sábado, 20 de março de 2010

As torres inúteis

Um novo texto de Luís Leite e o agradecimento da Colectividade Desportiva.
Aos nossos visitantes: não hesitem em enviar as vossas leituras do desporto.
Quando se fala em equipamento desportivo, um dos casos que sempre mais me intrigaram e para o qual nunca encontrei uma explicação, aceitável ou não, é o da construção das torres de iluminação do Estádio Nacional.
Por uma razão muito simples: é que não servem para nada, embora e curiosamente, por vezes estejam acesas.
No que respeita ao Futebol, que eu saiba, nunca houve nenhum jogo internacional nocturno. Os treinos das Selecções Nacionais são sempre diurnos e quase sempre de manhã. Só se realiza neste estádio a final da Taça de Portugal de Futebol, em Junho e à tarde, quando a luz é suficiente.
Quanto ao Atletismo, a pista está completamente degradada já há cerca de 15 anos e é impossível lá treinar com condições mínimas. Entretanto, como é óbvio, perdeu há muitos anos a homologação para competições.
Sendo estas as únicas duas modalidades para as quais o Estádio de Honra foi concebido, poder-se-ia pensar na utilização nocturna em outros eventos, mas que me lembre, só lá foi realizada uma ópera, há bastantes anos.
Assim e como não consigo encontrar na “net” rigorosamente nada sobre este fenómeno de dinheiro supostamente mal gasto, gostava que alguém me esclarecesse:

1) Por que razão foram projectadas e construídas aquelas torres de iluminação?
2) Quantas centenas de milhares de euros custaram ao erário público?
3) Quantas vezes foram úteis para jogos, competições, eventos ou treinos de atletas de alto rendimento?
4) Qual a relação preço final+manutenção/utilizador?

10 comentários:

gimno disse...

Perguntas muito pertinentes e bem colocadas, mas cuja resposta nao sera assim tao dificil de responder... infelizmente.

Luís Leite disse...

Infelizmente não obtive qualquer resposta. Pelos vistos as perguntas são difíceis de responder. Se fosse fácil, algum dos anónimos institucionais já o teria feito.
Já agora, acrescento que a pista de atletismo do mesmo Estádio de Honra, que está completamente careca e impraticável, foi pintada da cor do sintético, sendo também pintadas todas as linhas de demarcação das pistas (corredores) a branco, nas vésperas da final da Taça de Portugal de 2009.
Tudo isto só para decorar (embelezar) e enganar o espectador incauto.
Já agora, por favor, alguém do IDP nos pode elucidar sobre quanto custou tão importante obra pública paga pelos nossos impostos?

ftenreiro disse...

Primeiro: A pergunta que o Luís Leite procura é:

Onde estão as galochas sorridentes?

Conta-se que o dia da montagem de um dos postes teria o brilhantismo do dono da obra e o préstimo da comunicação social para a fotografia.

Nesse dia e nos dias anteriores choveu e o guindaste para içar o enorme poste estava no meio da lama e a cerimónia não se realizou ... apesar do dono insistir que se içasse um bocadinho para a fotografia.

Falta referir que o dono da obra apresentou-se com umas galochas sorridentes que fizeram inveja a todos os presentes e os marcou para a posteridade.

Isto contava-se na altura.

O mínimo que se poderá dizer é que para uma fotografia de galochas sorridentes o custo não interessou, por exemplo, ao Tribunal de Contas. Já as Finanças, por esta e por outras, lá vai cortando o que pode do orçamento.


Segundo: a sua insistência acerca das malfeitorias de um dos seus adversários de política.

Referi noutro lado que as políticas de instalações desportivas que facultam patrocínios privados. O dinheiro que é retirado às instituições desportivas que lhes seria devido pela prática da população, recebem-no dos patrocinadores privados que fornecem as matérias-primas para as instalações da sua actividade desportiva.

As federações colocam-se nas mãos públicas que querem fazer obras e das empresas que querem fornecer os materiais das obras. Recebem dos primeiros para não fazer ondas e dos segundos para esquecer-se do desenvolvimento desportivo que tolhe o ritmo do desenvolvimento do betão. Ao calar aceita não confrontar os agentes com o bem-estar da população e o compromisso com as medalhas na alta competição.

O problema da política desportiva nacional é o de conseguir coordenar o investimento nos diferentes factores definindo os preços correctos. As federações desportivas actuam esmagadas por uma definição de preços abaixo do custo e da estrutura técnica que as sociedades mais desenvolvidas usam na sua produção desportiva.


Terceiro: conclusão
Fala-se muito das instalações mas não se refere o nível de prática alcançado pelas modalidades. Fazem-se investimentos de capital que não são acompanhados pelo investimento nas actividades desportivas correspondentes e em todos os factores subjacentes à prática desportiva de todas as especialidades e valências.

Esta visão larga coloca-se desde a concepção da infra-estrutura à sua manutenção e uso desportivo e de outras finalidades.

Onde estão as instituições privadas quando estas variáveis são definidas, são concretizadas e onde está a publicitação das posições privadas do que de mal acontece?

Ou seja, existe uma responsabilidade social, tanto privada como pública, que importa atender no desporto português.

Luís Leite disse...

Primeiro:

Não procuro perguntas, procuro respostas, com ou sem "galochas sorridentes".

Segundo:

Se tenho um adversário de políticas desportivas (só um?)nunca o acusei de malfeitorias. A palavra é demasiado forte, apesar do desgoverno e incapacidade da instituição que dirige.

Terceiro:

Se a referência a dinheiros recebidos pelas Federações como contrapartida pela construção de equipamentos desportivos se destina a atingir aquela em que servi o Desporto Nacional, devo esclarecer que isso não tem qualquer fundo de verdade (pelo menos enquanto lá estive). As decisões de escolha estiveram sempre nas mãos dos donos das obras (as autarquias) e nunca a minha Federação interveio em qualquer escolha de materiais nem procurou influenciar a colocação de qualquer material. O apoio que dei, Na FPA, durante 7 anos, às autarquias, foi sempre sob a forma de pareceres técnicos, numa modalidade em que o projecto e a construção têm características extremamente complexas e tendo sempre como objectivo a possibilidade de homologação para competições oficiais.
Infelizmente, a maioria esmagadora dos projectos sempre foi de péssima qualidade (por incapacidade e desconhecimento dos autores) e por isso sempre defendi concursos públicos de concepção-construção limitados a empresas acreditadas pela IAAF.

Conclusão:

Insisto em que a responsabilidade relativa aos investimentos em instalações desportivas está e esteve sempre e unicamente nas instituições públicas que já referi inúmeras vezes neste blog e não nas privadas, raramente ou nunca consultadas.

ftenreiro disse...

Existe uma responsabilidade colectiva.

Essa responsabilidade é que faz a existência de blogues como este.

A individual é insuficiente e a compreensão do todo é importante.

Há um acumular de capital no Estádio Nacional que é importante compreender a evolução desde os projectos de intensidade de capital desportivo e financeiro elevadissimos de Mirandela da Costa.

Os postes poderão ter sido um momento de refluxo e mostrar trabalho, de deixem-me trabalhar,a que faltou o modelo.

Eu suponho que era possível haver um modelo de desenvolvimento para o Estádio apresentado publicamente e mobilizador para a população da área envolvente que tem dois ou três milhões de pessoas.

Perdeu-se no Euro2004 a possibilidade de colocar o Benfica e o Sporting a jogar no Estádio Nacional com impactos nas economias dos clubes e alavancadas por projectos de transparência das contas dos clubes profissionais.

A federação do futebol quando lhe sugeriam que devia haver menos estádios ou com menor dimensão ou com bancadas amovíveis atirava com a UEFA não vai gostar disso, a UEFA não quer isso.

Isso passou.

É por isto que esvazio o seu balão das responsabilidades pessoais que as há e com galochas divertidíssimas.

Luís Leite disse...

Não concordo com a ideia de responsabilidade colectiva no caso do Estádio Nacional.
Há responsáveis individuais por inúmeros projectos que foram quase todos metidos na gaveta, levando parte importante do EN a um estado de abandono vergonhoso durante demasiados anos.
Este Governo tem-se preocupado com o EN no âmbito dos Centros de Alto Rendimento (Canoagem, Ténis, Atletismo). Mas Portugal continua a não ter um Centro Nacional de Treino com alojamento minimamente digno.
A construção do campo de golf de 18 buracos naquele local é um disparate do tamanho do TGV ou do novo aeroporto.
O Estádio de Honra está completamente obsoleto e degradado.
As suas características (acessibilidades, conforto, segurança, etc.) não se adaptam aos tempos actuais, a pedra está muito doente, os esgotos pluviais estão em estado miserável, etc.
A demolição deste e a construção de raiz de um novo seria a única solução racional. São os técnicos do IDP que o dizem...
Não havendo dinheiro para estas coisas, resta transformá-lo em espaço museológico.
Responsabilidades colectivas? Diluição de responsabilidades?
Não. Há responsáveis. E são responsáveis políticos.
Actualmente querem incluir no mesmo local o desporto de alto rendimento e o desporto de lazer. Vai dar mau resultado. Não faz qualquer sentido. Basta ver como estas coisas são planeadas e executadas na Europa desenvolvida.
Não se pode nem deve misturar actividades incompatíveis.
Vão ver se não tenho razão.

Anónimo disse...

Cerimonia de Abertura da Gymnastrada Mundial 2003 - 25.000 participantes

Luís Leite disse...

Bravo!
Obrigado caro anónimo.
Já temos:
uma ópera (Aida de Verdi);
a cerimónia de abertura da Gymnastrada;

Alguém sabe de mais algum evento?
Ninguém é capaz de dar respostas globais, concretas e definitivas às minhas perguntas?

ftenreiro disse...

Afinal o préstimo do EN serve outras modalidades.

Poderia a ginástica ser convidada a fazer uma gimnastrada nacional anualmente?

Há 60 modalidades. Quantas poderiam e aceitariam ir ao EN fazer a sua festa anual.

O que leva ao que dizia anteriormente não há políticas integradas e envolvimentos consensuais entre os parceiros.

Luís Leite disse...

A Gymnastrada foi um mega-evento isolado, que necessitou de grandes e caras adaptações e recurso a meios (outsourcing) não existentes no local.
Por isso, a Federação de Ginástica não será, naturalmente, uma utilizadora interessada.
A maioria esmagadora das 60 modalidades não se adapta às características do Estádio de Honra que, além disso, está obsoleto.
Em termos desportivos, o Estádio de Honra está exclusivamente por conta das Selecções Nacionais de Futebol.
Restam outro tipo de mega-eventos musicais ou teatrais, que têm sempre a desvantagem de por em sério risco o estado do relvado.
Algo que a FPF não pode aceitar.