terça-feira, 10 de março de 2009

Noves fora,nada!

Uma notícia recente avaliava em nove o número de clubes de futebol em situação de incumprimento salarial. Comparado com o que se está a passar na vida das empresas e o assunto mereceria destaque por ser um número relativamente baixo. O problema é, no entanto, bem mais profundo.
O sindicato dos jogadores continua a defender o “mercado real ” mesmo sabendo que ele é virtual. O designado jornalismo desportivo sempre criticou medidas que fossem no sentido de reduzir quadros competitivos profissionais fazendo tábua de rasa de elementares razões de sustentabilidade económico-financeira. O organismo regulador, é por natureza, limitado nas suas medidas contra aqueles que representa e pelos quais foi eleito. Depende da vontade de parte dos infractores. Os governos preferem conviver com este problema a soluções que tragam outros e mais complicados problemas. Todos os protagonistas parecem preferir que o ónus habite outros ambientes, onde, desejavelmente, a culpa da situação possa morrer solteira.
A realidade é que o país não tem economia que estruture e suporte uma tão extensiva dimensão profissional do desporto, seja no futebol, seja em modalidades onde se vive um falso amadorismo ou um profissionalismo encapotado. A falência seria claramente vísivel se as transferências públicas não continuassem a ocorrer por via do apoio de muitas autarquias, pese embora a legislação existente o proíba, incluindo a participação no capital social das sociedades desportivas. Mas este é assunto incómodo para o poder político e para o Tribunal de Contas para quem, parece que no país, ilegalidades no apoio financeiro ao futebol profissional só respeitam à Madeira e a Alberto João Jardim. Em Aveiro, em Setúbal, em Braga, em Vila do Conde, em Guimarães, na Trofa, em Coimbra, em Gondomar, em Matosinhos, na Figueira Foz entre muitos outros concelhos parece não haver financiamento público, directo ou indirecto, ao desporto profissional. Esta constatação revela quanto a situação a que se chegou tem de responsabilidade política. Não só dos governos, mas também dos organismos reguladores dos respectivos sectores.
Encomendaram-se estudos sobre a viabilidade do futebol profissional e o seu redimensionamento. Fizeram-se publicações, conferências e seminários. Escreveu-se e falou-se como se da descoberta da pólvora e de um novo tratamento contra o cancro se tratasse. Resultados? Uma tímida redução dos quadros competitivos do futebol profissional e ia caindo o carmo e a trindade. E por isso lá vamos cantando e rindo levados pela melopeia da “competitividade comparativa”, do “nicho de sucesso”, dos “stakeholders” que o futebol mobiliza, do “cluster” gerador de valor para a nossa economia. O mercado de trabalho é o que é: invasão de mão-de-obra estrangeira, sobretudo brasileira e exportação dos melhores activos. Estudos e opiniões não faltam. Mas falta o resto. E o resto é o mais importante: adequar o futebol profissional à realidade, às condições e às possibilidades do país.
O problema exige soluções que obrigam a um redimensionamento de clubes, de salários e de quadros competitivos profissionais. São soluções que trazem outros problemas. Salários mais baixos, redução da mobilidade e do capital circulante, empobrecimento dos agentes e desemprego. E por isso todos as evitam. Preferem uma medida aqui, outra acolá. O essencial não é atacado.
Não é o ao governo, em exclusivo, que cabe pôr ordem onde ela não existe. E bem pode esperar se tem alguma expectativa na capacidade de auto-regulação do sector. Mas cabe-lhe alguma coisa.Seria suficiente que cumprisse bem o que é sua obrigação: não ser cúmplice com o financiamento público encapotado; ser rigoroso na avaliação do modo como os organismos de regulação do sector profissional cumprem as suas obrigações. Sendo pouco para a dimensão do problema, era muito para obrigar a quem se dedica ao sector a não ter mais olhos que barriga
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