Numa cerimónia realizada há alguns anos na atribuição de um doutoramento honoris causa, o ministro do desporto da altura disse qualquer coisa como isto: o desporto não serve para moldar o carácter dos homens. O desporto revela o carácter dos homens. Não creio que a frase lhe pertença porque posteriormente já a li em qualquer sítio. Mas isso não importa. Confesso que não gostei do que ouvi, formatado como estou a uma geração que foi ensinada a olhar para o desporto como uma “escola de virtudes”.Embora no plano doutrinário bem saiba que a “virtude” é uma visão idílica (e idealista) que a realidade não suporta, não fujo á sua influência. Hoje seria mais prudente na avaliação das palavras do ministro.
Vivemos uma semana marcada por uma grande penalidade que o não foi. Igual a tantas outras marcadas ou por marcar, que todas as semanas acontecem. Mas que passou a ter uma importância extrema, como se o mundo estivesse à beira do fim, a partir do momento em que no mesmo jogo outras marcadas foram defendidas. Fosse outro o resultado final e não estávamos a abordar o assunto.Dir-se-ia, talvez, que se tinha acabado por escrever direito por linhas tortas.
O que se passou, o que se disse e o que se fez, revelam sábiamente o país desportivo que somos e relembram as palavras do ex-ministro: o desporto revela o carácter do homens, pelo menos, palavras minhas, ao os não formar a serem homens diferentes.
Caro, Pedro Silva você não fez nada que de que se deva arrepender, escreveu o director do Correio da Manhã em texto de opinião no jornal Record. Pedro Silva, recorde-se, em reacção a uma grande penalidade que lhe foi assinalada e que ele efectivamente não cometeu, tentou agredir o árbitro, enxovalhou o presidente da Liga de futebol, recusou-se a receber a medalha e depois arremessou-a para longe e no final do jogo não deixou de chamar ladrão ao árbitro. Mais tarde reconheceu estes erros e pediu desculpa. Coisa que um jornalista com responsabilidades na direcção de um jornal entende nada haver no seu comportamento que justifique arrependimento. Ou seja de uma penada procura legitimar comportamentos que tendo origem num erro que penaliza quem não deve, gera um conjunto de comportamentos que são social e civicamente reprováveis em qualquer lugar onde ocorram e também numa competição desportiva. Longe pareciam ir os tempos em que uma agressão a um árbitro por parte de um jogador da selecção nacional era agraciada com a outorga de uma medalha à chegada ao aeroporto. Hoje não há medalha mas para já, à data em que escrevemos, o Pedro Silva lidera a votação para o melhor jogador da competição em que ocorreu o incidente. É de esperar tudo. O elogio público de um comportamento que é inaceitável mas que é entendido dentro dos limites do razoável revela que se consegue escrever o que se pensa baixinho. Ao que chegámos!
Não sou espectador daqueles programas televisivos em que se discute o futebol através de personagens que representam clubes desportivos. Sinto desconforto, para não usar uma expressão mais severa, que aquilo a que profissionalmente estou ligado, o desporto, seja abordado daquela forma. Mas reconheço-lhes um mérito: o de revelador social do país que somos. O que se vem passando nestes dias mostra onde estamos. No meio da trampa moral e intelectual. Para quê abafar esta realidade com o país transformado numa imensa bancada central onde o clubismo agudo e o intelectualismo serôdio dão as mãos num conclave bizarro e pouco recomendável? Como entender que um ex-assessor de um presidente da república transite para porta-voz do presidente de um clube de futebol cujo comportamento nunca foi pautado pela elegância e boa educação? E que de um comportamento discreto e sóbrio passe a um registo taliban, agressivo, conflituoso e desrespeitoso? Como entender que se gastem horas e horas televisivas a ouvir gente alienada pelo futebol e pelo seu clube a níveis sanitariamente não recomendáveis para qualquer pessoa de bem e que tratam uma simples incidência de um jogo futebol como se fosse uma descoberta científica ou a solução para os problemas do país? Sei que o ridículo não mata. Mas cansa.
Esperar ou pedir a mudança é acreditar que os protagonistas são recicláveis. Esperar que se alterem padrões de comportamento e de condutas para níveis socialmente aceitáveis é acreditar em milagres. E por isso as dificuldades que sentimos. Na rua, no circulo de amigos ou na escola. O desporto é um lugar estranho. Diz ser o que não é: um lugar recomendável. Afinal é, o que não diz ser: um lugar nem sempre bem frequentado. Ou não fosse parte do país que somos.
Vivemos uma semana marcada por uma grande penalidade que o não foi. Igual a tantas outras marcadas ou por marcar, que todas as semanas acontecem. Mas que passou a ter uma importância extrema, como se o mundo estivesse à beira do fim, a partir do momento em que no mesmo jogo outras marcadas foram defendidas. Fosse outro o resultado final e não estávamos a abordar o assunto.Dir-se-ia, talvez, que se tinha acabado por escrever direito por linhas tortas.
O que se passou, o que se disse e o que se fez, revelam sábiamente o país desportivo que somos e relembram as palavras do ex-ministro: o desporto revela o carácter do homens, pelo menos, palavras minhas, ao os não formar a serem homens diferentes.
Caro, Pedro Silva você não fez nada que de que se deva arrepender, escreveu o director do Correio da Manhã em texto de opinião no jornal Record. Pedro Silva, recorde-se, em reacção a uma grande penalidade que lhe foi assinalada e que ele efectivamente não cometeu, tentou agredir o árbitro, enxovalhou o presidente da Liga de futebol, recusou-se a receber a medalha e depois arremessou-a para longe e no final do jogo não deixou de chamar ladrão ao árbitro. Mais tarde reconheceu estes erros e pediu desculpa. Coisa que um jornalista com responsabilidades na direcção de um jornal entende nada haver no seu comportamento que justifique arrependimento. Ou seja de uma penada procura legitimar comportamentos que tendo origem num erro que penaliza quem não deve, gera um conjunto de comportamentos que são social e civicamente reprováveis em qualquer lugar onde ocorram e também numa competição desportiva. Longe pareciam ir os tempos em que uma agressão a um árbitro por parte de um jogador da selecção nacional era agraciada com a outorga de uma medalha à chegada ao aeroporto. Hoje não há medalha mas para já, à data em que escrevemos, o Pedro Silva lidera a votação para o melhor jogador da competição em que ocorreu o incidente. É de esperar tudo. O elogio público de um comportamento que é inaceitável mas que é entendido dentro dos limites do razoável revela que se consegue escrever o que se pensa baixinho. Ao que chegámos!
Não sou espectador daqueles programas televisivos em que se discute o futebol através de personagens que representam clubes desportivos. Sinto desconforto, para não usar uma expressão mais severa, que aquilo a que profissionalmente estou ligado, o desporto, seja abordado daquela forma. Mas reconheço-lhes um mérito: o de revelador social do país que somos. O que se vem passando nestes dias mostra onde estamos. No meio da trampa moral e intelectual. Para quê abafar esta realidade com o país transformado numa imensa bancada central onde o clubismo agudo e o intelectualismo serôdio dão as mãos num conclave bizarro e pouco recomendável? Como entender que um ex-assessor de um presidente da república transite para porta-voz do presidente de um clube de futebol cujo comportamento nunca foi pautado pela elegância e boa educação? E que de um comportamento discreto e sóbrio passe a um registo taliban, agressivo, conflituoso e desrespeitoso? Como entender que se gastem horas e horas televisivas a ouvir gente alienada pelo futebol e pelo seu clube a níveis sanitariamente não recomendáveis para qualquer pessoa de bem e que tratam uma simples incidência de um jogo futebol como se fosse uma descoberta científica ou a solução para os problemas do país? Sei que o ridículo não mata. Mas cansa.
Esperar ou pedir a mudança é acreditar que os protagonistas são recicláveis. Esperar que se alterem padrões de comportamento e de condutas para níveis socialmente aceitáveis é acreditar em milagres. E por isso as dificuldades que sentimos. Na rua, no circulo de amigos ou na escola. O desporto é um lugar estranho. Diz ser o que não é: um lugar recomendável. Afinal é, o que não diz ser: um lugar nem sempre bem frequentado. Ou não fosse parte do país que somos.
4 comentários:
Afinal, o mal está nos deportistas ou em quem os governa.
Talvez em «quem nos governa». O desnorte é geral, como o corte da energia electrica, quando todos andamos às escuras...
Nas suas palavras.. revejo o estado do desporto no nosso país.
Enquanto o desporto em Portugal for gerido por amadores à procura de projecção ou de um qualquer benefício social.. estamos muito mal.
Vejam o que estes dirigentes fizeram.. ao desporto olímpico, ao andebol, ao basquetebol, ao futebol, etc etc.
Olhemos para a nossa vizinha Espanha.. e onde eles chegaram com as suas políticas desportivas.
O desporto precisa urgentemente de ser entregue aos seus profissionais.
Costumo afirmar que temos aquilo que no geral merecemos, ou seja, para o qual a grande maioria pesae (não) contribui.
Até podemos conhecer ou fazermos 'a nossa parte', mas o peso grande nivela para aquilo que hoje somos, quer a nível desportivo ou estrutural do país.
As desculpas que se ouvem no fenómeno desportivo são em regra geral utilizadas noutros campos profissionais do nosso país. Enquanto assim for...
Rui Lança
http://coachdocoach.blogspot.com/
"Enquanto o desporto em Portugal for gerido ppr amadores" ?
Admira-me é que ainda haja malta por aí que não tenha a noção da "máfia do desporto" ?????
Tótós !!
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