quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Quando a ausência de decisões e de sinais são os melhores sinais

Quase a terminar o ano de 2011, constatamos que um conjunto de decisões relacionadas com a prática e a gestão desportiva foram e vão continuadamente sendo adiadas. Para lá da necessidade dessas decisões, é importante referir que existiram afirmações públicas que essas mesmas decisões iriam acontecer ainda durante 2011.

Muitos cenários podem ser levantados e até fundamentados com maior ou menor rigor, mas não deixa de ser um sinal claro que a ausência de respostas, sinais ou decisões levantam algumas questões sobre a prioridade que os assuntos desportivos vão assumindo actualmente. Ou supostamente podem retractar a complexidade e o impacto que as decisões poderão proporcionar para todas as organizações relacionadas directa ou indirectamente com o fenómeno desportivo.

O silêncio vai imperando e se é verdade que podemos estar todos a ‘remar’ para que existam condições para conseguir tomar as melhores decisões, também não deixa de ser verdade que alguns dos projectos, participantes, parceiros ou objectivos já foram distorcidos, perdidos e a contextualização foi bastante alterada para lá da crise financeira, económica e social.

Creio que a ausência de sinais se enquadra mais no campo do fenómeno desportivo não ser encarado como uma das principais prioridades (ou secundárias…) governamentais do que estarem a fazer o máximo de esforços para que as decisões sejam as melhores possíveis (e para quem?). É preocupante que a comunicação seja quase nula e acima de tudo, quando existe, seja pouco clara e concreta, proporcionando um ruído que em nada beneficia a planificação de qualquer ano ou actividade desportiva. Assegura-se a quem menos precisa em termos de apoio e que mais visibilidade tem, e deixa-se ir desfalecendo aos poucos quem apenas foi conseguindo sobreviver e, durante anos a fio, garantiu a real oferta desportiva às crianças e aos jovens.

Vivemos num contexto onde qualquer solicitação de informação é considerada uma afronta a quem decide. E por isso, qualquer demonstração pública para sabermos de facto que interpretação haveremos de ‘ligar’ aos sinais (in)existentes proporciona pouco mais do que ruído a somar ao já existente.

É urgente decidir. Prefere-se ir adiando a decisão com a esperança de que a decisão irá doer menos pelos esforços que estão a ser feitos? E quais esforços e quais os indicadores e factores críticos que estão a ser levados em conta? A ideia - não contabilizada ou quantificada - é que algumas entidades foram forçadas a desistir, terminar ou ir para outros campos de acção. E isto agradará a quem decidirá? No meu ponto de vista, sim…

5 comentários:

Anónimo disse...

A verdade é que, no actual contexto financeiro em que o país se encontra, de risco eminente de incumprimento das exigências da "troika", o Desporto não só não é sequer secundário, como não existe enquanto preocupação política governamental.
E é normal que seja assim...
Quem é que se vai preocupar com estratégias de desenvolvimento desportivo, num país que corre o risco de não poder pagar ordenados e pensões daqui a uns meses e corre alegremente para a pobreza sem ter soluções para pagar as suas dívidas, estando dependente das esmolas e simpatia provenientes algures do exterior???

Rui Lança disse...

Caro Anaónimo, obrigado pelo comentário. Concordaria consigo. Aliás, concordo em boa parte. Mas na verdade continuam-se a constituir comissões, grupos de trabalho para decidir algo relacionado directa e indirectamente com o desporto. Ainda hoje se noticiava outro grupo de trabalho.

Se houvesse essa tal preocupação que afirma, mesmo assim, eu considero sempre que a actividade desportiva pode e deve ser considerada um investimento. E aqui não se trata de ter uma preocupação nova, trata-se de aplicar melhor o pouco dinheiro que afirmamos ter.

AM disse...

A propósito do artigo e do comentário do Anónimo das 11:07, parece que hoje alguém se mostrou 'vivo'.

http://www.record.xl.pt/Futebol/interior.aspx?content_id=733392

A profissionalização dos árbitros, a proteção dos jovens atletas nacionais e a criação de um novo tipo de sociedade desportiva são as principais recomendações apresentadas ao Governo por três grupos de trabalho.

O futebol é a modalidade mais visada, embora a cerimónia de apresentação das conclusões dos três grupos de trabalho, realizada esta quarta-feira no Centro de Medicina Desportiva, em Lisboa, tenha contado com a presença de representantes de dezena e meia das principais federações desportivas nacionais.

A profissionalização dos árbitros colheu a "unanimidade" dos elementos de grupo de trabalho coordenado por João Leal Amado, que defende o recurso a "contratos de trabalho" entre os juízes e as respetivas federações que respeitem a "especificidade de cada modalidade".

"Sim à profissionalização, começando pelo futebol, com contrato de trabalho", referiu o coordenador do grupo de trabalho, que não considera fundamental "criar já uma lei", embora defenda a existência de um "regime jurídico da arbitragem".

Na defesa dos jovens praticantes, destaque para a recomendação do grupo de trabalho coordenado por José Luís Arnaut para a atribuição de "incentivos fiscais" aos clubes que contratem jogadores nacionais e da existência de "critérios rigorosos" na contratação de estrangeiros com base nas suas internacionalizações.

O grupo liderado pelo atual presidente da Assembleia-Geral da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) sugere também a criação de uma entidade que controle os fluxos financeiros das transferências de futebolistas.

Arnaut também mencionou a possibilidade de vir a ser criado um "cheque de formação para jogadores carenciados", um novo "estatuto de carreira" que distinga os praticantes profissionais, semiprofissionais e amadores, a regulamentação da atividade dos empresários e a elaboração de uma "carta desportiva" que permita ao Estado conhecer todo o património de instalações existentes no país.

Estes pontos constam das 29 recomendações endereçadas ao Governo, que visam reduzir o peso da falange de jogadores estrangeiros nos clubes nacionais, que em alguns planteis chega a ultrapassar os 80 por cento.

O terceiro grupo de trabalho defende a criação de um novo tipo de sociedade desportiva (Sociedade Desportiva Unipessoal por Quotas) em paralelo com as atuais SAD, que coloque em "pé de igualdade" todas as entidades que disputam competições profissionais.

O grupo, coordenado por Paulo Olavo e Cunha, considera que os clubes deverão poder optar por um dos dois regimes jurídicos e defende que esta medida produzirá um "gradual desinvestimento das autarquias no capital social" das entidades desportivas.

Os três grupos de trabalho contaram com a colaboração do Comité Olímpico de Portugal, da Confederação do Desporto de Portugal, da FPF, Liga de clubes e do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol.

Anónimo disse...

Obviamente que eu, anónimo das 11:07 não me estava a referir ao Futebol.
O Futebol é um caso à parte, que merece toda a atenção do Governo.
Até porque as pessoas se alimentam de Futebol...
O que é realmente estranho é terem lá estado representantes de outras modalidades...
Quanto ao COP e à CDP, estão sempre presentes, mas na prática não existem no mundo real.
Existem sim no mundo virtual...

Anónimo disse...

É sempre divertido assistir à presença das federaçõezinhas nos grandes encontros proporcionados pelo governo para apresentar comissões, relatórios de comissões, decretos-lei etc etc que só têm a ver com a "grande federação" do "grande futebol". A sua presença não passa de um puro acto de masoquismo. Claro que o indispensável papel de sádico pertence ao estado/governo. O chicote governamental estala nas costas destes pobres organismos e ninguém protesta, até gostam e agradecem o convite. De relance até conseguem ser vistos lá nos fundos das imagens televisivas.Até ficam bem na fotografia. Continuem assim.