância por este tipo de política desportiva em termos gerais.
15.000 e 150.000 praticantes são valores abaixo do respectivo potencial que deveria alcançar valores próximos do meio milhão. O débito financeiro é tremendo e a complexidade organizativa de uma estrutura real em comparação com o potencial torna a dimensão actual destas federações sem massa crítica para as necessidades de desenvolvimento desportivo moderno.

O que importa é o longo prazo.

O desporto deve ser assertivo na sua postura e impositivo na sua capacidade realizadora. Como exige aos atletas. O desporto necessita de investigação e doutorados em estruturas complexas de aconselhamento elevados para suportar a acção de políticos ambiciosos quanto aos objectivos da política desportiva nacional.

Luís Leite disse...

Vamos então emprestar dinheiro à Grécia.
Nós, o país cuja dívida pública é 600% do PIB, vamos emprestar 774 milhões de euros a um país com 11,3 milhões de habitantes (Portugal 10,5 milhões), o qual (vamos então ao desenvolvimento desportivo):

em Jogos Olímpicos de Verão já ganhou 108 medalhas (Portugal 22) em 15 modalidades (Portugal 8), sendo 30 de ouro, 42 de prata e 36 de bronze (Portugal 4, 7, 11).
Coitados dos gregos! Coitados dos 774 milhões de euros dos Tugas que vão ajudar os Helénicos a resolverem os seus problemas financeiros.
Aumentem-nos o IVA (pode passar para 25%) para ajudar o Estado Português a ajudar os gregos!
Viva o PEC!
Viva a solidariedade olímpica!