Um texto de Fernando Tenreiro que se agradece.
Vamos lá introduzir adrenalina na
mecânica!
Melo de Carvalho democratizou a
prática desportiva através de um modelo, que sendo possível à data da sua
aplicação, foi tolhido pelas forças económicas e sociais nascentes incapazes de
reconhecer o que de essência de cultura europeia tal conceito desportivo
continha.
Mais tarde Mirandela da Costa
transforma a concepção do Desporto a tal ponto que, a ossatura que restou do
corpo de princípios, perdurou desde meados dos anos 80 até aos dias de hoje. Inicialmente
um dos seus elementos fulcrais foi a competitividade do associativismo. O outro
foi a pluralidade do desporto, despojado de arquétipos condicionadores que prevaleciam
há décadas. Estes dois elementos foram capturados e esvaziados da sua
vitalidade até hoje. Na altura muitas áreas tentavam responder à oportunidade
surgida no mercado do desporto ao mesmo tempo que se confrontavam com vectores
pesados do passado e com dinâmicas fortíssimas e potencialmente constrangedoras
de futuro. Estas últimas deram a volta ao texto conceptual e sobrevivendo
dominam hoje comportamentos que condicionam e matam o desporto português.
Ao desporto português já bem
entrado no século XXI, a eleição de José Manuel Constantino oferece/exige/suscita
uma oportunidade conceptual.
Os quase 30 anos do início de
funções de Mirandela da Costa são a prova provada como os anos e as décadas
passam e a substância não se concretiza em Portugal. É comum sermos
ultrapassados por outros países de condições variadas no desporto, na economia
e na cultura. Fazem-se miríades de coisas, porém a essencialidade do que é
produzir desporto na Europa fica abaixo, muito abaixo, da média do grupo de
países a que por civilização e cultura pertencemos. A definição de absoluto de
uma medalha de ouro olímpica, a par do conceito de massificação no desporto
português, são falhas desportivas portuguesas que perduram e consomem a
esperança de ser europeu. O associativismo desportivo tendo uma renovada oportunidade
de conceptualização, não deverá fazer tábua rasa da democracia, da competitividade
e da multidisciplinaridade dos tão relevantes como maltratados paradigmas
anteriores.
Como ontem foi referido por José
Manuel Constantino, acerca do respeito das gerações e líderes pretéritos, a
conceptualização do futuro do desporto português será mais forte, assertiva e
dinâmica ouvindo e respeitando o que no passado foi criado e experimentado.
Linda-a-Velha, 4 de Abril de 2013
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