segunda-feira, 26 de abril de 2010

O senhor dos anéis

Pierre Coubertin era um homem rico quando iniciou a saga do movimento olímpico.Quando morreu estava pobre. A fortuna gastou-a no desporto e nos seus ideias olímpicos. De então para cá muita coisa mudou. Ao nível do dirigismo , agora, é difícil sair mais pobre que quando se entra. E a regra é passar a ganhar o que se não ganharia se não tivesse entrado: dinheiro, visibilidade pública e poder. Graças a Samaranch. Porque, com ele, o movimento olímpico transformou-se.
Em troco da grandiosidade que conseguiu dar ao movimento olímpico e desportivo internacionais Juan António Samaranch governou como muito bem quis e dando as explicações que entendeu. O seu consulado, e as polémicas em que se envolveu, está de resto, bem traduzido num invulgar número de obras que analisam o que foram os anos de gestão do Comité Olímpico Internacional e do seu percurso político.
Existe muitas vezes a ilusão de que as organizações são propriedade dos que contigencialmente as lideram. E que terão uma espécie de autoridade divina e para todo o sempre imune à crítica e ao escrutínio público. Coubertin terá sido porventura o maior autor de temas desportivos e olímpicos que o mundo já conheceu. Foi a todas as polémicas e enfrentou todos os poderes.Com duas armas : a palavra e alguma diplomacia. Acreditava convictamente no desporto. E pagou do seu bolso os devaneios a que se dedicou. Mas morreu e acabou. O movimento olímpico seguiu outro caminho. E dele recorda-se uma ou outra coisa polémica. A generalidade dos dirigentes desportivos ou ignora o seu legado, ou diz umas banalidades.
Com Samaranch vamos ver. A autoridade e o poder conquistados derivam do dinheiro que conseguiu canalizar para a sua gestão. A diplomacia, cujos meandros ele conhecia bem, veio depois. E com o caminho bem almofadado pelos confortáveis negócios que conduziu a favor do CIO.E pelo que passou a oferecer à sua organização e aos dirigentes nacionais e internacionais: poder, estatuto, viagens, despesas de representação, eventos, etc. E muita “solidariedade olímpica”. Como o conseguiu pouca interessa. O que conseguiu é tanto e tão bem distribuído, para quê estar a levantar a questão? O temor reverencial que Samaranch incutia a todos quantos dele dependiam é mérito seu. Mesmo que tenha sido construído como o são todos os grandes impérios não democráticos: com mão de ferro. E sem tolerância e com liberdade e fraternidade quanto baste. O que lhe permitiu passar bem pelos escândalos que envolveram a sua gestão. Nos casos de corrupção e de dopagem. Com uma receita simples: aguentar enquanto é possível; deixar cair quando é insustentável. Sempre sem ser atingido.
Quem pretender escrever em cima dos acontecimentos corre o risco de se equivocar. A história precisa de tempo. A liderança de Jacques Rogge dá sinais de querer restituir ao movimento olímpico internacional uma transparência que de há muito perdeu. De fazer corresponder os actos às palavras. Veio para ficar? As organizações vivem de equilíbrios. Reagem mal a mudanças repentinas. Ainda para mais quando se trata de organizações centenárias e onde o poder se sacralizou. O CIO parece, apesar de tudo, uma organização mais aberta. Em certo sentido menos autocrática. Resta aguardar.
Juan António Samaranch deu ao longo dos seus mandatos provas de inequívoco apoio a Portugal. Segundo o jornais A Bola e Record na hora do adeus e do prestar da última homenagem ao dirigente desportivo olímpico apenas uma presença portuguesa: Rosa Mota.

1 comentário:

FRibeiro disse...

Sintomático o silêncio sobre este post dos habituais 'comentadeiros'.
Valha-nos a Rosa Mota...
RIP JAS