A decisão da escolha dos Jogos Olímpicos de 2008 teve uma profunda carga simbólica. Uns interpretaram-na como uma oportunidade única de abertura do regime político chinês. Outros consideraram a decisão do COI um momento importante para solidificar as relações económicas com o gigante asiático. Outros viram a escolha como um negócio de altos dirigentes do COI para se apropriarem das previsíveis receitas da realização do maior evento desportivo mundial num país com mais de um bilião de habitantes, cuja população vive entusiasticamente o desporto.
Neste cenário foram-se alinhando diversas estratégias de mobilização política:
Para além dos incidentes em torno de activistas chineses e das críticas previsiveis de dissidentes, um forte grupo de pressão em torno do boicote da União Europeia aos jogos tem tido Edward McMillan-Scott, Vice-Presidente do Parlamento Europeu (PE), como principal dinamizador, cujas diversas acções e estratégias se encontram detalhadas no site criado para o efeito. A missão visa pressionar as autoridades políticas e desportivas para o respeito dos direitos humanos na China, indo ao encontro dos “princípios éticos universais” plasmados no artigo 1.º da Carta Olímpica. Não é pois de estranhar a mais recente resolução do PE.
Outros preferem gerir o impacto dos jogos de forma diferente. Não tanto sobre o prisma do respeito dos direitos humanos na China, mas sim no Darfur. A China é o principal financiador do Sudão – país ao qual fornece armas em troco de petróleo. A actriz Mia Farrow, embaixadora da UNICEF, sobre o mote dos “jogos do genocídio” tem vindo a atrair atenções para a crise naquela região sudanesa. Os seus esforços têm vindo a produzir alguns efeitos, conforme se viu com a recente tomada de posição de Steven Spielberg – a Leni Riefenstahl dos jogos de Pequim, como Farrow o apelidou -, e a simbólica entrega de uma carta aberta ao presidente Hu Jintao na passada terça-feira, na missão diplomática chinesa nas Nações Unidas.
Também no teatro desportivo se tomam posições:
O Comité Olímpico Britânico irá assinar um contrato de 32 páginas com os seus atletas olímpicos proibindo-os de abordar “assuntos políticos sensíveis”.
Por cá a posição do COP remete para a Carta Olímpica e o respeito pela liberdade de expressão, não sem antes dar nota da regulamentação do COI – já abordada neste blogue -, sobre a publicação de conteúdos informativos pelos atletas na internet, ou em outros meios de informação, a partir da Aldeia Olímpica ou dos locais de competição.
Ultrapassando a utopia da separação entre o desporto e a política - e disso é exemplo maior toda a historiografia do movimento olímpico -, talvez seja importante questionar, hoje, a dimensão e o impacto social, não apenas e só dos jogos olímpicos, mas fundamentalmente da pluridimensionalidade de um fenómeno social total chamado Olimpismo.
Não deixo de questionar o impacto mediático do que acima se escreveu e o contraponto com a forma inadjectivavel como, entre outros, foi (ou não foi) noticiado o recente falecimento de um dos maiores heróis olímpicos de sempre, Al Oerter. Não deixo de questionar, nesta voragem de acontecimentos politicos, jurídicos, económicos e sociais, onde está o desporto? Onde está a religião olímpica de Coubertin neste tempo onde tanto se fala da especificidade do desporto e do seu valor social, educativo e cultural?
Neste cenário foram-se alinhando diversas estratégias de mobilização política:
Para além dos incidentes em torno de activistas chineses e das críticas previsiveis de dissidentes, um forte grupo de pressão em torno do boicote da União Europeia aos jogos tem tido Edward McMillan-Scott, Vice-Presidente do Parlamento Europeu (PE), como principal dinamizador, cujas diversas acções e estratégias se encontram detalhadas no site criado para o efeito. A missão visa pressionar as autoridades políticas e desportivas para o respeito dos direitos humanos na China, indo ao encontro dos “princípios éticos universais” plasmados no artigo 1.º da Carta Olímpica. Não é pois de estranhar a mais recente resolução do PE.
Outros preferem gerir o impacto dos jogos de forma diferente. Não tanto sobre o prisma do respeito dos direitos humanos na China, mas sim no Darfur. A China é o principal financiador do Sudão – país ao qual fornece armas em troco de petróleo. A actriz Mia Farrow, embaixadora da UNICEF, sobre o mote dos “jogos do genocídio” tem vindo a atrair atenções para a crise naquela região sudanesa. Os seus esforços têm vindo a produzir alguns efeitos, conforme se viu com a recente tomada de posição de Steven Spielberg – a Leni Riefenstahl dos jogos de Pequim, como Farrow o apelidou -, e a simbólica entrega de uma carta aberta ao presidente Hu Jintao na passada terça-feira, na missão diplomática chinesa nas Nações Unidas.
Também no teatro desportivo se tomam posições:
O Comité Olímpico Britânico irá assinar um contrato de 32 páginas com os seus atletas olímpicos proibindo-os de abordar “assuntos políticos sensíveis”.
Por cá a posição do COP remete para a Carta Olímpica e o respeito pela liberdade de expressão, não sem antes dar nota da regulamentação do COI – já abordada neste blogue -, sobre a publicação de conteúdos informativos pelos atletas na internet, ou em outros meios de informação, a partir da Aldeia Olímpica ou dos locais de competição.
Ultrapassando a utopia da separação entre o desporto e a política - e disso é exemplo maior toda a historiografia do movimento olímpico -, talvez seja importante questionar, hoje, a dimensão e o impacto social, não apenas e só dos jogos olímpicos, mas fundamentalmente da pluridimensionalidade de um fenómeno social total chamado Olimpismo.
Não deixo de questionar o impacto mediático do que acima se escreveu e o contraponto com a forma inadjectivavel como, entre outros, foi (ou não foi) noticiado o recente falecimento de um dos maiores heróis olímpicos de sempre, Al Oerter. Não deixo de questionar, nesta voragem de acontecimentos politicos, jurídicos, económicos e sociais, onde está o desporto? Onde está a religião olímpica de Coubertin neste tempo onde tanto se fala da especificidade do desporto e do seu valor social, educativo e cultural?
6 comentários:
Desporto sem Liberdade é o Quê?
“O Homem é por natureza um animal político” afirmava há milénios Aristóteles.
Toda a vida humana, as suas diferentes opções, as suas condutas e comportamentos, as respectivas decisões, ou os próprios laços de intimidade e congregação que estabelece, são fundadas em valores e julgamentos com bases morais.
O desporto é uma actividade humana que só pode entender-se como uma expressão da liberdade do homem, à qual está indissoluvelmente associado o seu livre arbítrio.
Sem capacidade de se auto determinar, o homem é joguete nas mãos de outrem e submetido ao poder e coacção que lhes sejam externamente impostos. As suas acções e actividades se realizadas perante tais constrangimentos e imposições forçadas aniquilam a sua dignidade e carácter único de indivíduo.
Por isso, o desporto para corresponder aos pressupostos da “religião do olimpismo” só pode ser uma actividade humana que resulte da lídima expressão da liberdade dos indivíduos, e desde logo, e em primazia, dos respectivos atletas e desportistas.
O desporto olímpico implica a superação, o sacrifício, o denodo e a ambição de ir mais além explorando as capacidades individuais. Isto só pode ser saudavelmente conseguido com o usufruto pleno da esfera individual de direitos e regalias que a liberdade garante.
Um desporto sem liberdade é uma prisão dos corpos e das consciências. E só pode estar então ao serviço não da nobreza política dos actos livres e conscientes dos indivíduos que o praticam e aplaudem mas de interesses e poderes que imperam na sociedade e se servem do desporto como seu instrumento de salvaguarda e manutenção.
O desporto assim sem liberdade plena vilipendia os homens que o servem e é seara útil para através do seu uso florescerem ditames e jugos.
O desporto olímpico só pode, por conseguinte, na sua essência, como fenómeno de concórdia e pacificação entre os povos, patrocinar a liberdade individual humana que é inerente da dignidade de cada ser humano na sua unicidade.
Esta é a única posição política que interessa ao desporto olímpico se este quiser salvaguardar um património moral que esteve na sua génese e lhe poderá garantir no futuro um lugar de pleno direito como referência da Humanidade e dos seus respectivos seres livres e intrinsecamente dignos.
José Pinto Correia
Será que podemos comparar os Jogos Olimpicos de Pequim com os Jogos Olimpicos de Berlin? Não sei. O contexto social, politico, cultural e economico são certamente diferentes, mas a utilização do mais universal dos eventos desportivos (que à milhares de anos unia a humanidade) parece estar a revelar-se eficaz em iludir o mundo.
A China é um pais rico historica e culturalmente.
No entanto, o desrespeito pelos direitos humanos e principalmente das crianças existe e é evidente.
Basta estar atento às noticias que são difundidas pelos meios de comunicação social.
O poder politico Chinês parece estar a utilizar o desporto e o evento desportivo de maior expressão mundial, para pintar uma realidade que não parece existir para além das aparências.
Podemos acreditar na vontade de mudança, mas essa vontade tem que ser genuina, não pode ser dissimulada. E pelos indicios que passam cá para fora, não podemos deixar de ter duvidas quanto às suas verdeiras intenções.
Só posso esperar que a nova superpotencia mudial (se é que ainda alguem tem duvidas) que é a China não se revele num pais de monstruosidades. Espero ainda que a Humanidade esteja a dar um verdadeiro passo para a construção de um mundo melhor para os nossos filhos, com o valioso contributo do desporto.
Caro José Pinto Correia e caro anónimo
Tão longe está o contributo d e quem dirige o desporto olímpico para a valorização da liberdade individual.
Porém os atletas - esses, continuam a dar o exemplo. Veja-se, por exemplo, o papel de Kathy Freeman no recente pedido de deswculpas do governo australiano ao povo aborígene.
Veja-se, por exemplo, quem acompanhou Mia Farrow na entrega da carta aberta.
O olimpismo estará ao serviço da Humanidade quando se valorizarem os seus herois. Aqueles que servem os seus ideias - não aqueles que deles se servem para legitimarem operações de cosmética e sinecuras em terras alpinas.
Perdõem-me o desencanto. Não deixo de questionar onde está o desporto? Desporto sem liberdade pode ser muita coisa, mas não é desporto.
Duas ideias para complexificar
Quando não há liberdade o seu valor cresce
O COI para cumprir a sua missão organiza os jogos de 2008 na China comunista
"Do nosso querido Olimpismo" (Pior é impossível...!)
Enquanto aqui neste sítio ainda tentamos discorrer e defender uma moralidade e dignidade humanas para o desporto e o Olimpismo, eis que o nosso Comandante do COP dá uma pequena entrevista ao Díário de Notícias de hoje (na última página) que nos "esmaga".
"A política emporcalha tudo quanto toca..." ou "[que ficou dos boicotes de Moscovo e Los Angeles] Nada, para lá dos momentos magníficos da competição desportiva" ou "Por isso, não apoio qualquer boicote. Deixemos a política para os políticos" - estas são algumas das eloquentes afirmações do nosso Comandante.
Nada destas opiniões transpira política, elas estão imunes ao genocídio do Darfur (feito com apoio e armamento chineses), ou às imensas violações dos direitos humanos na China.
Não, isso não, que o desporto, os Jogos Olímpicos da China, são grandiosos de mais e bacteriologicamente puros para se "emporcalharem politicamente".
Só que a desfaçatez destas declarações é feita por um dirigente máximo do movimento olímpico num país democrático, esquecendo por conveniência hipócrita os próprios princípios da Carta Olímpica quanto à dignidade humana e à promoção da paz e concórdia entre os povos.
Em nome de que princípios universais e direitos do homem podem defender-se estas "lavagens de mãos" e "indiferenças" ao sofrimento e à morte?
Em nome do desporto e dos seus pergaminhos ou do olimpismo e da sua "religiâo"? Pensamos que não...!
J. Manageiro da Costa
Felicito o blogue pelo acto censório
O que seria o desporto português e o país sem os majestosos actos de todas as censuras, as que se conhecem e as outras, tantas, de menor dimensão, afinal falsamente atiradas noutra parte ao inimigo/amigo anónimo?
Renovadas felicitações e votos de longuíssima vidinha!
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