O mini conselho nacional de desporto que a SiC Notícias transmitiu em directo (20 Dez.) permitiu ao homem do leme do nosso desporto atirar-se às associações distritais de futebol. E mostrar que o resultado, das providências cautelares intentadas contra a suspensão de parte da UPD da FPF,para já, é-lhe favorável por 6 a O. Embora no intervalo-as acções principais vão ainda ser apreciadas - o grito já é de vitória. Fraca consolação. Uma tão grande cabazada ao intervalo não é suficiente para obrigar a FPF, que ficou queda e muda, a fazer o que diploma prevê: alterar os estatutos e conforma-los ao novo regime. E, neste caso, nem o princípio, de que quem paga manda, parece ter surtido o efeito desejado. O homem do leme mandou cortar os financiamentos às associações e o resultado foi o mesmo que antes. Segundo a imprensa alguns dos conselheiros do homem do leme reunidos em conclave no dia seguinte ao dia seguinte sugeriram-lhe medidas mais duras. O que cria um problema de difícil solução. Mais dureza das medidas podem atingir a parte da FPF aliada do nosso homem do leme . Pagará o justo pelo pecador.
O regime, que as associações distritais teimam em não cumprir, foi feito para o futebol. E para retirar o poder aqueles que o não querem ceder. Coisa de que ninguém gosta. Mas se não querem, paciência. Nenhuma lei do país os pode obrigar. Porque o país tem outras leis que os habilitam a funcionar como até data. Pelo que se não trata de desconformidade legal em absoluto. Mas apenas a um diploma em concreto. Resta a quem governa retirar à respectiva federação algum do reconhecimento que ainda tem em sede de utilidade pública desportiva. O país não acaba. E o futebol não desaparece. E pode sobreviver sem qualquer apoio financeiro do Estado. De resto, os resultados financeiros que a FPF apresenta e as disponibilidades financeiras de que dispõe, quase que tornam pornográfica a necessidade de continuar a receber apoios financeiros do Estado. Este bem podia poupar umas boas massas. E respirar para outras latitudes.
O governo, se estivesse para aí virado, também poderia aproveitar para reflectir. Mas o homem do leme do nosso desporto é como o professor Cavaco: nunca se engana. Mas devia pensar que as medidas legislativas que criou para “organizar”e distribuir o poder no seio das federações desportivas, mas feitas a pensar no futebol, não residem na natureza “boa” ou “má” das mesmas. Mas na incapacidade do governo - este ou qualquer outro - para entender que não é ele quem desenvolve o desporto nacional, mas sim os clubes, as federações desportivas e a iniciativa privada. Este erro, de resto, muito persistente no arco governativo do PS/PSD não resiste à evidência do bom senso: se um governo pudesse desenvolver o desporto através de medidas legislativas, não estaríamos no estado em que estamos. Bastaria decretar como o desporto se deveria comportar. E fiscalizar esse comportamento. Mas é precisamente o contrário. Se um qualquer governo quiser ajudar, o que tem a fazer não é andar a mexer na organização associativa e privada do desporto. Deve é retirar todos os entraves para que elas possam livremente operar no sistema. E estimular e apoiar as respectivas actividades desportivas desonerando custos e procedimentos.
Bem sei que dizer as coisas assim é uma verdadeira blasfémia. Operar livremente no sistema? Isso iria permitir que cada um fizesse o que bem lhe apetecia. Não é essa a questão. Mas a de alterar o foco de atenção do Estado. Deixar de estar focado nas condições prévias á produção dos resultados das organizações desportivas e centrar-se numa avaliação de produto desses resultados. O modo como se organizam só é relevante face aos resultados que alcançam. E seguramente que federações desportivas distintas terão tendência a ter formas de organização também distintas.
Tudo isto pode ser lido como provocatório. Sobretudo para quem apresenta como legado governativo um tão vasto rol de medidas legislativas. Mas o caminho seguido não é o único. E está por demonstrar que seja o melhor. Os resultados desportivos alcançados o confirmarão ou não.
O regime, que as associações distritais teimam em não cumprir, foi feito para o futebol. E para retirar o poder aqueles que o não querem ceder. Coisa de que ninguém gosta. Mas se não querem, paciência. Nenhuma lei do país os pode obrigar. Porque o país tem outras leis que os habilitam a funcionar como até data. Pelo que se não trata de desconformidade legal em absoluto. Mas apenas a um diploma em concreto. Resta a quem governa retirar à respectiva federação algum do reconhecimento que ainda tem em sede de utilidade pública desportiva. O país não acaba. E o futebol não desaparece. E pode sobreviver sem qualquer apoio financeiro do Estado. De resto, os resultados financeiros que a FPF apresenta e as disponibilidades financeiras de que dispõe, quase que tornam pornográfica a necessidade de continuar a receber apoios financeiros do Estado. Este bem podia poupar umas boas massas. E respirar para outras latitudes.
O governo, se estivesse para aí virado, também poderia aproveitar para reflectir. Mas o homem do leme do nosso desporto é como o professor Cavaco: nunca se engana. Mas devia pensar que as medidas legislativas que criou para “organizar”e distribuir o poder no seio das federações desportivas, mas feitas a pensar no futebol, não residem na natureza “boa” ou “má” das mesmas. Mas na incapacidade do governo - este ou qualquer outro - para entender que não é ele quem desenvolve o desporto nacional, mas sim os clubes, as federações desportivas e a iniciativa privada. Este erro, de resto, muito persistente no arco governativo do PS/PSD não resiste à evidência do bom senso: se um governo pudesse desenvolver o desporto através de medidas legislativas, não estaríamos no estado em que estamos. Bastaria decretar como o desporto se deveria comportar. E fiscalizar esse comportamento. Mas é precisamente o contrário. Se um qualquer governo quiser ajudar, o que tem a fazer não é andar a mexer na organização associativa e privada do desporto. Deve é retirar todos os entraves para que elas possam livremente operar no sistema. E estimular e apoiar as respectivas actividades desportivas desonerando custos e procedimentos.
Bem sei que dizer as coisas assim é uma verdadeira blasfémia. Operar livremente no sistema? Isso iria permitir que cada um fizesse o que bem lhe apetecia. Não é essa a questão. Mas a de alterar o foco de atenção do Estado. Deixar de estar focado nas condições prévias á produção dos resultados das organizações desportivas e centrar-se numa avaliação de produto desses resultados. O modo como se organizam só é relevante face aos resultados que alcançam. E seguramente que federações desportivas distintas terão tendência a ter formas de organização também distintas.
Tudo isto pode ser lido como provocatório. Sobretudo para quem apresenta como legado governativo um tão vasto rol de medidas legislativas. Mas o caminho seguido não é o único. E está por demonstrar que seja o melhor. Os resultados desportivos alcançados o confirmarão ou não.
10 comentários:
José Constantino
A sua conclusão é correcta de acordo com os princípios e a ciência.
Governa-se para melhorar a vida dos portugueses e no acto de governar usam-se muitos instrumentos.
Uns falham e outros permitem que os portugueses vivam melhor e no nosso caso consumam mais desporto, tenham melhor saúde e produtividade recebam melhores remunerações e sejam mais felizes, nem sempre por esta ordem.
Estas consequências do desporto fazem-se com boas medidas de política e boas instituições.
Há sinais que as instituições do desporto falham de se ater ao plano dos princípios como sugere Adriano Moreira em relação ao país.
É o plano dos princípios que obriga a que a análise do produto por si sugerido seja uma obrigação da aferição do produto nacional e do benchmark desporto europeu de Portugal.
O José Pinto Correia falava aqui, em 22 de Dezembro, do programa de desenvolvimento e do dinheiro das federações.
O que analisava deve ser observado com atenção para compreender o enlear das situações que complexificam os problemas e os desafios sem os resolver e defrontar.
As pessoas estão aflitas umas porque confiaram e vêem a situação a piorar e temem queixar-se, outras porque arrastaram os pés, hostilizaram quem lhes chamava a atenção e agora as suas apostas falham e têm de apresentar soluções fora do quadro legislativo em que apostaram a maior parte do tempo.
As primeiras pessoas vão ficar ainda pior se as segundas continuarem porque o panorama geral está muito difícil.
Mesmo se estas saírem e outras pessoas vierem as primeiras, do associativismo desportivo, vão aceitar sacrifícios para ajudarem a emendar a mão de quem saiu.
2011 será difícil para aqueles organismos desportivos de quem se fala mais e para quem mais se legisla sem se compreender que o 'processo legislativo em curso', um PLEC, é um desafio que necessita de princípios que casados com os resultados produzidos dêem aos portugueses o desporto a que aspiram como europeus de corpo inteiro.
Escreve José Manuel Constantino
Resta a quem governa retirar à respectiva federação algum do reconhecimento que ainda tem em sede de utilidade pública desportiva. O país não acaba. E o futebol não desaparece
O eventual cancelamento do estatuto de utilidade pública desportiva da Federação Portuguesa de Futebol acarretaria, para além de outras consequências:
- o cancelamento imediato do "Plano Mateus", com a consequente exigibilidade, aos clubes dele beneficiários (e à FPF e Liga, que se corresponsabilizaram pelo pagamento), da verba em dívida para com o Estado (uns modestos 50 milhões de euros);
- a imediata suspensão da comparticipação nas viagens dos clubes entre as regiões Autónomas e o Continente;
- o cancelamento das verbas para financiar o policiamento de espectáculos desportivos.
Estando os clubes fortemente endividados, a ponto de muitos nem pagarem atempadamente os salários aos jogadores, tem o José Manuel Constantino a certeza de que nada aconteceria ao futebol e que tal cancelamento apenas teria consequências meramente "estéticas"?!!!
O Futebol profissional talvez não fosse sofrer, mas o futebol regional iria certamente e por consequência o futebol juvenil.
Esta máscara de "independência financeira" que o futebol tem é pura ilusão...
...de onde se conclui que o Estado e o governo estão de pés e mãos atadas às lógicas do futebol!
Fã do Fã de Algés
O anónimo 'fã do FCP' distraiu-se:
1 - Suscita a hipótese do Estado ser conivente com a acção dos dirigentes e a falência do futebol.
2 - Sugere que os clubes e o campeonato estão falidos e o Estado mantém subsídios para além da bancarrota através do estatuto de utilidade pública desportiva.
Se isto for verdade, a hipótese de JMConstantino tem crédito para um debate público objectivo sobre se, tal como nos bancos, as federações podem ir à falência.
É evidente que a decisão cabe a quem cabe.
O debate público é possível e seria útil a situações que parece estarem apenas no conhecimento de pessoas que com esse conhecimento prejudicam o desporto por não resolverem os desafios e facilitarem a vida aos possíveis faltosos retirando os recursos áqueles que muito cumprem.
O debate sobre a viabilidade das federações e do sistema desportivo nacional foi aberto pelo José Manuel Constantino com o valioso contributo do anónimo 'fã do FCP'.
Escreveu o Anónimo das 9h36
...de onde se conclui que o Estado e o governo estão de pés e mãos atadas às lógicas do futebol!
Esta é tão profunda que, confesso, não percebi!
"Pés e mãos atados" porquê?!!!
Caro Fernando Tenreiro
O que teria interesse discutir é como é possível uma federação desportiva ter resultados financeiros, aplicação de capitais e uma politica de remunerações tão elevadas resultantes da gestão de um negócio em que as entidades produtoras dos bens e serviços que compõem esse negócio (os clubes) estão fortemente endividados e em alguns casos tecnicamente falidos!!!E face a esta constatação que posicionamento deve ter o Estado.
José Constantino acrescente que os ditos falidos elegem a federação e projectos como o mundial.
Há algumas coisas que são pacíficas em todo o mundo do desporto, excepto em Portugal:
A estrutura de produção associativa é aquela que produz com mais qualidade e menores custos a actividade desportiva e está na base do sucesso global do desporto moderno.
Se esta frase é universalmente consensual porque é que a estrutura de produção desportiva portuguesa é a que piores resultados produz a nível europeu?
Acrescente-se um outro dado inquestionável:
O Estado é o agente que permite através da sua política de regulação pública uma produção desportiva superior em todos os países europeus.
Temos, portanto, dois agentes:
o primeiro assumindo o risco da sua acção e produzindo o melhor produto de desporto em todos os países do mundo e, o segundo, promovendo os factores positivos e corrigindo os factores nefastos para que o produto de cada país seja ainda maior.
Aqui chegados aproximo-me da sua questão para explicar o distanciamento do que é correcto no resto do mundo:
É possível que a falência de alguns em Portugal subsista com a riqueza de outros.
Seguir o rasto do dinheiro sobre o produto desportivo ajuda a explicar porque é que o produto desportivo, que referia no seu poste, é subavaliado e a lei e as instituições valorizam factores diversos de ineficiência há muito comprovada.
Veja que a perda acumulada de produto desportivo é muito grande e existem problemas que ainda não se compreende bem porque é que o modelo português de desporto falha em relação ao europeu.
A necessidade de debate é fulcral, não é a urgência de fazer este ou aquele programa, plano ou lei fundamental, despacho milagroso ou anúncio relevante à comunicação social.
O debate mesmo que sofrido deste blogue tem permitido ao desporto reconhecer publicamente, repito publicamente, realidades que de outra forma ou não surgiriam ou se perderiam.
O Estado, a universidade e o associativismo desportivo têm um longo caminho a percorrer à sua frente.
Enquanto esse caminho não for percorrido as perdas do produto desportivo serão catastróficas para a população portuguesa.
São eles que interessam, não são?
Escreveu Tenreiro
O anónimo 'fã do FCP' distraiu-se:
1 - Suscita a hipótese do Estado ser conivente com a acção dos dirigentes e a falência do futebol.
2 - Sugere que os clubes e o campeonato estão falidos e o Estado mantém subsídios para além da bancarrota através do estatuto de utilidade pública desportiva.
Esta é uma postura sistemática do Tenreiro. Deturpa o que se escreveu, distorce o que se disse, e depois entretém-se a esgrimir contra os fantasmas que ele próprio criou. Provavelmente, farto de ter como único único "contraditor" o inevitável Luís Leite...
Só que o nosso post pretendeu, apenas e singelamente, demonstrar que a minimização das consequências do cancelamento da upd, a que JMC tinha procedido, era, no mínimo, questionável. Apenas isto.
A "distracção" do autor do post, a "conivência" do Estado, a "falência" do futebol, a reiterada "manutenção" de subsídios, a "bancarrota", e outros tremendismos em que Tenreiro é profícuo e sempre muito criativo, devem-se apenas à teoria da conspiração universal de que Tenreiro é ofegante partidário e não foram afirmados, sugeridos ou sustentados pelo post que escrevemos.
Fã do FCP
Do ponto de vista económico as suas três consequências, plano mateus, viagens para as ilhas e policiamento, afectam de facto o futebol profissional e algum(?) alto rendimento e esses seriam os dados da decisão, para um comportamento célere do prevaricador.
Depois você é que acrescenta que os clubes do futebol estão falidos.
Quem foi tremendista nas consequências da proposta de JMC parece-me que foi você.
Quanto às palavras tremendas: quem está no mercado local e suporta pressões grandes (tremendas?) para ter as actividades desportivas a correr diariamente são os líderes das organizações associativas.
Falência e fracasso são termos comuns da literatura económica e que pela sua clareza devem ser usados.
Pelo menos enquanto os resultados desportivos médios de Portugal se encontrarem no último lugar europeu.
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