quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A dimensão do desporto profissional americano

Um texto de Luís Leite.

Em Portugal criou-se há muito a ideia de que o futebol é a modalidade com mais interesse a nível mundial e que movimenta mais dinheiro.
Uma pesquisa na Internet levou-me à descoberta dos jogadores mais bem pagos do mundo nas modalidades colectivas em 2010.
Trata-se aqui apenas de vencimentos, não estando incluídos prémios ou contratos publicitários.
Cristiano Ronaldo, o futebolista mais bem pago do mundo, é apenas o 33º da lista, que diz respeito, unicamente, a modalidades colectivas.

(valores em USD)
1 Alex Rodriguez 33.000.000 Baseball
2 Philip Rivers 25.556.630 American Football
3 Kobe Bryant 24.806.250 Basketball
4 CC Sabathia 24.300.000 Baseball
5 Derek Jeter 22.600.000 Baseball
6 Jay Cutler 22.044.090 American Football
7 Mark Teixeira 20.600.000 Baseball
8 Rashard Lewis 20.514.000 Basketball
9 Eli Manning 20.500.000 American Football
10 Johan Santana 20.144.708 Baseball
11 Miguel Cabrera 20.000.000 Baseball
12 Carlos Beltran 19.401.571 Baseball
13 Kurt Warner 19.004.680 American Football
14 Alfonso Soriano 19.000.000 Baseball
15 Carlos Lee 19.000.000 Baseball
16 Ryan Howard 19.000.000 Baseball
17 Carlos Zambrano 18.875.000 Baseball
18 Ichiro Suzuki 18.000.000 Baseball
19 Kevin Garnett 18.800.000 Basketball
20 Tim Duncan 18.700.000 Basketball
21 John Lackey 18.700.000 Baseball
22 Manny Ramirez 18.695.007 Baseball
23 Barry Zito 18.500.000 Baseball
24 Torii Hunter 18.500.000 Baseball
25 Michael Redd 18.300.000 Basketball
26 Magglio Ordonez 17.825.976 Baseball
27 Pau Gasol 17.822.187 Basketball
28 Andrei Kirilenko 17.822.187 Basketball
29 Todd Helton 17.775.000 Baseball
30 Gilbert Arenas 17.730.694 Basketball
31 Yao Ming 17.686.100 Basketball
32 Kelvin Hayden 17.480.000 American Football
33 Cristiano Ronaldo 17.420.000 Futebol

O clube que paga mais em ordenados de jogadores é, a grande distância, os New York Yankees (Baseball) com 206.333.339 USD (153.718.337,56 Euros).
A MLB (Liga profissional americana de Baseball), com 30 clubes, paga este ano 2.730.601.585 USD (2.047.951.188,75 Euros) só em ordenados de jogadores.
A NBA (Liga profissional americana de Basquetebol), com 30 clubes, paga este ano 2.010.189.550 USD (1.497.591.214,75 Euros) também só em ordenados de jogadores, mas não passa da 3ª Liga que mais gasta em vencimentos, atrás da NFL (Futebol Americano), com 32 clubes, cujo valor exacto não foi possível apurar, por várias razões, mas anda à volta dos 2.500.000.000 USD.
Nos Estados Unidos estes valores são mesmo reais e não há hipótese de fuga aos impostos.
Quanto ao futebol, os dados não estão disponíveis na Internet, por razões óbvias.

29 comentários:

Rui Lança disse...

Caro Luis Leite,

Quem acompanha minimamente o desporto sabe quem ao nível dos desportos colectivos tudo o que é desporto americano apresenta valores mais elevados, já para não falar dos desportos individuais.

O que me parece é que mistura duas temáticas: maiores vencimentos e competições. Claro que uma NBA, NFL, NHL, etc movimenta mais que qualquer campeonato nacional (de qualquer país) de Futebol. Agora que um Campeonato do Mundo de Futebol...os dados são deveras inconclusivos.

Cumps,

Fernando Tenreiro disse...

Para quem se interessar pela dimensão económica do maior continente desportivo do mundo que é a Europa:

A dimensão do PIB desportivo europeu está avaliada actualmente em 407.000.000.000 euros.

Quanto a clubes de futebol a lista é a seguinte:

1 Manchester United $1,800m
2 Real Madrid $1,285m
3 Arsenal $1,200m
4 Liverpool $1,050m
5 Bayern Munich $917m
6 Milan $798m
7 Barcelona $784m
8 Chelsea $764m
9 Juventus $510m
10 Schalke04 $470m
dados de 2008

O décimo destes clubes vale o dobro do clube americano que paga salários mais elevados.

Pode-se perguntar: será que o modelo de desporto americano produz mais resultados económicos e sociais do que o europeu?

Esta comparação sugere que existem mais atletas ricos mas que a europa é que tem os clubes mais ricos para além de serem em muito maior quantidade.

Face às críticas que têm sido feitas ao desporto português a solução não estará em copiar os americanos mas fazer bem o que os europeus fazem e os torna os melhores do mundo.

Os dados foram obtidos na internet, por razões óbvias.

Anónimo disse...

Quase tão interessante que e ao contrário do que acontece no Futebol e na América, no desporto Federado Nacional os técnicos e Presidentes têm uma remuneração muito superior à dos melhores atletas.

Obviamente, ao abrigo de requisições e outro tipo de perfis legais, ou menos legais.

Seria interessante publicar uma tabela dessas.

Igualmente interessante publicar os montantes recebidos por cada Federação para o Alto Redimento e os respectivos resultados.

Anónimo disse...

Concordo com o anónimo.E ja agora uma lista com as remunerações,horas extraordinárias e ajudas de custos de chefe de gabinete adjuntos e assessores governamentais.Seria interessante publicar uma lista dessas.

Luís Leite disse...

Caro Rui Lança:

Desculpe mas, pelos vistos não concordo em nada consigo sobre esta matéria:

1) O seu 1º parágrafo contradiz o meu 1º parágrafo.
Julgo que o Tuga que compra jornais desportivos acha que há o Futebol e o resto são umas curiosidades; não sei o que quer dizer com "acompanha minimamente o desporto", mas acho que a razão está do meu lado;

2) Não misturo vencimentos com competições, porque nem sequer me refiro a competições, refiro-me a vencimentos base em Ligas profissionais e nem sequer fui buscar a NHL, cujos valores também são impressionantes mas mais difíceis de tratar e reportar;

3) Não fiz qualquer referência a Campeonatos do Mundo, embora sem querer ser conclusivo, esteja convicto de que o Mundial de Futebol está longe de ser o evento desportivo que movimenta mais dinheiro.

Rui Lança disse...

Caro Luís,

A questão aqui - pelo menos para mim - não é ficar com a razão. Quando digo "quem acompanha minimamente o desporto" quero dizer isso mesmo. O Luís refere-se a quem acompanha minimamente o Futebol, serão coisas distintas e para isso, não pode ser o 'Tuga' que compra apenas os jornais diários, teria de ser alguém que acompanhasse de outra forma, mas são apenas opiniões pessoais.

O Luís escreve no seu post "Em Portugal criou-se há muito a ideia de que o futebol é a modalidade com mais interesse a nível mundial e que movimenta mais dinheiro", daí eu ter ido buscar os valores das modalidades e quem movimenta o quê. Quanto a vencimentos, continuo a concordar.

Quanto ao facto do Campeonato do Mundo de Futebol de Selecções ser o evento desportivo que mais € movimenta, também não lhe posso afirmar com exactidão, não tenho conhecimento para tal.

Cumps,

rl

Luís Leite disse...

Caro Fernando Tenreiro:

Você confunde vencimentos de jogadores com PIB de clubes.
O valor do PIB desportivo europeu não interessa como argumento, porque eu não lhe sei dizer qual o valor do PIB desportivo norte-americano. Não podemos comparar.
Mas devo dizer-lhe que tenho a convicção de que o PIB desportivo norte-americano é muito superior ao Europeu, apesar de a população norte-americana ser aproximadamente metade da europeia.

A sua conclusão, que compara verbas globais (cash-flow?)relativas a clubes europeus de futebol com apenas "vencimentos-base" de jogadores de 3 das Ligas profissionais americanas é errada.
Porque está a comparar maçãs com laranjas.

Discordo totalmente das suas conclusões do penúltimo parágrafo:

O modelo americano é muito superior ao europeu e isso é visível tanto no acesso à prática desportiva nas "High Schools" como nos "Colleges".
Para não falar do alto rendimento, em que, os americanos são de longe melhores em quase tudo e isso vê-se nos Jogos Olímpicos e Campeonatos do Mundo das modalidades mais universais.
Não dão importância ao Soccer nem ao Rugby, porque têm o Football deles.
Também não ligam ao Crickett, porque têm o Baseball.
No resto, estão entre os melhores ou são-no mesmo em quase tudo.
Os americanos são, portanto, melhores que os europeus em desporto, ao contrário do que você pensa e escreve.

Quanto a dados tirados na Internet sobre Futebol, não queira comparar o regime fiscal americano com o europeu, em que a fuga aos impostos no Futebol é um escândalo de dimensões inimagináveis.
Nos Estados Unidos, a economia paralela, como bem sabe, é residual.
E os clubes, na América, não podem estar tecnicamente falidos e continuar em actividade como cá.

Fernando Tenreiro disse...

Caro Luís Leite

A Europa produz cerca de 300 medalhas por JO tanto quanto a China, a Rússia e os Estados Unidos somados.

E a Europa tem de seguir o modelo americano?

Eu dei-lhe a dimensão económica do desporto europeu porque é um valor que faz sentido trabalhar.

Saber que existem atletas que ganham rios de dinheiro é uma tautologia porque isso demonstra que existem pessoas predispostas a gastar esse dinheiro.

Na europa existe uma maior distancia económica entre as modalidades profissionais com destaque para o futebol.

O modelo de ligas profissionais permite maximizar estes resultados profissionais.

Na Europa o elemento de racionalização são as federações em quem os governos confiam para não só produzir todo o alto rendimento e profissional mas igualmente toda a estrutura desportiva desde a base.

Portanto, como já lhe sugeri muitas vezes tenho imensa dificuldade em aceitar que o modelo americano tenha lições a dar ao europeu.

Gaspar disse...

Eu diria que não interessa o tamanho da ferramenta, mas sim o que se faz com ela.

Nos Estados Unidos, vê-se o desporto de topo como um negócio, mas não como uma negociata manhosa obscura. Vê-se o desporto como um negócio de famílias, de entretenimento, de espectáculo, e ainda assim visando o retorno financeiro.

Não interessa de o jogador vale 20M$, mas sim se ele estatisticamente dá x vitórias ao clube, que valem por exemplo 40M$. E isto são valores estudados aos pormenor. Contabilizam-se passes, assistências, robos de bola, golos, percentagem de concretização e afins.

Dinheiro, traz qualidade, qualidade traz vitórias, vitórias trazem reforço da marca e por fim o reforço da marca traz mais dinheiro.

Como é óbvio, há bons e maus negócios. Boas e más decisões. Sucessos estrondosos e flops. Mas o que é certo é que procuram minimizar o erro e potenciar o sucesso baseados em estudos económicos, sociológicos e outros.
(Cá opta-se por importar jogadores sul-americanos de qualidade duvidosa e quase sem referências - a não ser a dos seus magníficos empresários)

Por coincidência tinha acabado de falar sobre isso em: www.desportoquemarca.blogspot.com

Penso que no futebol, a única liga europeia que se aproxima desta realidade é a inglesa. Em todas as outras se vê uma organização oscilante, por vezes duvidosa e onde apenas dois ou três clubes, pontualmente são geridos por pessoas que procuram esta visão mais "americanizada", ou melhor este modelo de negócio.

Mas na Europa, por motivos culturais, este modelo não pode partir de cima para baixo. Terão de ser as novas estruturas a mostrar às restantes que um clube desportivo não é um poço sem fundo.

Porque o cidadão europeu (na generalidade) de hoje, ainda vê o espectáculo desportivo como uma batalha medieval e não como uma tarde de domingo bem passada com a família inteira.

Talvez um dia consigamos chegar a um modelo que reúna o melhor dos dois.

Gaspar

Luís Leite disse...

Caro Fernando Tenreiro,

Quando escrevo que o modelo americano é melhor que o europeu baseio-me nos seguintes aspectos:

1) Não existe modelo europeu. Existem inúmeros modelos europeus, uns mais eficazes que os outros;

2) Como já aqui afirmei várias vezes, a Europa nunca existiu; existem nações muito diferentes; existiu e fracassou um projecto europeu;

3) Portanto, não se pode dizer que a Europa ganha tantas medalhas como a China, a Rússia e os Estados Unidos somados; que eu saiba, a Europa nunca participou nuns Jogos Olímpicos;

4) O modelo americano existe, está harmoniosamente espalhado por todo o território e funciona; baseia-se na importância que é dada ao desporto nas escolas e universidades (High-School, College) e nas equipas das Ligas profissionais, que são verdadeiras mega-empresas;

5) O simples facto de os vencimentos de jogadores profissionais ser, na América, em média, incomparavelmente superior aos dos jogadores europeus tem um significado claro, que você menospreza, como se isso nada significasse; obviamente há muito mais dinheiro para gastar em jogadores e isso é sinal de quê?

6) Os dados que você encontrou na NET sobre clubes de Futebol, dizem respeito ao total de verbas envolvidas na actividade desses clubes, algo não comparável com os clubes americanos por falta de dados; portanto, são inconclusivos.

O objectivo deste meu post é mostrar a quem o leu que há mais vida para além do Futebol.
E no caso português, que o nosso Futebol vale muito pouco.
E está falido.

Fernando Tenreiro disse...

Pois, claro, os colleges e os dólares são fantásticos, quantos mais dólares melhor o sistema desportivo.

O Dr. Gilberto Madail diz que o Mundial 2018 em Portugal vai ser um grande negócio. Só não disse se era em dólares e nos Estados Unidos.

Se o Colectividade quiser postar sobre o bom trabalho e as imensas limitações do JOMA, do Real Massamá e de todos os outros clubes de bairro, que batem no duro para levar os miúdos ao estrelato e mantê-los no bom caminho, digam.

O Luís Leite nega a evidência da Europa e é inteiramente livre de o fazer.

Luís Leite disse...

Caro Fernando Tenreiro,

Não fique chateado e baralhado.
Eu analiso, com todo o respeito o que você escreveu, parágrafo a parágrafo:

1) Nos Estados Unidos há uns colleges que são melhores que outros, é verdade; acede-se aos melhores pelo mérito escolar, desportivo ou outros, através de candidaturas; por mérito;
os dólares não são fantásticos nem deixam de o ser, são notas de papel que têm um determinado falor fiduciário; obviamente que a quantidade de dinheiro disponível para o mercado do desporto é um sinal de vitalidade, nível superior e retorno financeiro desse mesmo desporto;

2) O Dr. Gilberto Madaíl não me parece que tenha nada a ver com isto; se quer saber, não simpatizo nada com esse senhor, que não me atrevo a qualificar aqui; mas se está lá é porque o puseram lá;

3) Não percebo o que é que a JOMA e o Real Massamá, etc., têm a ver com o sistema desportivo americano; será que você acha o nosso miserabilista sistema desportivo preferível ao americano?

4) Gostava de saber onde é que está a "evidência" da Europa; o que eu vejo é que existem 27 países completamente diferentes, com interesses diferentes e um mercado aberto que deu no que deu; e muita conversa sobre "direitos humanos preconceituosos, cegos, arrogantes" (Boaventura Sousa Santos dixit hoje mesmo); e muitos tachos que dão muito jeito a muita gente; nada mais.

Acha que eu sou livre de dizer o que penso por causa da virtual existência de "uma" Europa?
Olhe que não.

Cordialmente.

F. Oliveira disse...

O Fernando Tenreiro está carregado de razão.
O que o LL deve fazer clara assumpção é que não lhe interessa nada escrever sobre a Europa.
Estribado em quê se permite fazer, LL, a afirmação que:

"Em Portugal criou-se há muito a ideia de que o futebol é a modalidade com mais interesse a nível mundial e que movimenta mais dinheiro"

Luís Leite disse...

F Oliveira,

Você escreve "o Fernando Tenreiro está carregado de razão", mas não apresenta qualquer argumento.
Portanto, trata-se de uma afirmação gratuita.

Depois, acrescenta que a mim (LL) não me interessa escrever nada sobre a Europa.
O que você queria dizer é que a mim, confesso anti-europeista, não me interessa dizer bem desta "Europa".
Mas tenho escrito bastante sobre a Europa, para dizer mal, obviamente.

Finalmente, afirma (não pergunta, esqueceu-se do ponto de interrogação), num português sintaticamente incorrecto, "em que me estribo" (hipismo?) para ter escrito aquele primeiro parágrafo do meu post.
Eu respondo:
Qualquer pessoa com bom senso se apercebe de que o Futebol, em Portugal, por razões historico-culturais e falta de cultura desportiva, asfixia todas as outras modalidades.
O Futebol não tem culpa nenhuma. É um jogo como os outros, com as suas regras.
O problema está no uso que o Poder político sempre fez do Futebol, enquanto meio ideal para distrair as pessoas daquilo que é essencial.
Para tal, serve-se despudoradamente dos órgãos de comunicação social públicos e dá mais importância a uma modalidade, em detrimento das outras, quando devia ter uma posição neutra.

Fernando Tenreiro disse...

Caro Luís Leite

É habitual o Luís Leite subestimar o alcance das suas palavras, em áreas diferentes da sua profissão, e sobrestimar o valor do seu conhecimento e experiência universal.

Para prova do que digo, você nega o Modelo Europeu do Desporto e a potência de 300 medalhas sobre cem medalhas dos EUA.

A questão interessante em termos de modelos continentais era observar se o modelo Europeu aplicado aos Estados Unidos geraria neste o triplo das medalhas olímpicas.

Para si esta situação é impossivel porque os EUA são o nirvana. Como poderiam crescer três vezes?

Portugal não tem políticas desportivas para os clubes de bairro como têm outros países europeus e a indicação dos colleges é o paradigma de muito boa gente.

O Luís Leite não está sozinho e pôs-se a jeito ao tratar da questão que todos anseiam e não confessam o que lhes vai na alma.

Mas a situação é mais grave porque você vê a maravilha dos salarios estratosfericos e as finanças vêem que no desporto são riquissimos e devemos taxar e cortar subsídios. Assim como aparecem dirigentes a dizer que o projecto desportivo é um negócio. A perspectiva deste dirigente é errada nos domínios da ética, da política e da economia do desporto de Portugal.

Tem toda a razão eu estou muito confuso.

Mariana Cabral disse...

Não percebo onde é que Luís Leite quer chegar com este post.

Admiração provinciana pelas remunerações praticadas nos States?

Oportunidade de propaganda negativa quanto à eficácia do nosso sistema tributário?

Os tão modernos e avançados Estados Unidos são o mesmo país onde foi possível iniciar-se uma crise financeira mundial sem precedentes, por falta de fiscalização dos reguladores quanto ao funcionamento dos Bancos e da credibilidade de produtos que puseram à venda e infectaram todo o sistema financeiro mundial!

Não percebo esta admiração pacóvia pelos EUA.

Luís Leite disse...

Cara Mariana Cabral,

Não percebo o que é que tem a falha dos reguladores do sistema de fiscalização bancária (especulação financeira) a ver com o valor e a qualidade do sistema desportivo dos Estados Unidos.
Seja como for, a verdade é que o PIB dos USA e o peso da sua importância empresarial é de tal forma gigantesco, que quando acontece uma falha destas toda é economia mundial é contaminada.
Devo dizer-lhe que não apreciei que me chamasse provinciano (nasci em Lisboa e vivi sempre em Lisboa) e pacóvio (penso, logo existo).
Sou um livre pensador responsável e o meu limite é a honestidade intelectual.
Bem haja.

Luís Leite disse...

Caro Fernando Tenreiro,

O desporto é um negócio e, como tal, rege-se pelas regras de mercado.
Se isto lhe faz confusão é porque você tem preconceitos de génese marxista ou romântica que estão ultrapassados.
O Barão Pierre de Coubertain já morreu há 73 anos.

Fernando Tenreiro disse...

Luís Leite

Vou-lhe dizer o que dizem os livros de economia de desporto.

O Desporto não é um negócio.

Há segmentos do desporto que são negócio.

A maior parte do desporto das sociedades mais desenvolvidas não é um negócio, é associativismo e trabalho voluntário, é trabalhar com carenciados e não dão lucro.

O Mundial de Futebol não é um negócio é um projecto nacional cujo desígnio se relaciona com a imagem, o orgulho da população e do país perante o mundo e com o desenvolvimento do futebol e do desporto.

Alguns sectores económicos são beneficiados economicamente no seu negócio com a realização do Mundial.

Por exemplo: as empresas de obras públicas, publicidade, comunicação social, segurança, transportes, hotelaria e restauração, etc.

Ou seja, o seu objectivo é obter lucro líquido do projecto desportivo como teriam de outro projecto qualquer que suscite vendas e benefícios líquidos dos seus produtos não-desportivos.

As federações dos países mais desenvolvidos quando se candidatam aos mega-eventos tratam-no como um projecto de desenvolvimento próprio e nacional.

As federações são organizações sem finalidade lucrativa e o benefício que tiram é para reinvestir por exemplo na prática desportiva de base.

Depois existiu um antecedente ao Mundial que foi o Euro e partir daí e limpar o passado e dizer que há lucro, pode haver pessoas que não se sintam bem. Por exemplo, os habitantes e autarcas de Faro, Aveiro e Leiria.

Mais uma vez procuro demonstrar que você não mede as suas palavras ou o seu alcance.

Dizer que o desporto é um negócio é um erro e só o vejo a ser cometido em Portugal.

A literatura económica que trata a importância económica do desporto não o trata assim, nem a literatura económica dos mega-eventos.

O associativismo desportivo português para produzir o nível de produção de desporto dos países europeus necessita de financiamentos públicos e isso não se consegue com pessoas do desporto a tratarem o dinheiro público com falta de transparência de procedimentos e simultaneamente a vangloriarem-se do "negócio".

O desporto é mais, muito mais, do que um mero negócio lucrativo!

O desporto por ser cultura e civilização europeia, tratá-lo como um negócio é induzir as pessoas fora do desporto em falsas permissas que afinal prejudicam gravemente o desporto nacional.

Luís Leite disse...

Fernando Tenreiro,

Compreendo que você veja o Desporto apenas pelo lado da Economia do Desporto.
Eu também lhe digo que aquilo que vem nos "seus" livros de Economia do Desporto é apenas uma mera perspectiva tirada de um ponto de vista específico.

Eu tenho outras experiências, assim como cada um dos que nos lêem terão as suas.

Certamente todas diferentes.

Como sabe, o preconceito hipócrita do profissionalismo no desporto arrastou-se durante décadas e manteve-se, estranhamente, no apogeu da modernidade, até 1988, quando finalmente o COI (IOC) decidiu aceitar oficialmente a participação olímpica de profissionais.

Obviamente o desporto de alto nível sempre foi um espectáculo.
Sendo um espectáculo e havendo procura e interesse dos públicos, sendo bem gerido, é gerador de receitas.
O profissionalismo sempre existiu, mesmo em Portugal e em quase todas as modalidades. Encapotado.
Em Portugal, o desporto sempre deu prejuízo, porque se partiu do princípio, a seguir ao 25 de Abril, de que o desporto era um direito de todos e a sua prática gratuita.
Acontece que na vida nada é gratuito. Não há almoços grátis.
Foi a gratuitidade eleitoralista que nos deixou na situação em que estamos, nas finanças públicas.
E o crédito ao consumo deu no que deu nas finanças familiares.

O principal erro do nosso modelo desportivo é pensar-se de uma forma miserabilista no que respeita ao entendimento do desporto.
Nivelando por baixo.
Metendo no mesmo saco desporto de alto rendimento, desporto federado e desporto de lazer ou desporto saúde.
Não estimulando a procura do mérito, nem o valorizando suficientemente. Tal como no Ensino.

Os clubes pequenos e os carolas mais ou menos amadores não trabalham em vão. Todos correm atrás do sucesso. Desporto é competição, é vontade de ganhar.
A satisfação máxima de qualquer dirigente ou treinador de um clube pequeno é ver um seu desportista atingir o sucesso nacional e internacional.
Com o sucesso, vem o dinheiro.
Que pode ser pouco, muito ou uma fortuna, em função dos méritos, do esforço e da sorte.

O Desporto Português está inquinado de miserabilismo político-ideológico populista, fatalista e inclusivista, com raízes marxistas/social-democratas igualitárias.
Que co-habita, curiosamente, com grandes negociatas futebolísticas que são só para alguns e distorcem o mercado, levando os clubes de futebol à falência.
Que não sabe o que fazer com o sucesso (veja-se o tratamento que foi dado pela comunicação social aos títulos europeus de corta-mato), porque o sucesso é a antítese do igualitarismo, da mediocridade.

Assim, nunca passaremos de um país desportivamente periférico, inculto, agarrado auma futebolite feita quase exclusivamente de jogadores estrangeiros ou portugueses que jogam no estrangeiro e de oportunidades de "reforços sul-americanos".

Não acreditamos, como fez Mário Moniz Pereira fez em 1975 nos nossos recursos próprios e desbaratamo-los.
No Atletismo, pelo contrário, depois dele, muitos conseguiram o mais alto sucesso internacional. Atletas e treinadores. E não só. Porque sempre se acreditou que era possível e sempre se quis ganhar prestígio e dinheiro.

O nosso desporto é um desporto complexado e indexado a interesses políticos demagógicos e negociatas especiais para alguns, com a complacência dos políticos.
Que tende sempre para o miserabilismo.
Como você demonstra com os seus preconceitos.

Luís Leite disse...

P.S.

Os mega-eventos são um luxo para países ricos e dão sempre um enorme prejuízo financeiro.
Está mais que provado que a promoção turística (é um argumento falacioso) e o aumento de actividade económica durante uns dias não compensam, a não ser em casos especiais com uma dimensão relativamente reduzida e em que os nossos desportistas se batem pela vitória, perante o nosso público.
Atraindo jovens praticantes.

Kaiser Soze disse...

Se pensarmos em desporto na sua essência, os EUA não são exemplo para ninguém. A mentalidade não é, somente, de ganhar, mas de dog eat dog, como em tudo o resto.
Podemos gostar da mentalidade ou não, contudo, isto não é o fundamento do desporto.

Depois (e apesar de não ser este um argumento imediatamente económico mas mediatamente está por lá) é preciso desmistificar o carácter salutar e familiar do desporto americano (o Luís Leite fala nesse aspecto e, se olharmos meramente para as bancadas, será verdade mas, mais uma vez, os valores são o que são e não o que parecem ser).

Do conhecimento que possuo (assumindo que o vou adquirindo aos poucos e não fiz qualquer pesquisa), se pensarmos nos desportos colectivos da NHL, NBA e por aí fora, descobrimos que, por exemplo, o controlo anti doping é recente, nuns, ou inexistente, noutros. A título de exemplo, porque é o que me lembro, no basebol antes de 2003 os esteroides eram permitidos.

Ok, torna-os mais rápidos e mais fortes e aumentam as audiências mas isso tem muito pouco de familiar.

A finalizar, acredito que temos muito a aprender com os americanos tanto o que fazer como o que evitar, em igual medida.

Luís Leite disse...

Nós não temos nada a aprender com ninguém.
Não queremos.
Somos bonzinhos (não temos doping por causa do Luís Horta) e continuamos a fazer muita legislação desportiva que não é para cumprir, interessamo-nos (muito)por "reforços" sul-americanos para os 3 grandes, temos umas claques futeboleiras pacatas e que exprimem "a força do futebol" e o Governo quer toda a gente a fazer "caminhadas".
E ainda há para aí umas negociatazitas subsídio-dependentes para quem é esperto e se porta bem.
Chega perfeitamente.

F. Oliveira disse...

E temos uns 'chicos espertos' com a mania que sabem falar sobre dirigismo desportivo em Portugal...

Luís Leite disse...

F Oliveira (ou lá o que quer que seja):

Você é tão cobardolas, que nem é capaz de dizer que o "chico esperto com a mania, etc" sou eu...

Não tem vergonha?

Além disso, será que não posso (ou não devo?) ser convidado para dar a minha opinião, seja qual for o assunto?

Será que os organizadores têm que o consultar a si sobre quem convidar para falar sobre Dirigismo Desportivo?

O que você queria era que eu o insultasse e o apelidasse de "parvo" ou "idiota".

Mas isso eu não faço!
Não sou da sua laia!

F. Oliveira disse...

É o que me apelidou e é convencido.

Porque raio pensou que estava a escrever sobre si?

Picou-se porquê ?

Luís Leite disse...

Cobardolas. Ponto final.

O ANÓNIMO MAIS DO QUE VERDADEIRO disse...

O LL faz-me lembrar aqueles anarcas que, nos idos de 1975, garatujavam furiosamente pelas paredes: "Deus é parvo!".

Ora, como se sabe, Deus não dorme. E, um belo dia, lá estava a resposta: "Parvo és tu! a) Deus."

Kaiser Soze disse...

Portugal é pródigo em desconhecer a sua pequenez quando o deveria fazer e galvaniza-la quando não deve.
Se o caso é, por exemplo, as exigências externas que nos fazem (feitas por aqueles a quem devemos dinheiro e por aqueles contra os quais nada podemos...porque somos relativamente - no mínimo - insignificantes) somos enormes e deviamos fazer-lhes frente.
Se o caso é, por exemplo, a falta de competitividade, aí somos pequenos demais para ela e precisamos (?) de monopólios como a EDP e afins.

Não podemos ser demasiado pequenos para umas coisas e pretensamente enormes para outras, somos o que somos...contudo, ao que parece, só nós temos problemas com antidopagem e só nós aprovamos leis para não cumprir.

Às vezes seria de toda a utilidade um pouco de noção de onde pisamos e do que dizemos.