domingo, 8 de abril de 2012

O futebol vai fechar?

Texto publicado no Público de 8 de Abril de 2012.


1. Leva-me, por favor, à Rua Alexandre Herculano, ali ao pé do Largo do Rato, em Lisboa? Este é o caminho que tem sido percorrido, ultimamente, pelos carros em Lisboa, quando alguém, entidade ou pessoa, entende que deve anunciar uma paragem do futebol ou de parte dele. É lá que se encontra a sede da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e, em princípio, faz todo o sentido dirigir-se a essa entidade máxima do futebol nacional para debater e resolver questões que digam respeito à modalidade. Todavia, e não se aprecia aqui a bondade dos fundamentos das reivindicações ou queixas, o anúncio de uma paragem, “greve”, “forma de luta”, mesmo que se utilizem outros termos, tem um “pequeno” senão, como veremos.

2. Primeiro foram alguns clubes, a 17 de Março. Defendendo o alargamento – sobre o qual não nos pronunciamos –, adiantou-se: “Nós não temos formas de luta. Temos é atitudes para ultrapassar dificuldades para que as possamos vir a ter. Elas já estão estudadas. Vamos encetar contactos para promover reuniões, não apenas relativamente ao alargamento, mas também sobre o Totonegócio, as equipas B e as transmissões televisivas. Se, por acaso, verificarmos que não há uma resposta positiva para chegarmos a um consenso, não temos pejo algum em tomar atitude. Os clubes de futebol não fazem greve, mas podem parar os campeonatos, o que é diferente.”

3. A 27 de Março vieram os árbitros. “Os árbitros comprometeram-se a apitar a próxima jornada”, afirmou Fernando Gomes. O presidente da FPF sublinhou, porém, que se os ataques à dignidade e honorabilidade dos árbitros continuarem, a paralisação do futebol português é um cenário em cima da mesa. Segundo o noticiado, à entrada do encontro, vários árbitros internacionais e uma delegação da Associação de Árbitros de Futebol Profissional (APAF) manifestaram a intenção de se mostrarem indisponíveis para participar nos jogos, face ao clima de instabilidade e intranquilidade criado nos últimos tempos, agravado pela divulgação pública de dados pessoais relativos aos árbitros.

4. Ora, exactamente por não serem greves, a ocorrer qualquer tipo de “paralisação”, de clubes ou de árbitros, tais atitudes caem no âmbito de aplicação das normas reguladoras das competições e da disciplina federativa. Aí há – sempre haverá – sanções para tais actos, sejam concertados ou individuais. É preciso não esquecer este “pequeno” elemento.

5. Outros, porém, preferem pegar no carro e rumar a Algés. Foi o caso do Sporting (queixas de arbitragem, à última hora camufladas em algo mais abrangente para ingénuos verem). Há sempre um membro do Governo disponível para os receber, de preferência da mesma cor clubista ou um grupo parlamentar de deputados. E que dizer da atenção dada a este assunto do angelical Laurentino Dias, o qual, para não ir mais longe, até acompanhou um corredor de F1 em competição?

6. E já que falámos nesse balcão especial para receber o futebol, não podemos deixar de recomendar a leitura do texto de João Querido Manha (Os Incompetentes, Record, 27 de Março) e de José Manuel Constantino, no blogue Colectividade Desportiva (O futebol e a arte de governar, 27 de Março). E, se estiver mesmo interessado naquilo que pensa e faz (?) Alexandre Mestre Picanço, bem como na sua opinião sobre o Fado, o Futebol e Fátima, não pode perder o texto de Carlos Almeida (Diz-me o que pensas, dir-te-ei quem és, Correio do Minho, ainda e sempre de 27 de Março passado).

7. Por que razão a Secretaria de Estado não fecha, à semelhança da sua página na Internet?

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