O texto que segue é da autoria de Fernando Gaspar cuja colaboração se agradece.
Acusações de defeitos ao Sistema Desportivo Português:
• De falta disto;
• De falta daquilo;
• De corrupção;
• De inoperância;
• De abuso de poder;
• De falta de poder;
• De falta de estratégia.
São acusações diárias que se podem ler nos mais diversos meios de difusão de informação, ou desinformação. Nomeadamente, em relação a esta ultima acusação, pergunto duas coisas:
1. Quantos desses acusadores terão uma estratégia para a sua própria realidade e dimensão?
2. Quantos esperam por uma receita que resolva todos os problemas, qual D. Sebastião que um dia emergirá do nevoeiro?
Inclusivamente, será fácil apontar o dedo aos governos dizendo que os mesmos não apresentam qualquer estratégia a médio/logo prazo para o desporto, que os seus programas não são exequíveis, que os apoios são insuficientes, etc, etc, etc… Até poderá, tudo isso, ser verdade, mas infelizmente esta falta de estratégia não se aplica única e exclusivamente à esfera política da dimensão desportiva.
Mas tudo deverá ter a sua dimensão e como tal enquadrar-se dentro de um determinado universo ajustado a essa mesma dimensão. E é aqui que entra, ou melhor: não entra, a estratégia, a planificação, a orientação e o estabelecimento e avaliação de objectivos.
Quantos, pequenos clubes de bairro ou de pequenas localidades, têm um plano estratégico a cinco ou dez anos? Ou até mesmo a dois anos? Já para não falar de planos por Ciclos Olímpicos. Poderão eventualmente ter um plano de actividades, o que por si só não chega para delinear um plano estratégico.
Que esta planificação não se entenda apenas por resultados desportivos, mas também por um outro conjunto de objectivos válidos, tais como: consolidação orçamental, independência orçamental, reforço de imagem, identificação com a comunidade local, educação e formação para a área da actividade física, desporto e saúde, etc… Quantos clubes então estabelecem planos estratégicos para estas ou outras áreas? Quantos analisam as tendências, os seus pontos fortes e fracos, as suas necessidades e definem estratégias para alcançar os seus objectivos a médio/longo prazo. A visão da grande maioria, certamente não alcançará mais do que um ou dois anos de prazo.
Frequentemente a comunicação social, dá notícias de sonhos de dirigentes de pequenos clubes, de clubes com alguma dimensão e até mesmo de algumas associações e federações, que gostariam, de alcançar determinado resultado desportivo, de ingressar em determinada competição, entre outros sonhos (sim, sonhos! Porque entendo que se devem diferenciar os objectivos dos sonhos – embora os sonhos possam orientar os objectivos e estes concretizar os primeiros). Mas depois, o resto dessa mesma notícia mostra o quão vazio de conteúdo é o sonho, da não existência de estratégia, de objectivos intermédios e finais e de métodos para alcançar esse sonho, preferindo apontar o dedo às decisões políticas, à crise, à falta de qualidade dos atletas, à falta de patrocínios, ou a outro qualquer factor externo à sua organização. Então e porque não apontar o dedo à sua própria organização?
Um projecto será tão mais exequível, quanto mais independente de factores externos for. Há que criar estratégias para contornar os factores externos que dificultam o processo. Um patrocínio cada vez menos cai do céu por acaso (mesmo no clube de bairro), há que criar condições para dar algo em troca; a qualidade dos atletas (objectivos competitivos) em grande parte das modalidades não se faz apenas com treinadores curiosos, ou com treinos de uma hora duas vezes por semana e por ai fora…
Da mesma forma que não se faz um atleta olímpico de um ano para o outro, mesmo que se tenham conseguido reunir todas as condições; não se conseguem patrocínios de um momento para o outro, mesmo tendo mudado significativamente a estratégia de comunicação. É preciso uma estratégia a longo prazo, que consolide uma postura e uma visão. Um objectivo deverá ser uma visão de uma organização, deverá ser exequível (e como tal resumir em sim mesmo todo um processo necessário para esta execução) e balizar um caminho.
Reclama-se tudo isto, mas tenho duvidas que se por momentos fossem dadas essas condições a quem as reclama, houvesse uma estratégia capaz de conduzir aos seus sonhos (repare-se que frisei sonhos e não objectivos).
“O Homem é mais empurrado por trás que puxado pela frente!” É uma frase icónica dos corredores da FMH, no entanto parece que continua a não ser colocada em prática.
O Homem – Dirigente Desportivo, continua à espera de factores que o puxem pela frente, que lhe facilitem o caminho, de receitas fáceis e rápidas, que lhe tragam a glória sem esforço, ao invés de procurar no seu caminho parceiros, estratégias e aprendizagens que lhe permitam direccionar o seu comportamento para um visão coerente e objectiva do futuro.
Estratégia, precisa-se!
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
A miopia desportiva e o facilitismo da acusação!
publicado por Rui Lança às 10:59 Labels: Dirigentes desportivos, Gestão desportiva
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
7 comentários:
Eu diria mesmo mais:
Ao nível das Federações, do COP e da CDP o conceito elementar de "estratégia" é visto como um inimigo que procura interferir no poder discricionário de quem lá está, de quem vai resolvendo as questões de momento em almoços com colegas seus pares, há muitos anos no(s) trono(s).
O que conta mesmo é ter poder, dispor do poder e eternizar-se no poder. Algo que é afrodisíaco e dá vício. E que engorda presidentes.
De preferência sem planeamento estratégico.
Quanto aos Governos passa-se mais ou menos o mesmo, com a agravante do curto prazo para eleições e do "politicamente correcto".
A competência no dirigismo não se mede pela existência de estratégia. Mede-se, a olho nú, mais ou menos, pelos resultados.
E o resto são arranjinhos.
Caro Fernando Gaspar
Há dois tipos de facilitismo da acusação:
1.º
O facilitismo da acusação deriva da actuação facilitista do Estado que parece desnorteado em mar alto.
Se o Estado dá e transmite bons exemplos de actuação, planificação, organização, correcta regulação, e etiquetas aparentadas, isso reflecte-se na sociedade, nos cidadãos, no associativismo em geral.
Mas é impossível ser-se míope num país que prima por ser o último da Europa, por norma e sistema, como reflexo do estado do Estado, com repercussões negativas nos actores sociais e nas instituições privadas.
Metaforicamente, casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão, ou, como na canção do Zeca Afonso, "casa onde não há pão, não há sossego".
2.º
O facilitismo da acusação deriva da actuação facilitista do Estado que, no caso do Processo Queiroz nos patenteia, passe o pleonasmo, um exemplo exemplar de como uma gota de água se transforma numa tempestade tropical.
No dia em que as acusações diárias cessarem, aí, teremos o Estado normalizado, organizado, orientado, arrumado.
Cordialmente
Como só soube do "acórdão (?)" do Presidente do IDP após ter escrito o meu primeiro comentário, sinto-me obrigado a escrever mais qualquer coisa.
Independentemente de Queiroz ser muito ou pouco culpado face à legislação em vigor anti-doping e eu penso que é muito culpado, é inacreditável que o Presidente de um Instituto Público tutelado directamente pelo Governo tenha a coragem de exarar um acórdão jurídico, simultaneamente julgando e sendo parte interessada.
A Lei que permite isto está mal feita e foi feita pelo Governo, aprovada pela Assembleia da República e promulgada pelo Presidente da República!...
Desde quando um Governante ou um Presidente de um Instituto Público têm legitimidade para "julgar" seja o que for e ainda por cima em causa própria?
Já sabia que o Professor Doutor Luís Sardinha era um péssimo Presidente do IDP, já que lidei directamente com a sua incompetência (e inexplicáveis acumulações) e com a incompetência dos seus Serviços.
Portanto não é novidade.
Do Dr. Laurentino Dias também não se espera mais do que aquilo de que é capaz, tantos têm sido os disparates... Na SEJD, na área do Desporto só se aproveita o Nuno Laurentino. Tem a sensibilidade de quem praticou Desporto a sério e o viveu por dentro. Pelo menos isso...
O único que esteve no IDP com estes Governos PS que era competente foi corrido (por ser competente e independente) e chamava-se e chama-se Dr. João Bibe.
Pegando no Carlos Queiroz...
Estranho que se acuse o mesmo de falta de liderança, que se acuse o Presidente Gilberto Madail da mesma incapacidade (note-se que não estou a concordar ou a discordar dessa acusação).
Estranho mais ainda que essa acusação seja efectuada pelo Sr. Secretário de Estado do Desporto que enquanto timoneiro não teve igualmente "balls" para cumprir, conveniente, firme e determinantemente, com o estipulado para o não cumprimento por parte da FPF da adaptação dos seus estatutos - Adaptação imposta a TODAS as Federações com base no modelo específico do interesse da FPF .
Paira no ar o cheiro a vingança, a poder contra poder, a birra.
Este caso faz lembrar a história do amante que por não conseguir ter prazer, bate na sua amante - menina dos seus olhos à mais ínfima palavra de desacordo.
Aproveita-se a oportunidade, e em jeito de manobra de distracção, queima-se a(s) pessoa(s) que dentro da FPF teria uma estratégia para a mesma, o que se calhar também incomodava muita gente.
Provavelmente as palavras proferidas em Itália em 1993 continuam a fazer sentido e inclusivamente a serem extensíveis a outros.
O Dr. Luís Leite descobriu no Dr. João Bibe o suprasumo do governo socialista e não indicou factos que nos mostrassem essa passagem que o Dr. Luís Leite parece ser o único a observar. Diga-nos lá porque é que o Dr. João Bibe é um exemplo.
Afinal o Dr. Bibe é para esquecer.
Eu estava à espera de ouvir coisas positivas sobre a única pessoa que se tinha destacado para o Arq. Luís Leite
"Já sabia que o Professor Doutor Luís Sardinha...e com a incompetência dos seus Serviços".
Ó Sr Luís Leite eu pertenço aos "Serviços" a que V. Exa refere. E como você não me conhece nem sabe o que faço, com tal afirmação só demonstra ignorância e estupidez! Porque o IDP é composto por mais funcionários que o Presidente! Porque entre esses funcionários existem os que cumprem e se esforçam por cumprir os seus objectivos! Como eu! Portanto, para não me alongar mais, as "bacoradas" e a habitual música dos imcompetentes, que é a sua, demonstrando capacidades que não têm de todo,já eu estou farto de ouvir! Se calhar ainda você andava de chucha ba boca e já eu era funcionário público e, como gosta de apregoar, também eu nunca fui "seguidista" de ninguém, limitando-me sempre a trabalhar da melhor forma que me era possível. E posso dizer que já vi muitas "abéculas" dos pinotes que davam vontade de chorar com a "incompetência demosntrada"! Considero que esta afirmação constitui uma ofensa a todos os funcionários do IDP!
Mas como você já demonstrou por demais a sua parvoíce neste blog temos que o considerar "inimputável" por anomalia psíquica estruturante! E como dizia o meu Avô, vozes de burro nunca chegaram ao céu!
Um funcionário.
Enviar um comentário