Um novo texto de Luís Leite que a Colectividade Desportiva agradece.
Entrando no portal da Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto ou no “site” do Instituto do Desporto de Portugal e procurando na “Medida 6 – Centros de Alto Rendimento” e a seguir clicando em “Centro de Alto Rendimento do Jamor – Atletismo”, pode ver-se um filme justificativo da iniciativa e dois quadros explicativos sobre as características dos equipamentos e das obras a executar.
Este Centro de Alto Rendimento, resposta do anterior Governo à luta do Atletismo Português, numa reivindicação antiga e continuada por condições de apoio aos atletas no “Regime de Alta Competição”, semelhantes às que existem em toda a Europa há décadas, foi apresentado com grande pompa e circunstância mais do que uma vez em anos transactos, no auditório do Complexo de Piscinas do Jamor.
Nos quadros explicativos encontram-se claramente definidos os valores das obras e os prazos para conclusão das mesmas.
Confrontemos, em análise rápida, o prometido com o executado, tomando como momento referencial o início de Abril de 2010:
Pista de Atletismo nº 1 – Estádio de Honra
Conclusão prevista: Julho de 2009.
Situação actual: nada foi feito, tendo-se desistido da obra.
Pista de Atletismo nº 2 (recuperação)
Sem referência a data de conclusão.
Situação actual: a obra encontra-se aparentemente concluída, embora sem arrecadações para o material, com algumas deficiências construtivas e sem estar apetrechada. A iluminação foi esquecida, mantendo-se a antiga, muitíssimo insuficiente.
Pista de Crosse
A integrar no Centro de Alto Rendimento de Golf/Campo de Golf.
A pista continua felizmente a existir, mas quanto a Campo de Golf, nada.
Edifício de Balneários
Conclusão prevista: 30 de Maio de 2008.
Situação actual: o edifício existe há bastante tempo, mas continua sem condições para ser utilizado, por razões não divulgadas, que se prendem com erros diversos e com o atraso na construção da Nave Coberta.
Edifício de Apoio Administrativo e Técnico
Conclusão prevista: Setembro de 2008.
Situação actual: Integrado no edifício dos balneários, também continua sem condições para ser utilizado.
Nave Coberta
Conclusão prevista: Agosto de 2009 (na apresentação pública Abril de 2009, posteriormente Setembro, Outubro, Fevereiro e Abril de 2010).
Situação actual: a obra encontra-se muito atrasada, podendo prever-se que a sua conclusão nunca será possível antes do Verão de 2010.
Instalações para o Departamento Médico da FPA
Não previstas inicialmente.
Situação actual: aparentemente a obra estará concluída, mas sem condições para ser utilizada.
Resumindo:
Após décadas de luta para dotar o Atletismo português de um verdadeiro Centro de Alto Rendimento com uma Nave Coberta para treino de Inverno e outras valências indispensáveis, o Governo anterior avançou finalmente com projectos e obras.
Tendo ficado acordado com o Secretário de Estado que a FPA, além de fornecer o Programa Preliminar da Nave Coberta e do Departamento Médico, daria aconselhamento técnico durante as fases de projecto e obra, o IDP nunca mais quis a ajuda da FPA, com três excepções:
uma reunião do signatário com o arquitecto responsável pelo Projecto de Arquitectura, convocada pelo Director de Serviço do IDP, onde foram solicitadas pela FPA diversas alterações ao Estudo Prévio;
a entrega pela FPA ao IDP de listas com os apetrechamentos para a pista 2 e para a Nave Coberta;
a entrega pela FPA ao IDP do novo layout da Pista nº 2, com pequenas alterações ao existente.
A FPA e o signatário nunca mais foram contactados. A falta de acompanhamento técnico originou o aparecimento de erros projectuais mais ou menos graves. A FPA e o signatário acabaram por receber, após várias insistências e tardiamente, o Projecto de Arquitectura.
Desconheço o que se tem passado após a minha demissão da FPA em 29 de Julho de 2009, apesar de ter continuado a visitar, por fora, a obra.
O Atletismo Português continua pacientemente à espera do Centro de Alto Rendimento, que será inaugurado, certamente, numa manhã de nevoeiro de um dia, mês e ano desconhecidos.
Entretanto, Nelson Évora, Naide Gomes, e todos os melhores atletas portugueses continuaram a treinar no Inverno à chuva e ao frio, acumulando lesões.
Lisboa continua e continuará na próxima década, a não ter uma pista coberta para competições oficiais, 9 anos após o Mundial de Pista Coberta no Pavilhão Atlântico, apesar das eternas promessas dos sucessivos Governos e Executivos Municipais.
12 comentários:
O poste demonstra que há projectos mas não existe nenhum estudo ou trabalho que demonstre que se o atletismo não os tiver não produz medalhas olímpicas, por exemplo.
Quais são as prioridades e a hierarquia de objectivos?
O desperdício de recursos em projectos com os engenheiros e os arquitectos tem destas consequências. É de temer ainda pior.
Há razões para o seu quadro negro.
As instalações estão degradadas ou não se fazem novas porque o dinheiro é pouco.
O dinheiro é necessário para outras alternativas.
Como decidir se se investe no Atletismo ou no restante?
O poste não estabelece objectivos e alternativas.
Quanto à pista coberta só a apresentação de atletas e de estruturas de receitas claras para o equilíbrio com a despesa levariam autarquias a darem esse passo.
Mas porquê que é que o Atletismo teria de fazer uma programação estratégica se o Futebol não o faz?
Concluindo, com o seu poste você pode estar a prejudicar a sua modalidade cujo registo é mais moderado do que as suas afirmações.
Ou então, a hipótese hiperbólica era o Luís Leite ter combinado com o Atletismo sair e pressionar os parceiros públicos de fora da federação ... no Colectividade Desportiva.
Caro Fernando Tenreiro:
1) A hipótese hiperbólica não se confirma. Basta ler as minhas "Dez Razões Para Uma Demissão" aqui publicadas, para perceber isso.
2) O Atletismo é, de longe, a modalidade com maior sucesso desportivo no nosso país.
Isso não quer dizer que Portugal seja uma potência do Atletismo Mundial ou Europeu.
O que somos é muito fracos nas outras modalidades, onde não se ganha quase nada relevante, salvo raras excepções que só confirmam a regra (no Judo e na Vela).
Nas modalidades colectivas, Futebol à parte, a evolução é insuficiente e nas modalidades olímpicas somos dos mais fracos da Europa.
3) O texto que escrevi tem por objectivo mostrar o nível de desorientação geral e incompetência da Administração Pública Desportiva (e não só).
4) Entre os anos 60 e os anos 80 do séc. XX Portugal passou de níveis de desenvolvimento desportivo semelhantes à nossa vizinha Espanha para cerca de 20 anos de atraso. De então para cá, o nosso atraso aumentou outros 20 anos, pelo que actualmente, em média temos 40 anos de atraso.
5) A tese de que o Atletismo consegue medalhas olímpicas porque não tem condições de preparação suficientes é disparatada. O que se deve perguntar é qual seria o nível de sucesso do nosso Atletismo (e não só) se tivessemos um investimento, uma organização e instalações desportivas semelhantes aos espanhóis. E vice-versa.
6) O que tenho feito, ao longo destes 8 meses de escrita na "Colectividade Desportiva" é chamar a atenção para o que está mal e tem que ser mudado. É uma atitude de intervenção cívica a que me sinto obrigado, após ter passado vários anos a contactar com o que se faz lá fora, no âmbito das instalações desportivas e do Alto Rendimento.
7) A verdade é que não aprendemos nem queremos aprender. Continuamos a não saber o que queremos e não somos capazes de mudar nada.
8) Prioridades? Um velódromo para ciclismo de pista em Anadia por 14 milhões de euros, numa disciplina do ciclismo que nem sequer existe em Portugal é a primeira prioridade nos Centros de Alto Rendimento. Isto está certo? O dinheiro é pouco? Só se for depois da construção dos 1000 campos de futebol com relva sintética, grande desígnio nacional para pôr toda a gente a jogar à bola (?)...
9) Quanto a Lisboa, construíu-se para a Expo-98 um Pavihão Atlântico polivalente, claramente programado para a prática desportiva. Só depois é que se concluíu que o desporto lá saía muito caro. E então toca a fazer mega-concertos, num recinto que não tem condições acústicas nem estruturais para tais actividades. Temos a mania de fazer obras faraónicas, que depois não são economicamente sustentáveis. As decisões políticas são tomadas à balda e sem serem feitos estudos de viabilidade. Esbanja-se à toa dinheiro que dava para equipar desportivamente o país de uma foram inteligente e harmoniosa.
Prometem-se obras que depois ou não se fazem ou entram em derrapagens diversas.
E nunca há dinheiro...
Enfim, é uma tristeza!
F. Tenreiro:
Por lapso, esqueci-me de comentar as sua frase lapidar "O desperdício de recursos em projectos com os engenheiros e arquitectos tem destas consequências. É de temer ainda pior."
Então, digo eu, quem é que deve fazer os projectos de arquitectura e de engenharia? São os economistas? Serão os juristas ou os professores de educação física?
A incompetência está, nestes casos, do lado da Administração Pública, que não tem vontade de dialogar com as Federações, partilhar interesses e vontades, antes tem medo de perder poder.
E depois dá estes lindos resultados...
Obrigado pela sua resposta Luís Leite
Noto telegraficamente as seguintes questões:
Concordo que há demasiado Atletismo para a concorrência e da margem de progressão ser grande.
Somos muito fracos nas outras modalidades também concordo e essa falta de competitividade prejudica o Atletismo que se encolhe e vê a vida passar-lhe adiante.
Veja como o Basquetebol onde existem tantas personalidades e massa crítica e mediatização não consegue um resultado para amostra.
Outros casos são os da Natação, Ciclismo, Golfe e Ténis.
O Judo prometeu e precisa de muito trabalho nacional mas temo que Londres não dê sequência ao sucesso recente. Os melhores atletas estão abandonados para as suas necessidades e direitos fundamentais.
A sua comparação com Espanha é excelente. A distância é capaz de ser menor porque existem capitais acumulados e em letargia. Surgindo uma orientação determinada e ambiciosa os resultados começam a aparecer. Alguns dos métodos de trabalho actuais são prejudiciais ao aparecimento desse capital acumulado.
O Pavilhão Atlântico não é 60% desportivo porque o associativismo desportivo aceita o desperdicio, a menorização, não tem objectivos e não sabe definir o que é e que importância tem um pavilhão Atlântico para si.
Os pavilhões Atlânticos em Portugal são para dar lucro para as construtoras, as instituições imobiliárias e financeiras ou para deixar cair de inanição.
Não resisto a não deixar-lhe a provocação usual:
Você ainda quer centenas de milhar, milhões(?) de euros para as instalações do Atletismo, ou tapar os buracos basta?
Repare:
Eu não quero nada para o Atletismo.
Lutei muito ao longo de vários anos para se conseguir finalmente alguma coisa que quando estiver pronta preencha os requisitos mínimos para a preparação dos nossos melhores atletas. E fartei-me. E pirei-me. Disse BASTA!
O que eu quero é uma lógica de prioridades na dotação de verbas e na construção de equipamentos desportivos que faça algum sentido.
Em Portugal tudo tem que ter a dimensão de "obra de regime".
Nós no Atletismo nunca pedimos mais do que o indispensável, sugerindo soluções menos caras. Se se pode construir o essencial no local certo com 3 milhões, por que razão temos que gastar 15 milhões?
Mas isso não interessa aos políticos.
Falta-nos uma pista coberta para se poder competir em Lisboa (a pista do Mundial está em Pombal), como faltam muitos outros equipamentos indispensáveis há muitos anos a outras modalidades.
O que tem acontecido desde a sua saída é que a FPA arranjou uma pessoa competente para gerir todo o dossier do Centro de Alto Rendimento do Atletismo. Quanto ao resto, vozes de burro (ainda por cima burro mentiroso) não chegam ao céu.
...é muito nível...Santa paciência...
Como já disse várias vezes, não respondo a anónimos cobardes.
E quem é a nova aquisição, o 'puto maravilha'?
A esta respondo:
Não há "puto maravilha".
O Prof. Jorge Vieira, Vice-Presidente da FPA foi, há mais de um ano, escolhido pelo Presidente Fernando Mota para Director do "futuro" C.A.R. do Atletismo no Jamor, estando actualmente com licença extraordinária a desempenhar essas funções, tendo estado a preparar, com grande antecedência e com a colaboração do Prof. João Ferreira, todo o programa organizativo das actividades do futuro C.A.R.
O Prof. Jorge Vieira, antigo Director Técnico Nacional durante muitos anos, é um técnico graduado, com formação e larga experiência nas áreas do Alto Rendimento e da Formação de Treinadores. É, pois, sem qualquer dúvida, uma pessoa muito competente nessas áreas específicas.
Isso nada tem a ver com o assunto em questão no meu post:
O IDP não quis que o Vice-Presidente Arq. Luís Leite, pai da ideia e autor do Programa-Base da Nave Coberta, nem qualquer outra pessoa da FPA se envolvesse demasiado nos projectos e obras da nave e do C.A.R. em geral, quando o devia ter feito, por indicação expressa do Secretário de Estado.
Isto são factos que posso provar em qualquer altura. Não são mentiras.
Quanto às ofensas pessoais de anónimos, nem merecem comentários.
Folgo em saber que o prof Jorge Vieira se encontra à frente dos destinos deste empreendimento que contribuirá certamente para a dinamização da modalidade e, sobretudo, para uma significativa melhoria das cndições de treino dos nossos melhores atletas
Já tinhamos saudades suas, professor
Um grande bem haja e boa sorte ao enfrentar os seus futuros detractores.
Sim, porque os haverá certamente
Estará certamente em boas mãos.
Oh Luís Leite você é um bocado ingénuo.Acaso comprava um carrro em segunda mão ao Dr.Laurentino Dias ???
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