Nas obras que li de Gonçalo M. Tavares cabe aos homens a escultura do destino e às mulheres a limpeza das aparas sendo estas, de todas as maneiras, muitas vezes violadas e, imaginamos nós pela força de frases como "vais fazê-la comigo a ver", relativa à iniciação sexual do filho com a criadita, violentamente vilipendiadas. São eles que na guerra, na viagem à Índia, na medicina e na política apresentam o know how do conhecimento da vida, o sobressalto das grandes questões existenciais e, também, da maldade, da brutalidade e da preversidade .
Quando exemplo há, vem de cima, de um homem, do pai. E, citando o autor, é à filha a quem cabe crescer para dar continuidade à família, construir e, nesta divisão funcional, ao filho cabe vingar o pai, destruir. Ora, já na ordem do valor patrimonial, sobre a construção social pouco há a contar e para a história fica tão só o sujeito do conflito, aquele que destrói. Pratos limpos, para elas restam os panos, elas não fazem história porque quem as faz a elas são eles, quer por violação quer por expiação ou, quer ainda, por obra divina do Espírito Santo.
Saltando da literatura para um outro campo qualquer, em tudo isto só vejo competição e, ironia do destino, o pavor de se notar que nem mesmo para jogar futebol é preciso pila pois basta o pé! Ora, talvez o receio explique a necessidade de tanta visibilidade e, ao serão na rádio e na televisão, é sobre o futebol, que poucos perdem, que todos querem falar, fazer parte dessa pouca história que é o jogo em si, desde político a engenheiro e agora também, dada a similitude com a sexualidade das tabernas, o Machado Vaz.
Nestas conversas de homens, coitado daquele que jogue mal porque é de imediato chamado menina e, ao contrário, se é ela quem joga bem então, sim, parece um homem. E este é só um exemplo parco da versatilidade da construção da diferença entre o masculino e o feminino!
A mulher quer-se no busto da fantasia, na figura da República, algo irreal. Fora deste registo, o da incorporação do fémino no ideário da nação, eis as mulheres de carne e osso, sem ligar muito ao pecado nem à crença de que a acção é um obstáculo à procriação, a convencer que é passado esse conflito de papéis entre o "ser mulher" e o "ser atleta, pianista, escritora, engenheira, arquitecta, etc". E, no desporto, as mulheres que correm, que saltam, que jogam e batem recordes, contrariam teimosamente a falta de visibilidade do seu protagonismo e fazem elas a sua própria história. Ora, feitas as contas ao oblívio, para a história destas vitórias nunca há papel de sobra mas o pano não falha e, na pista, na volta da consagração, é grande a bandeira que as enrola!
19 comentários:
O discurso é de séculos passados.
Não tem atualidade.
Em Portugal existe hoje igualdade de oportunidades no acesso a tudo.
Se as mulheres não acedem seja ao que for, é porque não querem ou porque preferem comodamente respeitar tradições passadistas.
"As mulheres FAZEM-SE".
Pois "FAÇAM-SE".
No Desporto português temos muitos e bons exemplos.
Acreditar na igualdade de oportunidades é uma doçura, igual fantasia só mesmo o acreditar que é o Pai Natal quem traz os presentes às criancinhas ; )
Cara Ana Santos
Continue na sua luta, seja ele qual for e lhe pareça justa. Parar é morrer.
Veja os exemplos de mulheres que transformaram o mundo da ciência, da arte, da literatura, da medicins, da solidariedade, do canto.
Do Desporto nada consta porque ainda há mentalidades que não o aceitam, o que levou Camus a sentenciar que essas pessoas acabam por ter que falar de desporto... o que já não nada mau.
Diga-me então em que áreas é que não há igualdade de oportunidades de género em Portugal, quando temos muito mais raparigas universitárias e mais doutoradas que rapazes/homens.
Quando temos no caso do Atletismo, Judo e de outras modalidades individuais tantas medalhadas no sector feminino como no masculino.
No mercado de trabalho, em determinadas áreas, o que existe é uma natural preferência por homens ou mulheres, em função da especificidade de algumas atividades/profissões. É óbvio que não interessam estivadores mulheres (o homem, em média é muito mais forte muscularmente), como não interessam homens para determinados trabalhos mais adequados às características femininas.
Mas isso é natural, já que homens e mulheres são diferentes, não são iguais e ainda bem.
Se ainda existe discriminação, é residual.
Fico à espera de resposta que não envolva o Pai Natal (por que razão não é Mãe Natal?)...
Junto o RELATÓRIO DA COMISSÃO AO CONSELHO, AO PARLAMENTO EUROPEU, AO
COMITÉ ECONÓMICO E SOCIAL EUROPEU E AO COMITÉ DAS REGIÕES, sobre Igualdade entre Homens e Mulheres – 2009
http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=COM:2009:0077:FIN:PT:PDF
Este é o mais actual mas, com tempo, dá para analisar como esta questão das oportunidades não se discute a partir de exemplos avulso. E, claro, até a terminologia da fantasia está prenhe dessa desigualdade, bem visto ; )
Não respondeu à questão essencial que levantei.
Fugiu à resposta...
Fiquei a saber que a questão das oportunidades não se discute a partir de exemplos avulso.
Então discute-se a partir de quê?
De ideias pré-concebidas?
Desculpe, não fui explícita, eu devia ter dito o seguinte:
A questão da igualdade entre homens e mulheres é uma questão tão importante que até existe um observatório que analisa comparativamente, a vários níveis, para os vários países da Europa essas disparidades. E, para o efeito, juntei o Relatório de 2009 para que o Senhor possa ler e verificar a diversidade e pluralidade de factores que, ainda hoje, compõem a desigualdade. Ora, contra este relatório o Senhor apresenta o seu "avulso de exemplos", pobre no sentido literal do termo porque nunca refere a diferença monetária dos prémios entre eles e elas, como sendo o texto fundamental e importante que deve nortear a agenda de discussão.
Esta sua atitude lembra-me a figura kantiana do "eu amoroso".
E, claro, perdoe-me considerar o Relatório mais plausível, mais credível e, sem dúvida, importante ; )
Não foi capaz de apontar uma única actividade em que exista em Portugal discriminação de género no acesso.
Fica registado.
Só sei argumentar com casos concretos.
A mim interessa-me a realidade vivida. No terreno. Em 2012.
Quanto aos relatórios das diversas instâncias da União Europeia, digo-lhe eu que são manipulados pelas instituições governamentais para que sejam obtidos determinados valores, com determinados interesses.
Sei do que falo e posso prová-lo.
Matéria digna de uma multidão de eurocratas inúteis e bem carotes.
O Senhor é divertido. Obrigada por animar este espaço ; )
Você não me conhece minimamente para me considerar divertido ou chato.
Temos opiniões diametralmente opostas sobre discriminação de género em Portugal.
E você não foi capaz de apontar uma única atividade ou profissão (nem um ínico caso concreto) de discriminação da mulher.
Portanto, fala de cor, incapaz de concretizar.
É incapaz de argumentar em concreto e limita-se a fazer referência a relatórios manipulados.
Continue na sua luta, como diz João Boaventura, mesmo que se possa assemelhar ao nobre cavaleiro de Cervantes, arremetendo contra os malditos moinhos...
E já agora, experimente falar com Aurora Cunha, Rosa Mota, Albertina Dias, Fernanda Ribeiro, Manuela Machado, Carla Sacramento e Naide Gomes, todas campeãs olímpicas ou campeãs do mundo.
Elas dir-lhe-ão o que é uma mulher FAZER-SE.
; )
Isso, sorria.
O simples conceito explícito no dito relatório de "igualdade entre homens e mulheres" é paradoxal, já que os homens são essencialmente diferentes das mulheres.
O igualitarismo tem raízes marxistas ultrapassadas.
Toda a gente sabe que há homens mais iguais que outros e mulheres que são mais iguais que outras.
É a persistência, o esforço, o talento e o mérito que os (as) distingue.
O que está aqui em causa é se existe ou não discriminação de género no ACESSO a a qualquer atividade em Portugal.
Não há e é ilegal.
O que há é mercado e desemprego. Muito desemprego.
Sem escolha de género.
Portugal. 2012.
Se é de casos concretos que aqui se trata... aqui vai um em pleno séc. XXI e no desporto em Portugal.
Nos escalões de formação no Futebol as raparigas entre os 13 e os 18 não têm acesso a esta prática simplesmente porque não há quadros competitivos para elas, existe um gap nos regulamentos.
E têm acesso nos escalões de formação até aos 12 anos porque, em 2002, os regulamentos foram alterados permitindo equipas mistas até essa idade, situação que levou ao aumento em 70% do número total de jogadoras.
Se não há quadros competitivos para esses escalões, é fácil. Exijam-nos à FPF.
GO FOR IT!
Já que acusa a CE de manipular os relatórios, gostaria que apresentasse as provas que tem para que possa apresentar a respectiva queixa nas devidas instâncias. Aquilo que afirmou é de extrema gavidade e os responsáveis terão de ser punidos!
“Em entrevista a dois jornais, D. Manuel Monteiro de Castro defendeu que a mulher deve poder ficar em casa e que «não há melhor educadora que a mãe.”
Lê-se no post de 26 de Fevereiro de M. J. Carvalho...
Caro Luís Leite,
A sua visão da Sociedade Portuguesa é tão redutora, e "umbiguista" que dá dó.
Se mesmo nas classes socio-económicsa médias e altas, tais desigualdades (de direitos) existem, se começar a olhar para as classes mais baixas (a maioria da população, portanto) essas diferenças são abissais.
Sim pode dizer que as oportunidades são iguais, etc e tal... que não há barreiras legais. Pois não - felizmente nesse campo já muito se fez.
Mas as barreiras são, acima de tudo, culturais. Este exemplo que a Ana refere, do machismo ligado ao futebol, é dos mais emblemáticos.
A tal superioridade física que aponta nos homens, é infelizmente o veículo de imposição que a nossa sociedade assiste diáriamente nos jornais e televisões. Aliás, sugiro que o senhor dê um salto à APAV, ou à Casa de Apoio a Mulheres Vítimas de Violência da SCML, e diga o mesmo às mulheres que lá encontre: que se façam!
Posso lhe dar mais um exemplo - diz que não acredita nos estudos da União Europeia. Acredita nos do ISCTE? http://observatorio-das-desigualdades.cies.iscte.pt/index.jsp?page=news&id=93
Caro Miguel Barroso:
Em Portugal (não estou a falar no Sudão) não existe desigualdade de oportunidades no acesso a qualquer atividade ou profissão.
Quanto à questão dos direitos, estão consagrados na Constituição.
Mas é óbvio que igualdade total de género nunca haverá.
Nem igualdade nenhuma!
A própria natureza encarregou-se de fazer os homens diferentes das mulheres e ainda bem.
O que determina no mercado níveis de eficácia diferentes, para ambos os géneros, que resultam por sua vez numa maior ou menor procura ou interesse por determinadas actividades, por parte das populações.
Não vejo em que é que isto se pode considerar uma visão redutora e umbiguista.
É, simplesmente, a verdade nua e crua...
O igualitarismo (utupia idiota) ou a igualdade são impossíveis.
E quanto à apresentação das provas de manipulação dos relatórios? Fez-se esquecido?
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