segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O país que também queria organizar Jogos Olímpicos

Publica-se texto que nos foi enviado por Luís Leite e que a colectividade desportiva agradece.
Aproveita-se a oportunidade para, uma vez mais, disponibilizar este espaço a contributos dos seus visitantes.


A importância que este “país da bola” dá aos Jogos Olímpicos em geral, e à participação portuguesa em particular, apenas em Jogos de Verão, está bem patente na posição que ocupa num ranking europeu (all-time) de medalhas obtidas por país, tendo em consideração o número de participações e a população:

Portugal conquistou, até 2008, 22 medalhas, sendo 4 de ouro (todas do Atletismo), 7 de prata e 11 de bronze, para uma população de 10,6 milhões de habitantes em 22 participações.

Vejamos o palmarés dos países que têm uma população semelhante ou inferior à nossa e que estão à nossa frente no número de medalhas:

Suécia: 475 medalhas, 9,2 milhões de habitantes, 25 participações;
Hungria: 459 med, 10,1 mh, 24 p;
Finlândia: 299 med, 5,3 mh, 23 p;
Bulgária: 212 med, 7,5 mh, 18 p;
Suíça: 181 med, 7,8 mh, 26 p;
Dinamarca: 170 med, 5,5 mh, 25 p;
Noruega: 144 med, 4,8 mh, 23 p;
Bélgica: 139 med, 10,4 mh, 24 p;
Grécia: 108 med, 11,2 mh, 26 p;
Áustria: 86 med, 8,3 mh, 25 p;
Bielorrússia: 64 med, 9,7 mh, 4 p;
Rep. Checa: 33 med, 10,3 mh, 4 p;
Estónia: 31 med, 1,3 mh, 10 p;
Irlanda: 23 med, 4,3 mh, 19 p.

Atrás de nós, mas prontos para nos passar já nos próximos Jogos (atente-se na população e no número de participações):

Eslováquia: 20 med, 5,4 mh, 4 p;
Geórgia: 18 med, 4,4 mh, 4 p;
Croácia: 17 med, 4,4 mh, 5 p;
Letónia: 17 med, 2,2 mh, 9 p;
Azerbeijão: 16 med, 8,9 mh, 4 p;
Lituânia: 16 med, 3,4 mh, 7 p;
Eslovénia: 15 med, 2 mh, 5 p.

Depois só restam praticamente os micro-estados.

Não contente com este panorama, o Presidente do Comité Olímpico de Portugal, que não revelou conhecer em Pequim a maioria dos membros da comitiva e teve o comportamento que se conhece durante os Jogos (e mesmo assim foi reeleito), pretendia que Portugal se candidatasse à organização de uns Jogos Olímpicos (!) …

Tudo isto teria até alguma piada se não estivessem em causa dinheiros públicos, gastos e a gastar num Projecto Londres 2012, cujo contrato-programa com o Governo já foi assinado, mas que pelos vistos, se consultarmos o “site” oficial do COP, não está publicado.
Quando estamos a chegar quase ao meio da Olimpíada (faltam dois anos e meio), a informação a que temos acesso naquele “site” permanece desactualizada no menu principal “Londres 2012”. Com a excepção de um pequeno destaque muito recente com uma lista de integrados, noutro local, à direita. No entanto, quanto a critérios de integração que sustentam aquela lista de atletas e modalidades, nada.

Quanto ao Plano de actividades do COP para 2010, entretanto aprovado e publicado, pouco parece preocupar-se com os aspectos organizativos da próxima Delegação Olímpica, tantos são os eventos secundários laterais e passeatas previstas.


Pode-se consultar: www.comiteolimpicoportugal.pt

5 comentários:

F. Oliveira disse...

A leitura deste “post” e uma visita que fiz à página da Federação de Andebol de Portugal (FAP) http://www.fpa.pt/. onde tropecei em mais um texto vago e impreciso, suscitaram-me umas reflexões a propósito da “minha” modalidade, o Andebol, onde ando há mais de 30 anos como praticante, treinador, dirigente associativo e de clube. Regularmente, vou assistindo à abertura e encerramento de ciclos, sem que nada de concreto daí resulte no que toca a objectivos concretos e balanços claros. E o "meu" ciclo que há 2 ou 3 anos se abriu é um pouco diferente porque corresponde à entrada do meu filho na modalidade.
Em 28/11/09, entendeu a FAP reunir com as Associações Regionais para lhes apresentar os “objectivos estratégicos de um novo ciclo, denominado ‘Nós, 2013-2020’” (http://213.134.51.44/publishing/img/home_275/fotos/86848095881251060415.pdf) E então, para variar, o que nos diz a nossa inestimável FAP? O seguinte: “A estratégia passa por ‘Formar da base ao topo’, os objectivos fixados querem ‘Atingir níveis superiores de sucesso’, e para isso é preciso implementar uma dinâmica que passe por ‘Intensificar o trabalho qualitativo e de cooperação’”. Fim de citação. Recomenda-se (Não se recomenda, conforme…) a leitura do documento acima. Leva 5 minutinhos.
E o que me vem à memória destes anos todos? Vem-me à memória, há muitos anos, um título de Campeonato do Mundo C; vem-me à memória um ou outro Campeonato do Mundo/Europeu (CM/CE) organizados em Portugal; vêm-me à memória as campanhas europeias do ABC; vem-me à memória o trabalho de Garcia Cuesta na selecção e de Pokrajack no Porto (deitados por água abaixo por obra e graça do conflito FAP/Liga). Não me vem à memória nada de muito mais sólido… Ah! e vêm-me à memória os resultados que vão sendo obtidos por países com quem, há 15 ou 20 anos, nos batíamos em pé de igualdade no masculino e no feminino, ou até por países que há 20 anos nem existiam. Na página da Federação Internacional (IHF), http://www.ihf.info/front_content.php?idcat=132&idart=104 é possível ver um ranking estatístico publicado no World Handball Magazine 01/2006. Portugal? 31º, atrás de Angola, da Eslovénia e outros. Recomenda-se guardar bem e revisitar daqui por 3 ou 4 anos.
Nos tempos que correm, a FAP encontra motivos de grande exaltação na nomeação de uma ou outra dupla de arbitragem para uns jogos internacionais, na ida de um dirigente para um qualquer lugar internacional, ou na classificação para um play-off de acesso a um CM/CE. Com escreve Luís Leite, “tudo isto teria até alguma piada se não estivessem em causa dinheiros públicos, gastos e a gastar” não se sabe bem em quê e para quê.
Há bastantes anos, no domínio da Economia, Rogério Martins escreveu no “Público” que os portugueses são especialistas em ignorar o que está mal, chutar a bola em frente e continuar tocando a mesma música. Assim se fará, agora com o argumento de haver menos dinheiro por causa da crise…

ftenreiro disse...

Luis Leite
I
a sua análise pode ser ainda aumentada se coligir outros dados desportivos nacionais.
O site da APOGESD tem um documento denominado Manifesto do Desporto que colige vários indicadores e que conclui pela localização de Portugal no último lugar europeu.
As análises de benchmarking europeu são importantes por determinarem uma posição e exigirem uma acção.

II
Quando fala dos dinheiros públicos, eles até são importantes se houver principios que determinem objectivos.
Sem principios faltam os critérios que digam o que é correcto fazer e o que falha.

III
talvez possa indicar aqueles que para si são objectivos fundamentais.
Ganhar 5 medalhas olímpicas por Jogos, a actual média europeia para Portugal, é um principio?
Como você sugere não parece haver no COP essa preocupação.
E depois direi eu, se calhar se se preocupasse haveria a necessidade de mais dinheiro, público e privado.

Mas as pessoas do desporto não o querem: nem mais medalhas nem mais dinheiro.

IV
A outra situação que o seu texto sugere é que a actual liderança do COP e das federações corre para não conquistar medalhas em Londres 2012. Esta é a minha sugestão, não é a sua.

Luís Leite disse...

Só para terminar o meu raciocínio, e deixo mais algumas reflexões:

O êxito de uma olimpíada mede-se, em primeiro lugar, pelo número de medalhas conquistadas.
Até agora, Portugal conquistou, em média, uma medalha por cada participação, número que aumenta espantosamente para 1,66 medalhas, se considerarmos o período a seguir ao 25 de Abril (15 med. em 9 p.), com um máximo de 3 medalhas em 1984 e em 2004.
Quem está por dentro destas coisas e estuda o fenómeno olímpico, sabe que as probabilidades de obtenção de medalhas são, aproximadamente, de uma medalha para 3 medalháveis.
Para Portugal conseguir 4 ou 5 medalhas em Pequim, como surrealisticamente o Sr. Comandante ex-demissionário/reeleito exigiu a si próprio e às Federações para Pequim, era preciso que tivessemos entre 12 e 15 medalháveis, algo que Portugal não tem nem terá, enquanto só ligar verdadeira importância ao "pontapé na bola" e àquilo que lhe está associado.
Tanto em número de praticantes federados como em quantidade e qualidade de instalações desportivas e sua concepção/gestão, estamos na cauda da Europa.
O "amadorismo", o desconhecimento e a incapacidade de quem permanece na liderança do COP (agora sem o DAPO) auguram apenas um agravamento da situação quanto a medalhas, ou quando muito, a mais do mesmo.
Mas para os portugueses em geral e para a comunicação social em particular, os Jogos Olímpicos não passam de 3 semanas mais ou menos curiosas, durante o período de angariação de "reforços futebolísticos".
O nosso histórico insucesso olímpico não é um problema de falta de dinheiro, é um problema de falta de cultura, de educação, de interesse e de mentalidade (honra seja feita aos heróis medalhados de Portugal).

ftenreiro disse...

Discordo totalmente da acusação petrificada de que a culpa do que se passa no olimpismo português seja exclusivamente do Comandante Vicente Moura.

Ele é eleito por federações e recebe financiamentos de entidades públicas e privadas e se uns lhe dão o seu voto de confiança democrática e outros o dinheiro de que são responsáveis gerir com responsabilidade então é porque o percurso do Sr. Comandante Vicente Moura é acompanhado, não é solitário e é eficaz do ponto de vista pessoal e dos seus apoiantes.

O critério de medalháveis que refere para acompanhar as medalhas conquistadas é objectivo e é pena apenas o dar a conhecer agora e não há imenso tempo atrás.

Afinal o insucesso do COP, não é apenas do COP mas de todo o desporto.

Quando antes falei dos princípios que é necessário assumir é evidente que o insucesso dos Jogos Olímpicos cola-se aos atletas em primeiro lugar porque não ganham medalhas ou porque falhando o resultado olímpico arruinam oportunidades de vida que nenhum dos dirigentes do COP é atingido, nem os das federações.

Os princípios são importantes porque eles relacionam-se com dados objectivos de desenvolvimento nacional e pessoal que podem ser identificados e colocados como vectores do sucesso e do insucesso com que desportivamente navegamos nos mares europeus.

Por fim, desculpar o insucesso olímpico com o 'sucesso' relativo do futebol é uma perspectiva que dá jeito a muita gente, nomeadamente a quem já demonstrou não saber maximizar os seus 'inputs' e os seus 'outputs'.

Luís Leite disse...

A culpa do que se passa no olimpismo português só não é unicamente do Sr. Comandante Vicente de Moura, porque as Federações que o elegeram (não foram todas) fazem parte do mesmo "pacote".
Esse Senhor, com o comportamento que teve durante e depois dos Jogos de Pequim, devia ter sido banido pelo Comité Olímpico Internacional, já que violou várias vezes o disposto na Carta Olímpica.
Eu sei do que falo, porque estava lá!...
E também sei como as coisas foram orquestradas depois dos Jogos, e com que interesses, para garantir a sua reeleição!...
Quanto à crítica que me é feita de que "o critério de medalháveis que refere para acompanhar as medalhas é objectivo e é pena apenas o dar a conhecer agora e n ão há imenso tempo atrás", devo lembrar que sendo durante toda a anterior Olímpiada Vice-Presidente da FPA e responsável pela Preparação Olímpica do Atletismo, não me competia a mim definir objectivos gerais para os Jogos. Na minha Federação, se os tínhamos, não os divulgámos.
Os objectivos consignados no Contrato-Programa Pequim 2008 foram da responsabilidade exclusiva do Presidente do COP, em sede de negociação com o Governo.
Finalmente, nunca falei ou escrevi "sucesso relativo do Futebol", mas reafirmo que a futebolização crescente do País, naquilo que encerra de mais negativo, é um dos factores de sub-desenvolvimento das outras modalidades olímpicas.