Em alguns dos comentários aos textos publicados no blogue apresentam-se, por vezes, perspetivas importantes sobre a realidade desportiva nacional ou modos diferentes de ver este ou aquele problema. A questão que, a seguir, abordo, foi suscitada há algum tempo atrás, precisamente, por um desses comentários.
A questão estava em saber se a qualidade da formação dos nossos técnicos estava à altura das exigências da situação desportiva nacional. Ou se limitações críticas a essa situação deviam ser da responsabilidade de outros factores (o financiamento, por exemplo). É uma questão de difícil resposta.
A formação dos técnicos é muito heterogénea e a sua inserção no mercado de trabalho muito diferente. O grau de exigência muito distinto. E não tem sido fácil estabilizar um modelo de formação. Pelo que não devemos avaliar este problema sem reconhecer a heterogeneidade das situações e de realidades muito diferenciadas. O problema da formação do jovem praticante é distinto do alto rendimento. As modalidades apresentam situações muito diferentes. Importa ainda ter presente que a formação de técnicos desportivos sempre mobilizou algumas modalidades, que algumas apresentam níveis de associativismo interessantes e que existe trabalho e reflexão importantes ao nível das estruturas representativas dos treinadores nacionais. O problema está sempre nas dificuldades em replicar e aproveitar muita dessa reflexão para o trabalho diário dos treinadores. Porventura, por responsabilidades próprias, mas também, em muito, por constrangimentos dos contextos organizacionais em que operam os muitos treinadores nacionais.
Em tempos idos, na ressaca de um desaire na participação olímpica, apelou-se à importação de técnicos estrangeiros. Sem resultados visíveis. Afinal essa estrangeirização não teve qualquer resultado com significado. Porque muito do sucesso do desporto nacional no contexto internacional tem a assinatura de treinadores nacionais. E, as poucas exceções, têm mais a ver com a dupla função de treinadores/agentes de carreira, razão fundamental pelas suas escolhas.
No sistema desportivo as suas variáveis não são independentes. Mas há variáveis que, em certos contextos, são mais dominantes do que outras. A formação dos quadros (treinadores e outros agentes) tende a reflectir, em parte, a realidade desportiva. Os seus sucessos e as suas limitações. E não é exclusiva desta ou daquela categoria de agentes. Porque podemos colocar a questão de um outro modo: tem o sistema desportivo sabido aproveitar o conhecimento e o saber dos nossos treinadores? Com exceção do futebol e de uma realidade muito singular como é o hóquei patins, o que vale o sucesso de um treinador nacional em termos de uma carreira internacional? Não tenho como o demonstrar mas sou levado a pensar que a explicação está menos nas capacidades e competências profissionais e mais no valor do desporto nacional e das suas diferentes modalidades têm no contexto internacional. E, para esse valor, o contributo dos treinadores é importante, mas pode não ser decisivo.
A questão estava em saber se a qualidade da formação dos nossos técnicos estava à altura das exigências da situação desportiva nacional. Ou se limitações críticas a essa situação deviam ser da responsabilidade de outros factores (o financiamento, por exemplo). É uma questão de difícil resposta.
A formação dos técnicos é muito heterogénea e a sua inserção no mercado de trabalho muito diferente. O grau de exigência muito distinto. E não tem sido fácil estabilizar um modelo de formação. Pelo que não devemos avaliar este problema sem reconhecer a heterogeneidade das situações e de realidades muito diferenciadas. O problema da formação do jovem praticante é distinto do alto rendimento. As modalidades apresentam situações muito diferentes. Importa ainda ter presente que a formação de técnicos desportivos sempre mobilizou algumas modalidades, que algumas apresentam níveis de associativismo interessantes e que existe trabalho e reflexão importantes ao nível das estruturas representativas dos treinadores nacionais. O problema está sempre nas dificuldades em replicar e aproveitar muita dessa reflexão para o trabalho diário dos treinadores. Porventura, por responsabilidades próprias, mas também, em muito, por constrangimentos dos contextos organizacionais em que operam os muitos treinadores nacionais.
Em tempos idos, na ressaca de um desaire na participação olímpica, apelou-se à importação de técnicos estrangeiros. Sem resultados visíveis. Afinal essa estrangeirização não teve qualquer resultado com significado. Porque muito do sucesso do desporto nacional no contexto internacional tem a assinatura de treinadores nacionais. E, as poucas exceções, têm mais a ver com a dupla função de treinadores/agentes de carreira, razão fundamental pelas suas escolhas.
No sistema desportivo as suas variáveis não são independentes. Mas há variáveis que, em certos contextos, são mais dominantes do que outras. A formação dos quadros (treinadores e outros agentes) tende a reflectir, em parte, a realidade desportiva. Os seus sucessos e as suas limitações. E não é exclusiva desta ou daquela categoria de agentes. Porque podemos colocar a questão de um outro modo: tem o sistema desportivo sabido aproveitar o conhecimento e o saber dos nossos treinadores? Com exceção do futebol e de uma realidade muito singular como é o hóquei patins, o que vale o sucesso de um treinador nacional em termos de uma carreira internacional? Não tenho como o demonstrar mas sou levado a pensar que a explicação está menos nas capacidades e competências profissionais e mais no valor do desporto nacional e das suas diferentes modalidades têm no contexto internacional. E, para esse valor, o contributo dos treinadores é importante, mas pode não ser decisivo.
8 comentários:
No Volei, Andebol e Basquetebol a verdade não é essa. Os treinadores estrangeiros trouxeram qualidade, assim como resultados.
O problema, na minha opinião, é que o profissionalismo inexistente impede os treinadores de apostarem as fichas todas na sua formação.
Imagine-se que os professores/investigadores universitários deste país tinham que trabalhar 7 horas por dia numa fábrica, e que depois, ao fim do dia, entalado entre as obrigações familiares, iam fazer investigação(noutra área)... que investigação teríamos em Portugal?
Podemos discutir que resultados são esses ate porque com exceçao do andebol creio que o numero de treinadores estrangeiros nas restantes duas modalidades é pouco relevante.Mas posso estar enganado.Não obstante e sem colocar em causa que o recurso externo pode trazer qualidade,importa verificar se as condições de trabalho oferecidas a quem vem de fora são equivalentes às que se oferecem a quem cá está.
Obrigado pelo comentário
O assunto parece-me muito interessante.
A minha experiência pessoal no Atletismo, diz-me que o que é verdadeiramente importante e decisivo para a consecução do sucesso no alto rendimento a nível absoluto é a existência de 3 factores decisivos e consecutivos:
1) Capacidade instalada para deteção de grandes talentos;
2) Capacidade instalada para apoiar os treinadores dos grandes talentos, através de formação interna adequada e contacto internacional, fundamentalmente em estágios, realizados cá ou em países mais evoluídos;
3) Existindo progressão até à entrada no grande nível internacional (aqui os critérios são variáveis conforme as modalidades), possibilidade efectiva de profissionalização total a 100%.
Note-se que em Portugal o grande problema, na maioria das modalidades, tem sido a falta de capacidade instalada para detetar e acompanhar grandes talentos.
Sem serem detetados grandes talentos, os segundo e terceiro fatores não resultam em nada de especial, para além da crónica mediania.
Outro dos grandes problemas do desporto português é o amadorismo pouco mais que carola dos dirigentes desportivos, em quase todas as modalidades.
Os dirigentes raramente estão ao nível do desempenho dos melhores desportistas e treinadores.
E claro, o maior de todos os problemas é o cultural:
A população portuguesa conhece o Marco Fortes por causa de uma tal "caminha" que o fez ser expulso dos Jogos de Pequim para não andar a "brincar com o dinheiro do povo".
Mas mais de 95% das pessoas adultas não fazem a mínima ideia do que é o lançamento do peso, nunca pegaram num engenho com 7,260Kg e não imaginam o que é lançar aquilo a 20,91m.
E portanto, não valorizam nada para além de polémicas futebolísticas com árbitros e daquilo que é óbvio: o golo.
Ah! E já me esquecia:
Para os políticos, para além da clubite futebolística, o que é verdadeiramente importante é a realização de "caminhadas" e "mini-maratonas" (uma ideia paradoxal). De preferência com muitos milhares de pessoas.
A andarem bem devagarinho...
No Atletismo, a contratação de Robert Zotko pela Federação para colaborador do sector de Saltos trouxe inovação e conhecimento. Hoje os técnicos que trabalharam directamente com o Russo são dos melhores do país, casos de João Ganso, José Santos, Abreu Matos e outros.
Nos saltos, Portugal começou a ter medalhas com Carlos Calado, Naide Gomes e Nelson Évora.
Concordo com o anónimo das 00.36h.
Mas se a FPA não tivesse uma eficaz estrutura de deteção de grandes talentos, associada ao voluntarismo e iniciativa pessoal daqueles (e outros treinadores como Miguel Lucas, António Beça, Fernando Pereira, Alcino Pereira e Raposo Borges) o efeito Robert Zotko não teria dado resultados no sector de saltos como tem estado a dar. Também nos setores de velocidade, barreiras e lançamentos a evolução no topo foi extraordinária nas últimas duas décadas, devido, para além da eficaz deteção de talentos, ao contacto internacional e a uma maior profissionalização de treinadores e atletas.
No meio-fundo, apenas no setor feminino Portugal tem resistido à crise que assolou a Europa nas últimas duas décadas e da qual alguns países já estão a sair.
Em qualquer país, e em qualquer atividade social,a mobilidade de quadros técnicos não-nacionais , falemos agora apenas destes, é uma realidade. E o desporto não tem de ser exceção. Nuns casos com resultados positivos para os processos de trabalho em que estão inseridos, em outros não tanto. Mas é óbvio que a base de desenvolvimento nacional terá sempre de ser sempre a qualificação técnica nacional. Se o recurso a técnicos desportivos estrangeiros não apenas melhora os resultados desportivos com que diretamente trabalham, como acrescenta valor à formação dos técnicos nacionais isso é duplamente positivo. A observação à estrangeirização no recurso a técnicos estrangeiros pretendeu apenas situar o problema no sentido em que esse recurso não deve ser entendido em sentido absoluto, como de resto se pode dizer relativamente à naturalização de atletas.
Em qualquer actividade desportiva o progresso é marcado, basicamente, por aspectos tão simples como:
Encontrar um modelo de referência de alta qualidade, procurar copiá-lo até nos pormenores, repetir/exercitar até à exaustão até à fase que se pode chamar de execução competente e inconsciente, não confundindo técnica com estilo, potenciar a perfeição técnica e cada fase desse aperfeiçoamento com novos patamares de condição física e de preparação e prontidão mental e psicológica. Cada um destes aspectos devem pressupor o "ir- além-do-modelo-inicial", isto é, o ser criativo, procurando inovar para ultrapassar os limites anteriores. Qualquer um destes aspectos exige níveis de perícia técnica que podem ser adquiridos na partilha com outros treinadores, na própria experiência como atletas ou através da formação/estudo. No desporto português nenhuma destas fontes de conhecimento está assegurada. São poucos (mas existem) os treinadores que detêm esse conhecimento e que o partilham, são poucos os ex-atletas de alto rendimento (já por si em escasso número) que transitam para a carreira de treinadores e o processo de formação de treinadores não assegura absolutamente nada, é mais um logro pseudo-científico. Quando se procura (desde sempre) aplicar na formação de treinadores modelos idênticos aos utilizados na escola/universidade não há qualquer réstia de esperança de que alguma coisa possa mudar. Atomiza-se o conhecimento na esperança de que a síntese aconteça um dia, magicamente, e passemos a ter treinadores de alto nível. É um atentado ao bom senso querer aplicar estes modelos num desporto pobre, e cada vez vês mais pobre, no qual o voluntariado tem um papel preponderante e que deve ser acarinhado. Quando se sabe, igualmente, como é elevada a percentagem de adultos (há muitos anos longe dos bancos da escola) sujeitos aos processo de formação a falta de senso dá lugar a algo que me escuso de classificar.
A contratação de um bom treinador estrangeiro (ou de um português com nível e qualidades idênticas), que se aplique não só no treino de atletas mas também na supervisão de outros treinadores, ajudando-os na programação do treino, na formação técnica dos praticantes e na avaliação do seu desenvolvimento, pode fazer incomensuravelmente mais pelo progresso dos praticantes do que o programa actual de formação de treinadores. Por outro lado se falarmos da contratação de um treinador estrangeiro para um clube, que apenas treine os praticantes desse clube, pouco ou nada restará da sua passagem pelo desporto português, a não ser, eventualmente, os benefícios que poderão advir através de ex-praticantes por ele treinados que transitem para a carreira de treinadores (desde que tivessem assimilado os métodos do ex-treinador).
A primeira situação de treinador estrangeiro deveria ser estimulada e patrocinada pela tutela, caso alguém reflectisse o mínimo que fosse sobre estas questões e se desse ao trabalho de formular objectivos desafiantes para o desporto português. A segunda situação é aceitável no caso de clubes ou federações que querem melhorar o seu desempenho desportivo sem qualquer preocupação de "fazer escola". Em abono da verdade deve ser dito, também, que o trabalho de treinadores estrangeiros de elevada qualidade no âmbito dos clubes poderá funcionar como modelo de referência para outros treinadores, que mais não seja, por elevar o nível global de expectativas dos seus concorrentes.
Não tenho qualquer esperança no nosso curto ou médio prazo. Já deu para perceber, há muitos anos, que os ventos que se aproximam não são favoráveis a qualquer rumo e não me refiro à crise que hoje é desculpa para tudo e mais alguma coisa.
Concordo genericamente com o anónimo das 19.16h.
Nas outras modalidades não sei, mas no Atletismo temos bastantes treinadores que são referência a nível mundial.
Claro que não há grandes treinadores sem grandes talentos.
Em Portugal, muitos dos que descobriram grandes talentos estão completamente profissionalizados e destacados a tempo inteiro, como os seus super-atletas.
E tem que existir uma estrutura adequada (infraestruturas, dirigentes, administrativos, médicos, fisioterapeutas, massagistas psicólogos) e meios financeiros de suporte.
Tudo no base profissional a 100%.
Essa é a única forma de lutar por medalhas em grandes competições internacionais.
No entanto ainda há muita gente no dirigismo e na política que ainda não percebeu isto.
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