segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Viver acima das possibilidades


Quem na altura da construção dos estádios de futebol para o Euro 2004 teve a curiosidade de acompanhar os relatórios de auditoria do Tribunal de Contas relativos à fase de concepção/construção das infra-estruturas (estádios, estacionamentos e acessibilidades), teve a oportunidade de analisar as observações específicas a cada promotor auditado.
Recordei-me, por estes dias, de algumas informações que deles retirei e que me parece bem oportuno trazê-las à luz do dia, face à nossa candidatura conjunta ao Mundial de futebol de 2018 e sobretudo, face à ânsia dos responsáveis das Câmaras de Braga e de Faro na reestruturação dos seus estádios para poderem ser cidades acolhedores de tal competição. Eis, por conseguinte, alguns montantes que devem merecer a nossa reflexão. Contudo, dado o espaço disponível, apenas registarei aqueles relativos à realidade da CMBraga:

CMBraga

Custo de Referência do Estádio
29.927.874 €

Custo Final do Estádio
108.094.387 €

Acréscimo do custo de Referência do Estádio
361,18%

Endividamento Bancário
89.867.769 €

Custo Final Estimado/Orçamento do Município para 2004
155,07%

Permitam-me ainda salientar aqui algumas conclusões retiradas da análise dos relatórios mencionados:
- o investimento de referência, considerado para efeitos da comparticipação da Administração Central nos empreendimentos, revelou-se substancialmente mais baixo do que o custo final, já que este atingiu um montante de 2,3 vezes maior que a previsão inicial ultrapassando os 323 milhões de euros.
- de uma análise mais particularizada ao custo final de cada um dos 6 estádios destaca-se claramente o E.M. Braga por ter apresentado o maior custo efectivo, investimento este que representou 1/3 do montante total referente à construção dos estádios.
- considerando que o custo de referência teve como regra de que cada lugar a remodelar custaria cerca de 350 euros e cada lugar novo (quer num estádio novo ou remodelado) custaria quase 998 euros, é bem notório os elevados desvios apresentados no estádio de Braga, no qual o custo efectivo por lugar se cifrou nos cerca de 3500 euros o que significa um impressivo desvio em relação à estimativa inicial de mais de 360%.

Depois de todas as derrapagens ocorridas na construção do estádio do Braga, e com os encargos financeiros decorrentes dessa obra a serem pagos nos 20 anos seguintes, fico atónita com o querer dos autarcas de Braga em prosseguirem na senda do endividamento.
Depois disto, haverá moralidade de vir algum dirigente político ou desportivo, implicado neste tipo de decisões, dizer que vivemos constantemente acima das nossas possibilidades?

1 comentário:

Luís Leite disse...

Comentários? Para quê?
O monstro continua a existir e chama-se "poder político".
O país é Portugal (por enquanto...)