Nos últimos sete anos assisti a quase
todas as conferências mundiais sobre liderança. Escutei os maiores gurus
mundiais. Ouvi gente paga a peso de ouro para fazer este tipo de conferências. Estive
com pessoas que só conhecia dos livros. Alguns prémios Nobel. Admirei o brilho
intelectual e capacidade oratória de muitos. Mas regressava sempre com a ideia
de que o sucesso deles era configurável aos casos que tiveram de enfrentar. Que
mudando a situação/organização nada garantia que o sucesso estivesse presente.
No fundo, confirmando o que a vida ensina: que muitos líderes com sucesso numa
organização falham em outras. E dessas experiências falhadas não se fala.
Os seminários e as conferências por
esse mundo fora estão cheias de caso de sucesso. A literatura dá exemplos de
como alcançar o êxito. Mas está na generalidade ausente sobre o modo de
enfrentar e lidar com o insucesso e o fracasso. Existe uma espécie de pudor e
de medo de enfrentar uma realidade das organizações que é o de falharem os objetivos.
Ainda que, num meio competitivo como é aquele em que operam as organizações,
desportivas ou outras, a probabilidade de insucesso ser bem maior que a do
êxito. É óbvio que nada nos move quanto à descrição de experiências de sucesso.
E não nos passa pela cabeça que essas experiências não contenham matérias que
constituem motivos de aprendizagem. Mas, e o fracasso? Quem fala dele? Não
existe? Não é motivo de aprendizagem?
Uma tendência muito em voga nos
últimos anos tem sido o de convidar treinadores desportivos com sucesso nas suas carreiras profissionais para
fazerem palestras aos quadros das empresas sobre processos de mobilização motivacional
baseadas no modelo de intervenção no treino e preparação desportivas. Olho
sempre para este tipo de importações com muitas reservas. Porque uma equipa
desportiva não é uma empresa. Mas também por outras razões.
Em primeiro lugar, porque os
conhecimentos acerca das variáveis de contexto não são transferíveis. O que dá
certo numa organização, não é sucesso garantido numa outra. Depois porque não
há uma melhor maneira de liderar: tudo depende da situação. Em terceiro lugar,
porque não é possível replicar numa sala ou num auditório as práticas de
liderança. Em quarto, porque a liderança tendo muito de conhecimento e de
saber, tem sobretudo bastante de experiência e de talento. E finalmente porque
os insucessos dessas pessoas, que os têm, raramente são expostos e analisados.
Ma minha vida profissional as melhores
aprendizagens de liderança foram em exercício de funções. Em que assumia a
condição de liderado. Profissionais de desporto como Alfredo Melo de Carvalho,
Teotónio Lima ou Noronha Feio foram marcantes no modo como lideravam os
projetos em que participei. E todos com estilos
diferentes, modos distintos de comportamento e até dimensões ideológicas
diversas. Mas todos com uma enorme capacidade de organização e mobilização de
recursos. E com projetos em que tiveram sucesso e outros em que fracassaram.
Num tempo em que a liderança (…e de
algum modo a gestão) virou negócio, é bom que se tenha presente qua o líder é
como um grande cozinheiro para cuja qualidade as palavras não são suficientes e
nenhuma teoria explica. (Andrew Sullivan). E que pode escrever o melhor livro
do mundo com as receitas, os ingredientes, as quantidades dos produtos, os
tempos de preparação que, seguramente, qualquer tentativa de o imitar ficará
muito aquém daquilo que ele consegue.
Num tempo em que há quem venda a ideia
que há uma melhor maneira para liderar é
sensato interrogarmo-nos sobre a bondade dessa afirmação. E convivermos com uma
outra, porventura mais singela: a de que aprendizagem se faz com o sucesso e
com o erro. E que não é possível banir este último da vida das organizações. As
sociedades não se constroem sem riscos e um deles é a possibilidade de falhar e
a impossibilidade de suprimir os erros. Liderar é também saber conviver com
eles.
2 comentários:
Concordo.
Mas os grandes líderes sempre conviveram mal com a evidência de insucessos na sua liderança, procurando escamoteá-los.
Excelente texto... eu diria que os verdadeiros lideres são os que sabem lidar com o sucesso e o insucesso da mesma forma e o resultado obtido não altera a sua postura ... tenho assistido e feito cursos sobre liderança e inteligência emocional e eu diria que muitos auto-intitulados lideres, não o sabem ser, mesmo com provas de sucesso profissional no seu currículo ... por vezes em conferencias vejo "lideres" vangloriarem-se dos seus triunfos pessoais e cada vez que começam a falar de sucesso na 1ª pessoa eu penso logo na velhinha musica dos supertramp "You take the long way home..."
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