O desporto deve tratar de igual modo homens e mulheres. Só o pode fazer se respeitar as diferenças.A análise da história e sobretudo dos diferentes sistemas de organização social, revela-nos que não é fácil. Razão pela qual o problema da igualdade entre homens e mulheres ter sido, recorrentemente, abordado ao longo dos séculos. No domínio da política, da religião, da economia, da sociologia. O que revela a importância do tema e simultaneamente a sua complexidade. E o desporto não ficou de fora.
Um post recente da Maria José Carvalho para além da oportunidade que revelou teve o mérito de abrir um debate importante. É que o direito das mulheres ao desporto está hoje carregado de outros direitos que o desporto deve acolher na sua singularidade. Nos tempos actuais já não estamos apenas perante um propósito de igualdade de direitos entre sexos que são diferentes, mas entre géneros onde as diferenças não são as mesmas. A alteração semântica não é neutra. Ela acentua a passagem da diferença biológica para a diferença social. E resulta da pressão de movimentos de características diversas, mas muito por força dos movimentos feministas, para quem o género é construído socialmente, independentemente da base biológica. Simone de Beauvoir (O Segundo Sexo), utilizou uma expressão emblemática quando escreveu que ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Com o conceito de género o que se pretende acolher não é apenas o masculino/feminino, mas as representações sociais quer de um, quer de outro, onde, no limite, se podem abrigar, até, diferentes sexualidades e papéis sociais, incluindo na composição da célula familiar e dos diferentes papéis sociais no seu interior (p.e. um homem ser mãe ou uma mulher ser pai…).
A organização de competições desportivas em função da orientação sexual é apenas uma manifestação extrema destes novos tempos, mas cujo futuro ninguém pode, em bom rigor, adivinhar. E a mimetização de comportamentos e vestuário masculinos em algumas modalidades praticadas por mulheres ou os tratamentos de rosto e os modos amaneirados em alguns homens, em modalidades tradicionalmente femininas, demonstram esse facto. Na estética das modalidades verifica-se mesmo que na sua dimensão feminina algumas acentuaram essa feminização enquanto outras optaram por se masculinizar. E no domínio do espectáculo desportivo, palco de signos e valorações simbólicas do corpo em exercício, as metamorfoses masculino/feminino ou vice -versa tem óbvias leituras de conformação/desconformação aos arquétipos e aos padrões sociais dominantes. Podemos deles discordar. Mas não temos como os evitar.
Este modo de abordar o problema não é pacífico. Em alguns círculos de opinião termos como feminizar ou masculinizar suscitam muitas controvérsias porque decorrentes de padrões civilizacionais que foram socialmente moldados. Por outro lado, muito deste debate é feito como posições de grande conflitualidade e onde abundam perspectivas radicais quer de homofobia, quer de misogenia.
Mas o desporto tem uma outra singularidade: é, contrariamente à generalidade das práticas sociais em que participam ambos os sexos (ou géneros?), uma dimensão que, para a sua realização/avaliação, mantém competições e classificações em que os separa. O que é a evidência de uma igualdade com diferenças muito por força do reconhecimento de que, no plano biológico, fisiológico e motor existem diferenças que têm de ser levadas em linha de conta. Mesmo quando, convém reconhecê-lo, a evolução filogenética, social e comportamental das mulheres tenha vindo ao longo dos tempos a reduzir o impacto dessas diferenças no rendimento desportivo.
O direito ao desporto foi um direito tardio e que não acompanhou os restantes direitos cívicos e políticos. Nos tempos actuais o princípio da igualdade de ambos os sexos no uso desse direito não suscita qualquer controvérsia, mas importa ter presente que os Jogos da Antiguidade eram interditos a mulheres, e que, nas primeiras edições dos Jogos Olímpicos da Era Moderna as mulheres foram proibidas de participar. E este último tempo histórico é, apesar de tudo, recente.
A ligação da prática do desporto à promoção dos direitos das pessoas, incluindo as mulheres, obriga a recolocar valores, conteúdos éticos e educativos do desporto à luz do que tem sido o seu desenvolvimento social nos últimos anos. Não pedindo ou esperando do desporto, aquilo que isoladamente não está em condições de dar - uma sociedade mais igualitária entre homens e mulheres - mas pedindo e esperando que dê o seu contributo no que são as suas possibilidades. E que são ainda bastantes.
Um post recente da Maria José Carvalho para além da oportunidade que revelou teve o mérito de abrir um debate importante. É que o direito das mulheres ao desporto está hoje carregado de outros direitos que o desporto deve acolher na sua singularidade. Nos tempos actuais já não estamos apenas perante um propósito de igualdade de direitos entre sexos que são diferentes, mas entre géneros onde as diferenças não são as mesmas. A alteração semântica não é neutra. Ela acentua a passagem da diferença biológica para a diferença social. E resulta da pressão de movimentos de características diversas, mas muito por força dos movimentos feministas, para quem o género é construído socialmente, independentemente da base biológica. Simone de Beauvoir (O Segundo Sexo), utilizou uma expressão emblemática quando escreveu que ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Com o conceito de género o que se pretende acolher não é apenas o masculino/feminino, mas as representações sociais quer de um, quer de outro, onde, no limite, se podem abrigar, até, diferentes sexualidades e papéis sociais, incluindo na composição da célula familiar e dos diferentes papéis sociais no seu interior (p.e. um homem ser mãe ou uma mulher ser pai…).
A organização de competições desportivas em função da orientação sexual é apenas uma manifestação extrema destes novos tempos, mas cujo futuro ninguém pode, em bom rigor, adivinhar. E a mimetização de comportamentos e vestuário masculinos em algumas modalidades praticadas por mulheres ou os tratamentos de rosto e os modos amaneirados em alguns homens, em modalidades tradicionalmente femininas, demonstram esse facto. Na estética das modalidades verifica-se mesmo que na sua dimensão feminina algumas acentuaram essa feminização enquanto outras optaram por se masculinizar. E no domínio do espectáculo desportivo, palco de signos e valorações simbólicas do corpo em exercício, as metamorfoses masculino/feminino ou vice -versa tem óbvias leituras de conformação/desconformação aos arquétipos e aos padrões sociais dominantes. Podemos deles discordar. Mas não temos como os evitar.
Este modo de abordar o problema não é pacífico. Em alguns círculos de opinião termos como feminizar ou masculinizar suscitam muitas controvérsias porque decorrentes de padrões civilizacionais que foram socialmente moldados. Por outro lado, muito deste debate é feito como posições de grande conflitualidade e onde abundam perspectivas radicais quer de homofobia, quer de misogenia.
Mas o desporto tem uma outra singularidade: é, contrariamente à generalidade das práticas sociais em que participam ambos os sexos (ou géneros?), uma dimensão que, para a sua realização/avaliação, mantém competições e classificações em que os separa. O que é a evidência de uma igualdade com diferenças muito por força do reconhecimento de que, no plano biológico, fisiológico e motor existem diferenças que têm de ser levadas em linha de conta. Mesmo quando, convém reconhecê-lo, a evolução filogenética, social e comportamental das mulheres tenha vindo ao longo dos tempos a reduzir o impacto dessas diferenças no rendimento desportivo.
O direito ao desporto foi um direito tardio e que não acompanhou os restantes direitos cívicos e políticos. Nos tempos actuais o princípio da igualdade de ambos os sexos no uso desse direito não suscita qualquer controvérsia, mas importa ter presente que os Jogos da Antiguidade eram interditos a mulheres, e que, nas primeiras edições dos Jogos Olímpicos da Era Moderna as mulheres foram proibidas de participar. E este último tempo histórico é, apesar de tudo, recente.
A ligação da prática do desporto à promoção dos direitos das pessoas, incluindo as mulheres, obriga a recolocar valores, conteúdos éticos e educativos do desporto à luz do que tem sido o seu desenvolvimento social nos últimos anos. Não pedindo ou esperando do desporto, aquilo que isoladamente não está em condições de dar - uma sociedade mais igualitária entre homens e mulheres - mas pedindo e esperando que dê o seu contributo no que são as suas possibilidades. E que são ainda bastantes.
17 comentários:
O problema é de uma grande agudeza e tem de ser tratado muito friamente, como numa investigação científica.
Aí reside a dificuldade porque, de cada vez que me defronto com a discussão, leitura, ou abordagem do tema, fica-me a sensação de que, quanto mais se fala nesta muito sensível defesa temática de um dos géneros, mais se acentua a diferença pelo relevo que se lhe dá.
É esse o efeito perverso, pelo que o discurso tem de encontrar, não o sinal de Deus, como no CERN,mas o sinal certo de abordar o tema para fugir ao efeito perverso.
Ou seja fugir do "iguais na diferença e diferentes na igualdade", porque a banalização retira-lhe eficácia, e o alcance que se pretende morre à nascença.
Quando se aborda esta temática é como entrar num labirinto, onde os percursos se multiplicam de tal forma que acabamos por nos desorientarmos, e dificultarmos a saída.
Mas fique a coragem de, uma vez mais, entrar no eterno labirinto.
O texto de José Manuel Constantino é cuidadoso mas sábio.
E de tal forma interessante, que me obriga a sair, por uma vez, do anonimato a que me devotei.
É (o texto) revelador de uma evolução dos costumes que nos deixou agora no patamar da complexidade absoluta.
Quando os papéis sexuais e sociais do homem e da mulher, apesar das inevitáveis diferenças de género, já não são clara e simplesmente identificáveis pela própria sociedade, como tratar estes assuntos de forma linear?
Quanto ao igualitarismo socialista/social-democrata, não convence, está fora de moda.
Faliu.
O que está e estará "in" é o direito à diferença.
E o direito à diferença pelo mérito, porque nada foi, é, nem poderá ser nunca "igual".
Foi o mérito que fez com que a História da Humanidade evoluísse do Paleolítico Superior até à Era Moderna.
De então para cá, julgo que as coisas se estão a complicar, dada a tendência para a inversão e subversão dos valores éticos e morais que, historicamente, sempre acabaram por prevalecer.
Nas últimas três décadas, entrámos numa nova era (Post-Modern/Techno/WEB), a qual está a enformar uma inesperada recessão cultural, em que o nivelamento por baixo, resultante da massificação socializante, imperou.
O que nos reservarão as próximas décadas em "modo globalizado"?
Não estou o(p)timista, apenas estou certo de que os "melhores" irão prevalecer, como sempre...
Caro JMC,
Que bom seria se a maioria dos homens do nosso desporto lessem e meditassem sobre o que escreveu. Bem sei que pode entrar ainda mais profundamente no "eterno labirinto", principalmente no domínio das opções políticas que deviam nortear os decisores públicos e privados do nosso desporto, e por isso o desafio para tal, pois estas questões se apenas forem encaradas pelas mulheres nem nos tempos dos nossos netos se constatarão significativas alterações.
Ainda hoje, no regresso de uma reunião em Lisboa, sem saber que iria acabar o dia a ler o que o JMC tinha escrito, refleti, com os meus botões, acerca da intervenção das mulheres em domínios culturalmente destinados e assumidos por homens. E não tenho dúvidas, ou os homens, sem perder o seu espaço, permitem igualmente que as mulheres exerçam e desenvolvam as suas competências com vista a uma melhor sociedade ou ficaremos todos mais empobrecidos.
Aguardo com esperança que volte ao tema em questão, inclusive para estimular outros pensamentos e outros autores para diferentes abordagens.
Um bjinho natalicio.
O Desporto não é apanágio do HOMEM! É sim do Homem e da Mulher!
Por isso mesmo o Desporto não deve tratar de maneiras diferentes ambos os géneros... nem a Comunicação Social!
Tratamentos diferentes "mais acentuam a diferença" quando não há diferenças - há semelhanças desiguais.
Parece-me ouvir Caillat: “os animais «jogam» mas não é por isso que fazem desporto”.
Fugindo ao tema, é com alegria que vejo os comentadores todos identificados!!!!
Um abraço a todos e votos de boa Quadra Natalícia!
Caro Armando Inocentes:
Desculpe voltar a discordar de si, mas o desporto não é "apanágio".
Apanágio significa "atributo", "característica", "condição".
E desporto não é nada disso.
Só faz desporto quem quer e quem gosta.
O desporto não é uma actividade natural a que os homens (e as mulheres) não possam fugir por ser a sua condição natural e inevitável.
A movimentação física sim, é própria de todos os animais, faz a diferença entre a vida e a morte...
Mas é verdade que os homens e as mulheres são os únicos animais que fazem desporto de forma consciente.
Só que a consciência, por implicar responsabilidade nos actos, é exclusiva da espécie humana.
O desporto foi, é e será sempre uma opção individual.
Pelo interesse despertado pelo tema propõe-se a leitura do manuscrito de Conceição Nogueira, com o título Feminismo e Discurso do Género na psicologia Social.
Para uma visão entre o pensamento do século XIX, mais precisamente de 1833, e o do que por ora se vai tornando corrente, sugere-se uma leitura integral do texto de Mary Wollstonecraft, A Vindication of the Rights of Woman.
E para quem tiver tempo e disposição, a leitura de outro tomo, com a fotografia de Mary
Wollstonecraft, onde o autor, William Godwin, retrata as Memoirs of the author of a vindication of the rights of woman, uma segunda edição de 1798.
Feliz Natal e Melhor Ano Novo, a todos os autores dos postes bem como a todos os comentadores que vivificam este blog.
Anónimo das 18.54
"O desporto foi, é e será sempre uma opção individual"
Julgo que não é o desporto que é a opção mas sim a sua prática.
Julgo que o que quis dizer é que o desporto é uma opção, para uns de prática, para outros de simples contemplação.
Isso é verdade, com uma única excepção, a saber: os alunos que frequentam o ensino público e privado obrigatório. O curriculum escolar tem uma natureza desportiva que não é opcional. Também não há nele qualquer discriminação de género. Ou há?
"E de tal forma interessante, que me obriga a sair, por uma vez, do anonimato a que me devotei."
Você devotou-se ao anonimato?! Devotou-se?
Arranje lá outro termo para esclarecer a sua devoção ao anonimato. Ou foi mesmo por devoção. Eu cá não, foi mesmo por medo e cobardia.
Só um texto de JMConstantino poderia alcançar tal feito; afastar alguém da sua devoção. Obrigado JMConstantino.
Anónimo das 16.38h e 16.53h:
O desporto é, tal como a caça, uma opção.
De prática, de contemplação, de pensamento, de turismo, de alienação, etc.
O ser opção, significa que as pessoas estão ou não interessadas. Muito, assim-assim, pouco ou nada.
Só não é opção nos 2º e 3º ciclos do ensino básico e secundário, obviamente com uma componente essencialmente educativa, formativa.
Onde não existe qualquer discriminação de género.
Quanto ao anonimato e como não sou religioso, devoto-me a tudo aquilo que entendo, com excepção da religião.
E você não tem nada com isso.
Ao contrário de si, não sou cobarde.
Apenas gosto de jogar, seja com quem for, com cartas do mesmo baralho.
Ou, se preferir, usando as mesmas regras, em igualdade de condições.
Para uma leitura mais próxima do tema associado “desporto e mulher” o blog Osez le Féminisme” abordou-o no seu acessível Journal n.º 12, a pp 4 e seguintes.
Nos “Proceedings of the International Symposium” realizado no Québec, no decurso de 21-25 maio de 1990, apresentaram-se vários trabalhos subordinados ao tema a mulher e o desporto, em dois sub-temas, “L’Olympisme, la femme et le sport”, com três comunicações a pp 367 a 412; e “Le bjeu, le sport pour tous, le sport d’élite et olympique, et la construction sociale des sexes”, também com três comunicações cobrindo as pp 413 a 444. Por causa dos direitos de autor algumas páginas aparecem cortadas, mas, pela leitura delas podem as pessoas motivarem-se e acederem nas bibliotecas, ou da Lapa, do actual Instituto da Juventude e Desporto, ou na FMH, ou na Universidade do Desporto, do Porto.
Sinceramente, não sei qual é a pior cobardia. Assumir o anonimato, consequente, desde princípio ou, pelo contrário, ter um anonimato intermitente. Assim: agora quero ser mais truculento e dar umas borduadas em alguém que está a ser chato assumo o anonimato, mais logo quero brilhar com uma "opinião de fundo" sobre um tema/texto especialmente interessante e bem escrito como o último de JMC, identifico-me e mostro o meu nome. O que você não percebe é que eu me estou borrifando para quem você é ou deixou de ser ou não quer voltar a ser. Se não gosto das suas ideias reajo e digo-lhe o que tenho a dizer e da forma que me ocorre e de que sou capaz. Os meus argumentos ou posições deveriam ter exactamente o mesmo peso de outros argumentos expedidos por não-anónimos. Não quero brilhar nem ser simpático ou desagradável com ninguém. Se forem desagradáveis para mim, paciência.
Se um anónimo, ou um não anónimo, afirma que o nível desportivo de um país se mede exclusivamente pelo número de medalhas olímpicas ou pelo racio população/medalhas eu reajo. Se me diz que não há discriminação de género ou de sexo no desporto português, alegando que onde há qualidade não há discriminação eu irrito-me e reajo. Se me dizem que o desporto português está pejado de gente corrupta, malipuladora mal intencionada, desonesta etc. etc., reajo e tento "ir-lhes aos fagotes" da melhor maneira que me for possível.O desporto português está pejado de gente boa que, no dia a dia,muito têm contribuido com resultados de qualidade para outros, como eu e, certamente, como você se deliciarem. Muita gente boa tem lutado para que o nosso povo, através do desporto,seja cada menos discriminado, pelo género ou pela sorte ou azar de cair no alcatruz errado/certo da roda da fortuna.
Quando me vêm com a treta da liberdade de escolha, do liberalismo e da qualidade a que todos devem almejar, mesmo aqueles que cairam no lado errado das estatísticas sociais ou económicas, eu reajo.
Perceba apenas este facto: enquanto alguns, anónimos ou não, se entretêm, aqui, a reflectir, redigir, brilhar, ou não, com as suas ideias ou com as citações que encontraram no google ou noutro sitio qualquer, lá fora, o mundo "pula e avança" como diria o poeta.Lá fora anda muita gente do desporto, humilde, a carregar miúdos (e miúdas) de um lado para o outro, com todas as dificuldades imagináveis, para que tenham acesso à prática desportiva. Isto também é desporto. É e será sempre através desta gente que o nosso valor desportivo irá aumentar e que a discriminação irá minguar.
Um bom Natal para todos, anónimos e não-anónimos.
Para os estatísticos o que se conhece da França, em números, sobre a France - List of Women Champions and Runners-Up.
E, de França, não só.
No blog “Au Féminin” também se pergunta se Existe t-il une spécificité féminine dans le sport?, e se dão as respostas.
Para os que não gostam do futebol, em geral, e do futebol feminino, em especial – para se obrigar a falar os que não gostam - a encyclopédie.snyke.com oferece um sumário da cronologia dos inícios do futebol feminino francês até 1970, e documentação vária.
Anónimo das 18.57h:
Quanto ao anonimato, se você "não sabe..." veja lá se passa a saber. Assim não dá...
O seu problema, ao contrário de outros anónimos, é que você não apresenta argumentos.
Limita-se a "reagir" ao que não gosta de ler, porque vão contra as suas "convicções".
É pouco.
A única "novidade" que nos traz é a de que, "lá fora (?) anda muita gente, humilde a carregar miúdos, de um lado para o outro, com todas as dificuldades imagináveis (?), para que tenham acesso à prática desportiva".
E depois remata:
"É e será sempre através desta gente que o nosso valor desportivo irá aumentar e que a discriminação irá minguar".
E eu digo-lhe: o nosso valor desportivo aumenta ou diminui em função dos resultados apresentados no alto rendimento (Os Jogos Olímpicos e os Campeonatos do Mundo são o melhor barómetro) e não na quantidade de praticantes.
Essa ideia de que toda a gente devia fazer desporto é um disparate.
Nem os marxistas leninistas ou mesmo estalinistas nem o III Reich foram tão longe.
Quanto à discriminação de género, não há discriminação nenhuma em Portugal.
A discriminação de género existe em países muçulmanos e em países do terceiro mundo.
Na Europa, está erradicada há muito.
O que existe, quer você queira, quer não, é um mercado.
Para além da função formativa, no ensino básico, o desporto é uma actividade como outra qualquer e só faz quem gosta e quer.
Uns mais a brincar, outros mais a sério.
Você prefere a quantidade à qualidade.
Eu prefiro a qualidade à quantidade.
É a indiferença, politicamente correcta, entre a valorização da mediocridade e a valorização do mérito que nos
deixou nos estado em que estamos. Tanto no ensino como no desporto.
Bom Natal!
Ao anónimo das 10:10
Se você é o anónimo que quando não o é é simpatizante dessa grande modalidade que é o atletismo com os resultados magníficos de que todos nos orgulhamos, repito se você é esse anónimo diga-me por que mãos começaram os nossos campeões a praticar atletismo. Foi logo pelo treinador que os levaram aos podios dos jogos olímpicos? O que seria desses nossos campeões se não tivessem tido a sorte de encontrar as tais pessoas humildes, com pouco conhecimento técnico, mas com uma dedicação infinita aos jovens, sem olharem ao talento ou a qualquer outro estatuto? A treta do mercado não passa disso mesmo, uma treta. Neste nível de prática não há mercado. Há paixão e dedicação. É também esta gente humilde que tem contribuido para reduzir a discriminação na nossa sociedade.
Pense-se num dia dedicado a estes voluntários.
Sem eles há mercado mas não há desporto. Aquilo que você diz são lérias. Você tem um discurso de elite que desconsidera totalmente aqueles que estão na base da pirâmide. São lérias quando fala na massificação, no marxismo e tretas quejandas. Nunca lhe disse nada sobre querer que todos pratiquem desporto. O atleta de sucesso tem um percurso que não começou onde acaba. A excelência começa quase sempre no anonimato do pequeno clube. Se não derem atenção a este pequeno pormenor não há medalhas para ninguém. Cuide-se destes níveis de prática e apliquem-se despois as leis de mercado de que você tanto gosta e tanto defende. É esta uma das minhas propostas práticas. Qual é a sua?
Anónimo das 15:08h
A formação inicial, em Portugal, tanto é feita nos pequenos, médios e grandes clubes como na Escola pública e privada.
A tendência, em Portugal, nos últimos anos, tem sido, cada vez mais, a detecção de talentos nas escolas, por professores de Educação Física.
E depois funciona o Mercado.
Nos Estados Unidos, a ideia de clube está associada à profissionalização e os talentos revelam-se nas High Schools e depois nos Colleges, onde os melhores entre os melhores depois são recrutados, para seguirem a via profissional.
A tradição portuguesa miserabilista do pequeno clube de bairro, com um carola amador e sem treinadores com formação ainda existe, mas tende a acabar.
Fazia sentido quando não havia escolaridade obrigatória até aos 15 anos (agora até aos 18 anos).
Não digo que os clubes pequenos devam desaparecer.
Digo que a tendência, nas vilas e cidades, será fundirem-se em novos clubes com maior dimensão, representativos dos Concelhos, mais organizados e mais profissionalizados.
E mais ligados ao mercado, capazes de conseguir maiores apoios e patrocínios.
Questões de economia de escala, que também permitirão uma utilização mais adequada das instalações desportivas municipais.
O discurso pobrezinho, coitadinho, miserável, amador, dos carolas já não pertence a este tempo.
O desporto português tem hoje milhares de jovens licenciados em Educação Física e Gestão do Desporto que não têm trabalho.
Em conferências que tenho feito, tenho defendido a profissionalização do dirigismo desportivo e tenho apontado o amadorismo como causa principal do nosso atraso desportivo.
Sei que muita gente não me compreende, mas basta olhar para os países mais evoluídos e copiar...
Quando realizar a sua próxima conferência não se esqueça de a anunciar. Estarei presente. Seria um momento incontornável ouvir alguém apresentar as grandes tendências do desporto mundial e do desporto doméstico. Um momento inolvidável seria concerteza o anúncio das suas grandes medidas para o desporto nacional. Todas elas de vanguarda.
Os pequenos clubes de bairro entraram em desuso. Fundam-se com os grandes. O amadorismo é analfabeto, assim como o voluntariado.Profissionalize-se essa rapaziada toda. Professores e gestores desempregados "aos seus lugares".Escolaridade obrigatória até aos 18 anos, escolas a detectar talentos, desporto juvenil fora dos clubes (porque seria redundante).
Obviamente o ramalhete não estaria compostinho sem a profissionalização dos dirigentes. Aí, as medidas atingiriam o seu zénite. Tudo isto porque o amodorismo é a principal causa do nosso atraso desportivo.
Conclusão óbvia:ninguém o entende porque você está muito à frente deste pelotão de analfabetos. Você sabe o que se faz lá fora. Que pesporrência nunca vista.
É pena você não citar exemplos de países ocidentais, não comunistas, onde essas tendências se verifiquem. Fusões de clubes, desaparecimento dos pequenos clubes, redução ou desaparecimento do voluntariado, profissionalização dos dirigentes, tudo isto deve, já, estar em marcha num planeta perto de si. Indique-me o caminho. Por um momento, curto que seja, segui-lo-ei como o meu Messias.
O anónimo das 23.46h não percebe nem quer perceber.
Não está habituado nem preparado para ler ou ouvir ideias que fujam completamente da tradição politico-desportiva espantosamente eficaz, que nos deixa, na Europa, apenas à frente da Albânia e dos micro-estados.
Tudo quanto não seja pobrezinho, atrasadinho, mediocrezinho, é ser de outro planeta.
Os Estados Unidos estão, desportivamente, noutro planeta?
Defender as regras de Mercado é uma ideia de fora da Via Láctea?
Pertencer a este planeta desportivo em 2011 é previlegiar os carolas, amadores e voluntários já velhotes, desprezando e condenando ao desemprego os jovens com formação?
Bem, se a ideia é mesmo continuarmos na cauda da Europa deste planeta desportivo basta continuarmos assim.
Organizem-se pois muitas mais caminhadas e mini-maratonas (???!!!) e travessias das pontes a pé, devagarinho, com uns malucos quenianos de ambos os sexos, pagos a peso de ouro, a correr desalmadamente à frente!
Com medalhas e diplomas para todos os que consigam a proeza de chegar ao fim. Ou mesmo que não cheguem ao fim. Sem discriminações!
Todos (todas) são igualmente bons (boas) desportistas!
Londres 2012 encarregar-se-á de mostrar o que vale o nosso desporto.
Discriminando e distinguindo os melhores dos piores.
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