sexta-feira, 1 de junho de 2012

Mas as crianças, Senhor...


Em mais um dia mundial da criança não são nada favoráveis os ventos que correm em seu favor:

-       Recente Relatório da UNICEF afirma que as crianças portuguesas são das mais carenciadas da OCDE, ainda com base em indicadores de 2009, prevendo-se que tal cenário se agrave nos próximos anos devido à nossa situação de falência económica e ao jugo Troikiano;

-    Face à Lei dos Compromissos, diversos municípios irão deixar de estabelecer contratos-programa de desenvolvimento desportivo com os clubes locais. Por via disso, deixarão de apoiar a prática desportiva infanto-juvenil, entre outras formas, através do apoio financeiro direto, do pagamento das inscrições ou do seguros dos atletas. Deste modo, com as famílias estranguladas financeiramente, quais serão as que poderão corresponder às maiores solicitações por parte dos clubes para suportarem, quase na totalidade, a prática desportiva dos filhos?

-   Quem regularmente assiste a competições ou provas de jovens, facilmente se apercebe da fragilidade do corpo técnico responsável pelos mesmos, assim como do clima de violência verbal e até física que reina em muitos desses locais desportivos, protagonizado pelos assistentes e intervenientes diretos.

-  
Valha-nos a esperança (?) de ainda continuarmos a ser um País signatário da Convenção dos Direitos da Criança (vide o art.º 31.º), de termos em vigor uma Constituição da Republica Portuguesa que em diversos preceitos salvaguarda dos direitos da juventude e até de dispormos de uma Assembleia da República que não dorme, tendo há pouco tempo recomendado ao Governo, com vista ao combate da obesidade infanto-juvenil em Portugal um conjunto de ações prioritárias, entre outras, as que a seguir se assinalam e que são de uma originalidade e eficácia surpreendentes:

 - A utilização do serviço público de informação (RTP e RDP) para a difusão de campanhas baseadas em mensagens positivas e de estímulo à adoção de escolhas alimentares saudáveis e de hábitos de atividade física;

- A criação de um programa nacional de desporto escolar, organizado por regiões e elaborado em conjunto com os professores de educação física;

A prática do desporto universitário.


Neste dia, e em muitos outros, recordo-me frequentemente de um poema (Balada da Neve, de Augusto Gil) há muitos anos assimilado:

"(...)
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor
?!…
Porque padecem assim?!…”
(...)

10 comentários:

Anónimo disse...

Maria José, obrigado pelos documentos, vão servir para um trabalho que estou a desenvolver. E quanto a algumas das suas preocupações, sossegue porque o programa nacional de ética vai resolvê-los!
Cumprimentos
PT

Anónimo disse...

Cara Maria José:

A resposta é fácil: porque "o melhor do mundo são as crianças..."

....basta não terem voz ativa e/ou direito a voto!

Se as crianças votassem, nem que fossem só as que andam na escola, tudo seria diferente!

Abraço amigo!

Luís Leite disse...

Essa ideia de que o melhor do mundo são as crianças é demagógica e falaciosa.
As crianças têm que ser educadas e têm que se habituar a cumprir regras de convivência social.
Se tal não acontecer, permanecem selvagens, tal como todos os animais.
Portanto:
Quanto a crianças, tal como quanto a adultos, há de tudo!...
E é preciso não esquecer.
Cada um de nós é o próprio e a(s)sua(s) circunstância(s).

Kruzes Kanhoto disse...

Sejam ou não as crianças o melhor do mundo - e eu concordo que são - o problema é que "não há dinheiro". São três letrinhas apenas mas parece que nos esforçamos por não entender o que significam.

joão boaventura disse...

Estimada Maria José

O ano de 1979 foi proclamado, pelas Nações Unidas, o “Ano Internacional da Criança”, oficialmente assinada no 1º de Janeiro de 1979, pelo secretário-geral das Nações Unidas, Kurt Waldheim.

Em 1950, a “Federação Democrática Internacional das Mulheres” propôs às Nações Unidas que se criasse um dia dedicado às crianças de todo o mundo, o que se aprovou e comemorou no dia 1 de Junho, reconhecendo-se-lhes muitos direitos, mas só em 1959 é que se publicaram os 10 princípios, aprovados na ONU, em 20 de Novembro, sob o nome de “Declaração dos Direitos da Criança.”

Depois do descalabro da 2.ª Guerra Mundial, a ONU criou o “Fundo Internacional de Emergência para as Crianças", a 11 de Dezembro de 1946, mas em 1953 tornou-se membro da ONU, com a conhecida sigla UNICEF.

É assim que funciona o Mundo da Criança, sujeita às limitações dos homens, dos papeis e das recomendações.

Apesar do espírito e da consciência terem nascido há cem mil anos, dizem os cientistas, que ainda estamos nos seus primórdios.

E, sem espírito e sem consciência a funcionarem em pleno, tudo continuará a acompanhar a sua evolução, com as deficiências que a humanidade exibe geneticamente.

Um abraço

Maria José Carvalho disse...

Nem tudo na vida se resume ao dinheiro, há mais vida para além do euro, e como este foi desbaratado até agora não foi certamente pelas crianças e jovens.

Se, no sector que nos diz mais respeito, assistíssemos a uma vontade política, pública e privada, em salvaguardar e enriquecer o trabalho junto dos jovens, certamente não presenciaríamos cenas indignas de uma criança/jovem querer praticar uma dada modalidade e não ter resposta junto da sua residência, a ser chamada de burra por quem a dirige sem perceber patavina do que se está a passar, a ser arrastada e empurrada pelos pais e a dizerem-lhe que tem de ser um Cristiano, a assistir aos adultos alienados a discutirem com os árbitros e treinadores por tudo e mais alguma coisa…enfim…!!

Bem sei que seriamos bem mais pedagógicos a enunciar as boas práticas do que as más, mas é triste, por exemplo, que nesta semana, com dia simbólico das crianças/jovens, a única ação pública merecedora de registo ter sido o ministro que tutela o desporto a jantar com a selecção de futebol. E as crianças…e as crianças, Senhor…??

O João Boaventura tocou no ponto fulcral, não existe espírito nem consciência a funcionar em pleno, também no domínio das preocupações das crianças/jovens.

Grata pelos vossos comentários!

Armando Inocentes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Armando Inocentes disse...

Cara Maria José:

PEÇO DESCULPA, mas retirei o comentário anterior por algumas gralhas e para acrescentar algo mais.

No ensino secundário, uma redução de trinta minutos na carga horária da disciplina de Educação Física, o que perfaz cerca de menos 16 horas de aulas anuais, ou seja, menos cinco semanas de aulas por ano, só pode servir para FORMAR seres humanos mais harmoniosos ("motriciamente" falando), para DETETAR mais futuros talentos e CONSTRUIR melhores desportistas. O que irá implicar MELHORES competidores e futuramente MAIS medalhas nos JO e em mundiais ou europeus.

Quanto ao Desporto Escolar e ao Desporto Universitário ele existe? Ou o que existe são umas competições entre alunos do secundário e entre alunos universitários?

Quanto às crianças, muitas delas estão a abandonar os clubes, os ginásios e as academias porque os pais não conseguem suportar as mensalidades - mas não só: é transportá-las e ir buscá-las, é o lanche por vezes fora de casa, são os equipamentos, é o fim de semana com transporte e alimentação também... SÃO SACRIFÍCIOS!

Logo, como diz Luís Leite, se as circunstâncias destas crianças não são as melhores, como podem ser elas próprias? Como podem desenvolver as suas capacidades quando são crianças promissoras? Como podem ser educadas e habituadas a cumprir regras de convivência social?

Tenho atletas que treino há vários anos e os pais vieram-me dizer que não tinham meios para poderem continuar a dar essa prática desportiva aos filhos. Tive de mover mundos e fundos e tentar negociar alguns casos para não deixarem de treinar... alguns agora treinam quase gratuitamente mas não desistiram...

É isto que cada um de nós tem de fazer por estas crianças-jovens! Andamos muito preocupados com que mundo vamos deixar aos nossos filhos mas pouco com que filhos vamos deixar a este mundo!

Ao João Boaventura gostaria de deixar a informação que em Portugal, em 1979, suicidaram-se pelo menos SETE crianças...

Grande abraço a todos!

Maria José Carvalho disse...

Caro Armando,

Obrigada pelo seu comentário e pelo conteúdo que agora acrescentou. Obviamente,a responsabilidade social´devia ser asumida por todos,coletiva e individualmente, e principalmente por aqueles que mais podem.
E que as forças nunca lhe faltem pelo bem que faz aos seus atletas, como bem sabe recebe ou receberá sempre em dobro.
Bjinhos

joão boaventura disse...

Caro Armando

Sobre esta matéria teci alguns considerandos que pode ler sob o título Agonia na Educação Física e no Desporto.

Dito de outra forma, o campo da ed. fís. e o campo do desp. estão a sofrer tratos de polé.

Enquanto de um lado o Ministério da Educação trucida lentamente a ed. fís. aglutinando-a a outras três disciplinas, o que significa discriminar quatro disciplinas e colocá-las numa rampa com declive de 30º para que a queda seja maior, oferecendo-lhes a liberdade venenosa de discutirem e distribuírem as horas para que o escândalo do rateio aconselhe a total eliminação dos 4 em 1,

Do outro lado, muda-se a Secretaria de Estado da Juventude e Desporto para Secretaria de Estado do Desporto e Juventude, para marcar o seu terreno político, e a sua primacial prioridade desportiva, marcada por laboriosos grupos de trabalho ocupados em burocráticos articulados, depois da criação de 10 Departamentos e 8 Divisões, debruçados sobre o plano da ética, da violência, do anti-doping, do livro branco, dos tribunais arbitrais, da actualização da velha carta das instalações desportivas, tudo entretenimentos de coisas já existentes, já repetidas, mas com outra cara, e daqui se parte para outras partes e outras acções similares, porque constituem a estrutur-base sobre a qual se irá construir o futuro do desporto que se pretende.

Portanto, só quando esta temática literário-jurídica, com que o IPDJ se entretém, estiver concluída é que o governo já está em condições de definir politicamente o futuro do desporto nacional.

Os clubes e os desportistas, entretanto, vão laboriosa e anti-burocraticamente trabalhando, facto que deixa o governo sossegado para ir pensando no melhor desporto nacional do futuro.

Não dá, mas é o Portugal que penosamente temos e suportamos.

Um abraço