terça-feira, 19 de janeiro de 2010

A Petição por Álvaro Parente


A sociedade civil portuguesa acordou para as Petições!
Praticamente todas as semanas surgem pelo correio electrónico pedidos muito diferenciados a solicitar signatários para causas relacionadas com regras de acesso ao subsídio de desemprego, com questões de gestão de água, com a responsabilização dos pais pela educação dos filhos, com a “verdade desportiva”, enfim um rol enorme de preocupações sociais que suscitam maior consciencialização e intervenção dos cidadãos. Obviamente, nada a opor, bem pelo contrário!

Vem este assunto a propósito de uma outra Petição, que me chegou por mais do que uma via, reivindicando o apoio público ao atleta português, piloto de testes da Virgin Racing, Álvaro Parente.
O pedido em causa logo me remeteu a memória para os 2 milhões de euros atribuídos pela Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto em 2008 a um outro piloto português e que mereceu a nossa reflexão neste espaço.
Após este controverso apoio financeiro a revogação do regime jurídico do contrato programa legitima o patrocínio público a agentes desportivos que projectem o nome de Portugal no estrangeiro. Tal medida, como bem relevou Alfredo Silva, parece ter sido implementada à imagem e à medida de novos “Tiago Monteiro”.

Contudo, Álvaro Parente vê as negociações para a sua carreira em 2010 paradas devido ao 'chumbo' que o Estado decidiu aplicar ao apoio que o Turismo de Portugal pretendia dar ao piloto.

Que motivações terão estado na base de tal decisão política?
A crise económica, mãe de todos os males e restrições que norteiam o quotidiano?
O menor poder negocial do lobby afecto a este piloto?
Ou simplesmente o parecer do Tribunal de Contas que indiciou a ilegalidade do apoio público concedido a Tiago Monteiro?

4 comentários:

ftenreiro disse...

Cara professora,

Certamente não tenho a melhor informação para responder às suas perguntas mas deixo-lhe a perspectiva da economia.

Quando olhamos para o desporto espanhol, que está tão perto e a uma distância tão grande, verificamos que a sua produção desportiva está em todas as modalidades actuais e no seu topo.

A questão económica que lhe deixo é que é possível em Portugal criar uma economia do desporto capaz de ter todas as modalidades sem ter de cortar e conseguindo estruturar e alavancar meios essenciais para o fomento das actividades.

O que se passa em Portugal é um efeito de fracasso em cascata em que falhando vectores determinantes outros vectores são tolhidos e o modelo bloqueia.

É essa armadilha em que se encontra o direito do desporto português em que tendo tomado o poder e liderando as políticas desportivas vê surgirem noticias sugerindo a sua insuficiência.

De facto o Estado português não tem capacidade sozinho de financiar a actividade desportiva da população. Isto porque a política legislativa que é feita para o desporto tem uma vertente financeira que se pode demonstrar ter fracassado em inúmeros aspectos.

Apesar da lei sacudir a água do capote do Estado, a realidade é que os agentes privados se fazem desentendidos e vão sempre bater à porta do Governo. E depois não existem resultados desportivos ou seja os agentes privados com o dinheiro que recebem não conseguem cumprir o que prometem e prejudicam a imagem do financiador.

Nos países da europa desenvolvida, modernamente a dinâmica privada ultrapassou a pública quanto à dimensão económica. Estes são os resultados do modelo económico que Portugal deveria procurar.

Tal como está é uma batalha perdida ou muito dificil entre as modalidades que não envolvem a 'beautifull people', as quais conseguem saídas para a sua crise, como o apelo que refere.

As outras modalidades devem encontrar uma saída para este beco em que se deixaram envolver.

A crise económica que a todos prejudica deveria ser um incentivo para o desporto conceber uma saída, 'à espanhola'.

Ou mediante objectivos e escolhas mais restritivos, transparentes e consensuais.

Obrigado pelo poste inspirador

Tiago Viana disse...

Acho verdadeiramente inacredítavel que nos dias de hoje, ainda seja possível invocar a projecção de Portugal para dar um subsídio a um atleta (se é que os casos invocados cabem dentro desta designação).
Mas Portugal ganha alguma coisa com o mediatismo de um atleta seu?
Alguém compra algo produzido por nós de de nossa patente, ou nos vem visitar, fazendo entrar dinheiro no país e melhorando a nossa balança económica por isso?!
Com tanta necessidade de meios financeiros para outros projectos no turismo, esses sim estruturantes e necessários á população, o governo gastou e agora ia gastar mais uns milhões a financiar projectos pessoais?
Procurem patrocínios e estabeleçam os seus planos de actividades com esses recursos.

Kaiser Soze disse...

Quanto ao que Portugal ganha com o mediatismo de um atleta seu, conto apenas um dos episódios que se passaram comigo: Estava eu no México e o taxista perguntou-me de onde eu era. Respondi que era português e ele responde: Figo!!!
Não sabia absolutamente mais nada. Aliás, confessou que apenas descobriu que Portugal existia porque Figo existia.
(era pré Ronaldo e pré Morinho)

Posto isto, não posso deixar de concordar que Portugal é o país dos subsídios e que tudo se tenta fazer assim, sem empatar dinheiro próprio e sem correr riscos pessoais...o que é ridículo.

Tiago Viana disse...

Eu não digo que Portugal não é conhecido nalguns países porque tem o atleta A ou B.
Agora, alguém vem cá por essa razão?
Claro que não.
Foi sempre uma forma encapuçada de dar subsídios aos membros de alguns lobbys da sociedade portuguesa.