Na sua carta à seleção nacional, José Mourinho, escreve a determinado passo: no último encontro de treinadores que disputam a Champions League, quando questionado sobre o poder dos treinadores nos clubes, ou a perda de poder dos treinadores face ao novo mundo do futebol, sir Alex Fergusson disse (e não havia ninguém com mais autoridade do que ele para o dizer!) que o poder e a liderança dos treinadores depende da personalidade dos mesmos, mas que depende muitíssimo das estruturas que os rodeiam. Clubes e dirigentes fragilizam ou solidificam treinadores.
Poderíamos retirar esta afirmação do contexto de futebol e aplicá-la em outras áreas da vida. Ou reduzi-la à célebre afirmação de Ortega Y Gasset de que o homem é ele e as suas circunstâncias. O certo é que por mais talento que uma pessoa possua, torna-se necessário que o contexto em que opera permita a expressão desse talento. Uma parte é do próprio. Outra é-lhe exterior. E o que, no mundo do desporto, acontece com os treinadores, sucede com os atletas. Não basta ter talento, torna-se necessário condições adequadas ao aproveitamento desse talento. O que equivale por reconhecer que o sucesso desportivo é sempre o cumular de um conjunto de variáveis que permite exprimir o talento ao mais elevado nível. Mas nem sempre assim se pensa quando se avalia um resultado desportivo.
O sucesso é quase sempre atribuível ao talento individual; o insucesso a uma espécie de custos de contexto penalizante do valor individual. Quantas vezes, no rescaldo de uma competição que correu bem se enaltece o valor do atleta ou da equipa; quando corre mal se atribui o insucesso a erros de arbitragem ou, em casos extremos, mas não incomuns, à falta de apoios de uma política desportiva!
Com a liderança passa-se precisamente o mesmo. Pode ler-se e aprender em todos livros do mundo que a abordam o tema. Frequentar todas as ações de coaching. Assistir ao que debitam os gurus. Ouvir os pastores da igreja universal. No final, combinando alguma experiência, com alguma intuição e algum conhecimento concluiremos que não existe nenhuma maneira especial de liderar. E que tudo depende da situação. E como o conhecimento acerca do contexto não é transferível muitos dos líderes que têm sucesso num lugar, falham noutros.
O sucesso pode construir-se em ambientes anteriores de insucesso e um líder talentoso não é necessariamente alguém cuja formação e comportamento sejam irrepreensíveis. As condições de sucesso da liderança sendo em parte, mérito do próprio, são-no também pelas condições contingenciais que pôde disfrutar. Pelo que não vale a pena procurar um modelo ou uma receita mágica para o sucesso.
A liderança é um assunto demasiado complexo para, como refere Henry Mintzberg, seja deixado ao que aparece nas prateleiras das livrarias: formas fáceis e remédios simples. Ou para copiar o que a moda nos impinge. Até porque, está por aparecer um bom líder que tenha tido sucesso numa organização má; e maus lideres em boas organizações são o que há mais!
Muita da liderança,supostamente exemplar, que animou a bibliografia da especialidade e as conferências de gestão acabaram em buracos negros que são do domínio público! E num tempo em que a liderança (e a gestão!) virou negócio é bom ter presente que muitas vezes o sucesso assenta na qualidade das pessoas e das organizações para as quais nenhuma teoria consegue explicar. Porque, e recorrendo uma vez mais a MIntzberg,a liderança no mundo real está mais próxima de um jogo de lego do que de uma ciência: há sempre uma variedade infinita de maneiras de montar as peças.
9 comentários:
Nas organizações podem (ou não) existirem lideranças fortes.
Até porque também há líderes médios e líderes fracos.
As lideranças fortes, quando existem na cúpula hierárquica, dificilmente permitem lideranças intermédias.
E quando o fazem, arrependem-se, porque perdem poder. Ou julgam perdê-lo.
Mas também há casos de lideranças fortes em cargos intermédios que conseguem facilmente manipular lideranças fracas de cúpula.
Conclusão:
O mais importante é a forma como se vive e encara O PODER numa organização.
Lideranças fortes têm vantagens e desvantagens, relacionadas com o centralismo do poder e, geralmente, com a tendência para a sua eternização.
Lideranças fracas anulam-se ou são anuladas, sendo geradoras de instabilidade ou usurpação do poder das cúpulas.
Sobre estas questões volto a recomendar o livro "Anatomia do Poder" de John Kenneth Galbraith (1983) ed. Difel e os conceitos de poder condicionado e poder compensatório. A ascensão ao poder e a sua manutenção derivam da criação e gestão de laços de dependência e subserviência.
A concepção de "liderança" que os comentários anteriores exteriorizam são concepções arcaicas que nada têm a ver com a moderna concepção de liderença e direcção. Mais propriamente são concepções que ainda se verificam em akgumas instituições públicas e em instituições "fossilizadas" onde pululam apenas mentecaptos.
Caro anónimo:
Interessam-me pouco modelos teóricos ditos (por si) "modernos". O que é "modernidade", acaso você sabe?.
Eu sei. E nada tem a ver com isto.
Aquilo em que acredito é resultado de muitas leituras, mas é sobretudo experiência de vida, em instituições públicas e privadas, algumas "fossilizadas" onde o poder não está a entregue a mentecaptos, mas sim a oportunistas.
Essa é a realidade dominante no país que construímos com esta democracia para espertos.
Concordo totalmente com o "colega anónimo" das 12:28. Concepções "fossilizadas" de 1983 eivadas de ódios muito particulares que até levam a expressões como .
Há que registar igualmente a classificação, interessante, de lideres fortes, médios e fracos. Há ainda que registar o facto das lideranças fortes, quais papões, poderem devorar as lideranças intermédias. Mas também há as fortes intermédias que manipulam as fracas de cúpula. Cá por mim fico com algum receio disto tudo. Tantas lideranças em jogo disputando a cúpula que alguém vai acabar por ser copulado.Deus me livre destas lideranças, fortes ou fracas ou assim assim.
Como é óbvio, não darei resposta a tão doutos anónimos, incapazes de mostrar a sua sabedoria, mas peritos em Galbraith e em fossilização.
Entretenham-se os dois.
Quem escreve também tem o seu lugar próprio nas estantes, não dos teóricos da liderança mas da iliteracia. Pelo menos é um iliterado que tem muitas leituras. Valha-lhe isso. O resto são mentecaptos, oportunistas, mal-educados (que cospem para o chão)etc. etc. Sempre a mesma ladainha.Sempre as mesmas saudades de um tempo já distante em que o bom povo português era culto, letrado, educado e que não cuspia para o chão. Dantes é que era bom. Se houvesse uma máquina do tempo seria certamente um passageiro frequente para as décadas de ouro da educação e dos costumes. O que para muitos foi um pesadelo para si é uma quimera.
Exmo Senhor Luís Leite
O "anónimo" das 12:28 de 19/06 leu e estudou, livros nacionais e estrangeiros, mais "liderança" e GRH do que V. Exa viu plantas na sua vida ! Deixe de "cagar postas de pescada" desculpe a expressão em tudo o que se fala neste Blog uma vez que sejam "anónimos" ou "desanónimos" já ultrapassaram a fase do Salazarismo e outros "ismos" coisa que V. Exa ainda não conseguiu ! Boa noite.
Não sendo resposta a anónimos que não apresentam, como habitualmente, qualquer argumentação, limito-me a confirmar que continuarei a dar as minhas opiniões e a apresentar os meus argumentos sobre Desporto sempre que o entender, desde que os proprietários do blog assim o entendam.
E dando a cara, sem medo.
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