sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Votos para 2012 - Projecto "O Jogo das Raparigas"

Ao reler o pensamento de Albert Einstein, “Insanidade é fazer sempre as mesmas coisas , esperando resultados diferentes”, veio-me à memória quem afirma que não existe discriminação e desigualdade de oportunidades entre mulheres e homens, ou raparigas e rapazes no desporto e na educação física em Portugal, e se escuda apenas na mentalidades e na cultura predominantes para justificar os níveis que a todos envergonham da participação desportiva feminina. E claro está, perpetuando-se as mesmas mentalidades e culturas não esperemos resultados diferentes. Para os irredutíveis nesta matéria basta investirem algum tempo na leitura para se renderem às tristes evidências.

No passado mês de Dezembro disputou-se o mundial de andebol feminino no Brasil e mais uma vez me “enfureci” a ver países que há 20 anos estavam no nosso patamar competitivo, (e.g. a Espanha e a França), ou ainda pior, como o Brasil, e que agora nos fazem morrer de inveja marcando presença nas finais de todas as maiores competições mundiais e europeias. Contudo, tal não obsta a que os dirigentes responsáveis por estas e outras situações análogas, sejam galardoados e recebidos pela tutela do Desporto com pompa e circunstância.

Isto para dizer que sem planos de ação de médio e longo prazo, assim como de medidas concretas específicas, que esbatam as mencionadas desigualdades de oportunidades (a nível financeiro, logístico, material, de recursos humanos, entre outros) não saímos da estagnação e de níveis organizacionais que, por vezes, em tom de brincadeira digo que são próprios da idade da pedra e muito visiveis na modalidade do futebol/futsal feminino.

Neste sentido destaque para o Projeto “O Jogo das Raparigas” que tem o objetivo de “contribuir para o aumento da participação das raparigas e mulheres no futebol/futsal através de três eixos interligados e complementares de intervenção:

1.º o combate à invisibilidade, às barreiras culturais e aos estereótipos, através de uma campanha centrada na apropriação e na prática deste desporto pelas raparigas, procurando influenciar positivamente as jovens adolescentes, mas sobretudo as suas famílias, os órgãos de comunicação social e agentes desportivos, nomeadamente do futebol/futsal;
2.º o empoderamento das raparigas e mulheres, numa perspetiva de consciencialização dos seus direitos, promovendo oportunidades de participação, de organização e de desenvolvimento das suas competências de liderança, bem como o aumento da prática desportiva;
3.º a sensibilização de públicos estratégicos: dirigentes de clubes, de associações distritais de futebol, de eleitas/os do poder local, para a necessidade de promover medidas e programas específicos que apliquem o princípio da igualdade e da não- discriminação; o projeto é também dirigido às escolas e docentes de Educação Física para a necessidade de apoiar as jovens alunas na aprendizagem do futebol/ futsal e apoiar a sua prática continuada."

E não deixem de ver e, se possível, se solidarizarem com os votos deste projeto para 2012:

8 comentários:

Anónimo disse...

Não se compreende a ideia de privilegiar a futebolização das raparigas.
O problema do desporto feminino português em 2012 é cultural?
Então como explicar o extraordinário rol de grandes atletas medalhadas na modalidade Atletismo, a maioria oriundas do Portugal mais profundo e conservador, bem como de zonas suburbanas e/ou raízes africanas?
A discriminação de género não existe.
O que não existe é MERCADO em algumas modalidades.

Sandra Costa disse...

Caro Anónimo,

Com certeza não anda pelas andanças do futebol, senão não diria tais afirmações. Começo por dizer que jogo futebol há mais de 10 anos e posso dizer-lhe todo o desporto feminino é discriminado (não só o futebol). Mas como a mim me diz mais respeito o futebol, será deste que falarei.

Primeiro, falta de condições: Disputar campo com uma equipa sénior masculina, ter que treinar mais tarde, fazendo com que jogadoras com 15, 16, 17 anos tenham que chegar a casa depois da 23h no Inverno.
Termos que muitas vezes pagar do nosso bolso as deslocações para treinos e jogos...
Visibilidade: quantas vezes é criado espaço na comunicação social para falar dos feitos do desporto feminino? Contará certamente pelos dedos. E mesmo essas individualidades do atletismo de que fala, quantas vezes são destacadas?

Fala-me de cultura. Pois, eu falo-lhe dos meus pais que nunca me apoiaram para praticar desporto, porque "futebol é desporto de homem". Frase que tantas e tantas raparigas ouvem ainda hoje, posso afirmar-lhe com toda a certeza. Isso sim é a (des)cultura que prejudica tantas raparigas que gostavam de jogar futebol, mas só porque alguém lhes diz "não é para raparigas" não o podem fazer.

Aconselho-o a informar-se mais antes de fazer tais afirmações e a ter conhecimento de causa.

Convido-o a visitar o Portal do Futebol Feminino em Portugal, para saber um pouco mais sobre o que se passa neste desporto no nosso país: http://futebolfemininoportugal.com/

Com os melhores cumprimentos
Sandra Costa
(porque eu assino sempre o que digo)

Anónimo disse...

Cara Sandra Costa:

Como explica que no Atletismo tenhamos mais atletas medalhados ao mais alto nível do sexo feminino do que do sexo masculino?
E profissionais que ganharam (e ganham) muito dinheiro...
No Judo e no Canoagem existe uma situação idêntica.
O problema do Futebol e de otras modalidades é um problema de Mercado.
Existem procura e oferta baixas.
Não existe grande motivação.
A maioria das mulheres não se interessam por Futebol, embora muitas gostem de acompanhar os maridos e namorados ao estádio.
O mesmo acontece com a maioria das modalidades colectivas.
E muitas (a esmagadora maioria) não se interessam de todo por desporto.
As mulheres não são impedidas, em 2012, de praticarem certas modalidades.
O que há é poucas interessadas...
Tenha paciência!

Com os melhores cumprimentos
(mesmo não assinando aquilo que opino).

Armando Inocentes disse...

"A discriminação de género não existe?" Toda a generalização pode pecar...

Portanto também posso generalizar e pecar! Vou pedir desculpa ao anónimo (se é o mesmo nos dois comentários, ou aos anónimos se forem dois) mas não concordo com as opiniões nem com a fundamentação!

Cá vai: existe a discriminação de género e existe a discriminação de modalidades. Dizer que é um problema de MERCADO é tapar o sol com a peneira...

Alguns exemplos de 2011: Inês Correia, 18 anos, venceu o Campeonato Europeu de Freestyle e o Mundial de Kitesurf… ouviram falar?
Sílvia Almeida, 17 anos, conquistou a Taça da Europa de Patinagem Artística em Solo Dance… que destaque teve na comunicação social?
A medalha de prata de Patrícia Cardoso e a medalha de bronze de Maria Teresa Santos no 38º Campeonato Europeu de Cadetes e Juniores de Karaté… não fizeram parangonas!
Pouco se fala de Lexi Thomson, 16 anos, norte-americana, a mais jovem golfista a vencer um torneio do Circuito Mundial, ao conquistar o Dubai Ladies Masters… (veja-se o que se passa com o golfe feminino nacional: http://www.oje.pt/lifestyle/lazer/golfe-feminino-luso-precisa-de-incentivo).

Há mais medalhas no atletismo e no judo femininos? Pois comparem os patrocinadores destas modalidades e das outras - será isso um problema de mercado?

Motivação? Na Noruega há mais mulheres a praticar futebol que todos os inscritoss na FPF! Quem cria motivação para as nossas raparigas praticarem desporto, seja qual for a modalidade?

Problema cultural? Lançar um programa de futsal feminino é futebolizar as raparigas? Na A. F. do Porto, liderada por Lourenço Pinto não há oito mulheres? Será que aqui também houve futebolização das mulheres? Ou deu-se apreço às competências?

Os meus cumprimentos também para o(os) anónimo(os) e para Sandra Costa.

Força Sandra! Eu também me identifico!

Armando Inocentes disse...

Já agora, só mais umas achegas em relação ao desporto feminino: há coisas piores que a discriminação de género...

Alguns exemplos:

A brasileira Joanna Maranhão tinha 9 anos em 1996 e já era uma promessa na natação.De uma hora para outra, começou a não querer treinar. Em 2008 Joanna Maranhão resolveu abrir o livro e afirmar que nessa altura sofria abusos sexuais da parte do seu técnico (consulte-se on-line a revista VEJA, Edição 2048 de 20.02.2008, em http://veja.abril.com.br/200208/p_110.shtml).

Em 2004, o australiano Gavin Hopper, que foi técnico da tenista Monica Seles, foi preso sob acusação de ter abusado de uma aluna nos anos 1980.

A bielo-russa Olga Korbut, uma das maiores ginastas de todos os tempos, chocou o mundo em 1999 ao revelar, mais de duas décadas depois do seu auge, que ela e suas companheiras sofriam abusos frequentes dos treinadores soviéticos nos anos 1970. Renald Knysh, seu técnico desde os 8 anos, seria o mais atroz deles.

Em 1995, Paul Hickson, técnico da equipa de natação britânica nos JO de Seul, foi condenado a dezessete anos de prisão por ter abusado sexualmente de meninas que frequentaram as suas aulas, em diferentes escolas.

Catherine Moyon de Baecque foi abusada sexualmente pelos seus colegas masculinos da equipa de França durante um estágio organizado pela federação de atletismo em 1991, o que é descrito pela própria em “La Medaille et son Revers”, Paris, Albin Michel, 1997.

Anónimo disse...

Insisto: o que há é uma óbvia questão de MERCADO: a procura e a oferta são baixas.

Quanto a discriminação, toda a gente sabe que não existe.
O que existe, para a Comunicação Social, são níveis de procura diferentes, em função da popularidade das modalidades.

Mas isso existe em todas as áreas da vida social.

A comunicação social vive do interesse objectivo do público pelas notícias.

Notícia é um homem ter mordido um cão.
Um cão ter mordido um homem não é notícia, a menos que seja uma figura socialmente relevante.

Anónimo disse...

Caro Armando Inocentes:

A criminalidade é criminalidade. Não tem nada a ver com discriminação de género, que é o que está aqui em debate.
Não misturemos assuntos.

Armando Inocentes disse...

Pronto! A procura e a oferta são baixas! (quantas raparigas e quantos clubes existem no futsal feminino?).

Pronto! A discriminação não existe! O CÃO PODE MORDER O HOMEM...

Pronto! A discriminação de género nada tem a ver com criminalidade! (e se uma das citadas fosse uma filha nossa?).

Como parece estar tudo dito, encerrem-se os comentários!

Cordiais saudações!