O assunto seguramente não merecerá grandes comentários. É uma questão óbvia e do domínio do politicamente correto. O governo, através da palavra do secretário de estado do desporto e da juventude, elogiou a ação de Pinto da Costa na liderança do FCPorto, considerando que o mandato de trinta anos fica marcado por “relevantes sucessos que prestigiam o clube e o desporto português”. O que é da mais elementar verdade que se reconheça. Porque é indesmentível que o clube e a sua liderança alcançaram no plano interno e externo resultados desportivos de elevado relevo. Mas com uma importante questão pelo meio. Uma questão que suscita uma reflexão.
O governo, que agora elogia Pinto da Costa, é o mesmo que construiu uma campanha sobre a ética no desporto? E que fala nos valores? Perante a situação descrita a pergunta que importa ser colocada é esta: o que privilegia o governo? O sucesso desportivo, independentemente dos meios muitas vezes utilizados ou os valores que lhe estão associados? Qual é o limite? O paradoxo agora vivido só resulta da contradição existente entre a penitência dos valores e o tribunal da sua avaliação. Ou uma coisa nada tem a ver com a outra?
Pretendem as nossas palavras significar que o exercício de governação de Pinto da Costa não respeita os traços fundamentais dos chamados códigos da ética no desporto? A resposta é fácil de encontrar: não respeita, não está em causa, nem isso o preocupa. É o governo que diz que se preocupa com a matéria a ponto de ter destacado a situação e criado um programa próprio. Pinto da Costa não tem essa responsabilidade. Nem nunca a reivindicou. Liderou um clube para vencer e tem-no conseguido. O que o distingue dos outros não é uma conduta distinta no domínio dos valores. É uma maior competência no alcançar de resultados.
Ninguém espera que um governo que pretenda negociar com os chineses levante o problema dos direitos humanos; ou com os angolanos e pretenda esclarecimentos sobre a presença obrigatória da nomenclatura do partido e das forças armadas nos negócios; ou que um governante no desporto penhore um sucesso desportivo em nome da defesa de valores. Mas quando se elege a ética como programa político,num discurso o austero e tautológico de moral superior, dá este resultado: o sucesso pode ser destacado e elogiado, mesmo que o caminho possa merecer reparos.
Para muitos daqueles que operam nos domínios da competição, seja política, empresarial ou desportiva, os golpes baixos podem bem ser o adn das suas governações. E uma das formas mais finas de golpear os princípios dos códigos é não precisar de ajoelhar no tribunal dos valores perante a importância suprema do resultado que se alcança ou do poder que se atinge.
O que o secretário de estado do desporto disse de Pinto da Costa diz mais sobre ao força das convicções do secretário de estado que sobre Pinto da Costa. O sucesso desportivo deste é evidente. O apego à defesa dos valores da ética no desporto por parte do secretário de estado passou por uma prova de fogo e saiu queimado. É a vida como dizia um ex-primeiro ministro. Ademais sejamos claros: a questão que colocámos não é sequer um problema para o governo. Virá algum mal ao mundo na forma como o governo elogiou o mandato de Pinto da Costa? Não. Quando muito irritou Rui Rio e as suas querelas locais. O problema é outro. É a constatação que é sempre mais fácil falar da ética no desporto, que no exercício da governação separar o trigo do joio. Tudo isto na lógica da ideologia desportiva: uma igreja com dogmas, com muitos pastores, mas sem culto. Essa a razão do nosso ceticismo relativamente a estes programas da ética no desporto. Que adoram as análises gerais e abstratas, mas que fogem como o diabo da cruz das realidades vividas e dos comportamentos dos respetivos atores. São fruta da época.
O governo, que agora elogia Pinto da Costa, é o mesmo que construiu uma campanha sobre a ética no desporto? E que fala nos valores? Perante a situação descrita a pergunta que importa ser colocada é esta: o que privilegia o governo? O sucesso desportivo, independentemente dos meios muitas vezes utilizados ou os valores que lhe estão associados? Qual é o limite? O paradoxo agora vivido só resulta da contradição existente entre a penitência dos valores e o tribunal da sua avaliação. Ou uma coisa nada tem a ver com a outra?
Pretendem as nossas palavras significar que o exercício de governação de Pinto da Costa não respeita os traços fundamentais dos chamados códigos da ética no desporto? A resposta é fácil de encontrar: não respeita, não está em causa, nem isso o preocupa. É o governo que diz que se preocupa com a matéria a ponto de ter destacado a situação e criado um programa próprio. Pinto da Costa não tem essa responsabilidade. Nem nunca a reivindicou. Liderou um clube para vencer e tem-no conseguido. O que o distingue dos outros não é uma conduta distinta no domínio dos valores. É uma maior competência no alcançar de resultados.
Ninguém espera que um governo que pretenda negociar com os chineses levante o problema dos direitos humanos; ou com os angolanos e pretenda esclarecimentos sobre a presença obrigatória da nomenclatura do partido e das forças armadas nos negócios; ou que um governante no desporto penhore um sucesso desportivo em nome da defesa de valores. Mas quando se elege a ética como programa político,num discurso o austero e tautológico de moral superior, dá este resultado: o sucesso pode ser destacado e elogiado, mesmo que o caminho possa merecer reparos.
Para muitos daqueles que operam nos domínios da competição, seja política, empresarial ou desportiva, os golpes baixos podem bem ser o adn das suas governações. E uma das formas mais finas de golpear os princípios dos códigos é não precisar de ajoelhar no tribunal dos valores perante a importância suprema do resultado que se alcança ou do poder que se atinge.
O que o secretário de estado do desporto disse de Pinto da Costa diz mais sobre ao força das convicções do secretário de estado que sobre Pinto da Costa. O sucesso desportivo deste é evidente. O apego à defesa dos valores da ética no desporto por parte do secretário de estado passou por uma prova de fogo e saiu queimado. É a vida como dizia um ex-primeiro ministro. Ademais sejamos claros: a questão que colocámos não é sequer um problema para o governo. Virá algum mal ao mundo na forma como o governo elogiou o mandato de Pinto da Costa? Não. Quando muito irritou Rui Rio e as suas querelas locais. O problema é outro. É a constatação que é sempre mais fácil falar da ética no desporto, que no exercício da governação separar o trigo do joio. Tudo isto na lógica da ideologia desportiva: uma igreja com dogmas, com muitos pastores, mas sem culto. Essa a razão do nosso ceticismo relativamente a estes programas da ética no desporto. Que adoram as análises gerais e abstratas, mas que fogem como o diabo da cruz das realidades vividas e dos comportamentos dos respetivos atores. São fruta da época.
5 comentários:
Excelente texto. Concordo e subscrevo na íntegra.
A Ética professor, passou para o domínio do Politicamente correto. A própria política devia ser a primeira a preservar a ética e os valores. Infelizmente julgo que a ética já não tem nada que ver com estes valores, desde à muito tempo.
Parabéns pelo texto.
Sem dúvida.Excelente alerta. Parece-me que de ética estamos falados à muito tempo. Outros valores se levantam diametralmente opostos à ética. O politicamente correto não dá tréguas. Saudações desportivas, já nem se usa...
Ética e Desporto? Perdoar-me-ão, mas, mais uma vez, discordo de V. Exas. sobre a questão em debate. Aliás, desde há muitos anos. Apesar de aceitar com condescendência e com desportivismo (ética) os costumados sorrisos e a troça, vindos provavelmente da presunção de sabedoria que os vossos estatutos sociais vos outorgam, digo-vos que continuam a elaborar teimosamente no mesmo erro. A questão da “Ética e Desporto” não deve ser perspetivada como V. Exas. fazem, quer JMC, quer os seguidores Comentaristas.
Lembro os mais de 100 professores da ex-Direção Regional de Educação do Algarve que connosco partilharam o trabalho sobre “Ética e Desporto” que organizámos em Faro nos idos anos de 1996 (curiosamente no âmbito de uma proposta que fizemos ao “Instituto do Desporto da altura”). De facto, era de uma outra perspetiva de “Ética e Desporto”, e era uma outra forma de trabalhar, muito diferentes das que V. Exas, concebem nestes vossos comentários. E o êxito e a participação de alunos e de professores, ali, no terreno da prática, nas escolas, respondem por si. Sem precisar de grandes figurões a botar opiniões filosófico-abstractas. É a Vida, como diria alguém.
V. Exas vão pelo caminho mais fácil: o de criticar o actual SEDJ. É um caminho que esconde a vossa incapacidade. É o velho truque de transferir para os outros a culpa que também é vossa há décadas. Porque não ajudam o actual Programa da Ética no Desporto em vez de intrigalharem e dizerem mal? Esse é que era o caminho de uma outra coragem. Aquela que falta, e tem enterrado Portugal.
Funcionário do Estado
Pergunta o Miguel Sousa Tavares, hoje, em artigo publicado na BOLA, e intitulado "Mão na bola e mão na massa":
O senhor secretário de Estado que cometeu a imprudência de receber Godinho Lopes e Pereira Cristóvão, para os ouvir lamuriar-se dos árbitros, onde será que agora enterra a cabeça de vergonha? Ou não a tem (a vergonha)?
Dando de barato a inexactidão que consiste em dar de barato que ele tenha cabeça, a pergunta manifestamente impõe-se.
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