quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Lamentável

Em 2002, o então presidente do Benfica, Manuel Vilarinho, liderou uma delegação de dirigentes do clube que esteve presente num jantar de apoio ao PSD e apelou ao voto em Durão Barroso. No local, segundo se noticiou, estiveram presentes vários dirigentes desportivos, incluindo presidentes de federações desportivas. Muita gente se indignou com esta atitude. E com inteira razão. Resta saber se com autoridade moral para o condenarem.
O PS mantém de há longos anos uma lógica de encontro e de publicitação de apoios políticos das chamadas “personalidades do desporto” que permitem que os cargos que exerçam sejam associados aos seus nomes no respectivo apoio partidário.
Os presidentes dos mais conhecidos clubes desportivos, entre outros, não se coíbem de utilizar as funções de âmbito representativo que possuem para manifestar publicamente este ou aquele apoio político, designadamente no plano autárquico.
As situações descritas são um procedimento lamentável. Á força de se tornarem um hábito já poucos se parecem incomodar.
O facto de se exercer um cargo desportivo para o qual se foi eleito não retira qualquer direito de cidadania. Mas deveria impor restrições ao seu uso em tudo para o qual se não está mandatado. O cidadão, individualmente considerado, é livre de tomar a opção partidária que entenda; mas o presidente desta ou daquela entidade não deve utilizar o cargo em que está investido para o fazer. Como relativamente a figuras públicas se torna difícil separar a pessoa do cargo que exerce -se não fosse o cargo não constituiria interesse eleitoral - aconselharia o mais elementar sentido de responsabilidade que fosse adoptada uma posição de distanciamento, prudência e reserva. Em alguns casos seria a simples aplicação das obrigações estatutárias a que estão sujeitos no âmbito interno das entidades a que presidem que o exigiria. Porque é pura estultice querer fazer crer que a presença aqui ou acolá o é a título pessoal.
Este tipo de promiscuidade com o poder partidário sempre existiu. Mas está a atingir níveis inabituais como recentemente aconteceu com uma candidatura autárquica em Palmela. Neste caso chegou ao ponto de se manifestar apoio público num candidato em que se não pode votar, porque se está recenseado em local distinto daquele onde o apoiado é concorrente. Mas também existem casos em que se muda de apoio em função da perspectiva de quem ganha. Ou se é mandatário de um candidato e se manifesta a um outro concorrente, sob pedido de sigilo, o apoio na hora do voto.
São convicções políticas que movem este tipo de atitudes? Qualquer que seja a resposta, e provavelmente não há apenas uma resposta, o certo é que esta “nova” cidadania está longe de ser um factor de credibilidade democrática. É um chico-espertismo num país que não pede responsabilidades. E é seguramente um factor de subversão das funções electivas para que se foi empossado. Se acaso essa instrumentalização politica acrescentasse massa e capacidade crítica aos partidos e á política era apesar de tudo um valor que se ganhava. Mas nem isso. São lógicas de interesses pessoais ou corporativos e ambições clientelares. Lamentáveis e degradadoras do clima democrático.

1 comentário:

Anónimo disse...

E é o Caneira candidato a Presidente de Junta...
E é a Rosa Mota e o Carlos Lopes na lista de apoiantes do Isaltino...
E é...