A inteligência colectiva nas organizações/equipas é um termo que abrange um misto do conjunto das competências dos elementos que compõem o todo e dos processos/dinâmicas criados para potenciar as mais valias dos recursos humanos na concretização dos objectivos propostos. Algo semelhante ao team cognition.
Ao observar as equipas com excelentes performances e com os seus processos equilibrados, quer as desportivas quer em termos organizacionais, deparamo-nos cada vez mais com um conjunto de processos transversais baseados em competências (que deveriam ser) ‘simples’ e, que constituem em muitos casos, a base das relações humanas, de equipa, laborais, etc.
Constatamos que as boas equipas de projecto/trabalho (apenas para as diferenciar das desportivas propriamente ditas) apresentam sintonia nos processos de grupo em competências como:
- Escuta activa/comunicação/assertividade;
- Empatia;
- Confiança;
- Alinhamento (visão, missão, valores, objectivos);
- Envolvimento (I always go the extra mile);
- Responsabilização/Reconhecimento;
- Superação;
- Etc.
Constata-se também que ‘bastará olhar para o lado’ para visualizarmos (e vivenciarmos) grupos de trabalho onde a comunicação não flui, não há a preocupação em saber se a nossa mensagem chegou ao destinatário e a sua compreensão foi de encontro ao nosso objectivo, onde não existe um complemento de objectivos, tarefas, sentimentos contraditórios e longe do ‘amor à camisola’, pouca proactividade ou o não reconhecimento.
Observamos as equipas desportivas que apresentam excelentes resultados desportivos e o que constatamos? Utilizamos o último caso de enorme sucesso, e constatamos que o Barcelona em futebol, vence, convence, supera os seus desafios, dificuldades e adversários, bate recordes e quando ouvimos os comentadores e treinadores a falar do seu sucesso, conclui-se que a magnífica equipa baseia os seus processos nas competências técnicas básicas do jogo de futebol para além da qualidade que os seus elementos individuais possuem:
- Passe, recepção, ‘desmarcação, entreajuda, alinhados num objectivo, dedicação ao clube e empenhados.
Para todos aqueles que foram ou são atletas ou treinadores, quer em desportos colectivos quer em desportos individuais, recordamo-nos de que são esses os princípios que ouvíamos ou tentamos instituir nos atletas. Step by step de forma a garantir os princípios para posteriormente se avançar para a complexidade de processos.
Estranhamente, as organizações desportivas, constituídas por técnicos e dirigentes com um passado desportivo, não conseguem transpor os valores porque se regiam enquanto praticantes desportivos para uma realidade organizacional, falando em Federações, Associações, Clubes, ONG’s, Autarquias, etc.
Certo que existem inúmeras explicações para o sucedido. Outras existirão para comprovar a incapacidade das organizações que trabalham no sistema desportivo em produzirem mais valia, diferenciarem-se e terem ‘jogo de cintura’ para os interesses não alinhados existentes, indo contra os tais valores ou competências softs que enquanto treinadores, vamos insistindo que as equipas e os elementos que as compõem, adquirem.
Somos tentados a concluir que as grandes equipas baseiam os seus princípios processuais e técnicos nos softskills. E que quer em jogo quer no nosso local de trabalho, complicamos em vez de facilitar. Destruímos em vez de construir. E que enquanto não comunicarmos de uma forma clara, concreta e concisa, tivermos a preocupação de compreender o outro, assumirmos a organização e a tarefa como nossa, trabalharmos em prol de um objectivo assumidamente global, muitos dos esforços são em vão, consumidos por obstáculos e adversários que nós próprios alimentamos.
sábado, 2 de janeiro de 2010
Inteligência Colectiva das Organizações
publicado por Rui Lança às 23:48 Labels: Dirigentes desportivos, Organizações desportivas
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
3 comentários:
Existem também o ambiente e as condições de trabalho e de funcionamento do mercado que impedem que soluções que provaram serem socialmente benéficas noutros locais tenham aplicação entre nós.
Há organizações que possuindo inteligência colectiva, como a definida, ficam impedidas de obter resultados socialmente superiores devido à governance do seu mercado.
Remunera mais as organizações, e as suas pessoas, actuar no seu interesse estrito em vez de visar objectivos sociais alargados como as do Barcelona.
O clube Barcelona é a imagem de uma região que se congrega num conceito cultural e social contra o mercantilismo e centralismo de Madrid, capital de Espanha.
No desporto português teremos um outro 'centro' que é a captura do bem comum, seja no desporto, seja na sociedade, seja na política dos partidos e dos políticos.
As condições para a inteligência colectiva das organizações terá os limites que lhe serão dados pela sociedade.
A questão que lhe coloco é que sendo decisiva a inteligência colectiva, como o seu poste sugere, é que muitas organizações desportivas assumem-no mas as suas acções são determinadas exteriormente dando a imagem contrária pela pobreza de resultados alcançados.
Este aspecto é tão importante quanto sem olhar aos princípios e às estatísticas e estudos europeus se conclui que a evolução de Portugal é interessante no desporto. Porém, ao tomar a perspectiva da floresta europeia a inteligência colectiva do desporto nacional tem uma performance que é mediocre.
Bom ano de 2010 para si
Caro Fernando Tenreiro,
A Inteligência Colectiva que aqui refiro, reúne os processos de grupo que diferenciam a perfomance e o resultado de uma determinada equipa num determinado contexto que varia em função de alguns dos factores que também foram referidos por si, e claro está, estão sempre a alterar-se.
O que pretendi colocar no post foram algumas preocupações ao nível dos comportamentos (laborais, processuais, sociais, pessoais, etc.) que actualmente vão sendo desprezados em função de outras ferramentas comportamentais, técnicas e de formação, e que na minha opinião têm a mesma ou mais importância que estas últimas.
Dei o exemplo do Barcelona como equipa desportiva (apenas e só, não entrando na visão e missão de uma região ou algo mais), para dar aquele que para mim é um bom exemplo como a actual melhor equipa de futebol do mundo baseia os seus processos durante o jogo na base simples do próprio jogo e não complicando ou complexando.
O mesmo pode ser comparado com as organizações no livro de Jim Collins "Excelente a Líder" onde refere que as grandes empresas e que vão sobrevivendo, para além de todo o seu know-how, apresentam sempre boas práticas nesta tipologia de comportamentos.
Por sermos e falarmos do desporto, estranho que os bons exemplos de trabalho (não os exercícios mas o que lhes dá a razão de ser) tardem a chegar às nossas organizações, sejam elas profissionais ou não.
Por último, temos bons elementos em jogo, falta-nos 'apenas' conjugar todos eles.
Bom ano!
Recomendo a respeito deste tema o seguinte livro. Já o li e parece-me que fala um pouco sobre o que o autor do post foca:
http://books.google.pt/books?id=FGcPVCca1WsC&pg=PA3&lpg=PA3&dq=eduardo+salas&source=bl&ots=DV2cpfvkyq&sig=-_28aRRRKl6WS3-FRSetgOXPNB4&hl=pt-PT&ei=-FHXSvXvDYuJ4AbQ5Z3QCA&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=15&ved=0CDwQ6AEwDg#v=onepage&q=&f=false
Enviar um comentário