quinta-feira, 23 de abril de 2009

A Paralímpica e a Presidenta (da prática à liderança)

Nas palavras de Helena Roseta , trinta e cinco anos depois do 25 de Abril, o estatuto social das mulheres mudou, mas os altos cargos políticos continuam no “clube privado” os homens.

Eis o que diria qualquer especialista do desporto se interpretasse a realidade desportiva do ponto de vista da representatividade dos sexos nos órgãos sociais dos organismos desportivos. Como as diversas realidades sociais, no tocante a esta matéria, são idênticas…

Os altos cargos directivos desportivos continuam, maioritariamente, entregues ao reduto masculino. Por exemplo, se observarmos as federações olímpicas, e nos focarmos nas suas Direcções, apenas cerca de 12% dos seus membros são mulheres. Percentagem ainda longínqua daquelas recomendadas pelo Comité Olímpico Internacional em 1996: a integração de mulheres nas federações internacionais e nacionais na percentagem de 10% em 2000 e de 20% em 2005.

Nada que se estranha em demasia, se tivermos em conta que vivemos numa sociedade machista, conservadora, discriminatória, com mentalidades recheadas de estereótipos de género, na qual, por exemplo, uma rapariga que goste de jogar à bola logo é apelidada de “maria-rapaz”, e apontada por se desviar do comportamento-norma, que dita tal preferência desportiva para qualquer rapaz. Por sua vez, se este não revelar esta preferência logo será apelidado de “mariquinhas” e colocadas dúvidas quanto à sua virilidade. Como tal, tanto ao nível da prática desportiva, como da sua arbitragem, organização e liderança, vamos crescendo e vivendo constatando que o desporto é feito pelos homens e para homens, os quais, salvaguardando uns quantos vanguardistas, entendem estes discursos como lamúrias decorrentes de feministas frustadas.

Por tudo isto, dedicamos este pequeno texto a um facto extraordinário no nosso panorama desportivo: a eleição da médica e ex-atleta paralímpica, Leila Marques, para a presidência da Federação Portuguesa do Desporto para Deficientes, realidade que conhece bem assim como muitas situações e casos de duplas discriminações, já que viu e sentiu ao longo de anos o que é ser uma atleta paralímpica e ser uma mulher no desporto português.

Será entre cenários antagónicos como os recentemente presenciados no dirigismo nacional, tais como o total desprezo da tutela do desporto face aos 9 dias de greve de fome protagonizados pelo Presidente do Ericeirence, hoje hospitalizado, ou a presença num singelo acto de apresentação de um livro sobre o percurso de um ex-dirigente, que a Leila Marques desenvolverá e terá de aprender a ajustar a sua acção política de dirigente desportiva.

Não a espera um percurso fácil mas as suas palavras revelam a sua autenticidade e a sua motivação para o novo cargo: "Sinto-me nervosa, tenho consciência da responsabilidade que estou a assumir, mas estou preparada para realizar o meu papel da melhor forma possível".
Bem-haja e muitos sucessos!!


3 comentários:

josé manuel constantino disse...

É de saudar o aumento da presença das mulheres em cargos de direcção desportiva.É de saudar o facto de, como no caso presente, se tratar de uma ex-atleta. Mas mais desejável será que o aumento da participação feminina o não seja apenas para reduzir os desequilíbrios na representação dos géneros ,que é importante,mas que permita também acrescentar maior qualidade às políticas desportivas. Se o aumento da representação feminina for uma réplica dos modelos de pensamento dominante resolve-se um problema de representatividade que não de conteúdos das políticas

ftenreiro disse...

Um óptimo 25 de Abril, com morangos e um verde fresco

como está subjacente nas vossas palavras os limites que tolhem a nossa actividade desportiva são inúmeros

a questão da quantidade creio ser a primordial, o nível de prática é demasiado baixo e o seu incentivo terá repercussões em todas as dimensões: carenciados, jovens, mulheres, idos, paralimpicos, dirigentes, etc

O Mexa-se é um achado de concisão que deveria ser usado como um consenso de regime entre todas as forças desportivas, sociais e políticas portuguesas

Anónimo disse...

A propósito do "Mexa-se", os brasileiros, nos idos de 60, tinham criado um movimento similar, com um cartaz, de uma criança com calções, e estes dizeres

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