A importância que o poder local tem tido nos processos de desenvolvimento do desporto é relativamente consensual. O país está mais desenvolvido e essa modificação teve como elemento motor ou charneira, as autarquias locais. Um processo que não foi isento de dificuldades, de contradições e que está longe de estar terminado. Um desenvolvimento que, convém ter presente, não foi suficiente para superar o histórico atraso estrutural.
A situação actual é, contudo, preocupante. Existe um crise de modelos de intervenção, de modelos de financiamento, de modelos de relacionamento com o tecido associativo, das relações com as federações desportivas, com o sector educativo, na concepção e gestão dos equipamentos públicos, nas relações com o sector privado, nas relações com alto rendimento e o espectáculo desportivo. Os problemas são muitos e as experiências conhecidas, em alguns casos, inconstantes e inconsequentes.
Existem autarquias que se organizaram como entidades prestadores de serviços em concorrência aberta com o sector associativo e privado. Outras que se transformaram em serviços de organizações de eventos, sem se perceber o papel que fica para as organizações desportivas e privadas. Outras que são um pouco de tudo: serviço público, clube, escola, federação. Outras que “empresarializaram” as suas competências. Outras que andam à procura de um “modelo”.
Os próprios instrumentos de planeamento e gestão são disso reflexo com a perenidade de fórmulas completamente desactualizadas, seja no apoio ao tecido associativo, seja no planeamento, programação e gestão do espaço. A deriva higienista também fez os seus estragos com um crescente aumento de programas de activismo físico em detrimento do desporto.
A obsessão normativa, tão presente em algumas áreas da organização do sistema desportivo, curiosamente, não tem dada a atenção devida a uma melhor identificação das competências das autarquias em matéria de desporto. O que permite que cada uma faça o que bem entende.
O modo como muitas autarquias esbanjam os recursos públicos no financiamento à dimensão profissional do desporto e no apoio ao espectáculo desportivo continua a constituir um dos traços mais preocupantes do serviço público.
Os investimentos em matéria de infra-estruturas desportivas estão longe de poder ser considerados, em muitos casos, como isentos de uma avaliação negativa. Equipamentos sobredimensionados. Ausência de estudos de sustentabilidade económico-financeira prévios à decisão política. Subutilização desportiva e social.
O trabalho de uma autarquia, sobretudo nos meios urbanos, continua muito condicionado pelo que é mediaticamente relevante. A construção de equipamento desportivo, mesmo que desproporcionado para a realidade local ou escassamente utilizado, é bem mais importante do que, semanalmente, proporcionar a centenas de crianças a aprendizagem de uma modalidade desportiva. Uma rotunda ou uma estátua valem politicamente muito mais, que centenas de jovens em prática regular de actividade desportiva.
A política local continua a construir-se muito à custa do que é visível e o betão ganha à educação e à cultura mesmo quando, no discurso político, a ordem de prioridades procura ser diferente. Mas a realidade não muda por se mudar o discurso.
A comunidade desportiva, os decisores políticos locais, o movimento associativo, os técnicos, bem teriam a ganhar se conseguissem avaliar e reflectir sobre o caminho percorrido e redesenhar os melhores modelos de intervenção para o futuro. Partindo de uma questão base: o que têm as autarquias para oferecer aos seus cidadãos em matéria de prática desportiva e como se devem organizar para esse efeito.
A situação actual é, contudo, preocupante. Existe um crise de modelos de intervenção, de modelos de financiamento, de modelos de relacionamento com o tecido associativo, das relações com as federações desportivas, com o sector educativo, na concepção e gestão dos equipamentos públicos, nas relações com o sector privado, nas relações com alto rendimento e o espectáculo desportivo. Os problemas são muitos e as experiências conhecidas, em alguns casos, inconstantes e inconsequentes.
Existem autarquias que se organizaram como entidades prestadores de serviços em concorrência aberta com o sector associativo e privado. Outras que se transformaram em serviços de organizações de eventos, sem se perceber o papel que fica para as organizações desportivas e privadas. Outras que são um pouco de tudo: serviço público, clube, escola, federação. Outras que “empresarializaram” as suas competências. Outras que andam à procura de um “modelo”.
Os próprios instrumentos de planeamento e gestão são disso reflexo com a perenidade de fórmulas completamente desactualizadas, seja no apoio ao tecido associativo, seja no planeamento, programação e gestão do espaço. A deriva higienista também fez os seus estragos com um crescente aumento de programas de activismo físico em detrimento do desporto.
A obsessão normativa, tão presente em algumas áreas da organização do sistema desportivo, curiosamente, não tem dada a atenção devida a uma melhor identificação das competências das autarquias em matéria de desporto. O que permite que cada uma faça o que bem entende.
O modo como muitas autarquias esbanjam os recursos públicos no financiamento à dimensão profissional do desporto e no apoio ao espectáculo desportivo continua a constituir um dos traços mais preocupantes do serviço público.
Os investimentos em matéria de infra-estruturas desportivas estão longe de poder ser considerados, em muitos casos, como isentos de uma avaliação negativa. Equipamentos sobredimensionados. Ausência de estudos de sustentabilidade económico-financeira prévios à decisão política. Subutilização desportiva e social.
O trabalho de uma autarquia, sobretudo nos meios urbanos, continua muito condicionado pelo que é mediaticamente relevante. A construção de equipamento desportivo, mesmo que desproporcionado para a realidade local ou escassamente utilizado, é bem mais importante do que, semanalmente, proporcionar a centenas de crianças a aprendizagem de uma modalidade desportiva. Uma rotunda ou uma estátua valem politicamente muito mais, que centenas de jovens em prática regular de actividade desportiva.
A política local continua a construir-se muito à custa do que é visível e o betão ganha à educação e à cultura mesmo quando, no discurso político, a ordem de prioridades procura ser diferente. Mas a realidade não muda por se mudar o discurso.
A comunidade desportiva, os decisores políticos locais, o movimento associativo, os técnicos, bem teriam a ganhar se conseguissem avaliar e reflectir sobre o caminho percorrido e redesenhar os melhores modelos de intervenção para o futuro. Partindo de uma questão base: o que têm as autarquias para oferecer aos seus cidadãos em matéria de prática desportiva e como se devem organizar para esse efeito.
1 comentário:
Mais uma vez concordo totalmente com a análise de J. M. Constantino e também com a "questão base" com que conclui o seu texto.
Conhecedor que sou, infelizmente, da realidade desportiva a nível municipal, um pouco por todo país, não encontro razões para optimismos, pelas razões que tenho vinculado em vários comentários neste blogue.
Mas esta reflexão merece a maior atenção de todos os implicados no desporto autárquico.
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