António Barreto, no discurso comemorativo do 10 de Junho, enalteceu as virtudes do exemplo. Da necessidade da moralização da vida pública ser feita pelos bons exemplos e não pela retórica e o beatismo das grandes proclamações. Das palavras e dos discursos terem habitualmente muita propaganda e darem origem a pouca acção. José Sócrates e o seu pessoal de apoio não devem ter gostado do que ouviram. Quando as coisas são ditas por alguém que não é propriamente de “direita” a ferida é maior. E as restantes esquerdas?
Essas receberam as palavras de António Barreto em silêncio. Como o país em geral. Compreende-se. António Barreto faz parte daquele pequeno grupo de pessoas que não pode ser atacado pelo carácter ou pela incoerência. Convém que sobre o que diz se não alimentem grandes polémicas. Para que o efeito passe depressa. E se há questão com que a esquerda lida mal é com o exemplo. Historicamente foi sempre por aí que a doutrina se fragilizou. E que os ideais se esvaneceram. A questão é devastadora.
Mas com uma parte da esquerda “socrática” o problema é de outra natureza. E mais grave. É uma esquerda de pressas. E de ajustes de contas. Ressentida, arrogante, ressabiada e cheia de azedumes. Julga-se possuída de uma superioridade ética e de uma inteligência que só ela tem. O mistério é saber porque assim pensa. Porque não teve escola? Porque nunca leu Antero ou Sérgio? Porque dominar o aparelho do Estado cega? Tudo parece funcionar em função de um único objectivo: o poder. E, embora o não aceite, é profundamente conservadora. Purifica o seu progressismo nas causas fracturantes. Uma parte dela nunca soube o que era lutar pela liberdade. E por isso gosta de prescutar, como no passado, tudo o que há para saber sobre as pessoas. E, qual big brother, de colocar etiquetas. Defende a liberdade de expressão. Mas odeia a responsabilidade cívica do uso da liberdade. E, por isso, quando é preciso, ataca em regime de anonimato. Deseja ter tudo controlado. Adora as soluções de engenharia social. O fracasso é o seu tabu. E não lhe peçam bons exemplos. É uma afronta. É uma esquerda que só pelo facto de assim se apresentar dispensa qualquer outra prova. Julga-se possuída de dom divino.
É esta esquerda que, supostamente, seria republicana e socialista (?), que é capaz de em qualquer gabinete, de endireitar o desporto. É um propósito sempre renovado quando chega ao poder. E chega tantas vezes que se vê obrigada a ter uma amnésia selectiva. Melhor dito :a programar a memória. De tal maneira que cada vez que regressa é como se fosse a primeira. E acredita piamente nesse calendário. Faz diariamente a sua prece. Com muito copy past à mistura. Sobretudo francófono. E com um tema de eleição: as federações e os dirigentes desportivos. O busílis é mesmo os dirigentes. Excepção feita aos períodos e campanhas eleitorais, em que os dirigentes são precisos para aumentar as listas de apoiantes, colocá-los na ordem faz parte do menu principal. Não fossem os dirigentes desportivos e outro galo cantaria!
Esta esquerda teima em não perceber que o seu reactivismo - aos dirigentes e às federações - é do mesmo tipo que uma parte significativa das pessoas tem em relação aos políticos e aos partidos.Com um problema. Sobra em retórica o que falta em bons exemplos. E aqui reside o verdadeiro problema. Á legitimidade política de controlo dos recursos públicos não corresponde uma exemplaridade moral no respectivo uso.
Os males de que padece o dirigismo desportivo, no uso dos chamados “dinheiros públicos” e outro tipo de recursos são comuns aos agentes políticos. Não há uma massa distinta. E também se não dividem entre os bons à esquerda e os maus à direita. Não há uns- os dirigentes políticos- a gastar bem e os outros - os desportivos- a gastar mal. Não existem os primeiros com elevado sentido da causa pública. E os outros a servirem-se dela. As engenharias financeiras a que se entregam muitos dos organismos desportivos são idênticas às da administração pública e dos gabinetes ministeriais. É uma ilusão pensar que nestas instâncias a gestão da coisa pública é feita sem truques, sem opacidade e às claras. Que não existe um peculato disfarçado de serviço público. Que existe parcimónia nas despesas de representação. Nas ajudas de custo. Nas despesas apresentadas. Nos fundos permanentes. Nos almoços, que são sempre de trabalho. Nas aquisições de serviços que nunca são às empresas amigas. Nos camaradas que se vão colocando na administração pública. Na valorização do mérito que é sempre exclusivo dos “nossos”
O silêncio e a cumplicidade políticas querem fazer passar os outros por parvos. E é sempre fácil culpar os dirigentes desportivos pelo mau uso dos recursos públicos. Mas o mal não ocorre dentro da própria casa? Ou o que é mal nos outros é em nós virtude?
Essas receberam as palavras de António Barreto em silêncio. Como o país em geral. Compreende-se. António Barreto faz parte daquele pequeno grupo de pessoas que não pode ser atacado pelo carácter ou pela incoerência. Convém que sobre o que diz se não alimentem grandes polémicas. Para que o efeito passe depressa. E se há questão com que a esquerda lida mal é com o exemplo. Historicamente foi sempre por aí que a doutrina se fragilizou. E que os ideais se esvaneceram. A questão é devastadora.
Mas com uma parte da esquerda “socrática” o problema é de outra natureza. E mais grave. É uma esquerda de pressas. E de ajustes de contas. Ressentida, arrogante, ressabiada e cheia de azedumes. Julga-se possuída de uma superioridade ética e de uma inteligência que só ela tem. O mistério é saber porque assim pensa. Porque não teve escola? Porque nunca leu Antero ou Sérgio? Porque dominar o aparelho do Estado cega? Tudo parece funcionar em função de um único objectivo: o poder. E, embora o não aceite, é profundamente conservadora. Purifica o seu progressismo nas causas fracturantes. Uma parte dela nunca soube o que era lutar pela liberdade. E por isso gosta de prescutar, como no passado, tudo o que há para saber sobre as pessoas. E, qual big brother, de colocar etiquetas. Defende a liberdade de expressão. Mas odeia a responsabilidade cívica do uso da liberdade. E, por isso, quando é preciso, ataca em regime de anonimato. Deseja ter tudo controlado. Adora as soluções de engenharia social. O fracasso é o seu tabu. E não lhe peçam bons exemplos. É uma afronta. É uma esquerda que só pelo facto de assim se apresentar dispensa qualquer outra prova. Julga-se possuída de dom divino.
É esta esquerda que, supostamente, seria republicana e socialista (?), que é capaz de em qualquer gabinete, de endireitar o desporto. É um propósito sempre renovado quando chega ao poder. E chega tantas vezes que se vê obrigada a ter uma amnésia selectiva. Melhor dito :a programar a memória. De tal maneira que cada vez que regressa é como se fosse a primeira. E acredita piamente nesse calendário. Faz diariamente a sua prece. Com muito copy past à mistura. Sobretudo francófono. E com um tema de eleição: as federações e os dirigentes desportivos. O busílis é mesmo os dirigentes. Excepção feita aos períodos e campanhas eleitorais, em que os dirigentes são precisos para aumentar as listas de apoiantes, colocá-los na ordem faz parte do menu principal. Não fossem os dirigentes desportivos e outro galo cantaria!
Esta esquerda teima em não perceber que o seu reactivismo - aos dirigentes e às federações - é do mesmo tipo que uma parte significativa das pessoas tem em relação aos políticos e aos partidos.Com um problema. Sobra em retórica o que falta em bons exemplos. E aqui reside o verdadeiro problema. Á legitimidade política de controlo dos recursos públicos não corresponde uma exemplaridade moral no respectivo uso.
Os males de que padece o dirigismo desportivo, no uso dos chamados “dinheiros públicos” e outro tipo de recursos são comuns aos agentes políticos. Não há uma massa distinta. E também se não dividem entre os bons à esquerda e os maus à direita. Não há uns- os dirigentes políticos- a gastar bem e os outros - os desportivos- a gastar mal. Não existem os primeiros com elevado sentido da causa pública. E os outros a servirem-se dela. As engenharias financeiras a que se entregam muitos dos organismos desportivos são idênticas às da administração pública e dos gabinetes ministeriais. É uma ilusão pensar que nestas instâncias a gestão da coisa pública é feita sem truques, sem opacidade e às claras. Que não existe um peculato disfarçado de serviço público. Que existe parcimónia nas despesas de representação. Nas ajudas de custo. Nas despesas apresentadas. Nos fundos permanentes. Nos almoços, que são sempre de trabalho. Nas aquisições de serviços que nunca são às empresas amigas. Nos camaradas que se vão colocando na administração pública. Na valorização do mérito que é sempre exclusivo dos “nossos”
O silêncio e a cumplicidade políticas querem fazer passar os outros por parvos. E é sempre fácil culpar os dirigentes desportivos pelo mau uso dos recursos públicos. Mas o mal não ocorre dentro da própria casa? Ou o que é mal nos outros é em nós virtude?
8 comentários:
Bom artigo, especialmente de quem vem tendo sido um "dirigente" do status quo da época! Mas o que o autor aponta é uma realidade da administração púlica central e local, incluindo as suas divisões e parcelas que adoptam as mais variadas designações (institutos, fundações, etc). Na administração pública, há séculos que a ética (seja lá isso o que seja) não existe! E os que se esforçam por fazer alguma coisa estão ao nível da "bosta"! Bons são os que concordam com qualquer outro que na escala hierárquica (tipo tropa) esteja acima dele! E vê-se cenas dessas que roçam o vómito! Daí à filosofia do "ai é, tu é que és o bom...então faz tu que eu estou-me cag...para o assunto! Isto não é ficção, é o resultado da invenção "avaliação do desempenho" e mais das sua "quotas" de muito bons e excelentes! Os "excelentes" e os muito bons" que trabalhem uma vez que os funcionários normais, que muitas vezes são os que fazem alguma coisa de útil, são uns "inúteis políticos" que não concordam com a "equipa"!
O Verdadeiro Anónimo (OAv)
Colocaria a questão noutros termos.
Terão o PSD, PCP BE e CDS coragem para racionalizar a produção desportiva ou vão deixar ao associativismo a liberdade de se governar com cada vez menos dinheiro como vai acontecendo?
Por exemplo, quanto às gorduras existentes no associativismo, não só no COP e CDP, onde estão as propostas da oposição para o desporto?
Mais um notável texto de JMC.
Com o qual não posso deixar de concordar, embora o Movimento Associativo, a começar pelo COP e CDP e a acabar nas Federações, também não sejam propriamente exemplos de virtude.
Quanto à oposição partidária de FT, o Desporto não é assunto, a menos que se trate de Futebol ou de "politicamente correcto" (paralímpicos, doping, etc.).
Não podemos contar com a oposição partidária no Desporto. Não existe.
O que existem são (poucas) pessoas como JMC que pensam o Desporto de forma independente e fundamentada.
Muito poucas.
Este blog é, de facto, muito importante.
Hanz Kung numa carta aberta ao Papa, publicada no Público recentemente, referia precisamente o primeiro parágrafo que José Manuel Constantino cita de António Barreto.
Dizia o filósofo Hanz Kung que o que a Igreja precisava eram demonstrações do que está mal e não a devoção dos fiéis.
O que acontece no desporto é a devoção dos fiéis partidários nas instituições do desporto estar a defraudar o desporto português.
O caso da separação do COP e da CDP onde pontificam dignidades de todas as confissões vivem 'inocentemente' a par da iniquidade das situações e dos resultados desportivos.
Sarkozi e Mandela mostram que o desporto mundial por vezes necessita da mão dos seus melhores presidentes.
Será esse o destino de Passos Coelho, havendo o silêncio de todos os partidos e demais devotos sobre os desafios do desporto português?
Hanz Kung numa carta aberta ao Papa, publicada no Público recentemente, referia precisamente o primeiro parágrafo que José Manuel Constantino cita de António Barreto.
Dizia o filósofo Hanz Kung que o que a Igreja precisava eram demonstrações do que está mal e não a devoção dos fiéis.
O que acontece no desporto é a devoção dos fiéis partidários nas instituições do desporto estar a defraudar o desporto português.
O caso da separação do COP e da CDP onde pontificam dignidades de todas as confissões vivem 'inocentemente' a par da iniquidade das situações e dos resultados desportivos.
Sarkozi e Mandela mostram que o desporto mundial por vezes necessita da mão dos seus melhores presidentes.
Será esse o destino de Passos Coelho, havendo o silêncio de todos os partidos e demais devotos sobre os desafios do desporto português?
Será que FT vê em Passos Coelho o "salvador" da pátria e também do Desporto Português?
Será que não compreende que esta é uma questão cultural e que numa partidocracia os políticos dão ao povo aquilo que pensam que dá votos e "distrai" as pessoas?
Soluções que se afastem do trinómio "politicamente correcto/atrair votos/ficar na fotografia" não interessam a nenhum político neste deserto de ideias estruturantes da sociedade.
Isto também é válido para o Desporto.
Os partidos têm a obrigação de responder aos desafios existentes no desporto.
Não parece que nenhum dos outros presidentes de partido tenham a possibilidade de ganhar algum acto eleitoral.
Passos Coelho e o PSD têm que demonstrar, desde já ou quando quiserem, que o seu projecto para o desporto português é melhor do que os do passado.
Há questões muito graves no desporto e a irracionalidade COP/CDP afecta o futuro, os atletas, treinadores e líderes cujo trabalho é positivo.
Há mais desafios graves do desporto português, bastante graves, que são conhecidos.
Todos os partidos têm a oportunidade de contribuir para o sucesso do nosso desporto.
Se o PSD e Passos Coelho resolverem bem a crise COP/CDP a população portuguesa virá a perceber-se dos benefícios e a sinalizar esse resultado.
A hipótese derrotista é pensar que a população não é sensível a um programa de governo para o desporto voltado para a resolução dos problemas graves e o futuro.
Como afirmei, a resolução da ineficácia do COP e da CDP só pode depender do Movimento Associativo.
Mas o Movimento Associativo não parece querer.
Cada Federação só pensa em si própria.
O Governo, seja ele qual for, não pode interferir em instituições que, pelos próprios estatutos, estão fora da sua área de jurisdição.
São entidades de direito privado, embora possam ter "utilidade pública" e serem financeiramente dependentes do Estado.
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